segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Os mortos que não merecem lembrança

Os mortos que não merecem lembrança
O ano de 2007 se aproxima do fim. É hora de retrospectos, de análises, de recordações.

Pretendo fazer alguns retrospectos aqui. Mas decidi começar por um particularmente pungente.

Triunfalismo ufanista
Há dias o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou ao País, em rede de rádio e televisão.

Não é novidade para ninguém que Lula jamais desce do palanque. É seu estilo de governar... se a isso se pode chamar governar.

É bom não esquecer que o Brasil, uma vez mais, vai entrar em ano eleitoral e Lula já está (continua!) em campanha eleitoral.

Não esteve ausente do mencionado pronunciamento o triunfalismo ufanista, outra marca da oratória presidencial. Afinal "nunca antes neste País..."

Um país de todos
Em tom de otimismo, Lula afirmou que a casa está arrumada, que o Brasil está crescendo e que 2008 vai ser ainda melhor. Anunciou, ainda, que o Brasil, a partir do início do ano de 2008, vai tornar-se um "canteiro de obras".

Recorrendo à demagogia, reclamou da derrota da CPMF, afirmando que a Saúde vai ficar prejudicada (quando a arrecadação da CPMF nunca foi destinada à Saúde); depois manipulou os dados da ONU a respeito do Índice de Desenvolvimento Humano, para afirmar que seus programas assistencialistas, como o "Bolsa Família", estão levando o País a patamares nunca antes atingidos.

E arrematou: "Esta talvez seja a nossa maior conquista nos últimos anos. O Brasil não aceita mais ser um país de poucos. Está se tornando um país de muitos e não descansará enquanto não se tornar um país de todos".

As vítimas não foram recordadas
Não, Presidente, não é verdade. O Brasil não se está tornando um país de todos! A prova? O seu próprio discurso.

Por que o Sr. não teve coragem de recordar em seu pronunciamento os brasileiros, vítimas fatais do desastre aéreo da TAM que assombrou o País? Vítimas do descaso de seu governo com a crise aérea e com a infraestrutura do País?

É esse o País de todos do governo lulo-petista? Ou será que os mortos, que não pertencem aos quadros ideológicos do petismo, não merecem ser recordados? Não merecem e, como veremos daqui a pouco, para o petismo "os parentes dos mortos estão chorando demais".

Crise aérea: nada foi feito
Recordo aqui que, após permanecer três dias literalmente "foragido" dentro do Palácio Presidencial, depois da tragédia de Congonhas, o Presidente Lula fez promessas que incluíam até um novo aeroporto.

Nada foi feito! Apenas um esforço tremendo para encobrir a corrupção da Infraero que, também ela, envolve o PT, o partido da "ética"; ou então passar toda a culpa às companhias aéreas.

O Presidente Lula, ao receber o viúvo de uma das vítimas da TAM, que lhe indagou a respeito do descaso do governo com a segurança dos aeroportos, teria respondido que "o povo brasileiro nunca pediu segurança, pediu que modernizássemos os terminais", qualificados por ele como os melhores do mundo, com shopping e tudo.

Pista incerta e escorregadia
Foram estes fatos estarrecedores que levaram o jornalista Diogo Mainardi a escrever uma crônica a respeito de algum acontecimento ou conjuntura que sintetizasse o ano de 2007. Intitulou-a Ficamos mais bestiais, e figura no número da revista Veja dedicado ao retrospecto do ano (29.dez.2007):

  • "Luiz Moyses perdeu a mulher na tragédia da TAM. Na tragédia do Aeroporto de Congonhas. Na tragédia do Airbus. Na tragédia da Anac. Na tragédia da Infraero. Na tragédia de Lula. Chame do jeito que quiser.

    Luiz Moyses era de Porto Alegre. Depois do acidente, a TAM o acomodou no Hotel Blue Tree, em Moema, perto de Congonhas. Em 31 de agosto de 2007, à noite, ele estava no bar do hotel, acompanhado por dois outros familiares de vítimas do Airbus. No mesmo dia, ocorrera a abertura do III Congresso Nacional do PT. Mais de 150 delegados do partido também estavam hospedados no Hotel Blue Tree. O PT sempre se deu bem com o Hotel Blue Tree. Um dos delegados petistas foi confraternizar com Luiz Moyses, imaginando que ele fosse um correligionário. Luiz Moyses repeliu-o dizendo que Lula era o culpado pela morte de sua mulher. O delegado petista tentou agredi-lo. Insultou-o. Disse que os parentes dos mortos da TAM estavam chorando demais. O agressor só foi contido pelo deputado baiano Joseph Bandeira e pelos guarda-costas do partido.

    O próprio Luiz Moyses relatou-me o episódio alguns meses atrás. Nesta semana, à procura de uma imagem que sintetizasse o ano, lembrei-me dele. Mais do que pelo acidente de Congonhas, 2007 ficará marcado pela bestialidade que deflagrou. Da alegria indecente de Lula na posse de Nelson Jobim ao top, top, top de Marco Aurélio Garcia quando o Jornal Nacional falou sobre o reversor pifado, o Brasil desceu mais uns degrauzinhos na escala de civilidade.

    Em 2005 e 2006, o conflito foi entre lulistas e antilulistas, entre achacadores e achacados, entre quadrilheiros de um bando e de outro. 2007 foi pior: o conflito passou a ser mais essencial, mais primário, entre a selvageria e a humanidade. Os fatos do Hotel Blue Tree resumem idealmente o que aconteceu no país nos últimos tempos. ....

    A mulher de Luiz Moyses chamava-se Nádia. Foi sua primeira namorada. Eram casados havia sete anos. Quando Nádia morreu, Luiz Moyses vendeu sua empresa e mudou-se de Porto Alegre. Atualmente, ele tenta reconstruir sua vida em outro lugar, ao mesmo tempo que coordena as atividades do grupo de parentes dos 199 mortos de Congonhas. ....

    O ano acabou. A tragédia da TAM ficou para trás. Menos para Luiz Moyses e todas as pessoas que perderam parentes ou amigos. Eles continuam a buscar respostas para os acontecimentos daquele fim de tarde de julho. Reúnem-se, confortam-se, trocam mensagens. A última suspeita que circula entre eles é que o piloto do Airbus teria pedido autorização para aterrissar no Aeroporto de Guarulhos, mas tivera seu pedido negado pelos controladores. Em 2007, o Brasil pediu para aterrissar numa pista longa e segura, mas acabou numa pista incerta e escorregadia, "com shopping center e tudo o mais". "
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quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

O Natal dos que não querem a paz

O Natal dos que não querem a paz
"Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade!"

Estas palavras do cântico angélico fazem ressoar em nossos espíritos os encantos da data em que nasceu o Salvador do mundo.

"Paz na terra"; sim, esse inefável sentimento de doçura e de serenidade, de uma paz que provém da ordem, povoa sempre nossos espíritos no Natal.

Mas, mas... os Anjos completavam seu canto com as palavras "aos homens de boa vontade!", como que a anunciar que viriam homens que não seriam de boa vontade e que não desejariam essa paz.

No Natal, a pregação da guerra
Enquanto, pelo Brasil afora, milhões de brasileiros se esforçam para fazer crescer este País, na harmonia e na concórdia, outros - poucos, mas ativos - utilizam até esta data natalina para atiçar seus planos de desordem, de esbulho e de guerra.

Refiro-me aos tão decantados "movimentos sociais", especialmente ao MST, que lançou uma mensagem de Natal que nada mais é que um brado de guerra, em nome de ideais retrógrados e que levaram na história recente da humanidade ao holocausto de milhões de vidas humanas, para transformar radicalmente a sociedade.

Um brado de guerra contra aqueles que produzem, que trazem a prosperidade, as melhoras que se multiplicam por todo o corpo social.

Os líderes do MST, fanáticos de um miserabilismo anti-consumista, qualificam sua guerra ao agronegócio como "fazer nascer o impossível".

Sim, o impossível, o inimaginável. Em vez da "paz para os homens de boa vontade" de que nos falam as festas natalinas, a guerra do fanatismo para implantar a discórdia e a miséria.

Terrorismo e movimentos sociais
Mas vejamos agora alguns trechos da própria Mensagem de Natal do MST aos seus militantes. É impressionante notar como o movimento se ufana de suas ações ilegais, até daquelas que levaram à morte, bem como do apoio que recebem do Governo Federal com seus cursos especiais em Universidades Federais.

Certeza de impunidade! Apoio governamental! Estas são as verdadeiras "armas" dos movimentos sociais, como o MST.

Ah! ia esquecendo. O governo decidiu não mais levar adiante um projeto de lei de combate ao terrorismo no País, para "não prejudicar os movimentos sociais". Curioso, não acham? Quer dizer que movimentos sociais e terrorismo andam juntos. Isso explica a mensagem de guerra, por ocasião do Natal (voltarei a este assunto).

Agora, sim, a mensagem de Natal do MST, com suas inverdades e incitações à desordem:

  • "Para o ano que se inicia fica a certeza da continuidade da luta e de que colheremos os frutos das sementes plantadas

    O ano de 2007 vai chegando ao fim e por isso gostaríamos de socializar com você um balanço político da nossa luta. Queremos prestar contas do que fizemos na nossa trincheira, que é a luta pela Reforma Agrária. Queremos compartilhar com nossos companheiros e companheiras, que militam em outras trincheiras, o que fizemos nesse período, e ao mesmo tempo, reafirmar nosso compromisso na luta pela transformação desta sociedade.

    Acreditamos que o ano de 2007 foi importante para a organização da nossa militância, na luta pela Reforma Agrária e também pelas lutas gerais que travamos em alianças com diversos outros movimentos do campo e da cidade. O ano também foi importante para que pudéssemos amadurecer nosso entendimento de que não é possível fazer Reforma Agrária se não derrotarmos o agronegócio. ....

    Nossas Lutas

    Começamos o ano com uma grande mobilização que marcou o 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Em vários estados mulheres trabalhadoras rurais se organizaram em luta por Soberania Alimentar e Contra o Agronegócio. Em São Paulo, as mulheres da Via Campesina ocuparam a Usina Cevasa, agora controlada pela estadunidense Cargill, e em outros estados foram ocupadas áreas da Aracruz Celulose, da Stora Enso e da Boise.

    Em abril, realizamos uma grande Jornada de Luta pela Reforma Agrária. Foram feitas marchas, ocupações de latifúndios improdutivos, protestos em prédios públicos, fechamento de praças de pedágios e de estradas em 24 estados, onde estamos organizados. A jornada também cobrou punição aos assassinos dos 19 Sem Terra executados em abril de 1996, em Eldorado dos Carajás (PA). E seguimos em mobilização no mês de maio, quando nos reunimos aos movimentos populares urbanos e centrais sindicais para realizar a jornada unificada do dia 23. "Nenhum Direito a Menos", contra as reformas neoliberais, a retirada de direitos dos trabalhadores e a política econômica do governo Lula.

    No segundo semestre também realizamos atos e ocupações no Dia do Trabalhador Rural, celebrado no dia 25 de julho, quando ocupamos a fazenda Boa Vista, em Alagoas, de propriedade da família Calheiros. Fizemos a Jornada Nacional em Defesa da Educação Pública (realizada em agosto), junto com os estudantes para cobrar acesso às universidades, e participamos da Campanha "A VALE é Nossa", que teve como ponto alto a realização do plebiscito popular, em setembro. Foram 3.729.538 de brasileiros que participaram, dos quais 94,5% votaram que a VALE não deveria continuar nas mãos do capital privado.

    Ocupações e marchas seguiram pelos meses de setembro e outubro, em quase todos os estados, para denunciar o abandono em que se encontra a agricultura familiar e a Reforma Agrária. No Rio Grande do Sul, três colunas de trabalhadores e trabalhadoras marcharam por 62 dias rumo ao grande latifúndio – Fazenda Guerra, em Coqueiros do Sul, para cobrar a desapropriação da área para a Reforma Agrária. E fechamos o ano com as ocupações das sedes da empresa suíça Syngenta Seeds, em vários estados, e com a ocupação da Estrada de Ferro Carajás, da VALE, no estado do Pará.

    Não podemos nos calar ao lembrarmos com saudade os companheiros e companheiras que pagaram com a própria vida o direito de lutar. É o caso de Valmir Mota de Oliveira (Keno), executado a sangue frio no dia 21 de outubro, por uma milícia armada contratada pela transnacional Syngenta, em Santa Teresa do Oeste, no Paraná. Perdemos também outros companheiros e companheiras como Maria Salete Ribeiro Moreno (MA), Cirilo de Oliveira Neto (RN), Dênis Santana de Souza (PE), para citar alguns.

    Prioridade na Educação

    Em 2007 seguimos investindo em educação e formação. Nossa Campanha Nacional de Solidariedade às Bibliotecas do MST arrecadou mais de 220 mil exemplares de livros! Estamos orgulhosos pelo apoio recebido de muitos parceiros, intelectuais e amigos, que se dispuseram não só a doar os livros, mas também a divulgar nossas idéias. Também temos orgulho dos nossos 2.500 jovens camponeses que estão fazendo graduação em universidades e dos nossos 240 jovens que foram estudar medicina na Escola Latino-Americana de Medicina (ELAM), em Cuba. Também nos orgulhamos do crescimento da Escola Nacional Florestan Fernandes, como um patrimônio, não só para a formação do MST, mas como local de formação de toda a classe trabalhadora. ....

    Sabemos que o próximo ano não será fácil, assim como 2007 não foi. Sabemos que a disputa entre os dois projetos de agricultura vai se acirrar ainda mais. Porque no modelo do agronegócio e das transnacionais não há lugar para os camponeses nem para o povo brasileiro. Eles querem uma agricultura sem agricultores! Por isso seguimos nossa luta contra o agronegócio, pela ampliação da desapropriação de terras para a Reforma Agrária, contra as sementes transgênicas, contra o domínio do capital estrangeiro sobre a agroenergia, contra a expansão da cana e do eucalipto. Lutaremos para impedir o avanço da propriedade estrangeira, que vem dominando nosso território. Em todas essas lutas esperamos encontrar você que sempre nos apoiou.

    Um ótimo ano de 2008 para todos (as) nós com muita luta e muitas vitórias! Reforma Agrária: Por Justiça Social e Soberania Popular!

    Secretaria Nacional do MST

    Em 2008 Seguiremos Lutando e Fazendo Nascer o Impossível!"

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segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Junto ao Presépio

Junto ao Presépio
Chegou o Natal. A noite entre todas bendita, em que uma melodia celeste ecoou pela Terra, e se multiplica, há mais de dois mil anos: Glória a Deus nas Alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade.

A realidade contemporânea, boa parte dos acontecimentos que aqui costumo comentar, parecem bem longe da suavidade dessa noite.

Assim, é hora de fazer uma pausa nas reflexões habituais deste blog e voltarmos nossos olhos para a Gruta de Belém e ali nos determos.

Votos de Natal
E já que este blog é um Radar da Midia, foi na midia que procurei um artigo para aqui refletir sobre esta data.

Antes de passar à leitura, desejo a todos um santo Natal e um Ano Novo pleno de dons.

Ah!... recordo a todos que para estarmos mais próximos no ano de 2008 deixem seu email aí ao lado, na janela indicada, para que possam, sem trabalho, receber um aviso cada vez que este blog seja atualizado. Depois é só confirmarem a solicitação numa mensagem que receberão. Não demora mais do que 5 segundos.

Dom de si próprio
O artigo, intitulado Junto ao Presépio, foi escrito por Plinio Corrêa de Oliveira e publicado no jornal Legionário, nos idos de 1946. Foi há muito tempo, entretanto, parece que foi hoje. Suas verdades são perenes, assim como perene é o mistério benfazejo desta data.

O autor, católico ardoroso e atuante, descendente de estirpes tradicionais, desde cedo se interessou pela análise filosófica e religiosa da crise contemporânea.

Homem de Fé, de pensamento, de luta e de ação, Plinio Corrêa de Oliveira, além de mestre da doutrina contra-revolucionária, ocupou lugar de inegável destaque no panorama internacional como líder e orientador, numa época de realizações e de crises, de apreensões e de catástrofes.

  • "Aproxima-se mais uma vez, Senhor, a festa de Vosso Santo Natal. Mais uma vez a Cristandade se apresta a Vos venerar na manjedoura de Belém, sob a cintilação da estrela ou sob a luz ainda mais clara e fulgente dos olhos maternais e doces de Maria. A vosso lado está São José, tão absorto em Vos contemplar, que parece nem sequer perceber os animais que Vos rodeiam e os coros de Anjos que rasgaram as nuvens e cantam, bem visíveis, no mais alto dos Céus. Daqui a pouco se ouvirá o tropel dos Magos que chegam, trazendo presentes de ouro, incenso e mirra no dorso de extensas caravanas guardadas por uma famulagem sem conta.

    No decurso dos séculos, outros virão venerar vosso presépio: da Índia, da Núbia, da Macedônia, de Roma, de Cartago, da Espanha; gauleses, francos, germanos, anglos, saxões, normandos. Aí estão os peregrinos e os cruzados, que vieram do Ocidente para beijar o solo da gruta em que nascestes. Vosso presépio encontra-se agora em toda a face da Terra. Nas grandes catedrais góticas ou românicas, nas mesquitas conquistadas ao mouro e consagradas ao culto verdadeiro, multidões imensas se acumulam em torno de Vós, e Vos trazem presentes: ouro, prata, incenso, e sobretudo a piedade e a sinceridade de seus corações.

    Abre-se o ciclo da expansão ocidental. Os benefícios de vossa Redenção jorram abundantes sobre terras novas. Incas, astecas, tupis, guaranis, negros de Angola, do Cabo ou da Mina, hindus bronzeados, chins esguios e pensativos, ágeis e pequenos nipões, todos estão em torno de vosso presépio e Vos adoram. A estrela brilha agora sobre o mundo inteiro. A promessa angélica já se fez ouvir a todos os povos, e sobre toda a Terra os corações de boa vontade encontraram o tesouro inapreciável de vossa paz. Superando todos os obstáculos, a palavra evangélica se fez ouvir por fim aos povos do mundo inteiro. No meio da desolação contemporânea, esta grande afluência de homens, raças e nações em torno de Vós é, Senhor, a única consolação, a esperança que resta.

    E no meio de tantos, eis-nos aqui também. Estamos de joelhos e Vos olhamos. Vede-nos, Senhor, e considerai-nos com compaixão. Aqui estamos, e Vos queremos falar.

    Nós? Quem somos nós? Os que não dobram os dois joelhos, e nem sequer um joelho só, diante de Baal. Os que temos a vossa Lei escrita no bronze de nossa alma, e não permitimos que as doutrinas deste século gravem seus erros sobre este bronze, que sagrado vossa Redenção tornou. Os que amamos como o mais precioso dos tesouros a pureza imaculada da ortodoxia, e que recusamos qualquer pacto com a heresia, suas obras e infiltrações. Os que temos misericórdia para com o pecador arrependido, e que para nós mesmos, tantas vezes indignos e infiéis, imploramos vossa misericórdia.

    Mas que não poupamos a impiedade insolente e orgulhosa de si mesma, o vício que se estadeia com ufania e escarnece a virtude. Os que temos pena de todos os homens, mas particularmente dos bem-aventurados que sofrem perseguição por amor à vossa Igreja, que são oprimidos em toda a Terra por sua fome e sede de virtude, que são abandonados, escarnecidos, traídos e vilipendiados porque se conservam fiéis à vossa Lei.

    Aqueles que sofrem, sem que a literatura contemporânea se lembre de exaltar a beleza de seus sofrimentos: a mãe cristã que reza hoje sozinha diante de seu presépio, no lar abandonado pelos filhos que profanam em orgias o dia de vosso Natal; o esposo austero e forte, que pela fidelidade a vosso Espírito se tornou incompreendido e antipático aos seus; a esposa fiel, que suporta as agruras da solidão da alma e do coração, enquanto a leviandade dos costumes arrastou ao adultério aquele que devera ser para ela a coluna do lar, a metade de sua alma, "um outro eu mesmo"; o filho ou a filha piedosa, que durante o Natal, enquanto os lares cristãos estão em festa, sente mais do que nunca o gelo com que o egoísmo, a sede dos prazeres, o mundanismo, paralisou e matou em seu próprio lar a vida de família.

    O aluno abandonado e vilipendiado pelos seus colegas, porque permanece fiel a Vós. O mestre detestado por seus discípulos, porque não pactua com seus erros. O Pároco, o Bispo, que sente erguer-se em torno de si a muralha sombria da incompreensão ou da indiferença, porque se recusa a consentir na deterioração do depósito de doutrina que lhe foi confiado. O homem honesto que ficou reduzido à penúria porque não roubou.

    Estes são, Senhor, os que no momento presente, dispersos, isolados, ignorando-se uns aos outros, entretanto agora se acercam de Vós, para oferecer o seu dom e apresentar a sua prece.

    Dom tão esplêndido, na verdade, que se eles Vos pudessem dar o Sol e todas as estrelas, o mar e todas as suas riquezas, a Terra e todo o seu esplendor, não Vos dariam dom igual. É o dom de si, íntegro e feito com fidelidade."
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domingo, 23 de dezembro de 2007

No Aeroporto com os brasileiros que partiram

No Aeroporto com os brasileiros que partiram
Acabo de regressar do Aeroporto internacional de Guarulhos. Ali encontrei, por acaso, um amigo que aguardava sobrinhos que voltavam ao Brasil.

Um deles, junto com a esposa e o irmão desta, chegavam da Austrália. "Estamos quase chegando em casa", disse ela com um sorriso, que denotava comprazimento e saudades. Uma outra sobrinha de meu amigo chegaria, em pouco tempo, proveniente de Londres.

Fui apresentado aos que voltavam da Austrália. Jovens, simpáticos, boa presença, pujantes e talentosos, diziam que era bom trabalhar por lá.

Pujança acorrentada
Na percurso de volta para casa perguntei-me o que leva brasileiros, como eles, a deixarem um país maravilhoso e irem trabalhar, literalmente, no outro lado do mundo. E como eles muitos outros!

Afinal o Brasil é um mundo, em boa parte sendo conquistado, pois a fronteira interna não deixa de se expandir. Um país com riquezas inesgotáveis, com oportunidades sem fim, com um povo afável, acolhedor e amigo.

Concluo que o Brasil poderia ter outra pujança econômica se aqui houvesse uma verdadeira liberdade econômica.

Os impostos escorchantes, a burocracia tentacular, a legislação opressiva, as inúmeras restrições e ataques ao direito de propriedade entravam a verdadeira pujança do País. E não apenas do ponto de vista econômico, mas cultural, social, educativo.

Há polos de excelência em muitos campos, espalhados por todo o território. Mas quantos outros poderiam surgir, ou até mesmo já teriam surgido?

Mentalidade e ideologia estatizante
O brasileiro, sempre criativo e com iniciativa, parece procurar a todo o momento as brechas na muralha com que os adeptos da mentalidade e da ideologia estatizante e socializante cercaram o País.

E para muitos a única brecha é sair do País!

Apenas para se ter uma idéia, em artigo para O Estado de S. Paulo, Diogo Costa, mestre em Ciência Política pela Universidade de Colúmbia, menciona que, durante os cinco anos do governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil caiu do 76º para o 101º lugar, no ranking mundial de liberdade econômica. A classificação, feita anualmente pelo Fraser Institute do Canadá, mostra que o País ficou empatado com Etiópia, Haiti e Paquistão.

Portos: exemplo paradigmático
Há dias, um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) defendeu, com farta documentação e argumentação o fim da administração pública dos portos e do que chama de "ineficiência provocada pela hegemonia de interesses políticos no setor".

O estudo relembra que 95% do volume exportado passa pelos portos; e do valor das exportações, 80% depende dos mesmos. A falta de investimentos para modernização e a ineficiência operativa, acarretam pesadas perdas ao País e constituem mais um dos gargalos da infra-estrutura.

"Somente a privatização permite superar o atraso e obter apoio financeiro mais rápido para os investimentos necessários. Falta profissionalização, porque os portos ficaram por muito tempo reféns de indicações políticas", diz o estudo da CNI, mencionado pelo jornal Valor Econômico.

Entretanto, uma única coisa parece certa nesta questão. Quem a enunciou, com clareza, foi o ministro-chefe da Secretaria Especial dos Portos, Pedro Brito: "Privatizar não está nos planos do governo".

É claro, diante da ideologia do atraso, brasileiros jovens, válidos e talentosos, como os sobrinhos de meu amigo, vão para a Austrália e outros países.

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quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Saiba quem ganha com o fim da CPMF

Saiba quem ganha com o fim da CPMF
O País ainda vive o day after do NÃO à CPMF!

A sociedade, como um todo, sentiu-se aliviada por ver que finalmente seus representantes... a representaram e deram voz a seu descontentamento.

O governo, por seu lado, faz o jogo do catastrofismo e lança ameaças. Mais, ainda, promete criar ou aumentar impostos.

Parece que o mundo vai cair com o fim da CPMF. A Saúde entrará em colapso; a segurança não terá meios para defender os brasileiros; e até o tão esperado "grau de investimento" será adiado. Para ficar apenas nesses vaticínios, claramente demagógicos.

Contribuição provisória... definitiva
Não sei se todos se deram conta que, pouco antes da batalha decisiva da CPMF, ministros apareciam dia após dia, nos meios de comunicação, afirmando que suas áreas seriam irremediavelmente prejudicadas pelo fim da contribuição provisória.

Sim, "contribuição PROVISÓRIA". A contribuição era provisória, mas tudo no País parecia depender definitivamente dela. Curioso, não acham?

Na verdade, algo mais se escondia por trás de tão imenso esforço. Um projeto político-ideológico, que visa a perpetuação no poder, e que, para tal, necessita dinheiro fácil para esbanjar no aparelhamento e inchaço do Estado e da máquina pública.

Por isso o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva agregou uma outra nota a essa mega ofensiva. O terrorismo populista, arrogante e agressivo, que se vai tornando habitual. Para Lula, os sonegadores articulavam o movimento contra a CPMF; o fim da contribuição só beneficiaria os ricos; os tão amados programas como o "Bolsa Família" estariam ameaçados; e outras pérolas do gênero.

Benefício financeiro e institucional
Mas, afinal, o que aconteceu mesmo no País com o final da CPMF? Quem verdadeiramente se beneficiou?

A resposta, clara, lúcida, objetiva, está na pena de Paulo Rabello de Castro, em artigo para a Folha de S. Paulo (19.dez.2007), O perde-ganha do "não" à CPMF. Para ele quem ganhou foi toda a sociedade. Um ganho que "não é só financeiro, mas institucional", destaca.

Doutor em economia pela Universidade de Chicago, vice-presidente do Instituto Atlântico e chairman da SR Rating, classificadora de riscos, Paulo Rabello de Castro é incisivo na sua análise: o governo deve remanejar verbas e reduzir seus desperdícios catastróficos.

"Um governo que elevou seus gastos em quase R$ 200 bilhões, cinco vezes o valor da CPMF", recorda.

E acrescenta que, depois desta pequena revolução silenciosa que deu um basta à tributação escorchante, mas, sobretudo, deu um basta ao abuso do poder, seria vergonhoso tentar aprovar, recriar ou elevar tributos.

Revolução silenciosa

Vamos, pois, aos trechos mais importantes do mencionado artigo:

  • "Feitas as contas, aparece o quadro que já tinha ficado claro para muitos: com o fim da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), perde o governo - só a curtíssimo prazo e muito menos do que alardeava -, mas ganha a sociedade, imensamente. O movimento contra a prorrogação, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu a "sonegadores", partiu justamente dos setores que mais recolhem a CPMF (portanto, não sonegam nada) e depois transferem o tributo ao contribuinte final: o povo. ....

    Com a extinção da CPMF, o ganho da sociedade não é só financeiro, mas institucional. Ao contrário do que reverberou o governo no auge da disputa, os milhões de indivíduos que se mobilizaram para pressionar o Congresso contra a CPMF não são um "bando de irresponsáveis". Irresponsável foi o governo por contar com o tributo provisório para financiar despesa permanente, logo com a saúde. ....

    A era da improvisação e do assalto ao bolso do contribuinte parece estar acabando. Essa é a melhor notícia que a sociedade poderia dar a si mesma com um recado claro ao governo, sobre os limites do poder de tributar.

    Deu-se um "basta" à estrutura fiscal de fancaria que impede o Brasil de se tornar um país normal em termos tributários e de controle de gastos públicos. O país avançou. É pura ignorância a afirmação circulada, atribuindo ao fim da CPMF o risco de adiamento do "grau de investimento", a ser concedido pelas agências de risco norte-americanas ao Brasil. ....

    O final da história é mais interessante. O "dinheiro de ninguém" da CPMF passará a ter um destino de muito maior produtividade, pois os bilhões do tributo serão despendidos pelas famílias e pelas empresas. Isso significará mais crescimento e mais empregos. O erro palmar do argumento pró-CPMF sempre foi esse: achar que o tributo cria alguma riqueza adicional. Não! A CPMF, ou qualquer outro tributo, é parte da riqueza já criada no setor privado, que o governo confisca para os cofres públicos, reduzindo o bem-estar geral. É o povo que gera riqueza. Também é o povo, não o governo, quem sabe o que mais lhe convém. É o povo, não o governo, o fiel da democracia e da alternância do poder."

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terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Lula e a "democracia" na América Latina

Lula e a "democracia" na América Latina
As últimas semanas têm-se mostrado muito reveladoras no que diz respeito aos avanços do totalitarismo de esquerda na América Latina.

E o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem acompanhado essa marcha com declarações e atitudes - surpreendentes para alguns - que vão deixando a nu o caráter igualmente totalitário e socialista de suas convicções políticas.

É o caso de dizer que só não vê quem não quer!

Apoio ao "SIM" na Venezuela
Há poucas semanas o presidente chocou o País com sua defesa comprometedora de Hugo Chávez e de seu regime totalitário. Inventem outra coisa para criticar o Chávez, mas por falta de democracia não é, afirmou Lula.

Tais declarações envolviam, evidentemente, apoio às transformações radicais que Chávez pretendia consagrar na Venezuela, terminando de instaurar no país um estado socialista totalitário.

O apoio de Lula visava influenciar o referendo que Chávez convocara para ratificar a mudança da Constituição aprovada pelo Congresso, totalmente submisso a seus ditames (leia Lula, o "chavista" dissimulado).

Chávez entendeu bem o apoio de Lula e o usou com largueza na propaganda a favor do "SIM" (leia Chávez comemora apoio de Lula).

Morales: a "coisa" mais extraordinária
Agora foi a vez de Lula tecer elogios rasgados ao "companheiro" Evo Morales. Ele foi "a coisa (sic!) mais extraordinária" que aconteceu recentemente na América do Sul, pois ele é "a cara da Bolívia".

Tais elogios, proferidos em Buenos Aires, surgem no preciso momento em que o presidente da Bolívia acaba de consumar uma série de golpes institucionais (sim, golpes!) para impor ao país a Constituição "bolivariana" que não conseguiu fazer aprovar pelas vias legais.

Evo Morales, eleito em 2005, transformou a Bolívia num verdadeiro protetorado do coronel Hugo Chávez, e adotou integralmente seu "bolivarianismo".

Chávez tem interferido largamente na vida política boliviana, enviando somas elevadas - e não contabilizadas - de petro-dólares, destinadas a comprar políticos; tem promovido operações de militares venezualanos em território da Bolívia; e fornece até os guarda-costas do presidente boliviano.

As declarações elogiosas de Lula, mais uma pérola ideológica da diplomacia "companheira", comprometem o Presidente com o golpismo de Evo Morales. Afinal o que Lula vai mesmo fazer à Bolívia nos próximos dias?

Palavras de sentido cifrado
É, pois, de suma importância tomar conhecimento do editorial do jornal O Estado de S. Paulo (11.dez.2007), o qual narra com precisão o processo político empreendido por Morales.

A leitura nos faz ter uma noção clara do que Lula, seus colaboradores e seguidores (como o inefável Marco Aurélio Garcia) entendem por "democracia".

Não nos iludamos! As palavras na boca dos lulo-petistas têm um significado diverso e cifrado. É o caso de "democracia".

Convém não esquecer que, diante dos protestos maciços da população de Sucre contra o golpismo de Evo Morales, este lançou sobre os manifestantes a repressão policial, causando a morte de três bolivianos.

Vamos, pois, à leitura do editorial Golpe na Bolívia:

  • O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em Buenos Aires, pela enésima vez, que Evo Morales foi “a coisa mais extraordinária” que aconteceu recentemente na América do Sul, pois ele é “a cara da Bolívia”. De fato, Evo Morales não desmerece a maioria de seus antecessores. Em menos de duas semanas aplicou dois golpes nas instituições, calando a oposição e impondo ao país uma constituição que lhe permitirá ficar no poder até 2018, centralizará a atividade econômica nas mãos do Estado e dividirá o país em áreas indígenas - lá existem 36 etnias -, com autonomia administrativa e tribunais próprios, obedecendo a uma legislação específica.

    O primeiro golpe foi dado no dia 24. Depois de mais de um ano sem que conseguissem votar um único artigo do projeto feito por Evo Morales, seus seguidores transferiram a sede da Assembléia Constituinte, em Sucre, para um quartel e, na calada da noite, aprovaram todo o texto - acrescido de dispositivo que permitia a reeleição indefinida do presidente -, obviamente sem a participação da oposição. O texto foi aprovado por 138 dos 255 constituintes, violando, assim, a legislação que condicionava a aprovação ao apoio de dois terços dos deputados.

    No sábado, a Constituinte foi transferida para uma universidade em Oruro, cidade controlada pelos partidários de Morales. Lá se reuniram 164 deputados que tiveram o cuidado formal - mas nem por isso menos golpista - de mudar as regras do jogo, para permitir que a constituição fosse aprovada por dois terços dos presentes, e não de todo o corpo parlamentar, como determinava a lei que convocou a Assembléia Constituinte. A maior parte dos deputados da oposição, que esperavam que a sessão fosse instalada em Cochabamba, não chegou a tempo em Oruro. Os poucos que compareceram decidiram não participar da pantomima, depois de deixar claro à Assembléia que o que lá se passava era ilegal.

    Impedidos de deixar o recinto por uma multidão que cercava o prédio - e de vez em quando explodia cargas de dinamite para estimular o ânimo reformista dos constituintes -, em 16 horas de trabalho os deputados aprovaram o texto da nova constituição, que será submetida a referendo. Neste segundo turno, deveriam ser votados todos os mais de 400 artigos da constituição, um por um. Mas todos tinham pressa, não havia oposição a exigir o respeito à lei, e votou-se tudo em bloco, por capítulos. Muitos dos deputados não dispunham de cópia do projeto, para acompanhar o que estava sendo votado.

    Explica-se a pressa de Evo Morales e os seus expedientes golpistas. A Assembléia tinha até o dia 15 deste mês para cumprir o objetivo de sua convocação. Passou, no entanto, mais de um ano perdida em discussões sobre procedimentos, sem que a maioria liderada pelo Movimento ao Socialismo conseguisse vencer a obstrução da minoria. E o que a minoria queria não era nada extraordinário: respeito à propriedade privada e à livre empresa e autonomia política, administrativa e fiscal aos nove departamentos (Estados), que até o ano passado tinham seus governadores nomeados em La Paz.

    Os governadores de Santa Cruz, Beni, Pando, Tarija e Cochabamba, que se opõem a Evo, anunciaram que não acatarão a nova constituição e já conclamam a população à desobediência civil. Os governadores de La Paz e de Chuquisaca não integram o bloco de oposição, mas não apóiam Evo Morales, que só conta com os departamentos de Oruro e Potosí. ....

    Com o golpe deste final de semana, Evo Morales ampliou as divisões do país e aumentou as possibilidades de que haja uma reação violenta aos seus desmandos.

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segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Socialismo, a meta escondida que se revela

Socialismo, a meta escondida que se revela
Já mencionei aqui a importância do rumo traçado pelo PT no seu 3º Congresso, recentemente realizado.

Ao contrário do que muitos esperavam - talvez por otimismo ou desprevenção - o PT no mencionado Congresso voltou a colocar como meta programática o socialismo. Tudo sob o comando de Lula. Esse "socialismo do séc. XXI" de que tanto falam Chávez, Evo Morales e outros (leia O homem do partido e o partido do homem) .

Para sinalizar essa volta programática para o socialismo, o PT decidiu aderir, ainda no dito Congresso, à campanha pela reestatização da Vale do Rio Doce. Vale que se tornou símbolo do êxito do processo de privatização e do regime de propriedade privada.

Lula passa a comandar o ataque à Vale
Lula em sua técnica camaleônica de esconder as verdadeiras metas de sua orientação política, logo afirmou que a adesão do PT à campanha de reestatização da Vale "não era para valer". Mas era, sim, como também pude comentar aqui (leia MST e governo: cumplicidade malfazeja).

E continua a ser!

Agora é o próprio Lula que dirige os ataques à Vale, deixando assim a nu que o sonho petista do socialismo está vivo. Só ficou escondido enquanto as circunstâncias o exigiram. No atual contexto sul americano, Lula começa a arrancar a máscara.

Há dias, em entrevista à televisão, o mesmo Lula que negava a adesão a qualquer ideologia, se disse com fortes tendências socialistas. E não há verdadeiro socialismo sem aniquilamento da propriedade privada. Ainda estamos assistindo aos primeiros passos de uma caminhada, mas que visa ir até lá.

Propriedade e função social
Carlos Alberto Sardenberg, em artigo para o jornal O Estado de S. Paulo (10.dez.2007) analisa o viés socializante que vai adquirindo a política econômica do governo Lula.

Sardenberg ressalta o excesso de burocracia que entrava os negócios e ainda desfaz o mito da função social da propriedade, o slogan com que a esquerda pretende cercear o direito de propriedade, antes de extingui-lo.

Claro, não quero aqui negar que a propriedade tenha uma função social, ela o tem. Mas não o que a esquerda apresenta que é uma função social que mata o próprio direito de propriedade.

Não parece, mas está aí
Vamos, pois, aos trechos mais importantes do artigo De bronca com o capital:

  • O presidente e seus colaboradores têm dito que a Vale “escalpela” o Pará e não dá nada em troca, que investe mais no exterior do que no Brasil e que deveria exportar mais produtos acabados e menos matéria-prima.

    As críticas tanto incomodaram que Agnelli se apressou a marcar reunião com o presidente Lula para relatar a atuação da companhia. Isso foi há três semanas e não adiantou muito. Lula voltou às críticas na última quinta-feira, em evento no Pará, ao lado da governadora Ana Júlia, que também se queixa e quer mais apoio da Vale ao Estado.

    No dia seguinte, Agnelli defendeu-se publicamente. Disse, por exemplo, que a Vale é a empresa privada que mais investe na infra-estrutura nacional, referindo-se a portos, ferrovias e rodovias que a companhia opera ou dos quais participa. Também apresentou suas próprias reclamações. As empresas que pretendem investir no Brasil, comentou, precisam ter garantias de que não sofrerão invasões ou agressão às suas instalações e a seus trabalhadores. A Vale tem sofrido com isso - invasões de índios, do MST e de outros movimentos -, com a, digamos, compreensão de autoridades.

    Lula confunde a Vale com uma estatal. Trata-a como se fosse a Petrobrás. ....

    A bronca de Lula parte de outro ponto de vista, aquele expresso no pensamento econômico do PT, em documentos pré-governo. Entre outras coisas, sustenta que a propriedade e, pois, a empresa só são legítimas se cumprirem função social. Parece bonito, mas o que é função social? Dar emprego para os companheiros? Dar dinheiro para os governos amigos? Pagar mesadas aos movimentos sociais? Gastar recursos em atividades que não têm nada que ver com a empresa, para apoiar determinados grupos e interesses ditos coletivos? ....

    Na verdade, a regra do jogo é simples: cabe ao governo regular o ambiente de negócios, mas de modo a garantir a propriedade privada, preservar a competição e garantir que o investidor receberá os resultados do seu empreendimento. Sem isso não há desenvolvimento. ....

    Nos documentos antigos do PT, alguns escritos por Guido Mantega, como Um outro Brasil é possível, aparecia uma visão claramente intervencionista. ....

    Essa visão simplesmente foi deixada de lado na era de Antonio Palocci no Ministério da Fazenda.

    Mas foi voltando aos poucos com Guido Mantega e na medida em que este vai pondo seu pessoal no comando da administração econômica. Por toda parte se vê a vontade do governo de intervir. ....

    Nos diferentes setores, encontram-se empresários e executivos se queixando das regras e das normas excessivas que atrapalham, burocratizam e encarecem seus negócios. ....

    Tudo isso - as invasões de que se queixam Agnelli e tantos outros executivos e os abusos contra a propriedade privada - cria um ambiente ruim. Não parece, mas está aí.
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quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Não só com eleições se faz uma democracia

Não só com eleições se faz uma democracia
Depois do primeiro impacto, o jornalismo engajado com o lulo-petismo tenta passar para segundo plano a vitória do "NÃO" no referendo da Venezuela.

Havia, evidentemente, uma enorme torcida por parte de toda a esquerda para que Hugo Chávez vencesse. E assim, "democraticamente", instaurasse sua ditadura socialista.

Chávez utilizou-se de todos os meios para triunfar, muitos deles bem longe das práticas habituais nas democracias autênticas. Entretanto, perdeu!

Chávez "demonstrou" ser um líder democrático
A derrota deixou as esquerdas, especialmente aquelas alinhadas com o "chavismo", num estado de prostração indisfarçável. Precisavam, pois, conseguir algo que lhes pudesse servir de trunfo nessa situação.

Agarraram-se, então, ao grande "argumento". Ao aceitar a derrota, Chávez teria demonstrado, de modo inequívoco, que na Venezuela, ao contrário do que dizem seus opositores, não há um regime autoritário, mas uma verdadeira democracia.

O argumento é capcioso. Já mostrei aqui, baseado nas palavras do próprio Chávez, como a aceitação da derrota foi um ato voluntarioso, pois o próprio presidente venezuelano descreveu seu "dilema" (leia O misterioso dilema de Chávez).

Além disso, pouco mais de 24 horas decorridas do referendo, Chávez já declarou que, na prática, a vitória não teve alcance nenhum e que ele dará um jeito (democrático?!) de aprovar sua reforma constitucional.

Evitado novo golpe na democracia
O jornalista Ali Kamel, em artigo publicado no Globo (4.12.2007), faz uma brilhante análise a propósito desta atitude velhaca dos meios mais chegados ao lulo-petismo, favoráveis a reformas "chavistas" em nosso país, e, no fundo, cúmplices do regime autoritário que Chávez impôs à Venezuela:

  • A vitória do “não” na Venezuela assanhou os setores antidemocráticos e autoritários aqui do Brasil. Muitos tentaram demonstrar que a derrota de Chávez era a prova de que seus críticos são injustos: a Venezuela seria uma democracia pujante, em que o presidente submete suas idéias ao povo e acata os resultados, tudo muito normal. A vitória do “não” foi sem dúvida uma vitória dos democratas venezuelanos, mas, nem de longe, a evidência de que o regime em vigor naquele país é democrático. O que se evitou ali foi mais um golpe na democracia, o definitivo sem dúvida, mas, para que a liberdade volte a ser uma realidade, o caminho ainda é longo. Já se tornou um chavão, mas é inevitável repeti-lo: eleições são fundamentais numa democracia, mas, por si só, não atestam que um regime seja democrático.

    Depois de eleito em 1998, Chávez, por decreto, decidiu fazer uma consulta popular para que o povo aceitasse ou não a convocação de uma Constituinte, que teria por objetivo implantar a "revolução pacífica bolivariana". O Congresso, eleito apenas um mês antes (portanto, perfeitamente legítimo), decidiu resistir, alegando que o presidente não tinha o poder de fazer tal consulta. Mas a Suprema Corte do país, para agradar a Chávez, não somente autorizou o plebiscito como deu ao presidente o direito de ditar as regras eleitorais para a eleição dos constituintes. O que fez Chávez? Para aquela eleição, acabou com o voto proporcional e instituiu o voto majoritário, em que o vencedor de um distrito leva todos os votos. E mais: nas cédulas eleitorais, proibiu a menção a partidos, mas apenas ao nome ou ao número dos candidatos. Assim, os partidários de Chávez tiveram 55% dos votos, mas, dado o sistema majoritário, obteve 92% dos assentos na Constituinte. Se o voto proporcional tivesse sido mantido, seus oponentes teriam ficado com 45% das cadeiras e não com apenas 7%.

    A Constituinte nasceu com esse vício de origem, o que não a impediu de promover uma escalada autoritária: decretou a extinção do Congresso e procedeu a um expurgo no Judiciário, com mais de um terço dos juízes sendo demitidos sumariamente, sem direito a defesa. O atual Congresso, unicameral, tem 100% de partidários de Chávez, já que a oposição, em protesto contra leis eleitorais que a prejudicavam, boicotou as eleições. Não é à toa que, em janeiro deste ano, os deputados foram unânimes ao aprovar uma excrescência: deram a Chávez, pela segunda vez desde 1998, o poder de governar por decretos por um ano e meio, a contar de fevereiro.

    O Judiciário é outra calamidade. Logo depois da Constituinte, 20 juízes foram indicados para a Suprema Corte, todos, de início, simpáticos ao presidente. Com o tempo, a corte se dividiu, o que levou Chávez a aprovar uma nova lei para o Judiciário, aumentando para 32 o número de juízes, eleitos, por maioria simples, para um mandato de 12 anos. Ou seja, de uma só vez, Chávez poderia indicar juízes em número suficiente para voltar a ter uma maioria folgada. Mas não foi só: a nova lei dava ao Congresso a possibilidade de afastar qualquer juiz cuja conduta fira a majestade do cargo ou solape o bom funcionamento da Justiça, seja lá o que essas duas coisas venham a significar. Com essa espada sobre suas cabeças, como falar em independência dos juízes?

    Num ambiente como este, a Venezuela precisará ainda de muitas vitórias dos democratas para que possamos considerar o país uma democracia.
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terça-feira, 4 de dezembro de 2007

O misterioso dilema de Chávez

O misterioso dilema de Chávez
Hugo Chávez, o coronel golpista (sim, ele em idos tempos foi protagonista de uma tentativa de golpe de Estado) sofreu forte revés em sua marcha rumo a um estado totalitário socialista. O "NÃO" venceu.

Comentei aí em baixo (ver O ditador derrotado) o significado de tal revés. Entretanto, o assunto está longe de ser esgotado.

Derrota maior que a anunciada
Os esquerdistas dos mais diversos matizes - e os lulo-petistas, sobretudo - tentam agora dizer que estão "felizes" com o resultado, que Chávez provou que há uma democracia na Venezuela, e assim por diante.

Entretanto, à medida que as horas passam, novos dados vêem à tona e descobre-se que o processo eleitoral não transcorreu com toda essa apregoada "normalidade democrática". Houve muitos vais-e-vens. E o ditador, ao que parece, não estava disposto a aceitar a derrota.

Circunstâncias diversas e pressões dos atores políticos acabaram por dobrar Hugo Chávez a reconhecer a derrota. Derrota que, por outro lado, parece ter sido por margem bem mais significativa do que a apresentada oficialmente.

O misterioso dilema de Chávez
Mas estes dados os analisarei em outro comentário. Gostaria de considerar aqui algumas das afirmações de Hugo Chávez durante a madrugada quando acabou por aceitar a vitória do "NÃO". Nessa altura falou de um misterioso dilema.

O jornal El Universal (3.dez.2007), sob o título Chávez: por agora não conseguimos!, noticiou o momento em que Chávez, envergando sua camisa vermelha (símbolo da revolução socialista), com uma fisionomia transtornada, em que se misturava a contrariedade e o desconcerto, anunciou a vitória de seus adversários. Interpolarei os comentários em azul.

Chávez começou por reconhecer uma dinâmica irreversível do "NÃO", agradeceu a todos os que se envolveram no processo eleitoral, e felicitou a oposição pela vitória no referendo. Mas passou logo ao ataque:

  • "Oxalá se esqueçam para sempre das trincheiras, dos saltos ao vazio, dos caminhos da violência", advertiu. ....
Já aqui se nota que Chávez atribui aos adversários todas as atitudes que ele e seus seguidores utilizam como método político. Basta lembrar as milícias "chavistas" (os círculos bolivarianos) atacando à mão armada os estudantes que se manifestavam pelo "NÃO". Ou as ameaças de confiscar as empresas daqueles que fizessem campanha contra a reforma constitucional.
  • "Digo-vos com o coração, estou há várias horas debatendo-me num dilema. Já saí do dilema e estou tranqüilo, espero que os venezuelanos também estejam", disse Chávez ao ratificar as cifras que anunciou a autoridade eleitoral.
A frase de Chávez sobre o dilema em que se debatia é extremamente misteriosa. Afinal de que dilema se trata? De aceitar a derrota das urnas? Mas isso não pode ser um dilema numa democracia... (na tal "democracia" que os lulo-petistas apregoam existir na Venezuela).

O dilema faz, pois, pensar que Chávez hesitava entre aceitar o resultado das urnas ou dar um golpe e impor sua reforma à força. Ou, "refazer" o resultado das urnas com uma imensa fraude que lhe desse a vitória que não tinha obtido. Afinal, não se esqueçam que as pesquisas de boca-de-urna (todas oficialistas, e uma delas inventada), davam larga vitória a Chávez.

Fica ainda a pergunta: Chávez resolveu seu dilema sózinho? Ao falar com o coração, como afirmou, dá a entender que foi um dilema profundo. Outros o terão aconselhado, ou até mesmo pressionado? As respostas, por enquanto, são obscuras...
  • "Não se sintam tristes, nem pesarosos", recomendou Chávez a seus seguidores na conferência de imprensa para correspondentes estrangeiros transmitida pela televisão local.

    Pediu à oposição que "saiba administrar sua vitória", e disse claramente que "por agora não conseguimos". "Somos transparentes, isto deve dar-nos lições a todos nós, e a principal lição é essa que já comentei, que este é o caminho".

Uma vez mais, as palavras de Chávez têm profundo significado. O "por agora não conseguimos", parece uma frase singela de quem aguarda uma nova oportunidade. Entretanto, ela tem um outro simbolismo. Esta foi precisamente a frase que Hugo Chávez pronunciou quando do fracasso de sua tentativa de golpe de Estado contra o Presidente Carlos Andrés Pérez. O "por agora não conseguimos" quiz trazer à memória um golpe de Estado...

  • Recordou ainda ao povo que a proposta de reforma "continua viva e que não morreu". ....

Ora, a manifestação do povo no referendo foi contra a reforma. Como poderá ela estar viva e não ter morrido? Chávez pretende impô-la de outra forma, contrariando assim a voz das urnas? As perguntas têm sentido, uma vez que atualmente o presidente venezuelano já goza de muitos poderes discricionários. O general Baduel, antigo aliado de Chávez e agora opositor, já advertiu para o perigo de o ditador venezuelano tentar impor as modificações constitucionais através de leis ordinárias.

  • Para Chávez é necessário ampliar o marco de avanço do projeto. "Para mim esta não é uma derrota. É um por agora. Eu preferi assim. Foi melhor assim".
É estranho que Chávez fale em ampliar o marco de avanço de um projeto que foi rejeitado pelo eleitorado. A frase que se segue é ainda mais significativa. Não se trata de uma derrota, é apenas um "por agora". Ou seja, Chávez vai tentar de qualquer forma impor sua vontade e seu projeto socialista totalitário à Venezuela.

Mas as afirmações continuam. O "eu preferi assim" confirma o que até há pouco eram meras suspeitas. "Eu preferi", ou o eleitorado preferiu assim? A frase é inequívoca. Chávez deixa entrever que pela sua cabeça passou a hipótese de ele não preferir assim, e, portanto, não respeitar a decisão eleitoral. E que essa hipótese teve grande chances de se tornar realidade.

Democracia, não acham? Os lulo-petistas asseguram que sim!
  • O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse que continuará batalhando para estabelecer o socialismo na Venezuela e que sua proposta de reformar a Constituição continua "viva", apesar dos resultados do referendo.

Bem, este trecho da notícia do El Universal só confirma o que comentei acima. Que Chávez não está disposto a parar em sua marcha rumo ao totalitarismo socialista. Portanto, preparem-se para novos golpes institucionais. Por aqui o lulo-petismo (com Lula adiante) está pronto a garantir o caráter "democrático" das novas aventuras chavistas. E a tentar suas aventuras em nosso solo. É esperar para ver!

  • "Nós temos sabido converter aparentes derrotas em vitórias morais que depois se converteram em vitórias eletorais", refletiu o mandatário. "Continuaremos a trabalhar, faremos um esforço maior para obter a máxima inclusão social, a igualdade como princípio do sistema, e logo encontraremos uma maneira", acrescentou.
Não acham curiosa a expressão "aparentes derrotas"? Fica a pergunta se para Chávez a derrota do "SIM" também foi aparente e se ele pretende convertê-la em "vitória eleitoral". Toda essa linguagem da conversão de "aparentes derrotas" em vitórias eleitorais traz à mente uma palavra: fraude! É assim que se governa nas "democracias" chavistas, lulo-petistas e afins!

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segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

O ditador derrotado

O ditador derrotado
Estou de volta, após problemas técnicos que me impediram de escrever neste blog durante vários dias.

E estou de volta junto com a boa notícia da derrota de Hugo Chávez no referendo da Venezuela. Referendo que deveria sancionar ou recusar a nova reforma constitucional, proposta pelo Presidente e aprovada por uma Assembléia Nacional, com baixa representatividade, e totalmente submissa à vontade política do líder "bolivariano".

A falsa popularidade de Chávez
A derrota tem indiscutível alcance político na Venezuela, como é óbvio. O "NÃO" à reforma, que implantaria um estado socialista totalitário, com permanência indefinida no poder do Presidente, deixa entrever como a popularidade de Chávez é artificial e manipulada.

Ou seja, suas políticas populistas atraem a simpatia imediatista de camadas da população diretamente beneficiadas por sua demagogia, mas a maioria dessas pessoas não alinha ideologicamente com sua revolução socialista.

Reflexo internacional da vitória do "NÃO"
Para além disso, a derrota traz consigo um revés importante à marcha de esquerdização empreendida por líderes latino-americanos, mais ou menos próximos ao "chavismo", como Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador), Daniel Ortega (Nicarágua), além de tornar mais imperioso um afastamento da futura presidente argentina, Cristina Kirchner, do caudilho venezuelano.

A derrota trás, por fim, e de modo não menos importante um forte reflexo para a política brasileira. Sobretudo, depois que o Presidente Lula se engajou na defesa de Chávez e de sua "democracia" socialista. Defesa que deixava entrever, quase sem véus, as intenções do núcleo político do lulo-petismo de instaurar aqui um regime "chavista".

O debate pelo 3º mandato estava solto, como apontei aqui (leia os posts Vem aí o golpe do 3º mandato e O 3º mandato voltará!); a proposta da Constituinte exclusiva da reforma política, avançava; a inauguração da TV pública, sob o comando do petismo, denotava a ofensiva massiva da propaganda oficialista; os ataques do PT e de seus agregados às privatizações, faziam prever uma virada na política econômica.

A derrota do "companheiro" Chávez, que Lula sempre fez questão de apoiar nos momentos mais difíceis, e nas atitudes mais controversas (como, por exemplo, o fechamento da TV), foi uma inequívoca derrota para o lulo-petismo.

Que lições serão tiradas de tal derrota?

Curiosamente ela se deu no dia em que a Data Folha divulgou resultado de pesquisa nacional em que 65% dos brasileiros se mostraram contrários ao 3º mandato para o Presidente Lula.

O desconcerto da esquerda
O desconcerto nas hostes do lulo-petismo não é de difícil constatação. Lula reagiu da forma mais lacônica à derrota do "SIM". Restringiu-se a dizer que o resultado foi a expressão da maioria. Obviedade maior não poderia ter dito. É claro! O resultado seria sempre a expressão da maioria, a não ser que houvesse fraude.

Mas a declaração do presidente deixa claro o mal estar com a derrota de Chávez! Ela implica um forte incômodo para os projetos do lulo-petismo de perpetuar-se no poder. E de construir no Brasil uma democracia plebiscitária, que descarte as instituições da democracia representativa.

Entretanto, é preciso ficar atento. Porque o lulo-petismo, assim como o "chavismo" não são de desistir. O ditador venezuelano foi claro ao reconhecer a derrota: "Não conseguimos por agora!" Ou seja, voltarão a tentar. E os meios parecem justificar-se sempre em função dos fins.

O estranho elogio a Chávez
Para tentar aliviar um pouco o peso da derrota, e para atestarem suas convicções "democráticas", os lulo-petistas (e seus afins) descobriram agora um grande elogio a Chávez: ao reconhecer a derrota ele teria agido como um "democrata".

O elogio, que impressiona à primeira vista, é simplesmente ridículo. Afinal o que esperar de um Presidente que governa num Estado de Direito? O mínimo e o elementar de quem governa segundo as regras da democracia é reconhecer os resultados, sejam eles favoráveis ou adversos.

Por que tantos elogios a essa "grande" atitude de Chávez? Tais elogios, por si, já demostram o quanto o regime de Chávez é anti-democrático, uma vez que a atitude do caudilho venezuelano parece excepcional e não esperada...

Chávez sem meios de recusar o resultado
Mas há mais. Chávez não teria como recusar o resultado das urnas. Era grande expectativa internacional a respeito de tal referendo e o presidente venezuelano ficaria muito isolado politicamente se, contrariando o resultado das urnas, levasse adiante, pela força, sua revolução socialista. A aceitação foi mais uma imposição das circunstâncias do que um ato de "nobreza".

Ademais é preciso não esquecer que Chávez se encontrava muito debilitado internacionalmente desde que o Rei Juan Carlos de Espanha pronunciou a famosa frase "por qué no te callas?". A opinião pública mundial vibrou com a interpelação real ao ditador e demonstrou a falta de prestígio, a nível internacional, do tal "socialismo do século XXI" e de seu líder máximo.

Isso sem contar que os opositores a Chávez, dentro da Venezuela, sentiram alento psicológico em sua postura, ao perceberem a forte recusa internacional ao processo político conduzido por Chávez. A frase do Rei Juan Carlos os interpretou e os fortaleceu.

A vitória do "NÃO" no referendo acabou por transformar-se num sonoro "por qué no te callas?" do povo venezuelano a Chávez.

O referendo não legitima o regime chavista
Claro que boa parte da esquerda engajada com o "chavismo" (na Venezuela, no Brasil e em outros países) tenta aproveitar a atitude do presidente venezuelano, ao reconhecer sua derrota, como o atestado da plena vigência do regime democrático naquele país.

Ora, isso não é verdade. Continua a haver na Venezuela milícias populares armadas, os círculos bolivarianos, que ameaçam e perseguem opositores ao regime, além de assumirem funções do Estado. Os juízes continuam a ser alvo do arbítrio do atual regime. A liberdade de imprensa continua ameaçada. A propriedade privada é igualmente alvo das atitudes discricionárias de Chávez.

Não basta um "referendo" transcorrido com relativa normalidade e transparência (e só relativa!) para apagar os sinais inequívocos de autoritarismo socialista, presentes na vida pública venezuelana.

A abstenção não é "chavista"
Por fim, uma objeção. Não seria a abstenção em sua quase totalidade de simpatizantes de Chávez?

Na verdade, o presidente Venezuelano tentou justificar a derrota pela enorme abstenção. "A abstenção nos derrotou", afirmou ele. Ora esse é um subterfúgio sem base na realidade. Subterfúgio de que tenta lançar mão, aqui, o jornalismo engajado, que numa primeira hora anunciou a vitória de Chávez baseado na "boca de urna" oficialista.

Quem acompanhou de perto o processo político em torno da reforma constitucional na Venezuela sabe perfeitamente que a oposição, temendo, com fundamento, fraude eleitoral, de há muito convocava a uma abstenção em massa, para desqualificar o referendo. Tática, aliás, adotada em anteriores eleições.

Só nos últimos dias, alguns líderes oposicionistas, ou personalidades destacadas que votariam pelo "NÃO", passaram a fazer apelos ao voto. Esses apelos obtiveram um certo resultado, mas muitos daqueles que tinham decidido abster-se, por oposição à reforma socialista de Chávez, e como forma de não conceder legitimidade à consulta popular, não mudaram mais sua postura.

Assim, não é nenhum exercício de imaginação política, computar grande parte dessa abstenção a opositores a Chávez. O que em vez de aliviar a derrota, ainda acentua mais a vitória do "NÃO".

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