sábado, 28 de fevereiro de 2009

Obama, o pânico e a intervenção do Estado

Obama, o pânico e a intervenção do Estado
O Presidente Barack Obama começa a mostrar ao que veio!

A revista Newsweek estampou no título de capa, de um de seus recentes números, uma pergunta instigante: "Somos todos socialistas?"

Na controvérsia em torno dessa questão pode estar uma das chaves da atual crise econômica. A tentativa oportunista de uma guinada ideológica.

Crise econômica, política e psicológica

Recapitulemos. Para os simples mortais, como eu, a crise, em sua origem e em seus desenvolvimentos, não é de uma compreensão linear.

Talvez por esse motivo, todos os dias, se multiplicam as opiniões - tantas vezes divergentes - dos especialistas, nos diversos órgãos de comunicação social.

Se bem que para alguns as origens da crise pareçam, à primeira vista, razoavelmente claras e certos desenvolvimentos compreensíveis, parece igualmente inequívoco que não são apenas fatores econômico-financeiros os que atuam na presente situação. Fatores políticos, com fortes doses de condicionantes psicológicas, estão presentes.

Coincidências

Diversos são os aspectos e coincidências que chamam a atenção:

1 - É fato que a crise econômica foi a catapulta que içou definitivamente a candidatura de Obama a uma posição de vantagem.

Até esse momento - e, sobretudo, após a entrada em cena de Sarah Palin, a candidata a vice de John McCain - Obama enfrentava dificuldades.

A tempestade financeira, explorada por uma mídia quase unanimemente pró-Obama, fez uma fatia do centro deslocar-se em sua posição, ou indecisos escolherem seu candidato.

2 - As explicações simplistas e até malévolas para a crise, atribuindo sua responsabilidade ao governo Bush, favoreceram o clima.

Muitos pareciam não querer lembrar que a origem, em boa medida, estava bem mais atrás, nas próprias iniciativas dos Democratas de, por imposição do Estado, obrigarem as instituições financeiras a expandir o crédito, até mesmo àqueles que não possuíam garantias para os mesmos.

3 - Uma outra coincidência é de realçar. A própria instabilidade em larga escala, gerada pela crise financeira, criou o clima ideal para Obama poder aplicar, como plano salvador, um conjunto de medidas intervencionistas e pró-estatistas, que, de outro modo, sofreriam forte oposição.

4 - Sirvo-me de uma imagem para chamar a atenção de uma última coincidência.
Aqueles que já estiveram em uma chácara ou fazenda, quando a tarde vai findando, mais facilmente entenderão o que vou descrever.

A escuridão já quase tomou conta do firmamento e o silêncio parece cercar-nos amigavelmente, transmitindo uma sensação de repouso e serenidade.

De repente, o coachar de um sapo rompe esse silêncio. E, logo em seguida, um outro e mais outro e logo muitos enchem os espaços com seus sons repetitivos, como que numa insurreição monôtona, beneficiando-se de um certo anonimato que a noite lhes confere.

A cena vem-me à mente para simbolizar o que se passou nas hostes da esquerda, quando da eclosão da crise.

Envergonhados pelo fracasso omnímodo das diversas experiências socialistas, numa exploração desonesta da crise, se puseram a repetir incessantemente e a proclamar o fracasso e o fim do capitalismo, querendo atingir na verdade o regime da livre iniciativa e o princípio da propriedade privada, buscando o regresso do Estado omnipresente.

Expansionismo estatal

Fica assim rapidamente descrito o contexto em que Barack Obama apresentou seu pacote de recuperação da economia e sua proposta de Orçamento.

Segundo o Financial Times, reproduzido pelo jornal Valor (27.fev.2009), "Barack Obama apresentou o modelo mais expansionista de envolvimento governamental na economia americana praticado em mais de uma geração, onde o déficit neste ano aparece quadruplicado".

Tal proposta de Orçamento implica em um tremendo aumento da dívida americana. Para especialistas a previsão de déficites orçamentários no plano fiscal é aterradora e cria um risco sério para a moeda americana. A possibilidade de um colapso para o dólar fez o ouro disparar.

Estratégia do pânico

Em suas intervenções públicas, Barack Obama vem acenando continuamente - já desde a campanha eleitoral - com o espectro da "Grande Depressão" e afirma que sem seu pacote intervencionista a economia irá para o abismo e talvez nunca mais se recupere.

Como muito bem escreveu Bradley R. Schiller, no Wall Street Journal (13.fev.2009) agora "a verdadeira catástrofe é a retórica de Obama".

Nesse sentido gostaria de compartilhar com os que lêem o Radar da Mídia, um artigo altamente esclarecedor de João Luiz Mauad, administrador de empresas, publicado em O Globo (26.fev.2009), sob o título "Estratégia do pânico":

  • " O intervencionismo está novamente em voga. Por toda parte, há especialistas defendendo enfaticamente que os governos gastem fortunas, ainda que a maioria dos governos não disponha dessas fortunas. Do leigo ao bispo, do peão ao empresário, quase não há quem duvide de que esta é a fórmula da felicidade.

    A palavra de ordem é gastar, ainda que muitas vezes ela venha maquiada pelo eufemismo “dar liquidez”. A quimera do momento é evitar a recessão, custe o que custar.

    Num livro lançado há pouco nos EUA, Neither Liberty nor Safity, o economista e historiador Robert Higgs reúne inúmeras evidências históricas que demonstram como a insegurança econômica, a vulnerabilidade a inimigos externos ou internos e as catástrofes ambientais foram usadas através dos tempos para expandir o tamanho do Estado e a intervenção dos governos na esfera privada.

    O livro é bastante didático ao explicar, por exemplo, como os governos — malgrado sua indelével vocação para a ineficiência e o desperdício de dinheiro alheio — crescem exponencialmente em momentos de crises (reais ou fabricadas), e por que raramente retornam ao seu tamanho depois que elas cessam.

    Segundo Higgs, nossa constituição física e psicológica nos predispõe ao medo, seja ele oriundo de ameaças reais ou potenciais, inclusive aquelas que existem somente em nossa imaginação. Infelizmente, os políticos entendem perfeitamente esta peculiaridade da natureza humana, e a exploram de forma eficiente.

    Eles sabem que dependem do pânico para assegurar a submissão da sociedade, o consentimento popular aos ditames oficiais e a cooperação afirmativa com suas aventuras. “Esta crise nos dá oportunidade de fazer coisas que não podíamos fazer antes”, confessou ao The Wall Street Journal o primeiro-secretário de Obama, Rhan Emmanuel.

    Como seu assessor, o presidente também sabe que a disseminação do pânico é o caminho mais fácil para impor decisões controversas e, não raro, oportunistas.

    Para fazer passar esse verdadeiro assalto ao bolso dos americanos, por exemplo, Mr. Obama vem utilizando a estratégia de superestimar as previsões de desemprego, ciente de que a estabilidade no trabalho é algo caro à maioria dos homens, o que os torna predispostos a pagar o preço que for necessário, ainda que sem qualquer garantia de que a mercadoria adquirida lhes será entregue.

    Se acreditarmos em alguns dos mais influentes formadores de opinião, seremos levados a concluir que os EUA passam por depressão pior do que a dos anos 30. É interessante notar que, além dos indefectíveis pedidos de mais verbas, o alarmismo aparece quase sempre acompanhado de estatísticas estapafúrdias, como a recente divulgação de que o número de demitidos, em 2008, teria sido o maior desde a Segunda Guerra.

    Ora, não é preciso ser nenhum perito para compreender que há algo muito estranho com tal comparação, afinal a população americana economicamente ativa naquela época era menos da metade da atual. Assim, quando expressos em termos relativos, tanto a taxa de desemprego quanto o número de novas demissões ainda estão distantes até mesmo dos índices da recessão de 1981-82. Em estatística, comparar números brutos, independentemente do universo pesquisado, é um exemplo típico de desonestidade intelectual. Uma outra estratégia, utilizada amiúde para dar credibilidade às ações pretendidas, é apelar para a existência de supostos consensos. A exemplo do que ocorre há anos com o aquecimento global, agora o governo americano informa que “há consenso” entre economistas sobre seu plano para estimular a economia. Errado! O Cato Institute divulgou um abaixo-assinado com mais de 300 assinaturas de proeminentes economistas, entre os quais 3 Prêmios Nobel, que recusam esse consenso. Pior: muitos acham que o voluntarismo estatal só irá piorar as coisas.

    Ademais, é importante compreender que não estamos diante de questões meramente econômicas, mas essencialmente morais. Milhões de indivíduos que nada fizeram de errado, bem como seus filhos e netos, serão forçados a pagar a conta dos equívocos de investidores e governantes no mínimo imprudentes, sem qualquer garantia de que os tais planos de salvamento, apoiados muito mais sobre os pilares do messianismo político do que da ciência econômica, realmente funcionarão. Estará morto aquele mundo em que as escolhas tinham consequências? Onde a insensatez era penalizada e a prudência premiada?"

Creio que, aos poucos, a apreensão e até a decepção vai substituindo o clima de torcida eufórica e inconseqüente que cercou a vitória de Obama.

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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Jarbas falou e todos se calaram

Jarbas falou e todos se calaram

A ministra Dilma Roussef não se quis pronunciar a respeito da entrevista do senador Jarbas Vasconcelos à revista Veja.


Num gesto nada elegante, revelador de profundo desagrado, Dilma deu as costas aos jornalistas e disparou: "Tem dó"!

Por sua vez, o inefável Marco Aurélio Garcia pretendeu dar o troco à acusação de Jarbas Vasconcelos de que o Bolsa Família se tornou "o maior programa oficial de compra de votos do mundo". E, bem ao estilo corrente nas hostes lulo-petistas, esquivou-se à discussão e disparou sua agressão pessoal, de laivo ideológico: o senador "se tornou um conservador, com um viés senhorial".

Caso que pode virar um incontrolável "mensalão"

Também no PMDB as afirmações da entrevista parecem ter caído no vazio. A Executiva Nacional do partido afirmou que não daria maior atenção às mesmas "pela generalidade das acusações".

Clóvis Rossi, em artigo para a Folha de S. Paulo, ressaltou bem que não houve sequer indignação fingida, nem alegações de "ilibada reputação", algo que parece estar em desuso.

No jornal Valor (18.fev.2009), Rosângela Bittar ressaltou que, em face da entrevista, o PMDB e o governo Lula exibem um perfil desprezível, "traçado por uma voz contundente, uma fala substantiva, um discurso político, como há muito se cobrava à oposição. Jarbas não observou conveniências e tudo no seu discurso fez sentido".

Segundo a chefe de redação do jornal Valor em Brasília, todos se fingem desentendidos pelo temor de reagir: "Talvez deduzam que, mesmo sendo um discurso político, pode haver provas e, se as há, qualquer movimento em falso faz o caso virar um incontrolável 'mensalão'."

O lulo-petismo desmoralizou as instituições

Como pude ressaltar no post Jarbas conta tudo, a corrupção na política não é coisa nova, nem sequer exclusividade nacional. Mas há algo de novo e muito novo nos esquemas de corrupção do lulo-petismo.

Estimulando os piores apetites em relação ao erário público, o lulo-petismo visa um projeto de poder, continuísta, autoritário e de cunho ideológico. O escândalo do "mensalão" foi apenas um indício dessas práticas.

O lulo-petismo estabeleceu espúrias alianças partidárias, enfraqueceu o dinamismo opositor, alimentou máquinas gigantescas de benesses sociais, aparelhou o Estado, cooptou boa fatia da imprensa com fundos de propaganda oficial e desmoralizou as instituições.

Tudo ao som "melodioso" de intrigantes pesquisas de opinião, que proclamam dogmaticamente uma estratosférica popularidade do Presidente-operário (desmentidas, entretanto, de modo contundente pela realidade; derrotas eleitorais, vaias, etc.) mas repetidas incansavelmente.

O único projeto de poder é o próprio Lula

Arnaldo Jabor (O Globo, 17.fev.2009) também se debruçou sobre a entrevista do senador Jarbas Vasconcelos, que considera mais um "manifesto", um retrato das alianças espúrias e da corrupção revolucionária:
  • " A entrevista de Jarbas Vasconcelos na revista "Veja" desta semana é uma rara ilha de verdade neste mar de mentiras em que naufragamos. (...)

    De dentro de casa, Jarbas berrou: "O PMDB é corrupto!". E mostrou como esse partido nos manipula, sob o guarda-chuva do marketing populista de Lula. (...)

    Era preciso que um homem de estatura política abrisse a boca finalmente, neste país com a oposição acovardada diante do ibope de Lula.

    Estamos aceitando a paralisia mental que se instalou no país, sob a demagogia oportunista deste governo.

    É mais que uma entrevista - é um manifesto do "eu-sozinho", um ato histórico (...) é um retrato de como alianças espúrias e a corrupção "revolucionária" deformaram a própria cara da política brasileira. Com suas alianças e negaças, o governo do PT desmoralizou o escândalo! (...)

    Jarbas não tem medo de ser chamado de reacionário pelo povão ou pelos intelectuais que ainda vivem com o conceito de "esquerda" entranhado em seus cérebros, como um tumor inoperável. Essa palavra "esquerda" ainda é o ópio dos intelectuais e "santifica"qualquer discurso oportunista. Na mitologia brasileira, Lula continua o símbolo do "povo" que chegou ao poder. A origem quase "cristã" desse mito de "operário salvador", de um Getúlio do ABC, dá-lhe uma aura intocável. (...)

    A última vez que vimos verdades nuas foi quando Roberto Jefferson, legitimado por sua carteirinha de espertalhão, botou os bolchevistas malucos para correr.

    O lulismo esvazia nossa indignação, nossa vontade de crítica, de oposição. Para ser contra o que, se ele é "a favor" de tudo, dependendo de com quem está falando - banqueiros ou desvalidos? Ele põe qualquer chapéu - é ecumênico, todas as religiões podem adorá-lo.

    Ele ostenta uma arrogância "simpática" e carismática que nos anestesia e que, na mídia, cria uma sensação de "normalidade" sinistra, mas que, para quem tem olhos, parece a calmaria de uma tempestade que virá para o próximo governante.

    Herdeiro da sensata organização macroeconômica de FHC, que, graças a Deus, o Palocci manteve (apesar dos ataques bolchevistas dos Dirceus da vida), Lula surfou seis anos na bolha bendita da economia internacional, mas não aproveitou para fazer coisa alguma nova ou reformista.

    Lula tem a espantosa destreza de nos dar a impressão de que "tudo vai bem", de que qualquer critica é contra ele ou o Brasil. (...)

    O único projeto do governo é o próprio Lula. Em cima dos 84% de aprovação popular, nada o comove. Só se comove consigo mesmo. (...) Hoje, não temos nem governo nem oposição - apenas um teatro em que protagonistas e figurantes são o PMDB.

    E no meio disso tudo: o Lula, um messias sem programa, messias de si mesmo. (...)

    Nem o PT ele poupou para "conservar" a si mesmo. O PMDB é sua tropa de choque, seu "talibã" molenga e malandro.

    Agora...tentem explicar este quadro que Jarbas sintetiza com a clara luz de sua entrevista para um pobre homem analfabeto que descola 150 reais por mês do Bolsa Família...

    Vivemos um grande autoengano. "
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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Jarbas conta tudo

Jarbas conta tudo
Os escândalos políticos não incomodam mais, se incorporaram à paisagem e as práticas do governo Lula contribuíram para essa banalização.

Esse é, em síntese, o verdicto proferido pelo Senador Jarbas Vasconcelos, em importante entrevista à revista Veja (18.fev.2009), sob o título "Jarbas conta tudo".

Partido afeito à corrupção

Na mencionada entrevista, o senador ataca frontalmente o seu partido, o PMDB, por se ter transformado, em boa medida, em uma agremiação sem bandeiras políticas, oportunista, clientelista, afeita à corrupção, disposta a conformar-se aos desígnios do lulismo, enfraquecendo a oposição.

Jarbas Vasconcelos é insuspeito. Fundador do antigo MDB e eleito em 2002, defendeu o apoio do seu partido ao então recém eleito Presidente Lula, pois este se comprometera com as reformas essenciais para o País (trabalhista, tributária, previdenciária) e com um governo sob a égide da ética.

O desenrolar do primeiro mandato de Lula foi suficiente, segundo o senador, para mostrar que Lula não tinha qualquer compromisso com a ética e que as prometidas reformas não viriam.

Motor de histórico processo de limpeza da vida pública?

Em sua Carta ao Leitor, a revista Veja destaca a importância do testemunho de um personagem com intimidade com os fatos políticos, como Jarbas Vasconcelos. E recorda que o processo que culminou no impeachment de Fernando Collor de Melo, em 1992, teve precisamente início em uma entrevista a Veja "Pedro Collor conta tudo".

Por isso, afirma ainda o texto de Veja, o Brasil precisa acompanhar de perto o depoimento do Senador que tem tudo para ser "o motor de um profundo e histórico processo de limpeza da vida pública brasileira".

Convido-os, pois, a ler trechos da entrevista.

Corrupção a serviço de um projeto autoritário

Antes de passar à leitura desses trechos, permitam-me uma pergunta: a atual corrupção política será apenas um desvio individual de conduta de homens públicos?

Para mim, não. Na era Lula a corrupção se tornou algo mais, uma poderosa máquina de destruição das instituições, que mina o sistema político e visa a instauração de um projeto político de poder, com tintas autoritárias. Arnaldo Jabor a denominou - e muito bem! - de "corrupção revolucionária"!

Vamos, pois, à entrevista:

  • " O senhor é um dos fundadores do PMDB. Em que o atual partido se parece com aquele criado na oposição ao regime militar? Em nada. Eu entrei no MDB para combater a ditadura, o partido era o conduto de todo o inconformismo nacional. Quando surgiu o pluripartidarismo, o MDB foi perdendo sua grandeza. Hoje, o PMDB é um partido sem bandeiras, sem propostas, sem um norte. É uma confederação de líderes regionais, cada um com seu interesse, sendo que mais de 90% deles praticam o clientelismo, de olho principalmente nos cargos.

    Para que o PMDB quer cargos? Para fazer negócios, ganhar comissões. Alguns ainda buscam o prestígio político. Mas a maioria dos peemedebistas se especializou nessas coisas pelas quais os governos são denunciados: manipulação de licitações, contratações dirigidas, corrupção em geral. A corrupção está impregnada em todos os partidos. Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção.

    Quando o partido se transformou nessa máquina clientelista? De 1994 para cá, o partido resolveu adotar a estratégia pragmática de usufruir dos governos sem vencer eleição. Daqui a dois anos o PMDB será ocupante do Palácio do Planalto, com José Serra ou com Dilma Rousseff. Não terá aquele gabinete presidencial pomposo no 3º andar, mas terá vários gabinetes ao lado. (...)

    Lula ajudou a fortalecer o PMDB. É de esperar uma retribuição do partido, apoiando a candidatura de Dilma? Não há condições para isso. O PMDB vai se dividir. A parte majoritária ficará com o governo, já que está mamando e não é possível agora uma traição total. E uma parte minoritária, mas significativa, irá para a candidatura de Serra. O partido se tornará livre para ser governo ao lado do candidato vencedor.

    O senhor sempre foi elogiado por Lula. Foi o primeiro político a visitá-lo quando deixou a prisão, chegou a ser cotado para vice em sua chapa. O que o levou a se tornar um dos maiores opositores a seu governo no Congresso? Quando Lula foi eleito em 2002, eu vim a Brasília para defender que o PMDB apoiasse o governo, mas sem cargos nem benesses. Era essencial o apoio a Lula, pois ele havia se comprometido com a sociedade a promover reformas e governar com ética. Com o desenrolar do primeiro mandato, diante dos sucessivos escândalos, percebi que Lula não tinha nenhum compromisso com reformas ou com ética. (...) Então eu acho que já foram seis anos perdidos. O mundo passou por uma fase áurea, de bonança, de desenvolvimento, e Lula não conseguiu tirar proveito disso.

    A favor do governo Lula há o fato de o país ter voltado a crescer e os indicadores sociais terem melhorado. O grande mérito de Lula foi não ter mexido na economia. Mas foi só. O país não tem infraestrutura, as estradas são ruins, os aeroportos acanhados, os portos estão estrangulados, o setor elétrico vem se arrastando. A política externa do governo é outra piada de mau gosto. Um governo que deixou a ética de lado, que não fez as reformas nem fez nada pela infraestrutura agora tem como bandeira o PAC, que é um amontoado de projetos velhos reunidos em um pacote eleitoreiro. É um governo medíocre. E o mais grave é que essa mediocridade contamina vários setores do país. Não é à toa que o Senado e a Câmara estão piores. Lula não é o único responsável, mas é óbvio que a mediocridade do governo dele leva a isso.

    Mas esse presidente que o senhor aponta como medíocre é recordista de popularidade. Em seu estado, Pernambuco, o presidente beira os 100% de aprovação. O marketing e o assistencialismo de Lula conseguem mexer com o país inteiro. (...) Ele fez essa opção clara pelo assistencialismo para milhões de famílias, o que é uma chave para a popularidade em um país pobre. O Bolsa Família é o maior programa oficial de compra de votos do mundo.

    O senhor não acha que o Bolsa Família tem virtudes? Há um benefício imediato e uma consequência futura nefasta, pois o programa não tem compromisso com a educação, com a qualificação, com a formação de quadros para o trabalho. Em algumas regiões de Pernambuco, como a Zona da Mata e o agreste, já há uma grande carência de mão-de-obra. Famílias com dois ou três beneficiados pelo programa deixam o trabalho de lado, preferem viver de assistencialismo. (...)

    A oposição está acuada pela popularidade de Lula? (...) A popularidade de Lula não deveria ser motivo para a extinção da oposição. Temos aqui trinta senadores contrários ao governo. Sempre defendi que cada um de nós fiscalizasse um setor importante do governo. Olhasse com lupa o Banco do Brasil, o PAC, a Petrobras, as licitações, o Bolsa Família, as pajelanças e bondades do governo. Mas ninguém faz nada. Na única vez em que nos organizamos, derrotamos a CPMF. Não é uma batalha perdida, mas a oposição precisa ser mais efetiva. (...)

    Por que há essa banalização dos escândalos? O escândalo chocava até cinco ou seis anos atrás. A corrupção sempre existiu, ninguém pode dizer que foi inventada por Lula ou pelo PT. Mas é fato que o comportamento do governo Lula contribui para essa banalização. (...) Esperava-se que um operário ajudasse a mudar a política, com seu partido que era o guardião da ética. O PT denunciava todos os desvios, prometia ser diferente ao chegar ao poder. Quando deixou cair a máscara, abriu a porta para a corrupção. (...)

    Como o senhor avalia a candidatura da ministra Dilma Rousseff? A eleição municipal mostrou que a transferência de votos não é automática. Mesmo assim, é um erro a oposição subestimar a força de Lula e a capacidade de Dilma como candidata. Ela é prepotente e autoritária, mas está se moldando. Eu não subestimo o poder de um marqueteiro, da máquina do governo, da política assistencialista, da linguagem de palanque. Tudo isso estará a favor de Dilma. "

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De volta, com novidades!

De volta, com novidades!
Depois de uma longa ausência, estou de volta ao Blog!

Há muito para comentar, pois o Radar da Midia já detectou muitos e bem variados assuntos de interesse: há o caso da brasileira na Suíça, o referendo de Chávez, as dificuldades de Obama, as ajudas de Lula a Cuba, os incêndios na Austrália.

E o blog volta com novidades, como essa aí à direita: notícias breves, publicadas no Twitter.

Ainda que atrasado - e bem atrasado - um feliz 2009 a todos!

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