segunda-feira, 17 de maio de 2010

“Meu coração está com Dilma”

“Meu coração está com Dilma”

Já não causa estranheza a ninguém a desenvoltura com que o Presidente venezuelano, Hugo Chávez, se intromete na política interna de outros países latino-americanos.

O caso hondurenho
Honduras foi talvez dos casos mais paradigmáticos, com a tentativa protagonizada por Manuel Zelaya de alterar a Constituição do país e perpetuar-se no poder, com o apoio explícito do caudilho venezuelano.

Impedido pelos poderes hondurenhos de prosseguir seu golpe, Zelaya tentou convulsionar o país, articulando hordas de movimentos sociais, orientados de fora por Chávez, e se alojou na embaixada brasileira em Tegucigalpa, transformada em quartel-general de sua tentativa de insurreição, com o beneplácito solícito do governo Lula.

Os jornais noticiam agora que Hugo Chávez se encontrou novamente com Zelaya e que este último foi a Cuba. Que nova surpresa estarão preparando?

Argentina, Bolívia, Equador
Na Argentina a interferência do presidente venezuelano tem sido aberta e envolveu até financiamento, por meios escusos, da campanha eleitoral da atual presidente argentina, Cristina Kirchner.

A Bolívia a bem dizer tornou-se um protetorado de Hugo Chávez. Evo Morales, o presidente boliviano, desloca-se em aeronaves militares venezuelanas. Agentes da petrolífera venezuelana estiveram envolvidos no assalto às instalações da Petrobrás, que Lula definiu como um ato de soberania (!) da Bolívia. E Chávez ameaça até militarmente todo e qualquer um que, a seu ver, “desestabilize” o governo de Morales.

O Equador é outro país cujo presidente, Rafael Correa, segue a cartilha chavista e está sempre pronto a alinhar-se às aventuras e interesses do caudilho venezuelano.

Nicarágua, Peru, Paraguai
Poderia aqui falar da Nicarágua, onde Daniel Ortega tenta consumar um golpe constitucional e lança nas ruas suas turbas dos movimentos sociais (chavistas) para cercar e atacar o Congresso, onde a oposição lhe faz frente.

Poderia ainda mencionar o Peru, o Paraguai – países nos quais Chávez tentou interferir de algum modo no processo político – e a lista não estaria completa.

Na Colômbia a defesa das FARC
No momento, Hugo Chávez interfere de maneira totalmente desabrida no processo eleitoral colombiano, cujo primeiro turno da eleição presidencial ocorre no final deste mês.

Além de acusar de “mafioso” a Juan Manuel Santos, o candidato apoiado por Álvaro Uribe e ex-ministro da Defesa, Chávez lançou uma advertência aos colombianos de que a eleição de Santos manteria a turbulência na região e poderia levar a um conflito entre os dois países. Tudo para defender a sobrevivência das FARC, o grupo narco-terrorista que hoje tem no território venezuelano um verdadeiro santuário.

Onde está a “púdica” Unasul, criação da diplomacia lulo-petista, tão “ciosa” da soberania equatoriana “violada”, quando o exército colombiano, numa operação espetacular, eliminou um dos principais cabecilhas das FARC, Raul Reyes, que se resguardava atrás das linhas fronteiriças, para dali organizar ataques à Colômbia?

Onde está o Presidente Lula, um dos “homens mais influentes do mundo”, segundo a revista Time, para se insurgir contra esta ingerência descabida de Chávez em assuntos internos da Colômbia?

Ninguém ouviu nem ouvirá o Presidente Lula dizer nada.

Nem o Brasil escapa
Mais ainda, Lula permite que Chávez faça o mesmo no Brasil e aproveita a ocasião para elogiar o mandatário venezuelano, menosprezando sua entranhada relação com a ditadura castrista, seu apoio às FARC e a outros grupos terroristas, a perseguição que move a opositores e à imprensa não alinhada com sua ideologia.

Hugo Chávez esteve novamente no Brasil, há cerca de três semanas, e em entrevista declarou seu apoio à candidata de Lula e do PT: “Meu coração está com Dilma. Mando um beijo para você, Dilma”.

A leniência de Lula com a interferência de Chávez no processo eleitoral brasileiro, bem como os elogios feitos ao caudilho venezuelano, indicam insofismavelmente um caminho e uma meta.

Terceiro mandato chavista
Muitos afirmam com ênfase que Lula demonstrou magnanimidade de estadista ao renunciar ao terceiro mandato. É afirmação com a qual não concordo e que, a meu ver, não tem base nos fatos. O Presidente tentou por mais de uma vez, sobretudo através de aliados, lançar o balão do terceiro mandato, mas de todas as vezes esbarrou em uma vigorosa reação de setores da sociedade que o impediram de concretizar seu desígnio, tão ao gosto do chavismo imperante em outros países.

Na impossibilidade de um terceiro mandato, Lula aposta na candidata Dilma Rousseff, uma voluntariosa imposição sua ao PT. E a eventual vitória de Dilma funcionaria como um terceiro mandato oblíquo, cujos contornos chavistas se vão delineando. O PNDH3 é o roteiro. Por isso Hugo Chávez não hesita em dizer que seu coração está com Dilma.

Repito, a interferência do venezuelano no processo político brasileiro é uma afronta, mas também um sinal do tipo de esperança que Chávez e Lula depositam na possível vitória de Dilma Rousseff.

Chavismo cordial
Há dias, Arnaldo Jabor, em sua coluna semanal em O Globo (4.maio.2010) apontou esta meta. O título é significativo, o autor insuspeito: “O chavismo cordial”. São trechos deste artigo que hoje compartilho com os que acompanham o Radar da Mídia.
  • "Dilma Rousseff tem de ser ela mesma. Seu duro passado de militância política lhe deixou um viés de rancor e vingança, justificáveis. Ela tem todo o direito de ser uma típica "tarefeira" da VAR-Palmares, em via de realizar o sonho de sua juventude, se eleita. Ela tende para a estatização da economia, restos de sua formação leninista; ela tem o direito de ser irritadiça, pois o País é irritante mesmo. Seus olhos fuzilam certezas sobre como consertar a pátria amada. Ela pode achar que democracia é "papo para enrolar as massas", ela pode desconfiar dos capitalistas e empresários, ela pode viver gostosamente a volúpia do poder que conquistou, ela pode ignorar a queda do Muro de Berlim, o fim da guerra fria, ela pode amar o Lula, seu símbolo do operário mágico que encarnou na prática a vazia utopia do populismo "revolucionário". Ela pode tudo, mas tem de assumir sua personalidade.

    Meu Deus, como eu entendo a cabeça da Dilma, mesmo sem conhecê-la pessoalmente... Conheci muitas "Dilmas" na minha juventude, quando participei da fé revolucionária de nossa geração. Para as "Dilmas" e "Dirceus" do passado, a democracia é uma instituição "burguesa" (Lenin: "É verdade que a liberdade é preciosa; tão preciosa que precisa ser racionada cuidadosamente"). (...) Nós éramos os fiéis de uma "fé científica", uma espécie de religião da razão praxista, que salvaria o mundo pelo puro desejo político - éramos o "sal da terra", os "sujeitos da história". (...)

    Essa frente unida do autodeslumbramento de Lula com a massa sindicalista pelega quer transformá-la em uma "Dilma" que não existe. Uma nova pessoa, um clone dela mesma. Isto é muito louco. (...)

    A finalidade da faxina que marqueteiros e "pt-psicólogos" fazem na moça é esta: criar alguém que não existe e que nos engane, alguém que pareça o que não é. Afinal, que querem esconder? Querem uma reedição "Dilminha paz e amor"? (...) Dilma é uma loba em pele de cordeiro?

    Isso é grave. O PT não se envergonha de criar uma pessoa artificialmente fabricada em quem devemos votar? Será que seguem ainda a máxima de Lenin: "Uma mentira contada mil vezes vira uma verdade"?

    Querem que ela seja uma sorridente "democrata", uma porta colorida para a invasão da manada de bolchevistas que planejam mudar o País para trás, na contramão da tendência da economia global. Eu os conheço bem... A crescente complexidade da situação mundial na economia e na política os faz desejar um simplismo voluntarista que rima bem com o fundamentalismo islâmico ou com a boçalidade totalitária dos fascistas (...).

    Nesta eleição, não se trata apenas de substituir um nome por outro. Não. O grave é que tramam uma mudança radical na estrutura do governo, uma mutação dentro do Estado democrático. Vamos viver um pleito pretensamente "revolucionário", a tentativa de um Gramsci vulgar (filósofo que dizia que os comunistas devem se infiltrar na democracia para mudá-la). (...)

    Não esqueçamos que o PT combateu o Plano Real até no STF, como fez com a Lei de Responsabilidade Fiscal, assim como não assinou a Constituição de 88. Esse é o PT que quer ficar na era pós-Lula. (...)

    Depois desse "bonapartismo cordial" que o Lula representou até com galhardia, se apropriando da "herança bendita" de FHC, pode haver o início de uma nova fase: o "chavismo cordial". "
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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Farsa moral do politicamente correto

Farsa moral do politicamente correto

A maior parte das sociedades modernas cultua como valor básico a liberdade de expressão, pela qual todo e qualquer indivíduo pode manifestar publicamente e sem censuras suas opiniões, desde que estas não incitem ao crime.

Mas, curiosamente, a chamada liberdade de expressão vai sendo corroída não tanto por dispositivos legais mas por uma mentalidade, uma ideologia que se vai disseminando a pouco e pouco. Eu a qualificaria como a ideologia do “anti-preconceito” e da “não-discriminação”.

O leitor já notou que, cada vez mais, diversas opiniões ou atitudes a respeito dos mais variados assuntos (culturais, científicos, políticos, sociológicos, até esportivos) são facilmente qualificadas de preconceituosas ou discriminatórias? E em nome da ideologia do “anti-preconceito” e da “não-discriminação” nosso modo de pensar e de agir é cada vez mais policiado? Policiado socialmente, policiado midiaticamente (se me permitem o termo).

Pode parecer contraditório, mas essa ideologia – e a mentalidade que ela gera – é ela, sim, profundamente discriminatória e cerceadora do direito de expressar idéias, em relação a todos os que não professam seus valores, ou melhor seus contra-valores.

Furor “não discriminatório”
Faça um teste! Dê, por exemplo, uma opinião contrária ao “casamento” homossexual, à adoção de crianças por “casais” homossexuais, ou formule um julgamento moral a respeito da homossexualidade e logo verá as patrulhas do pensamento “não discriminatório” se levantarem com furor, brandindo a acusação de homofobia, um epíteto de contornos mal definidos com o qual se pretende voltar a hostilidade pública contra alguém.

Se essa opinião for dada publicamente, com repercussão mediática, o furor “não discriminatório” subirá vários decibéis e contará com a preciosa colaboração de uma parte considerável do jornalismo engajado, que ampliará esse histerismo ideológico.

Estamos em presença do pensamento “politicamente correto”, que se tornou verdadeiramente policialesco em relação ao pensamento e à linguagem.

Alvos selecionados
Mas vejam bem, toda esta máquina de indignação tem seus métodos e metas, tem seus inimigos e cúmplices e escolhe os momentos e os personagens alvos de sua inconformidade.

Há poucos dias Evo Morales, o presidente da Bolívia, em uma de suas investidas anticapitalistas, defendia o “socialismo comunitário em harmonia com a terra”. Em determinado momento, afirmou que o consumo de transgênicos e de frangos alimentados com hormônios femininos causam a calvície, a homossexualidade e a impotência sexual (cfr. Valor e O Estado de S. Paulo 22.abr.2010).

Era de se esperar que o furor anti-homofóbico explodisse internacionalmente. Imagine-se que as afirmações tivessem sido proferidas pelo ex-presidente norte-americano George W. Bush, um alvo preferencial da mídia “politicamente correta”. A gritaria anti-homofóbica teria preenchido os espaços mediáticos, e os leões do pensamento “não discriminatório” teriam rasgado suas vestes em público.

Mas como a afirmação foi feita por Evo Morales, um membro da grei ideológica onde prolifera a ideologia do politicamente correto e onde o ativismo pró-homossexual tem sua guarida, os protestos foram bem minguados e tiveram um eco diminuto na mídia.

Silencioso marxismo cultural
Ao comentar este e outros episódios, o jovem e brilhante jornalista Henrique Raposo, no semanário Expresso de Lisboa (23.abr.2010) respondeu à pergunta: O que é o politicamente correto?

São trechos desse artigo que hoje quero compartilhar com os que acompanham o Radar da Mídia:

  • I. O "Politicamente correto" é, se quiserem, um silencioso marxismo cultural. Se o velho marxismo era uma coisa de massas, este novo marxismo é uma coisa silenciosa. O politicamente correto não é uma ideologia coletiva. É, isso sim, uma crença privada. Mas, atenção, é uma crença privada partilhada, em silêncio, por milhões. É um manual de comportamento e de policiamento do pensamento e do vocabulário.

    II. O velho marxismo assentava numa simples dicotomia moralista: havia os "bons", os operários, e os "maus", os burgueses. O novo marxismo cultural readaptou essa lógica para a esfera cultural, religiosa e étnica: há o "mau", o Ocidente branco, e há o "bom", o resto do mundo não-ocidental. Isto, como é óbvio, gera a farsa moral do politicamente correto. Uma farsa que mina o debate das nossas sociedades.

    III. Um exemplo desta farsa: há dias, Evo Morales disse uma barbaridade: os transgénicos, segundo o Presidente da Bolívia, causam a terrível doença da homossexualidade. Esta declaração, que é um absurdo, não causou polêmica. Os "tolerantes" do costume não reagiram. Se tivesse sido um líder ocidental a dizer semelhante disparate, oh meu Deus, tinha caído o Carmo e a Trindade. Mas como foi um "indígena" da Bolívia, as boas consciências calaram-se. Tal como se calaram perante o racismo de Lula da Silva ("esta crise é da responsabilidade de louros de olhos azuis") ou perante a ignorância criminosa de líderes africanos ("a AIDS é uma invenção ocidental"). Pior: os "tolerantes" são incapazes de criticar a homofobia de Morales, mas já são capazes de me apelidar de "racista" só pelo fato de eu criticar Morales. É esta a hipocrisia vital do chamado "politicamente correto".
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