terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O Eixo Cuba-Venezuela e a omissão de Obama

O Eixo Cuba-Venezuela e a omissão de Obama


Recentemente o mundo foi surpreendido pela notícia de que as relações entre os Estados Unidos e Cuba entrariam num progressivo degelo até chegarem a uma normalização completa, ou quase completa. Fruto, em boa medida, de um trabalho de bastidores com o incentivo da diplomacia Vaticana, inspirada pelo Papa Francisco.

Distorção da realidade
Mal a notícia veio a público, a artilharia publicitária progressista desatou-se por esse mundo afora, em noticiários, comentários e análises.

Curiosamente, considerável parte dessas matérias tomava o fato da anunciada reaproximação como se uma injustiça de décadas tivesse cessado. A ditadura castrista era poupada, bem como suas perseguições políticas e religiosas; e se votava um rancor aos Estados Unidos e a sua política de embargo, como se fossem eles os responsáveis pela situação de miséria, decadência e opressão a que o castro-comunismo reduziu a antiga pérola das Antilhas.

Estranhava, além disso, não se mencionar, como cláusula de tal reaproximação, a desmontagem do regime ditatorial dos irmãos Castro e a instauração de um Estado de Direito na ilha-prisão, com o devido respeito às liberdades individuais, a retomada do direito de propriedade, a liberdade de professar e pregar a religião cristã.

Tudo – de passagem seja dito – muito surpreendente, se se leva em consideração a interferência decisiva da diplomacia vaticana para tal aproximação e o subsequente silêncio de Roma a propósito desses temas capitais.

Enfim, somando e subtraindo, toda a operação diplomática e midiática mais parecia o estender de mão a um regime moribundo, para salvá-lo do soçobro.

Aliança Venezuela Cuba
Como é público e notório, durante os anos em que governou a Venezuela, o caudilho Hugo Chávez estreitou, para além de todos os limites, os laços com a ditadura castrista. Hoje são os cubanos que controlam serviços essenciais do Estado venezuelano, além de terem uma posição determinante nas Forças Armadas do País e nas forças policiais e repressivas.

Ora é estarrecedor que, na reaproximação com Cuba, o governo de Obama não tenha exigido a retirada da abusiva influência e interferência cubana na Venezuela.

Neste momento a narco-ditadura comandada por Nicolás Maduro parte para uma repressão sem precedentes contra os opositores, com prisões arbitrárias até de políticos eleitos e execuções sumárias de estudantes.

E o que faz Obama?

Convido-os a ler a perspicaz análise publicada por Héctor E. Schamis, no jornal espanhol El Pais (22.fev.2015), sob o título “Estados Unidos, Cuba y Venezuela”.

Héctor Schamis, argentino de nascimento, Ph.D. em ciência política na Universidade de Columbia, é professor no Centro de Estudos Latino-americanos e no programa “Democracy & Governance” da Universidade de Georgetown.

O texto de seu artigo é revelador, embora suscite algumas ponderações que farei ao final:

  • "Agora foi a vez de Antonio Ledezma – como antes fora a de Leopoldo López – outro peso-pesado, prefeito de Caracas e novo preso político. Cada preso faz parte precisamente dos despojos das muitas guerras que trava o regime, reféns para a negociação final. Isso não se refere apenas à oposição. Também não se trata dos inimigos dentro do próprio chavismo, como Maduro e Cabello. Em última instância as negociações para valer serão com os Estados Unidos e com Cuba. Quanto mais cedo, melhor.

    Pode-se estar indignado com Maduro e com o regime. Mas um pouco dessa indignação, ou pelo menos bastante perplexidade, deveria estar dirigida ao governo de Barack Obama, o qual novamente chega atrasado a uma crise. Por vezes tem-se a impressão de que o Departamento de Estado toma conhecimento das notícias como nós, através dos jornais. Especialmente quando você lêem os tweets de altos funcionários circulando ao mesmo tempo que os nossos, que os de seus colegas, amigos e parentes, e dizendo basicamente o mesmo. A horizontalidade das redes sociais é fantástica, mas não é a maneira mais eficaz de fazer política externa.

    Isto porque é difícil acreditar que a Venezuela não faça parte da longa lista de temas que os Estados Unidos negociam com Cuba. Custa a entender que, uma vez removido o grande obstáculo para a relação dos Estados Unidos com a América Latina – Cuba e o embargo – Obama não use esta importante injeção de capital político – leia-se, legitimidade e credibilidade – para ter uma maior, e não menor, influência na região. Num plano mais abrangente, isso poderia desbloquear essa fatídica paralisia venezuelana. Mas mesmo num plano menor, poderia ter poupado a provação a Antonio Ledezma e à sua família.

    Se Obama não se deu conta disso, e se sua gente no Departamento de Estado se esqueceu de incluir a Venezuela nas negociações com Cuba, ainda estão a tempo. A boa notícia é que Cuba é um Estado a sério, como nenhum outro na América Latina. Negociar com os cubanos é previsível, porque eles têm uma quota suficiente de centralização da autoridade e controle territorial para cumprir seus compromissos. Se não os cumprem é porque não querem, ao contrário do resto da América Latina, onde não há capacidade estatal para tornar efetivo qualquer acordo.

    Cuba quer remessas, turismo e Golden Card da American Express. Será que é tão difícil incluir o desmantelamento da inteligência Bolivariana – que Cuba controla – nessa negociação? Com o subsídio venezuelano chegando ao fim, Cuba precisa de energia e petróleo. Com o boom petrolífero dos Estados Unidos, é impossível negociar a libertação dos presos políticos? Cuba necessita conectividade sem a qual, aliás, não haverá American Express. Não ocorreu a ninguém em Washington que a desarticulação da força de choque, esses camisas vermelhas que só os cubanos podem controlar, poderia ser o preço dessa tecnologia? Além disso se tranquilizaria a oficialidade venezuelana, perturbado pela influência cubana e pela proliferação de forças irregulares.

    E assim, com muitos outros temas. É evidente que esta será uma negociação a três. No fim das contas a oposição venezuelana acabaria competindo com a própria dissidência cubana numa mesa onde os Castro vão taxar muito alto quaisquer de suas concessões. Os democratas cubanos e venezuelanos deveriam coordenar essa negociação. A próxima cimeira do Panamá seria um lugar e um momento adequados. Vale a pena lembrar que esta última crise se precipita depois, e sublinhe-se depois, de iniciadas as negociações entre os Estados Unidos e Cuba. O soft power americano talvez nunca tenha estado tão alto na região.

    Maduro sabe que está perdido, mas se antecipa e adia seu fim inevitável. Frequentemente, é desprezado pela sua falta de preparação e por sua capacidade peculiar para agredir a língua espanhola. No entanto, ele é um ator com um bom senso de estratégia. Seus movimentos quase sempre prolongam suas perspectivas de tempo, parece entender bem a lógica do gambito. Não haverá vitória do regime, sem dúvida, e uma derrota honrosa não está no DNA do chavismo. Neste momento, só os Estados Unidos e Cuba podem terminar com este jogo perverso.

    E têm que se apressar."

Se, como bem aponta o articulista, Cuba é um Estado a sério e, pela centralização do poder (leia-se despotismo) pode garantir qualquer negociação, não as cumprindo se não querem, é impossível acreditar que a presente onda de repressão na Venezuela, iniciada após as negociações com os Estados Unidos, não seja controlada ao milímetro pelo regime dos Castros.

Os sequestros de opositores, a prisão arbitrária de políticos de oposição eleitos, como Antonio Ledezma, as execuções sumárias de estudantes têm a mão da inteligência e da máquina repressora venezuelano-cubana. Como confiar, pois, na honestidade da disposição destes regimes? Estas negociações são uma porta aberta para o fim destes regimes socialo-comunistas tirânicos ou podem se tornar um esteio para o seu prolongamento no tempo? Perguntas para o Departamento de Estado e a diplomacia vaticana.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A Petrobras e a intelectualidade corrupta

A Petrobras e a intelectualidade corrupta


Um manifesto assinado por expoentes da assim chamada ”intelectualidade brasileira”, como Fábio Konder Comparato, Marilena Chauí, Cândido Mendes, Celso Amorim, João Pedro Stédile, Leonardo Boff e Maria da Conceição Tavares (e haja fôlego!), denuncia a Operação Lava Jato como tentativa de destruição da Petrobras, de seus fornecedores e de mudança do modelo que rege a exploração de petróleo no Brasil.

Vejam bem, segundo estes senhores, a destruição da Petrobras vem da apuração dos crimes feitos pela Justiça e pela Polícia Federal; não provém dos próprios crimes praticados pela máfia petista encastelada na máquina pública.

Conspiração
O texto do dito manifesto aponta ainda uma “conspiração” para desestabilizar o governo; as investigações, segundo esses “expoentes intelectuais”, atropelam o Estado de Direito.

Chamo de novo a atenção: não são os crimes cometidos pela máquina corrupta do Partido dos Trabalhadores para consumar seu projeto de poder anti-democrático – e reduzidos por estes luminares a simples “malfeitos” – os que abalam o Estado de Direito; o que abala o Estado de Direito é a ação da Polícia e da Justiça, transformada numa “conspiração para desestabilizar o governo”.

Para finalizar e acentuar a má-fé que perpassa o texto, o manifesto conclui por afirmar que “o Brasil viveu, em 1964, uma experiência da mesma natureza”, a qual nos custou “um longo período de trevas e de arbítrio”. Qual o fundamento para esta aproximação arbitrária e gratuita?

Subversão das ideias, distorção dos fatos
Consolida-se hoje, de Norte a Sul do Brasil, um sentimento de aversão e repulsa em face da imensa máquina de corrupção instalada pelo PT (e associados) na Petrobrás, em diversas outras instâncias dos negócios do Estado e nas instituições, com a finalidade de consumar um projeto de poder totalitário. É bom e louvável que assim seja.

Mas é preciso atentar para um aspecto talvez mais perigoso do que a corrupção material! Uma corrupção intelectual na tentativa de inverter a realidade dos fatos, de destruir a objetividade das análises e de subverter a reta razão dos indivíduos. Não se esqueçam, é este tipo de “intelectualidade” e de “lógica” perversa que constitui o esteio de regimes tirânicos e genocidas, como o da Alemanha de Hitler, o da União Soviética de Lênin e Stalin, o da China de Mao, o do Camboja de Pol-Pot, entre tantos outros.

Manifesto que exala agonia
Convido os leitores do Radar da Mídia a lerem trechos do artigo “Que agonia”, que Vinícius Mota publica na Folha de S. Paulo (23.fev.2015):

  • Ao final da longa purgação que apenas se inicia, a Petrobras e todo o complexo político-empresarial ao seu redor terão sido desidratados. Do devaneio fáustico vivido nos últimos dez anos restará um vulto apequenado, para o bem da democracia brasileira.

    As viúvas do sonho grande estão por toda parte. Um punhado de militantes e intelectuais fanáticos por estatais monopolistas acaba de publicar um manifesto que exala agonia.

    O léxico já denota a filiação dos autores. A roubalheira na Petrobras são apenas "malfeitos". O texto nem bem começa e alerta para a "soberania" ameaçada, mais à frente sabe-se que por "interesses geopolíticos dominantes", mancomunados, claro, com "certa mídia", em busca de seus objetivos "antinacionais".

    Que agenda depuradora essa turma teria condição de implantar se controlasse a máquina repressiva do Estado. Conspiradores antipatrióticos poderiam ser encarcerados, seus veículos de comunicação, asfixiados, e suas empresas, estatizadas para abrigar a companheirada. (...)

    Quanto maior é o peso de empresas estatais na economia, mais amplos são os meios para o autoritarismo. Imagine se o governo ainda tivesse em mãos a Vale, a Embraer e as telefônicas para fazer política. Quais seriam os valores da corrupção, se é que sobrariam instituições independentes o bastante para apurá-los?

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Desonesta, falsa, indecisa

Desonesta, falsa, indecisa


Está na memória de todos o momento em que o País passou a acompanhar o escrutínio do segundo turno da disputa eleitoral para Presidente. A estranheza se estabeleceu em inúmeros espíritos. A apuração decorrera em absoluto sigilo até que estivessem computados quase 90% dos votos. O que para muitos parecia impossível, confirmava-se: Dilma Rousseff seria reeleita.

O choque veio somar-se a uma campanha eleitoral muito disputada, com reviravoltas impressionantes, lances trágicos, com uma violência verbal desmedida e uma avalanche de mentiras e de ameaças inaudita.

Vitória de Pirro
A vitória de Dilma foi por bem pequena margem. Muitos a classificaram como vitória de Pirro.

Tive oportunidade de fazer palestras em que analisei, com dados, os resultados das eleições. Nelas demonstrei que:

- o PT não representa metade do País, mas é um partido minoritário que, com conchavos e alianças e uma base aliada titubeante, conseguiu mais um mandato presidencial;

- o PT, além de minoritário, é uma força declinante, o que se revelou na sua grande perda de parlamentares em todos os níveis;

- não há um País dividido ao meio, mas uma minoria grande (38% do total de eleitores) que elegeu a presidente, por muitas razões sem conteúdo ideológico;

- a densidade ideológica revelada pelos eleitores que votaram no candidato da oposição era muito mais acentuada;

- a principal força política que emergiu das urnas foi o antipetismo, que não concorreu oficialmente às eleições numa agremiação política.

Fruto envenenado
Por isso tive também oportunidade de acentuar que a vitória de Dilma além de ser uma vitória de Pirro, era um fruto envenenado e que logo se voltaria contra a vitoriosa (Dilma), contra seu partido (PT) e contra seu mentor (Lula).

Passou-se pouco mais de um mês da posse de Dilma e o desastre político se configura no horizonte, com o antipetismo se alastrando pela sociedade. O estelionato eleitoral praticado pelos marqueteiros do PT ficou patente. Dilma enganou e mentiu nos números da economia, acusou os outros de quererem tomar as medidas que ela está tomando agora, convidou para um diálogo que não ocorreu, tentou inverter os escândalos da máquina de corrupção petista.

É fácil, com doses cavalares de propaganda enganosa (coadjuvados pelos misteriosos métodos do voto eletrônico e da apuração sigilosa), vencer uma eleição. O problema é mudar a realidade do País e da sociedade.

A esquerda perde a batalha da popularidade
Reinaldo Azevedo escrevia há dias no seu blog: “Eu anuncio aqui a morte da sociedade sonhada pelos petralhas”.

Sim, o lulo-petismo, bafejado por todas as máquinas burguesas da propaganda, quis assaltar o poder e conformar a sociedade a sua ideologia, mas a sociedade o rejeitou. E essa rejeição é a realidade mais profunda da atual situação política.

Como bem assinalou Plinio Corrêa de Oliveira, a esquerda sempre se enganou com o Brasil, não soube auscultar as camadas profundas da sociedade que, por vezes, podem ser ludibriadas, mas quase nunca são conquistadas pelos seus delírios ideológicos:

“Se a esquerda for açodada na efetivação das reivindicações ´populares´ e niveladoras com que subiu ao poder; se se mostrar abespinhada e ácida ao receber as críticas da oposição; se for persecutória através do mesquinho casuísmo legislativo, da picuinha administrativa ou da devastação policialesca dos adversários, o Brasil se sentirá frustrado na sua apetência de um regime bon enfant, de uma vida distendida e despreocupada. Num primeiro momento, distanciar-se-á então da esquerda. Depois ficará ressentido. E, por fim, furioso. A esquerda terá perdido a partida da popularidade” (Cuidado com os pacatos, Folha de S. Paulo, 14.12.82).

A esquerda petista perdeu a batalha da popularidade. O desprestígio de Dilma, de Lula e do PT está nas ruas. Agora até as pesquisas de opinião constatam aquilo que há muito se observa.

Com ferro foi ferida
Convido-os a ler o artigo de Dora Kramer, publicado no jornal O Estado de S. Paulo (10.Fev.2015), intitulado Com ferro foi ferida:

  • "A notícia de que a perplexidade tomou conta do Palácio do Planalto com a derrocada dos índices de popularidade e confiabilidade da presidente da República é prima irmã daquela irritabilidade que recai sobre a pessoa de Dilma Rousseff quando algum fato tem repercussão negativa na opinião pública.

    Ambas são versões oficiais destinadas a criar um espaço de prudente (embora falsa) distância entre ela e a má nova. Ou velha, tanto faz. Algum ato de governo pegou mal? "Dilma ficou muito irritada", avisa a assessoria.

    O brasileiro não gostou de constatar que Dilma mentiu na campanha eleitoral a respeito de rigorosamente todos os principais temas em debate com os oponentes? Mais que depressa o departamento de propaganda do governo informa que foi um choque para ela saber disso.

    Ora por quem sois. A pesquisa do Instituto Datafolha explicitou em números uma realidade que os fatos estavam contando por si todos os dias. Ou alguém no Palácio do Planalto poderia esperar algo de diferente quando uma presidente da República recentemente reeleita simplesmente some de cena enquanto são anunciadas medidas que, segundo a candidata a conquistar votos, não seriam tomadas em hipótese alguma?

    Ou, por outra, seriam impostas cruelmente ao País caso o eleitorado optasse por escolher um de seus adversários. Qualquer um dos dois, Marina Silva ou Aécio Neves, seriam os culpados por graves agruras. Ela, Dilma Rousseff, seria o caminho das soluções. Note-se o silêncio pós posse que contrariou até o discurso da noite da vitória em que ela conclamava a Nação à união e ao "diálogo".

    Daí em diante não explicou mais nada. Quando falou, limitou-se a monólogos fantasiosos seguindo a mesma toada da agenda ilusória montada para a campanha eleitoral. A roubalheira na Petrobrás era culpa de um ou outro funcionário; a crise econômica, decorrência da situação internacional; a inflação, inexistente e o que mais não vá bem, produto de pessimismo.

    Deixou o ponto crucial que era o ajuste na economia ao encargo do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, como quem tenta se preservar e aqui de novo, se distanciar da má notícia. Deu a seguinte impressão: se sair errado, a culpa é dele.

    A se acreditar que a presidente da República e seu grupo fechado de conselheiros foram realmente pegos de surpresa com o efeito dessa conjunção de desastres nem todos citados, pois de conhecimento geral, é de se concluir pela gravidade da situação de isolamento total do núcleo governante.

    Não há no tão competente departamento de comunicação governamental um acompanhamento permanente de pesquisas? E aquela consulta que o PT anunciou que contrataria para detectar as razões do claudicante desempenho eleitoral? Dela nunca mais se ouviu falar.

    A julgar pela reação improvisada e repetitiva do anúncio da montagem de uma "agenda positiva" como se a agenda negativa não fosse fruto do choque de ações do governo com a agenda ilusória da campanha, há um apagão de sensatez no Palácio do Planalto. Ou um surto de ingênua credulidade no poder eterno do ilusionismo.

    E ausência de noção de limite. João Santana, o marqueteiro, extrapolou, exagerou e ganhou a eleição. Entregou a mercadoria. O dia seguinte é serviço de quem ganhou. Há um dado terrível para a presidente na pesquisa do Datafolha: 47%, 54% e 50% dos consultados consideram que ela é desonesta, falsa ou indecisa.

    Produto de quê? Da exacerbada contradição entre o discurso de campanha e as ações logo depois. Portanto, talvez não seja um exagero concluir que, se não tivessem sido tantas e tão flagrantes as mentiras, se a campanha de Dilma não tivesse procurado colocar na boca dos opositores palavras que nunca disseram, possivelmente a crise não atingiria tão gravemente a imagem da presidente".