quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Insurreição eleitoral

Insurreição eleitoral




As previsões, as profecias, as certezas dogmáticas enunciadas pelos “especialistas” das mais variadas áreas anunciavam um desfecho inequívoco para a eleição presidencial: a vitória arrasadora de Dilma Rousseff no primeiro turno e o desbaratamento de qualquer tipo de oposição.

Seria o triunfo, a consagração do lulo-petismo, a vitória de um projeto de poder popular contra “tudo o que aí está”, contra as “elites opressoras” que dominaram o Brasil durante 500 anos.

Popularidade fictícia
Lula e sua candidata eram – e continuam a ser – consagrados nas pesquisas. Mas, como já frisei diversas vezes no Radar da Mídia, trata-se de uma ficção, desmentida sempre que é confrontada com a realidade. Neste caso com a realidade das urnas.

Votaram em Dilma 47.651.434 eleitores, de um total de 135.804.433. Ou seja, apenas 35,08% do eleitorado.

Onde estão, pois, os mais de 80% de popularidade de Lula? Ele que de forma escandalosa – e ilegal – transformou a eleição de Dilma Rousseff em seu virtual terceiro mandato, chegando a subir em palanques, sem a presença de sua pupila, pedindo votos para si, ou que nas propagandas no rádio e na televisão afirmou sem pejo: “Quem vota em Dilma, vota em mim”.

“Lula abordou a sua sucessão como uma campanha de reeleição. A Presidência, os Ministérios, as empresas estatais e as centrais sindicais neopelegas foram mobilizadas para assegurar o triunfo da candidata oficial”, escreveu Demétrio Magnoli no jornal O Estado de S. Paulo (Um mito de papel, 28.out.2010).

Não se diga agora que Lula é popular mas não transfere votos, pois todos os “especialistas” afirmavam que Dilma estava sendo carregada nas asas da popularidade de Lula. O bem informado diário espanhol, El Pais, chegou a intitular sua reportagem, poucos dias antes do primeiro turno da eleição: “Rousseff voa para a presidência do Brasil graças ao carisma de Lula”.

Não nos esqueçamos também que boa parte dessa votação da candidata petista foi impulsionada pelos programas sociais como Bolsa Família, já qualificado como o maior programa de compra de votos da história nacional. Os estudos sobre a coincidência das áreas do País beneficiadas pelo programa social do governo Lula e as zonas com maiores índices de votação de Dilma Rousseff, são inequívocos.

Fracasso dos profetas
O malogro dos institutos de pesquisa foi bem analisado por Fernando Mello, em reportagem para a revista Veja (13.out.2010), intitulado O fracasso dos profetas:

“Nos últimos dois meses, todos os institutos que se dedicam a sondar a cabeça do eleitorado apontaram para a mesma direção: a petista Dilma Rousseff seria eleita presidente da República no primeiro turno — e com folga. A certeza alardeada era tal que, até dois dias antes do pleito, a possibilidade de haver um segundo round era tratada como delírio da oposição. Estatísticos metidos a profetas vaticinaram que o tucano José Serra sairia das urnas humilhado com 20 pontos atrás da adversária. (...) Só que, anunciada a contagem final... Ops, que diferença! Nenhum instituto detectou com precisão a vontade dos eleitores. Mesmo o que mais se aproximou do resultado das urnas, o Datafolha, escorregou para além dos limites da “margem de erro”, o campo do equívoco aceitável. O Ibope falhou até mesmo na pesquisa de boca de urna, coisa rara de ver. (...)

“O desempenho dos institutos de opinião neste primeiro turno deixa uma lição. Serve para lembrar que as pesquisas devem ser vistas em sua dimensão devida: são falíveis, quando não manipuláveis. E estão sempre sujeitas àquilo que, na falta de explicação melhor, os institutos agora chamam de imponderável. O imponderável, no caso, é que a cabeça dos brasileiros é melhor do que imaginam os pesquiseiros.

Insurreição eleitoral
Sim, a cabeça dos brasileiros é bem diferente e melhor do que a imaginam o mundo político – sobretudo, certos setores da esquerda - o mundo publicitário e vastos setores do mundo midiático.

Foi por isso que ampla parcela da opinião pública, à margem do mundo político-partidário, impôs uma reviravolta inédita no quadro eleitoral.

A respeito de tal reviravolta, o Príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança, trineto do Imperador Dom Pedro II, escreveu hoje na Folha de S. Paulo (28.10.2010) o artigo Insurreição eleitoral. Convido-os a ler essa análise original:

  • A reviravolta imposta pelo eleitorado ao mundo político-publicitário, nas eleições presidenciais, é tema que se impõe.

    Não me atenho ao palco eleitoral, onde os figurantes desenrolam seus papéis para convencer o público e arrastá-lo a uma escolha. Chamo a atenção para a larga e vigorosa fatia da opinião pública capaz de reescrever o roteiro do pleito eleitoral.

    A falta de idéias, de princípios e de debates sobre problemas nacionais, marcou a campanha do 1º turno. Prognosticou-o o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao afirmar que o teatro eleitoral se organizava para esconder o que verdadeiramente estava em discussão.

    Coube à revista “Veja” sintetizar graficamente a frustração do público ante tal vácuo, com uma capa em branco, a simbolizar as “grandes propostas para o Brasil feitas na campanha presidencial”.

    A falta de autenticidade somou-se à falta de representatividade dos principais candidatos - todos eles de esquerda – deixando o amplo setor conservador do eleitorado sem legítimo porta-voz.

    O quadro eleitoral, segundo dogmatizavam inúmeros “especialistas”, caminhava para a vitória arrasadora do lulo-petismo, com uma população indiferente a princípios e valores e embaída pelos benefícios de uma situação sócio-econômica favorável.

    O mundo publicitário e político – mais precisamente, preponderantes setores da esquerda – enganou-se com relação ao País. De tanto prestar atenção ao Brasil oficial, acreditou que a Nação se cinge a essa minoria frenética e aparatosa, mas superficial. Ignorou os brasileiros, silenciados nos seus anelos mais autênticos - particularmente nos morais e religiosos - que se moviam e preparavam uma “vingança”.

    À margem das estruturas partidárias e políticas, esse Brasil fez irromper como um géiser, no panorama artificialmente inexpressivo, as preocupações que assombram a maioria silenciosa, pacata e conservadora de nossa população.

    O tema do aborto despontou com ímpeto chamativo. Mas foi a panóplia de metas radicais do PNDH 3 o que maior apreensão causou em vastos setores da sociedade. As ameaças do PNDH3 – cavilosamente adjetivadas de “boataria” – fizeram vislumbrar o gérmen da perseguição religiosa, ao pretenderem subverter os fundamentos cristãos que ainda pautam a sociedade e tutelar sectariamente os indivíduos.

    O mundo político-partidário e as potentes tubas publicitárias tentaram celeremente adaptar-se à realidade a tanto custo abafada. Sinal inequívoco da crescente fraqueza desse Brasil de superfície, que tenta relegar ao anonimato o Brasil autêntico, o qual se quer manter fiel a si mesmo, às suas tradições, ao seu modo de pensar e de viver.

    Assistimos a uma verdadeira insurreição eleitoral. Qualquer que seja o resultado do presente pleito, sirva ela de lição para o grave divórcio que se vai estabelecendo entre o Brasil oficial e o Brasil profundo. Outras surpresas sobrevirão.

Cadastre seu email aí ao lado
e receba atualizações deste blog 888

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A candidata desconhecida

A candidata desconhecida


Afinal quem é mesmo Dilma Rousseff?

Atualmente é a candidata de Lula à Presidência da República. Mas o que se sabe dela? O que revela de si mesma, de suas ideias e práticas políticas?

Só hoje, dia 25 de outubro, a menos de uma semana do segundo turno das eleições presidenciais, Dilma Rousseff apresentou seu programa definitivo (?) de governo. Trata-se de uma terceira versão!

A primeira, registrada no Tribunal Superior Eleitoral, contendo as verdadeiras metas de um eventual governo petista – metas radicais, afins ao “chavismo” imperante em diversos países da América Latina – foi rapidamente retirada para não assustar. Reproduzia as decisões do 4º Congresso do PT, estava assinado por Dilma, mas a candidata afirmou nada ter a ver com o programa e acrescentou que rubrica não é assinatura (!?)

Dupla face
É bom não esquecer que a candidata de Lula tudo faz para esconder seu passado político na época da luta armada (leia Dilma na luta armada). Como apropriadamente ressaltou alguém, a mesma candidata que apoia a abertura dos arquivos do regime militar conseguiu que o Superior Tribunal Militar negasse o acesso a seu processo.

Ora, como já tive oportunidade de afirmar, esses não são atos da vida privada de Dilma, mas atos de sua vida pública, quando – atendendo a suas crenças marxistas – se engajou numa luta para impor ao País uma ditadura comunista.

Este é o estilo Dilma! Negar o afirmado, esconder o passado, tergiversar sobre ideias e princípios, simular convicções. A ocultação e a dupla face são marca registrada.

Omissões estratégicas
O programa da petista, com treze compromissos, coordenado por Marco Aurélio Garcia e apresentado hoje num almoço-reunião com os partidos aliados, omite, por exemplo, o tema da legalização do aborto, devido à forte reação causada pelo mesmo no vasto eleitorado religioso. Apesar da política pró-legalização do aborto continuar a ser uma meta do programa do Partido dos Trabalhadores; e de, em diversas ocasiões, inclusive duas vezes este ano, Dilma ter defendido a descriminalização do aborto enquanto agora afirma ser “pessoalmente” contrária ao mesmo.

Religião, MST, saúde...
Dilma esteve presente no Santuário Nacional de Aparecida, onde assistiu à Missa, exibindo uma proximidade com a religião católica e suas práticas, que em nada condizem com suas posturas e declarações anteriores. Difundiu, além disso, a chamada Carta Aberta ao Povo de Deus, com a qual tentou acalmar os setores religiosos do eleitorado, apreensivos com os desígnios petistas de perseguição religiosa, “casamento” homossexual, legalização da prostituição, discriminalização do aborto, fim do direito de propriedade, etc., consolidados no PNDH 3.

Em junho deste ano, após afirmar não ser cabível usar boné do MST, Dilma envergou o mesmo na convenção do PT em Sergipe (foto – reprodução). Mas agora a candidata simula opor-se às contínuas e graves violações ao direito de propriedade e às leis do país, perpetradas pelo MST. MST que o governo Lula, com a participação de Dilma Rousseff, acobertou, financiou e estimulou de diversos modos, como é público e notório; MST que, como tropa de choque disciplinada, declarou trégua em suas invasões, para não prejudicar a candidatura da petista; MST convidado a participar da elaboração do programa de um possível governo Dilma.

Nem sequer a respeito de sua saúde o comportamento de Dilma Rousseff é “transparente”. Seria fundamental que os eleitores tivessem a esse respeito informações precisas, para fazerem uma escolha abalizada e consciente. Propondo-se a candidata a governar o País durante quatro anos, esse assunto habitualmente de foro privado, passa a ser de interesse público, pelas consequências que pode acarretar para o futuro político da Nação.

Ditos e desditos
Enganar, ludibriar, omitir, como afirmei, parece ser o estilo de Dilma Rousseff. Se eleita, ela será uma incógnita! O que nos espera caso consiga vencer a eleição? Quais suas verdadeiras idéias? Quais seus desígnios para o País? São algumas das questões a ser enfrentadas.

A este propósito a revista Veja (13.out.2010) publicou matéria intitulada “Antes Depois”. Os ditos e desditos de Dilma Rousseff são analisados. A abrir a reportagem, com grande destaque, as declarações contraditórias da petista a respeito da descriminalização do aborto:

- "Acho que tem de haver a descriminalização do aborto. Acho um absurdo que não haja" (4 de outubro de 2007, em entrevista à Folha de S. Paulo);

- "Eu pessoalmente sou contra. Não acredito que haja uma mulher que não considere o aborto uma violência" (29 de setembro de 2010, em pronunciamento realizado ao lado de lideranças cristãs, para conter perda de votos entre o eleitorado religioso).

Quais são, afinal, as suas reais convicções? indaga a reportagem assinada por Leonardo Coutinho, Otávio Cabral e Vinícius Segalla. São trechos desta reportagem que reproduzo aqui para os leitores do Radar da Midia:
  • Passada a ressaca do primeiro turno das eleições presidenciais, o marqueteiro do PT, João Santana, encomendou pesquisas para aferir os motivos que levaram eleitores a abandonar o barco da petista Dilma Rousseff na reta final das eleições. O mais determinante deles, concluiu, foi o peso do voto religioso. Grande parte dos eleitores que trocaram Dilma por outro candidato o fez depois de saber que ela havia se declarado favorável à descriminalização do aborto - uma posição compartilhada por apenas 11% dos brasileiros, segundo a última pesquisa do Datafolha sobre o tema. De acordo com o levantamento, de 2008, 14% da população do país acha que o aborto deveria ser permitido em mais situações, enquanto uma ampla maioria de 68% dos brasileiros se diz contrária a qualquer mudança na lei atual - que prevê punição para a interrupção artificial da gestação nos casos em que ela não foi resultado de estupro ou não põe em risco a vida da mãe. Em relação a essa questão, portanto, o eleitorado brasileiro é claramente conservador. Confrontada com essa realidade, a presidenciável Dilma Rousseff se enrolou. Ou melhor, tentou enrolar o eleitor.

    Há três anos, ela defendeu de forma inequívoca a descriminalização do aborto, uma bandeira petista.
    Reafirmou sua posição em abril de 2009 e, novamente, em maio e agosto deste ano, em documentos e entrevistas a diferentes veículos de comunicação. Durante a campanha eleitoral, porém, Dilma passou a se declarar "pessoalmente contra o aborto". Seu desdito não só se revelou insuficiente para convencer parte do eleitorado cristão, que descarregou votos nos seus adversários José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV), como somou à discussão uma questão que há tempos vem rondando a candidata do presidente Lula. Quem é e o que pensa de verdade Dilma Rousseff?

    A ex-ministra já mudou de opinião em relação à sua amiga e sucessora na Casa Civil, Erenice Guerra, acusada de transformar o ministério em um balcão de negócios. Ora Erenice merece sua "inteira confiança", ora é apenas "uma ex-assessora" cujo comportamento não lhe diz respeito. Dilma já mostrou que o que ela diz não se escreve em relação ao MST, à liberdade de imprensa, à relevância das questões ambientais e à condução da política monetária. Como um pêndulo, balança para lá e para cá, sempre ao sabor de conveniências – políticas ou eleitorais. Tal comportamento contribuiu para reforçar as muitas interrogações que pairam sobre ela – e que tiveram origem na forma como se sagrou candidata. Dilma jamais disputou uma eleição. Sua candidatura é fruto de uma decisão solitária de Lula. Embora tenha sido escolhida pelo presidente no início de 2007, foi sempre resguardada do embate político. O dito e o desdito sobre o aborto não contribuíram em nada para diminuir as zonas de sombra que cercam a sua candidatura.

    No Brasil, a questão nunca havia tido impacto numa corrida presidencial, como ocorre desde os anos 70 nos países ricos. Nos Estados Unidos, o tema esteve presente em quase todas as eleições recentes – e continua a ser motivo de discussão. (...) No Brasil, a surpresa não está no fato de o tema ter vindo à tona nestas eleições, e sim no de não ter surgido antes. "As discussões que envolvem valores morais são fundamentais numa eleição. O debate sobre o aborto já deveria ter ocorrido. Estamos atrasados", diz o antropólogo Roberto DaMatta.

    Internamente, o PT discute a descriminalização do aborto desde sua fundação, há trinta anos. Em 2007, a legenda fechou questão em torno da liberação da prática. A posição tornou-se tão consolidada na sigla que, dois anos depois, o PT puniu quem pensava diferente. Sua comissão de ética suspendeu os deputados Luiz Bassuma (BA) e Henrique Afonso (AC) depois que eles reafirmaram sua posição contrária ao aborto. (...)

    Em 18 de agosto, questionada no debate promovido pela associação Folha/UOL se era favorável à legalização do aborto, Dilma Rousself respondeu que "a legislação deveria entrar em equilíbrio com os interesses das mulheres" e afirmou que a prática tem de ser "tratada como um assumo de saúde pública", numa clara indicação de que, se eleita, pretendia estendê-la à rede pública. O PT, orgulhosamente, disseminou a resposta em seu site e no Twitter. (...)

    Na tentativa de acalmar os cristãos, a campanha da petista divulgou uma Carta Aberta ao Povo de Deus. No documento, Dilma transferia ao Congresso a responsabilidade pelas decisões relativas ao aborto. Em vez de apaziguar, o texto atiçou os religiosos, e o debate pegou fogo de uma vez. A internet toi inundada de condenações de líderes religiosos à petista. O pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, divulgou uma carta condenando o posicionamento de Dilma e de seu partido e pregando o voto em José Serra. O presidente da Associação de Pastores Evangélicos da Grande Vitória, Enock de Castro, veio a público para dizer que "não aceita os princípios de Dilma". "Os rumos do país podem mudar para pior se o PT ganhar a eleição", disse o padre José Augusto, de Cachoeira Paulista, durante um sermão transmitido pela TV Canção Nova. Lideranças espíritas também se uniram no coro contra o aborto.

    Integrantes [da cúpula do PT cogitaram] até mesmo retirar a descriminalização do aborto do seu programa partidário. Pura manobra eleitoral. Como escreveu a colunista Dora Kramer, do jornal O Estado de S. Paulo, "se o PT pode retirar o tema do aborto do programa aprovado pelo partido porque atrapalha a campanha, com a mesma facilidade pode repor o assunto na agenda quando achar que não há mais obstáculos". De partidos e candidatos, esperam-se, muito mais do que estratégia eleitoral, convicções. Quais são as de Dilma, afinal de contas?
Cadastre seu email aí ao lado
e receba atualizações deste blog 888