quinta-feira, 25 de junho de 2009

Acobertamento de ditaduras

Acobertamento de ditaduras
Já se tornou recorrente a observação – partida de diplomatas, de especialistas em relações internacionais, de analistas políticos, etc. – de que a diplomacia brasileira, no governo Lula, se tornou refém de interesses ideológicos e deixou de ter como fim primordial a defesa dos interesses nacionais. O que, inclusive, tem acarretado ao Brasil vergonhosas derrotas no campo internacional.

Os fatos estão aí e não é o momento de relembrá-los. Cabe apenas rememorar que já ao iniciar-se o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os responsáveis de sua política externa apontaram que, ideologicamente, se encontraria nela a “chave” interpretativa do governo petista. A realidade, infelizmente, comprovou a precisão de tal anúncio.

No âmbito interno, devido a condicionantes políticas e diferentes tipos de resistência da sociedade, Lula teve a imperiosa necessidade de adaptar e abrandar a agenda que sempre foi a do PT. O caso mais característico se deu na política econômica.

Tem sido precisamente em diversos aspectos da política externa, marcados pelo mais impúdico radicalismo, que tem transparecido o verdadeiro caráter ideológico do governo.

Lula recebido na ONU com protestos

Um dos traços mais vergonhosos da diplomacia lulo-petista é a contínua conivência ou cumplicidade com governos ditatoriais. Posição sempre justificada por subterfúgios como “multilateralismo”, “diálogo”, “convívio com as diferenças” e outras pérolas do que tenho qualificado neste blog de cinismo político-ideológico.

Lula esteve há dias em Genebra para discursar, pela primeira vez, no Conselho de Direitos Humanos da ONU e aí tentar explicar a inexplicável política de acobertamento de ditadores.

O presidente foi recebido com duros protestos de ativistas dos Direitos Humanos. ONGs do mundo inteiro – como as insuspeitas Anistia Internacional e Human Rights Watch – acusam a atual diplomacia brasileira de abandonar as vítimas de violações de Direitos Humanos e de apoiar regimes ditatoriais.

As acusações vão mais fundo. Tais organizações afirmam ainda que o Brasil tenta com sua política inviabilizar a eficácia do fórum da ONU, bloqueando investigações internacionais e evitando condenações de regimes como o norte coreano, que mantém execuções sumárias e campos de concentração.

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“O Brasil está politizando o fórum e negligenciando as vítimas de violações de direitos humanos”, disse o diretor jurídico da Conectas, Oscar Vilhena (cfr. O Estado de S. Paulo, 15.jun.2009)

Pelo menos 35 ONGs endereçaram cartas ao conselho da ONU e ao governo brasileiro, pedindo uma mudança de rumos em tal política, e a própria ONU criticou o comportamento da diplomacia brasileira.

Ladaínha de justificativas

A diplomacia brasileira tenta justificar-se, afirmando que é sempre necessário dar uma chance aos regimes ditatoriais.

Chance? Há décadas que a Coréia do Norte e Cuba violam brutalmente os chamados Direitos Humanos. No que consistiria a “chance”? Em poderem prosseguir suas violações?

Mas o Itamaraty, pela boca do Chanceler Celso Amorim, acrescenta que quer impedir que o Conselho se torne uma espécie de tribunal para condenar nações mais frágeis.

As ditaduras se tornaram, pois, na visão da diplomacia “companheira”, “nações frágeis” que têm de ser protegidas. Deu para entender? O Brasil não protege as vítimas das ditaduras, mas protege as ditaduras, “nações frágeis”.

Mas a ladainha de justificativas não termina por aqui. O Ministro Paulo Vanucchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República afirmou à imprensa que o Brasil defende a negociação, o diálogo e a “necessidade de conviver com as diferenças de posições”.

Ou seja, acobertar tiranias traduz-se no manual político-ideológico do lulo petismo por “conviver com as diferenças de posições”.

Por fim, o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, declarou a O Estado de S. Paulo (15.jun.2009): “Há restrições ao fato de o Brasil não ter assumido uma posição de ficar distribuindo certificados de bom comportamento ou de mau comportamento pelo mundo afora”.

É claro que este cândido princípio de isenção só tem validade quando se trata de defender grupos terroristas ou ditadores ideologicamente sintonizados com os princípios do lulo-petismo, ou, pelo menos, politicamente alinhados com seus escusos interesses.

Quando se trata de combater o governo de Álvaro Uribe pelos golpes assestados às FARC, ou o governo de Israel quando se defende dos ataques desferidos pelos grupos terroristas do Hamas ou do Hezbollah, toda esta postura de “abstenção”, de “diálogo”, de “convívio com as diferenças”, desparece num piscar de olhos, e é o próprio Sr. Marco Aurélio Garcia quem se incumbe de distribuir seus certificados internacionais de mau comportamento.

De acordo com a Folha de S. Paulo (16.jun.2009), em seu discurso no conselho da ONU, Lula tentou defender a criticada atuação do Brasil: “Este conselho deve buscar no diálogo, e não na imposição, o caminho para fazer avançar a causa dos direitos humanos”.

Após o discurso do Presidente, os grupos civis voltaram a criticar o governo e a afirmar que consideram a visão brasileira moralmente duvidosa. “O apoio do Brasil a países que violam os direitos humanos tem prejudicado a eficácia do conselho”, afirmou a diretora da ONG Human Rights Watch em Genebra.

Começa a desfazer-se o equívoco

Durante muito tempo se repetiram internacionalmente certos chavões (mais parecem mantras!) a respeito do governo Lula e de sua orientação político-ideológica. Tais chavões insistiam, contra a evidência dos fatos, em que o presidente mantinha uma linha de moderação e que seu radicalismo ideológico tinha desaparecido.

Talvez os mais recentes acontecimentos, como o padrão de comportamento no Conselho de Direitos Humanos da ONU, a aproximação ao regime da Coréia do Norte, o convite dirigido ao Presidente do Irã, Ahmadinejad, para visitar o Brasil, o refúgio ao terrorista Battisti, vão ajudando a desfazer um equívoco fundamental, alimentado por certa displicência otimista, ou mesmo por má-fé.

“A política externa de Lula cheira mal”

Surgem pelo mundo vozes que começam a alertar para a vergonhosa e perigosa política externa do governo Lula.

É o caso do importante analista de assuntos latino-americanos, Andrés Oppenheimer, que publicou no Miami Herald (21.jun.2009) o artigo intitulado: O Brasil merece críticas por sua horrível política externa.

  • O Brasil, o maior país da América Latina, recebeu nestes anos elogios bem merecidos por suas políticas econômicas responsáveis. Mas está sob fogo, de modo crescente, por seu vergonhoso apoio a ditaduras ao redor do mundo.

    É difícil existir um ditador – ou um governo repressor – de que o Brasil não goste, afirmam os grupos de defesa dos direitos humanos.

    Na semana passada, quando o Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva se dirigiu ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, foi saudado com um coro de reclamações sobre sua política externa pela Anistia Internacional, pela Human Rights Watch e outros dos principais grupos de defesa dos direitos humanos.

    “O apoio do Brasil a governos autoritários está minando o desempenho do Conselho de Direitos Humanos,” declarou a 15 de junho Julie de Rivero, diretora de advocacia do Human Rights Watch.

    O presidente Lula está levando sua política de não se envolver em contendas com outros países muito longe, dizem os críticos.

    No ano passado, depois que o Presidente venezuelano Hugo Chávez fechou a maior estação de televisão independente de seu país, a RCTV, Lula declarou à revista alemã der Spiegel que “Chávez é sem dúvida o melhor presidente da Venezuela nos últimos 100 anos.”

    De modo semelhante, após se encontrar com o semi-aposentado ditador Fidel Castro durante uma visita a Cuba em janeiro de 2008, Lula afirmou esperar que Castro logo retornasse para assumir seu “papel histórico,” e louvou sua “incrível lucidez”.

    Mais recentemente, os votos do Brasil no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas têm se alinhado mais freqüentemente com países totalitários do que com as democracias de centro-esquerda da América Latina, como Argentina, Uruguai e o Chile. Alguns exemplos recentes:

    - Em maio, o Brasil se absteve em uma votação de resolução patrocinada por Cuba que visava fazer com que o Conselho parasse de monitorar as violações de direitos humanos no Sri Lanka, onde o mais alto comissário de direitos humanos das Nações Unidas, denunciou a generalização de crimes de guerra. Em comparação, Argentina, Chile, México e a Comunidade Européia votaram pela manutenção do inquérito.

    - Em março, o Brasil se absteve em uma votação similar sobre as Nações Unidas continuarem ou não a monitorar os direitos humanos na Coréia do Norte, onde os supervisores da ONU estavam examinando relatórios sobre execuções e campos de concentração. Em comparação, países europeus, Argentina, Chile e Uruguai votaram a favor do prosseguimento da missão.

    - Também em março, o Brasil se absteve em uma votação proposta pela União Européia para barrar uma proposta africana destinada a debilitar a obtenção de provas pelas Nações Unidas de abusos cometidos na República do Congo. Em comparação, Argentina, Chile, Uruguai e até a esquerdista linha-dura Nicarágua votaram a favor de continuar as sindicâncias.

    - Em fevereiro, durante a revisão da situação de direitos humanos em Cuba, promovida pelo conselho, o Brasil afirmou “dar as boas-vindas”' à “posição construtiva” de Cuba no sistema dos direitos humanos das Nações Unidas e não mencionou os prisioneiros políticos do país, ou a ausência de liberdade de imprensa e de outros direitos fundamentais.

    “O Brasil considera os direitos humanos como um obstáculo para as suas metas estratégicas”, disse-me em uma entrevista telefônica José Miguel Vivanco, Diretor para as Américas do Human Rights Watch,. “O Brasil acredita que seu apoio ao Terceiro Mundo, e às políticas anti-colonialistas deve ter precedência em relação às considerações sobre direitos humanos.”

    Vivanco acrescentou que, na América Latina, “o México é um país modelo quando se considera sua política externa em matéria de direitos humanos, seguido pelo Chile, Argentina e o Uruguai. O Brasil está no outro lado do espectro.”

    Ao ser questionado sobre as crescentes críticas à política externa do Brasil, Marco Aurélio Garcia, conselheiro presidencial de Lula afirmou ao diário O Estado de S. Paulo em 14 de junho: “O Brasil não tem que estar dando certificados de boa conduta ou má conduta pelo mundo”. E acrescentou: “Nós pensamos que é muito mais importante empreender ações positivas que podem mover um país a melhorar sua situação interna do que ações de uma natureza restritiva”.

    Minha opinião: O Brasil – e seu presidente – merece bastante crédito por se ter tornado um modelo de estabilidade econômica, redução de pobreza e de liberdades políticas numa região onde muitos outros países estão retrocedendo em todas essas três frentes.

    Mas a sua política externa cheira mal. O Brasil devia ser fiel a seus compromissos assumidos em tratados internacionais para defender universalmente os direitos humanos e os princípios democráticos, e parar de aplaudir ditadores. Se Lula continuar a fazer vista grossa para abusos de direitos humanos ao redor do mundo, estará abrindo um precedente para que futuros governos suprimam direitos humanos em seu próprio país.

    P.S.: No final da semana passada, talvez como resultado das críticas dos grupos de direitos humanos, no Conselho das Nações Unidas, o Brasil deu um raro voto, no caso do Sudão, junto com países pró direitos humanos. Esperemos que seja o início de uma mudança do Brasil em sua horrível política externa.

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sexta-feira, 19 de junho de 2009

A estranha ética do Presidente

A estranha ética do Presidente
O
País tem sido assombrado, há meses, pela revelação de irregularidades e ilegalidades no Congresso Nacional. Nas últimas semanas, tais revelações se concentraram mais em práticas do Senado.

De alguma forma, o clímax foi atingido esta semana com o discurso de José Sarney, durante o qual, em tom grandiloqüente, afirmou que a “crise é do Senado, não é minha”. O que, de si, não deixa de ter algo de verdadeiro.

Os abusos e desmandos que têm vindo à tona, levaram a Folha de S. Paulo (18.jun.2009) a assinalar em seu Editorial que “a sociedade brasileira se vê desarmada, assim, diante de práticas de comportamento que muitos de seus representantes vinham encarando como perfeitamente normais até agora”.

Lula repudia o "denuncismo"

Mas faltava nesse quadro traumático e desabonador do mundo político a pitada do presidente Lula. Apesar de se encontrar no longínquo Cazaquistão, Lula decidiu colocar em dúvida as revelações de irregularidades no Senado e repudiar o que qualificou de “denuncismo”.

“Eu sempre fico preocupado quando começa no Brasil esse processo de denúncias, porque ele não tem fim”, afirmou o presidente.

O “sempre” do presidente, entenda-se, é relativo, pois as preocupações de Lula com o chamado “denuncismo”, são de ocasião. Elas se manifestam quando as denúncias o atingem a ele, a seu círculo próximo ou a seus aliados. Mas quem o viu preocupado, quando estava na oposição, com as raivosas campanhas denuncistas promovidas pelo PT? Ou quem viu o Presidente manifestar preocupação com a campanha feroz de denúncias que o petismo leva a cabo, no momento, contra a governadora do Rio Grande do Sul?

Em suas declarações à imprensa Lula acrescentou: “Você vai desmoralizando todo mundo, cansando todo mundo”. E previu: “Depois não acontece nada”.

O já mencionado Editorial do jornal Folha de S. Paulo comenta a respeito: “Para ilustrar o processo, o presidente poderia ter mencionado o escândalo do mensalão, protagonizado por seu então estado-maior”.

Lula decidiu ir adiante: “Sarney tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum”, afirmou. O que será a "história suficiente" de José Sarney? Será o apoio quase incondicional a Lula? E perante a lei há, na ética lulista, as pessoas comuns e as incomuns?

Lula precisa de Sarney para eleger Dilma

As declarações enfáticas do presidente suscitam uma pergunta: o que motivou Lula, lá bem longe, no Cazaquistão, a fazer uma defesa tão enfática do Senador José Sarney?

Tudo indica que Lula precisa impedir um debilitamento do grupo político peemedebista de José Sarney e Renan Calheiros (outro envolvido em escândalos que o levaram, há menos de dois anos, a renunciar à Presidência do Senado). Antes de mais, porque tal grupo sustenta o governo no Senado e o presidente necessita estabilidade política no final de seu mandato, para se dedicar a eleger seu sucessor. Além disso, Sarney defende a candidatura de Dilma Rousseff e é peça chave para que o PMDB aceite fazer um acordo com o PT para tentar eleger a ministra.

O presidente Lula mostra assim a natureza de sua ética na política! Essa ética que tanto o PT utilizou no passado como bandeira para alimentar seu denuncismo.

Culpar o espelho pela imagem que reflete

Acabo de ler o artigo de Clóvis Rossi, na Folha de S. Paulo (18.jun.2009). Lula culpa o espelho é o título. Transcrevo-o, pela pertinência com que analisa a intervenção do presidente na presente crise:

  • "Alguma surpresa com a defesa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez do senador José Sarney? Quem pediu desculpas pelos "erros" cometidos pelo seu partido (na verdade, crimes), mas depois passou a mão na cabeça dos "errados", quem se aliou a Fernando Collor de Mello, único presidente punido por falta de decoro, não poderia deixar de solidarizar-se com Sarney.

    O que surpreende é a escandalosa indigência dos argumentos usados por Lula. Primeiro argumento: "Ele tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum". Que besteira é essa, Deus do céu?

    É a versão Lula do "sabe com quem está falando?". Com história ou sem história, todo cidadão tem de ser tratado da mesma maneira. E os que têm história devem comportar-se ainda melhor do que os que não têm. Afinal, para usar um lugar-comum tão ao gosto de Lula, "o exemplo vem de cima".

    Segundo argumento: um suposto interesse em "enfraquecer o Poder Legislativo". Outra bobagem sem tamanho. O que enfraquece o Poder Legislativo não são as denúncias, mas os fatos que dão origem às denúncias. Sem eles não haveria denúncias.

    O Poder Legislativo, como os demais, só se fortalece se corrige os desmandos e abusos denunciados. Omissão é que o enfraquece.

    Lula, no fundo, revisita a teoria debilóide e safada da conspiração que não houve contra ele.
    Houve apenas uma conspiração dos fatos. Tanto que ele foi obrigado a pedir desculpas. Tanto que o procurador-geral da República denunciou toda a cúpula do PT como "quadrilha".

    É, enfim, a velha tentação de toda pessoa investida de poder de culpar o espelho pela imagem que ele mostra. A favor de Lula diga-se que ele ao menos pediu desculpas, coisa que Sarney nem remotamente passou perto de fazer. "

A defesa feita por Lula do Senador José Sarney não é de estranhar. Afinal o Presidente defendeu reiteradamente, nestes dias, Ahmadinejad, o ditador iraniano, presidente do regime que lança instabilidade política no Oriente Médio com a difusão de sua revolução islâmica, que promove oficialmente grupos terroristas e leva adiante um obscuro programa nuclear.

Mas este é assunto para um próximo post.

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