quarta-feira, 18 de março de 2009

A pata, a galinha e os ovos

A pata, a galinha e os ovos
Na minha rotina de acompanhar a mídia, deparei-me há pouco com um artigo no jornal O Estado de S. Paulo (15.mar.2009) que fazia uma espirituosa comparação entre os estilos da pata e da galinha porem ovos.

A galinha põe um ovo pequeno, cacareja e todo o mundo presta atenção; a pata, por seu turno, põe um ovo maior mas, como não chama a atenção, ninguém ou quase ninguém nota.

Dizem até os estudiosos que o ovo da pata é mais nutriente; mas é o da galinha que mais desperta a atenção e o desejo, porque a galinha sempre alardeia seu feito.

Talento mercadológico do PT

O autor do artigo, Gaudêncio Torquato, aplicava tal comparação à maneira de se fazer política e afirmava que o PT “desenvolveu um extraordinário talento mercadológico”.

É fora de dúvida que o lulo-petismo tornou-se especialista em ações de propaganda, pelas quais alardeia os ovos que põe... e até os que não põe, como se os tivesse posto.

Desgaste de popularidade

Ao contrário do que se repete sem cessar a respeito da estratosférica popularidade de Lula (84%!?) - num exercício de subserviência quase cabalístico - quem se detém sobre os fatos, percebe que o Presidente sofre um desgaste crescente, e que se acentua nas camadas mais influentes da população, formadoras de opinião.

8 Leia 84% de popularidade: fantasia carnavalesca

Desgaste este agravado recentemente pela cruel realidade dos efeitos no Brasil da crise econômica mundial, que até agora Lula, com ampla colaboração, tinha conseguido mascarar.

Por isso os marqueteiros (os cacarejadores) do Presidente precisam envolvê-lo em êxitos deslumbrantes no Exterior, com a conivência de certa imprensa rendida ao governismo. São estes “êxitos” próprios a impressionar justamente estas camadas formadoras de opinião.

Lembram-se quando a propaganda eleitoral do PT apresentou imagens de Lula discursando na ONU e sendo aplaudido de pé pelo plenário? Tudo não passou de uma vulgar montagem: o discurso era de Lula, as palmas eram para o Secretário Geral da ONU.

Assim se anunciam os ovos, como disse acima, reais ou imaginários.

Carona no rojão de Obama

E foi o que se deu na recente visita de Lula a Obama. Como alguém disse de modo jocoso, Lula precisava pegar carona no rojão de Obama. E lá foi ele para Washington.

Quem assistisse aos noticiários ou lesse alguns titulares de jornais teria a impressão de que uma nova e inusitada era de relacionamento se inaugurou.

Lula, para reforçar a idéia, ainda anunciou que seriam dados passos “extremamente importantes” e que Obama decidira criar um grupo de trabalho com o Brasil para as reuniões do G-20.

Sem nunca ser afirmado, ficou a impressão de que Obama, um tanto perdido na crise econômica mundial, aguardava alguém como Lula para se aliar e lhe dar rumo na atuação.

É verdade que algumas fotos apresentavam um Obama que não conseguia esconder o sorriso um tanto sardônico, enquanto observava Lula, bastante corado, de olhos intumescidos e rindo de modo alvar.

Declarações genéricas e vagas

Entretanto, quando a atenção se debruça sobre o noticiário mais objetivo dos resultados, nota-se a forte dose de bluff.

As declarações, tanto de Obama quanto de Lula foram formulações de desejos óbvios, genéricos e vagos.

Barack Obama considerou remota a retomada da Rodada de Doha, contrariando a expectativa de Lula que anunciara o momento como “o mais oportuno para a gente (!) discutir a rodada”.

Além disso, o presidente americano deixou claro que os EUA não pensam em abrir tão cedo o mercado americano para o etanol brasileiro, outra das reivindicações de Lula (cfr. Valor, 16.mar.2009).

Clóvis Rossi, na Folha de S. Paulo (16.mar.2009), relembrou que Lula já anunciara, no governo de George W. Bush, uma “parceria estratégica” e se perguntava se há patamar diplomático mais elevado do que esse?

“É inescapável – escreve ele – uma sensação de parte 2 de filme velho nos anúncios feitos após o encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama”.

Expectativa irrealista

Mas, perguntará alguém, se não haverá um pouco de facciosismo deste blog menosprezar o destaque dado ao País com a criação do grupo de trabalho EUA-Brasil, com vistas ao G-20?

Eu me pergunto, mas qual grupo de trabalho? Grupo de trabalho só o da fantasia lulista, o ovo não posto dos cacarejadores.

Bastante esclarecedor, neste sentido, é o texto do editorial do jornal O Estado de S. Paulo (17.mar.2009), que aborda a “expectativa irrealista” do primeiro encontro Obama e Lula:

  • E tanto se esperava que, a partir do noticiário a respeito, é possível formar-se a impressão de que uma nova perspectiva acabou de ser aberta na história das relações Brasil-Estados Unidos.

    Indício disso seria a decisão atribuída aos dois governos de ir para a reunião do G-20, no próximo dia 2, em Londres, com uma estratégia comum, a ser definida nestes dias. Washington e Brasília, de acordo com essa avaliação, levariam aos demais membros do clube das nações responsáveis por 85% da economia mundial uma mesma proposta de ações estruturais para o resgate e a transformação do sistema financeiro em colapso. Não se trata de nada disso. Embora o presidente Lula tenha dito à imprensa que o seu colega americano sugeriu a criação de um "grupo de trabalho" para a formulação de uma "proposta conjunta", Obama falou apenas em reuniões de representantes dos dois lados para "coordenar nossas atividades para fortalecer o crescimento econômico global". Depois, o assessor de Assuntos Internacionais do Planalto, Marco Aurélio Garcia, comunicou que o "grupo" será formado por dois funcionários, um designado pelo secretário do Tesouro, Timothy Geithner, o outro escolhido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.

    Garcia - o certo seria o chanceler Celso Amorim, se o trabalho tivesse a magnitude de que foi revestido - tratou ele mesmo de moderar o alcance da iniciativa.
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segunda-feira, 16 de março de 2009

Protógenes, a Satiagraha e a justiça popular

Protógenes, a Satiagraha e a justiça popular
“Ocupar fazenda de banqueiro bandido é dever do povo brasileiro”.
A frase é do delegado da Polícia Federal, Protógenes Queiroz e foi proferida em evento organizado pelo PSOL, em São Paulo.

Sob aplausos histéricos de militantes da extrema-esquerda, o delegado manifestou desta forma seu apoio às invasões levadas a cabo pelo MST, em diversas fazendas de Daniel Dantas.

Justiça popular

A declaração de Protógenes é reveladora da “filosofia política” que o inspira. O MST (como qualquer “movimento social”) deve ser um justiceiro e aplicar sua lei particular, em nome do “povo”, à revelia e em afronta ao Estado de Direito.

Se Daniel Dantas praticou crimes, deve ser julgado segundo as leis e instituições do País e não “justiçado” pelo povo (ou pelos que se fazem passar por tal), como pretende o Dr. Protógenes.

A chamada justiça popular foi historicamente uma das molas propulsoras de diversas revoluções, as quais culminaram, na maioria das vezes, em mortandades cruéis e espantosas. China e Comboja são apenas dois exemplos sinistros, com milhões de mortos.

Combate ao crime de “poderosos”

Tal “filosofia” do Dr. Protógenes torna igualmente compreensível o modo pelo qual ele concebe o uso do aparelho repressor do Estado no combate ao crime.

O crime de um “poderoso” justificaria a violação de qualquer norma legal ou a transposição de qualquer limite institucional, na investigação e apuração dos atos delituosos, com o fim de satisfazer o clamor popular de justiça.

Tudo parece indicar que é esta a premissa de todos os desmandos e atropelos da operação Satiagraha, uma imensa máquina de espionagem, digna de um regime ditatorial.

8 Leia Tenebrosa máquina de espionagem

Resta sempre uma dúvida. Protógenes lembra sempre que é um servidor público. Em nome e a serviço de quem o delegado atuou?

Silêncio “ensurdecedor” do Planalto

Em declarações prestadas à Procuradoria da República, onde compareceu espontaneamente para dar sua versão dos fatos, o Dr. Protógenes negou qualquer ilegalidade em seus procedimentos e acrescentou que a investigação fora realizada “por determinação da Presidência da República”.

É essa a revelação central da nova reportagem da revista Veja (18.mar.2009), sob o título Ele é um canhão à solta.

O Planalto até agora mantém silêncio completo a esse respeito, o que de si agrava as suspeitas. Como bem comentou em seu blog o jornalista da Folha de S. Paulo, Josias de Souza, “o silêncio do Planalto resulta, por assim dizer, num barulho ensurdecedor”.

Convido-os, pois, a lerem trechos da matéria de Veja, assinada por Expedito Filho:

  • Ao localizar a origem das ordens para a investigação no Palácio do Planalto, o delegado aventa a hipótese da criação de uma incomum e ilegal cadeia de comando que, como mostra a história, só existe regularmente em ditaduras e, sempre com resultados funestos, em alguns poucos regimes democráticos. (...)

    O depoimento de Protógenes Queiroz à Procuradoria-Geral da República, ao qual VEJA teve acesso, traz uma segunda revelação incômoda. O delegado afirma que a atuação dos mais de oitenta espiões da Abin no caso era do conhecimento do juiz federal Fausto de Sanctis e do procurador da República Rodrigo de Grandis. Alguém está mentindo. O juiz e o procurador já negaram publicamente ter tido conhecimento da participação dos agentes secretos do governo – embora ambos tenham ponderado que não haveria nenhuma irregularidade na hipótese de uma eventual "colaboração informal" da Abin. Protógenes também afirmou à Procuradoria que o pedido de ajuda à Abin "não foi formal", mas "verbal", e que esse tipo de coordenação entre policiais e espiões do governo "é comum". No campo das formalidades, não haveria o que reparar no caso. Ocorre que, no tempo decorrido entre o depoimento de Protógenes à Procuradoria e a semana passada, ficou patente que:

    1) a participação dos espiões da Abin foi muito mais intensa do que uma simples colaboração;

    2) os agentes da Abin foram acionados para dar a forma de relatório a escutas telefônicas legais e ilegais;

    3) eles seguiram autoridades e vigiaram suspeitos.

    Se o juiz e o procurador estavam realmente cientes do grau de envolvimento da Abin, como revelou o delegado Protógenes, no mínimo desnuda-se a existência de um consórcio de autoridades judiciárias que em nome de um objetivo é capaz de atropelar as leis sem nenhum constrangimento. A hipótese de o juiz e o procurador terem sido enganados é mais grave. Nessa eventualidade, ficaria evidente que um grupo de policiais e espiões oficiais operou no Brasil sem o conhecimento nem o aval da Justiça, alegando estar sob ordens da Presidência da República. A primeira perplexidade que decorre disso tudo é que, se, para prender e condenar um banqueiro acusado de corrupção, o estado brasileiro precisa montar um esquema clandestino de espionagem, a administração vai de mal a pior. A segunda beira o impensável. Se o objetivo não foi prender e condenar por corrupção o banqueiro bilionário, mas apenas usar isso como pretexto para espionar cidadãos, a administração federal deve ao Brasil um rosário de explicações. (...)

    Indagado sobre a suposição de que teria recebido ordens do presidente da República para investigar o banqueiro Daniel Dantas, Protógenes reagiu da maneira surrealista que o caracteriza. Primeiro, tentou desconversar, deixando pairar a dúvida sobre o possível papel de Lula no episódio. Disse o delegado: "Acredito que o presidente saiba responder melhor do que eu". Depois, em uma palestra para estudantes universitários em Goiás, afirmou que não fazia "parte de nenhuma guarda pretoriana a trabalho de algum governo". Vários agentes da Abin, porém, disseram em seus depoimentos a diversas autoridades que o delegado sempre lhes lembrava que aquilo se tratava de uma "missão presidencial". (...)

    Obviamente, as declarações oficiais e extraoficiais do delegado Protógenes não são prova da existência de uma impensável cadeia de comando que tenha no topo o presidente da República. Por suas ruinosas consequências institucionais, o melhor que pode ocorrer é que sejam mais um blefe dos tantos que o policial fez no decorrer e depois da operação que lhe foi confiada.

    Os técnicos da CPI dos Grampos estão desde a semana passada debruçados sobre o material apreendido com Protógenes Queiroz. "O conteúdo dos computadores é nitroglicerina pura e mostra que a operação realmente não tinha nenhum limite ou controle", diz o deputado Raul Jungmann (PPS-PE). (...)

    O presidente da comissão, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), acredita que, com a nova prorrogação, será possível desvendar a cadeia de comando que permitiu ao delegado Protógenes montar sua rede de espionagem.
Esperemos que sim! E que não seja mais uma esperança vã e frustrada.

Ah, antes de terminar, faltava-me uma coisa. Normalmente a “filosofia” inspiradora do Dr. Protógenes costuma também ser farta no capítulo cinismo. Após afirmar que ocupar fazenda de banqueiro bandido é dever do povo, ele acrescentou: “Não estou fazendo apologia criminosa de nada”. Entenderam?

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segunda-feira, 9 de março de 2009

Tenebrosa máquina de espionagem

Tenebrosa máquina de espionagem
A revista Veja (11.mar.2009) estampa importante reportagem a respeito dos bastidores da já famosa operação Satiagraha, conduzida pelo delegado da Polícia Federal, Protógenes Queiroz.

Tal operação, muito controvertida em seus métodos e finalidades, já ocupou largos espaços na imprensa. Mas aos poucos foi caindo no esquecimento.

Leia também Nos subterrâneos do poder lulista
e A ordem partiu do Planalto


Uma CPI foi instalada para apurar os grampos clandestinos, mas ela se encaminhava para seu fim, com a votação do relatório de Nelson Pellegrino (PT-BA), sem que nada de sério tivesse sido apurado.

Vasta máquina de espionagem

As revelações da revista Veja, baseadas no conteúdo do computador apreendido pela Polícia Federal na casa do Delegado, desvendam novas e assustadoras realidades da espionagem oficial.

Com tais revelações, a CPI será prorrogada e amplos desdobramentos se esperam no mundo político, já a partir de hoje. Líderes e presidentes de partidos, da base governista e da oposição, se articulam para exigir explicações do governo Lula.

Segundo a matéria de Veja, a Operação Satiagraha, da Polícia Federal, para investigar as atividades do banqueiro Daniel Dantas, serviu de biombo para uma máquina gigantesca de espionagem.

Dizendo agir em nome do Presidente Lula, o delegado Protógenes Queiroz bisbilhotou a vida de um sem fim de autoridades e políticos.

Como todos se recordam, a dita Operação contou com estrita e íntima colaboração da PF (submetida ao Ministro da Justiça, Tarso Genro) e da ABIN (submetida ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República).

Envolvendo 84 agentes e oficiais de inteligência, a espionagem oficial reuniu 63 fotografias, 932 arquivos de áudio, 26 arquivos de vídeo e 439 documentos em texto, o que a torna digna de qualquer regime ditatorial.

Quando a íntima colaboração da PF e da ABIN veio a público, o governo fez tudo para a desmentir, mas suas versões infundadas foram caindo uma a uma.

Leia Quem controla o aparato policial do Estado?

Na época, o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, em entrevista à Folha de S. Paulo chegou a levantar a hipótese de que um projeto político espúrio se ocultava em tal colaboração.

Espionagem oficial?

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo (9.mar.2009), Protógenes Queiroz defende-se e afirma que todo o seu trabalho foi realizado com base na lei e na Constituição.

A indagação que desponta naturalmente é se tal imensa máquina de espionagem foi acionada por ordens oficiais. Assim como o delegado Protógenes, espiões da ABIN destacados para a Operação Satiagraha, diziam estar cumprindo missão de interesse do Presidente da República.

Convido-os a lerem trechos da reportagem, intitulada “Sem limites”, assinada por Expedito Filho. Ao final da transcrição formularei algumas questões cujo esclarecimento me parece crucial:

  • " A Operação Satiagraha, da Polícia Federal, conduzida pelo delegado Protógenes Queiroz, será lembrada como um sucesso por ter conseguido o feito inédito na história do combate à corrupção no Brasil de levar à condenação na Justiça Criminal um ex-banqueiro – no caso, Daniel Dantas, dono do grupo Opportunity. Mas a operação também ficará marcada para sempre por ter servido de fachada para o funcionamento de uma máquina ilegal de espionagem que, em ousadia e abrangência, também não tem paralelo na história brasileira. (...) Na semana passada, VEJA teve acesso à integra desse material. O conteúdo é estarrecedor e prova que o delegado centralizava o trabalho de uma imensa rede de espionagem que bisbilhotou secretamente desde a vida amorosa da ministra Dilma Rousseff até a antessala do presidente Lula, no Palácio do Planalto – passando pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo governador José Serra, além de senadores e advogados.

    Nos documentos encontrados na residência do delegado há relatórios que levantam suspeitas graves sobre as atividades de ministros do governo, fotos comprometedoras que foram usadas para intimidar autoridades e gravações ilegais de conversas de jornalistas – tudo produzido e guardado à margem da lei. (...)

    Em maio de 2006, VEJA publicou uma reportagem revelando que o banqueiro [Daniel Dantas] havia montado, com a ajuda de espiões internacionais, um dossiê para constranger autoridades do governo, entre elas o presidente Lula e o próprio Lacerda – que cedeu "informalmente" espiões da agência para ajudar o delegado. Protógenes recrutava os espiões com o argumento patriótico de que eles estavam sendo convocados para uma "missão presidencial". A suposta ordem do presidente e o nome de Fábio Luís da Silva surgiram nos depoimentos dos arapongas. Um deles, Lúcio Fábio Godoy, contou aos policiais que ouvira de Protógenes que Lula tinha interesse na investigação porque "seu próprio filho teria sido cooptado por essa organização criminosa". Não se sabe com que autoridade o delegado Protógenes usou o nome do presidente Lula. (...)

    Os arquivos de Protógenes mostram um especial interesse pelas atividades do ex-ministro José Dirceu. O delegado e seus arapongas apelidaram o petista de "Zeca Diabo" – nome de um matador de aluguel da primeira novela em cores do Brasil, O Bem Amado. (...) Os espiões escrevem sobre possíveis negócios do ex-ministro e supostos encontros de Dirceu com deputados envolvidos no escândalo do mensalão. O petista já havia reclamado ao presidente Lula que estava sendo monitorado ilegalmente. Em vão. No ano passado, o escritório dele foi arrombado. Os invasores só levaram um computador e documentos. Até a petista Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil e pré-candidata à Presidência da República, foi alvo dos espiões. Em um documento, eles descrevem em termos grosseiros supostas relações amorosas da ministra, cujo parceiro eles identificam. Como e por que essas barbaridades interessaram ao delegado Protógenes a ponto de ele as guardar em seu computador é algo que o inquérito da PF sobre ele deverá esclarecer. A existência em si desses registros na casa de um servidor é um escândalo administrativo de grandes proporções. Quando se acrescem os métodos clandestinos utilizados para produzi-los, a máquina de espionagem do Dr. Protógenes começa a tomar ares mais tenebrosos. (...)

    O material apreendido pela PF está dividido em duas partes. Uma delas é formada por relatórios policiais, gravações telefônicas e ambientais, vídeos, planilhas e transcrições de conversas interceptadas. São peças do inquérito, comandado por Protógenes, que investigou Daniel Dantas, obtidas pelo delegado com base em diligências autorizadas pela Justiça. É estranho que Protógenes tenha aberto um baú em casa para guardar documentos sigilosos que deveriam integrar apenas o inquérito oficial. A segunda parte do material, porém, é bem mais que isso. Ela reúne gravações telefônicas de conversas entre membros da comunidade de inteligência e dirigentes da Abin, fotografias, imagens de pessoas que não eram investigadas na operação e informes de arapongas sobre a vida íntima e profissional de autoridades e ex-autoridades. A polícia ainda não conseguiu abrir alguns documentos apreendidos com a equipe do delegado e que estão protegidos por senhas de acesso, com codinomes como "Tucano", "FHC" e "Serra". Os arquivos de Protógenes Queiroz continham até um manual detalhado sobre como operar um equipamento clandestino de interceptação de telefonemas e mensagens de celular. Interceptações autorizadas pela Justiça são feitas pelas companhias telefônicas e seu conteúdo é armazenado em computadores da Polícia Federal. Por que será que Protógenes Queiroz guardava um manual assim em casa? (...)

    Há uma vertente importante que deve ser apurada sobre a famosa Satiagraha – o consórcio formado entre a polícia, o Ministério Público e a Justiça. As ilegalidades da operação podem acabar livrando da cadeia um vilão do calibre de Daniel Dantas. Por causa disso, o juiz do caso, Fausto de Sanctis, está sob investigação da corregedoria da Justiça Federal. Já o Ministério Público, desde que foi regulamentado, em 1988, não apresentava uma atuação tão incomum. Em São Paulo, procuradores, em vez de apurar os abusos denunciados, tentaram usar todos os instrumentos legais para manter intacto o conteúdo dos computadores do delegado. Os procuradores chegaram a bater de frente com o juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara Federal, que já informou que pretende solicitar vários procedimentos sobre as ações clandestinas do delegado Protógenes – e conta para isso com o apoio do Conselho Nacional de Justiça. O deputado Marcelo Itagiba, presidente da CPI dos Grampos, disse que ainda não examinou os documentos, que chegaram à comissão apenas na semana passada. "Mas tudo parece muito grave e, se confirmado, vou pedir a prorrogação dos trabalhos", garantiu o parlamentar ao ser informado do conteúdo. O delegado Protógenes não foi encontrado. Um dos arquivos de seu computador mostra que ele estava se dedicando a escrever uma autobiografia. Título: "Protógenes, a Lenda". "
Questões a responder

A leitura desta matéria desperta, é claro, algumas dúvidas. Formulo as que me ocorrem.

O delegado Protógenes não é figura de relevância no panorama nacional para ter interesse em reunir uma tão vasta coleção de informações. Afinal, a quem interessam elas? O delegado trabalhava para si mesmo ou para outrem?

Quando o delegado Paulo Lacerda (hoje acomodado pelo governo lulo-petista na embaixada do Brasil em Lisboa), saiu do comando da Polícia Federal e foi para a ABIN, solicitou pessoalmente ao Presidente Lula continuar na direção da operação Satiagraha. Lula teria autorizado. Essa autorização existiu? E foi válida?

Quando se revelou a estranha conexão entre a PF e a ABIN, na operação Satiagraha, o governo desmentiu. O Ministro Tarso Genro negou e alegou que apenas um agente, a título pessoal, tinha participado. Por fim apurou-se que mais de 56 agentes participaram da operação, filmando, fotografando, seguindo pessoas e manuseando transcrições de grampos e, por fim, elaborando relatórios secretos. Quais os motivos que levaram Tarso Genro a querer esconder tal colaboração? Qual seria o projeto político que se escondia por tal íntima colaboração, e para o qual alertou o Ministro Gilmar Mendes?

O delegado Protógenes, durante um ano e meio, teve ao seu dispor uma gigantesca máquina oficial, que em determinado momento chegou aos 84 agentes, tudo para sua missão de espionagem. Será possível que, durante esse período, nenhuma autoridade do governo tenha sabido de qualquer das ilegalidades cometidas pelo delegado? Ou ele, realmente, obedecia a ordens superiores?

Ao estourar o escândalo dos desmandos da ABIN e da PF na Operação Satiagraha, Lula, vendo-se acuado, decidiu entregar algumas cabeças e acabou por demitir a cúpula da ABIN, que em seguida passou a despachar no próprio Palácio do Planalto. Por que motivo Lula demitiu os dirigentes da ABIN e quem apurou as responsabilidades?

A ABIN é diretamente subordinada ao Presidente da República e está amplamente envolvida em tal esquema ilegal. Mais ainda, os agentes de tal operação diziam agir em nome do Presidente. Será que o Presidente Lula nunca soube de nada? Ou será que ele é diretamente responsável? Uma e outra hipóteses são graves, pois se Lula nada sabia, é extremamente grave que órgãos do Estado, diretamente subordinados a sua autoridade, consigam espionar quem bem entendem, inclusive autoridades, à margem da lei. Se Lula sabia...

Desculpem-me a insistência: mas o presente caso é mais grave do que o tão falado Watergate que levou à renúncia do Presidente Nixon.

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domingo, 1 de março de 2009

84% de popularidade: fantasia carnavalesca

84% de popularidade: fantasia carnavalesca

O Carnaval se repete a cada ano e a cada ano também se tecem considerações a respeito de suas origens, de seus significados e das formas que vem assumindo.

À parte dos grandes desfiles das escolas de samba, a festa carnavalesca encerra múltiplas facetas.

Entre elas está a das máscaras e fantasias. Talvez seja até uma das mais características do Carnaval, na maior parte dos países.

Crianças, jovens e adultos envergam elaborados figurinos, se caracterizam de figuras históricas ou atuais ou ainda de personagens imaginários e vivem, assim, alguma personalidade fantasiosa.

Fantasia das pesquisas de opinião

As pesquisas de opinião a respeito da popularidade de Lula parecem fazer imperar no Brasil o clima fantasioso do Carnaval, muito para além dos três dias de folia.

Todos os dias somos bombardeados pela "certeza dogmática" de que Lula goza dessa alucinante popularidade. E ai de quem a questionar.

Há apenas um pequeno (!) problema: a realidade desmente, a todo o momento, e de modo gritante, a fantasia. Já escrevi a este respeito aqui no Radar da Mídia.

Leia Eleições 2008: dogma virtual

Foi a vaia do Maracanã; a derrota cruel das eleições municipais para falar de dois momentos, já históricos.

Mas logo os "especialistas" tiram da cartola explicações para nos convencer de que a fantasia dos 84% é verdadeira e a realidade... bem a realidade é apenas (!) a realidade.

O Brasil parece ser embalado o ano todo pelo samba-enredo dos 84%.

O Presidente se esconde

Chegou o Carnaval e o Presidente da popularidade assombrosa decidiu ir à Marquês de Sapucaí.

Conforme noticiaram os jornais, para evitar vaias, Lula chegou de forma discreta, só entrou quando a primeira escola já desfilava sob o aplauso do público e seu nome não foi anunciado. Neguinho da Beija-Flor convidou o Presidente para apadrinhar sua união, mas Lula não desceu à pista.

Tudo muito revelador da fantasia (carnavalesca) dos 84%.

Lula na Avenida

Danuza Leão, em artigo para a Folha de S. Paulo (1.mar.2009) traça a este respeito um quadro onde não falta vivacidade e brilho. Convido-os a ler! O título fala por si: Lula na Avenida.

  • " O carioca é mesmo único. Fica íntimo sem conhecer as pessoas; se você telefona para um escritório, a telefonista te chama de "meu amor", se compra um coco na praia, o vendedor te chama de "querida", se pede uma cadeira para tomar sol, vem logo um "é pra já, minha linda". Não é nem preciso dizer que todos se chamam de você e são de uma cordialidade suprema.

    Estamos mais do que acostumados a toda essa intimidade. Mas quando é para vaiar ou para aplaudir, não fazem a menor cerimônia. E o curioso é que estão todos, sempre, de acordo. Quer seja no Maracanã, no meio de um bloco, ou na avenida, a unanimidade é sempre geral, e nunca existem duas correntes, uma a favor e outra contra. Veja o pobre do Neguinho da Beija-Flor, que levou uma vaia daquelas por ter atrasado 15 minutos o desfile, já que resolveu se casar na avenida.

    Isso pelo menos vai evitar que, no futuro, entre uma escola e outra, aconteçam batizados, aniversários e que tais. Mas foi curioso que o carioca, tão espontâneo nos seus arroubos, não tenha tido nenhum tipo de reação à presença do presidente na avenida.

    Foi como se fosse um desconhecido qualquer no camarote do governador -nosso governador, que sempre faz uma pose original na hora das fotos. Nem vaias, nem palmas. Nada. E nada é pior do que qualquer coisa. Para quem, segundo as pesquisas, tem 84% de aprovação popular, seria de se esperar um espetáculo de gritos e vivas ao presidente. Afinal, 84% não são para se desprezar. Pois não aconteceu absolutamente nada.

    Não adiantou o chapéu panamá, a animação de d. Marisa, que chegou a descer para sambar junto aos passistas, enquanto os fotógrafos cumpriam seu papel de mostrar o quanto nosso governador, nosso prefeito e nosso presidente são unidos. Ninguém deu a menor bola. Eu, que não entendo dessas coisas, acho que Lula estava em campanha; ele não foi ver o samba, mas testar 2010. Já o prefeito foi para a avenida, sambou com as escolas -todas-, mudou a cor da fitinha do seu chapéu para ser simpático com cada uma que passava, mas também não fez o menor sucesso. Era tudo "fake", e carioca saca essas coisas com incrível rapidez.

    Quando Itamar apareceu na avenida, 15 anos atrás, foi um grande auê com palmas carinhosas de todos que passavam (depois que Lilian Ramos apareceu foi outro auê). Todos queriam saudar nosso então presidente. Mas desta vez a presença de nossa autoridade máxima foi um fiasco. E d. Marisa deu, enfim, sua contribuição como primeira-dama: foi quando reclamou com o ministro Temporão que não havia camisinhas no banheiro das mulheres. Que beleza, ter uma primeira-dama tão cuidadosa. Depois de tantos anos sem dizer uma só palavra, ela perdeu uma boa oportunidade de ter continuado muda e calada como sempre esteve.

    Foi uma pena nossa jovem Dilma não ter vindo também. Ela teria certamente contribuído para que a indiferença carioca se mostrasse ainda mais evidente. Aliás, segundo amigos pernambucanos, sua passagem pelo Estado foi em branquíssimas nuvens. Lá também não aconteceu nada. O trio da alegria -Cabral, Paes e Lula- bem que se esforçou, mas no Carnaval não fez nenhum sucesso. "

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