segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

O ditador derrotado

O ditador derrotado
Estou de volta, após problemas técnicos que me impediram de escrever neste blog durante vários dias.

E estou de volta junto com a boa notícia da derrota de Hugo Chávez no referendo da Venezuela. Referendo que deveria sancionar ou recusar a nova reforma constitucional, proposta pelo Presidente e aprovada por uma Assembléia Nacional, com baixa representatividade, e totalmente submissa à vontade política do líder "bolivariano".

A falsa popularidade de Chávez
A derrota tem indiscutível alcance político na Venezuela, como é óbvio. O "NÃO" à reforma, que implantaria um estado socialista totalitário, com permanência indefinida no poder do Presidente, deixa entrever como a popularidade de Chávez é artificial e manipulada.

Ou seja, suas políticas populistas atraem a simpatia imediatista de camadas da população diretamente beneficiadas por sua demagogia, mas a maioria dessas pessoas não alinha ideologicamente com sua revolução socialista.

Reflexo internacional da vitória do "NÃO"
Para além disso, a derrota traz consigo um revés importante à marcha de esquerdização empreendida por líderes latino-americanos, mais ou menos próximos ao "chavismo", como Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador), Daniel Ortega (Nicarágua), além de tornar mais imperioso um afastamento da futura presidente argentina, Cristina Kirchner, do caudilho venezuelano.

A derrota trás, por fim, e de modo não menos importante um forte reflexo para a política brasileira. Sobretudo, depois que o Presidente Lula se engajou na defesa de Chávez e de sua "democracia" socialista. Defesa que deixava entrever, quase sem véus, as intenções do núcleo político do lulo-petismo de instaurar aqui um regime "chavista".

O debate pelo 3º mandato estava solto, como apontei aqui (leia os posts Vem aí o golpe do 3º mandato e O 3º mandato voltará!); a proposta da Constituinte exclusiva da reforma política, avançava; a inauguração da TV pública, sob o comando do petismo, denotava a ofensiva massiva da propaganda oficialista; os ataques do PT e de seus agregados às privatizações, faziam prever uma virada na política econômica.

A derrota do "companheiro" Chávez, que Lula sempre fez questão de apoiar nos momentos mais difíceis, e nas atitudes mais controversas (como, por exemplo, o fechamento da TV), foi uma inequívoca derrota para o lulo-petismo.

Que lições serão tiradas de tal derrota?

Curiosamente ela se deu no dia em que a Data Folha divulgou resultado de pesquisa nacional em que 65% dos brasileiros se mostraram contrários ao 3º mandato para o Presidente Lula.

O desconcerto da esquerda
O desconcerto nas hostes do lulo-petismo não é de difícil constatação. Lula reagiu da forma mais lacônica à derrota do "SIM". Restringiu-se a dizer que o resultado foi a expressão da maioria. Obviedade maior não poderia ter dito. É claro! O resultado seria sempre a expressão da maioria, a não ser que houvesse fraude.

Mas a declaração do presidente deixa claro o mal estar com a derrota de Chávez! Ela implica um forte incômodo para os projetos do lulo-petismo de perpetuar-se no poder. E de construir no Brasil uma democracia plebiscitária, que descarte as instituições da democracia representativa.

Entretanto, é preciso ficar atento. Porque o lulo-petismo, assim como o "chavismo" não são de desistir. O ditador venezuelano foi claro ao reconhecer a derrota: "Não conseguimos por agora!" Ou seja, voltarão a tentar. E os meios parecem justificar-se sempre em função dos fins.

O estranho elogio a Chávez
Para tentar aliviar um pouco o peso da derrota, e para atestarem suas convicções "democráticas", os lulo-petistas (e seus afins) descobriram agora um grande elogio a Chávez: ao reconhecer a derrota ele teria agido como um "democrata".

O elogio, que impressiona à primeira vista, é simplesmente ridículo. Afinal o que esperar de um Presidente que governa num Estado de Direito? O mínimo e o elementar de quem governa segundo as regras da democracia é reconhecer os resultados, sejam eles favoráveis ou adversos.

Por que tantos elogios a essa "grande" atitude de Chávez? Tais elogios, por si, já demostram o quanto o regime de Chávez é anti-democrático, uma vez que a atitude do caudilho venezuelano parece excepcional e não esperada...

Chávez sem meios de recusar o resultado
Mas há mais. Chávez não teria como recusar o resultado das urnas. Era grande expectativa internacional a respeito de tal referendo e o presidente venezuelano ficaria muito isolado politicamente se, contrariando o resultado das urnas, levasse adiante, pela força, sua revolução socialista. A aceitação foi mais uma imposição das circunstâncias do que um ato de "nobreza".

Ademais é preciso não esquecer que Chávez se encontrava muito debilitado internacionalmente desde que o Rei Juan Carlos de Espanha pronunciou a famosa frase "por qué no te callas?". A opinião pública mundial vibrou com a interpelação real ao ditador e demonstrou a falta de prestígio, a nível internacional, do tal "socialismo do século XXI" e de seu líder máximo.

Isso sem contar que os opositores a Chávez, dentro da Venezuela, sentiram alento psicológico em sua postura, ao perceberem a forte recusa internacional ao processo político conduzido por Chávez. A frase do Rei Juan Carlos os interpretou e os fortaleceu.

A vitória do "NÃO" no referendo acabou por transformar-se num sonoro "por qué no te callas?" do povo venezuelano a Chávez.

O referendo não legitima o regime chavista
Claro que boa parte da esquerda engajada com o "chavismo" (na Venezuela, no Brasil e em outros países) tenta aproveitar a atitude do presidente venezuelano, ao reconhecer sua derrota, como o atestado da plena vigência do regime democrático naquele país.

Ora, isso não é verdade. Continua a haver na Venezuela milícias populares armadas, os círculos bolivarianos, que ameaçam e perseguem opositores ao regime, além de assumirem funções do Estado. Os juízes continuam a ser alvo do arbítrio do atual regime. A liberdade de imprensa continua ameaçada. A propriedade privada é igualmente alvo das atitudes discricionárias de Chávez.

Não basta um "referendo" transcorrido com relativa normalidade e transparência (e só relativa!) para apagar os sinais inequívocos de autoritarismo socialista, presentes na vida pública venezuelana.

A abstenção não é "chavista"
Por fim, uma objeção. Não seria a abstenção em sua quase totalidade de simpatizantes de Chávez?

Na verdade, o presidente Venezuelano tentou justificar a derrota pela enorme abstenção. "A abstenção nos derrotou", afirmou ele. Ora esse é um subterfúgio sem base na realidade. Subterfúgio de que tenta lançar mão, aqui, o jornalismo engajado, que numa primeira hora anunciou a vitória de Chávez baseado na "boca de urna" oficialista.

Quem acompanhou de perto o processo político em torno da reforma constitucional na Venezuela sabe perfeitamente que a oposição, temendo, com fundamento, fraude eleitoral, de há muito convocava a uma abstenção em massa, para desqualificar o referendo. Tática, aliás, adotada em anteriores eleições.

Só nos últimos dias, alguns líderes oposicionistas, ou personalidades destacadas que votariam pelo "NÃO", passaram a fazer apelos ao voto. Esses apelos obtiveram um certo resultado, mas muitos daqueles que tinham decidido abster-se, por oposição à reforma socialista de Chávez, e como forma de não conceder legitimidade à consulta popular, não mudaram mais sua postura.

Assim, não é nenhum exercício de imaginação política, computar grande parte dessa abstenção a opositores a Chávez. O que em vez de aliviar a derrota, ainda acentua mais a vitória do "NÃO".

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8 comentários:

Anônimo disse...

Uma democracia não pode votar o fim da democracia em nome da democracia.

Anônimo disse...

O resultado das urnas foi inequivoco: VENCEU NA VENEZUELA O REI DOM JUAN CARLOS !

Anônimo disse...

Tomara que o Chávez tenha perdido o "rebolado" definitivamente. Ninguém em sã consciência pode conceber algo parecido ou similar à performance e falas do Simon Bolívar de circo.
Ah! Esqueci, somente o Lula, Celso Amorim, e a escumalhada tem argumentos rasos que não sustentam-se para defender o "simon do circo".

Marco disse...

Caro José,

O comentário de Lula - "vontade da maioria" - foi como dizer que o céu é azul.

Mas três fatos próximos são relevantes:
1. A pesquisa do DATAFOLHA, mostrando a rejeição terceiro mandato;
2. a derrota de Chávez ( não foi uma derrota apertada, considerando a alta abstenção que signficaria NÃO)
3. a possiblidade da nãoprorrogação da CPMF. (a gente sabe que o dinheiro seria, em grande parte, para sustentar o projeto de poder de Lula)

Um abraço.

Letícia Losekann Coelho disse...

É mais acho que esse não realmente não significa nada para Chávez! Esquerdopatas quando perdem fazem o que querem em pró da parcela da população que está ao seu lado!!
Tô indignada com a Não cassação do Renan!!
beijos meus

shirlei horta disse...

"Derrotado" é um termo muito forte para quem ainda tem 4 ou 5 anos de poder. É bom não baixar a guarda, nem lá, nem cá.

Marco disse...

Iso, José Carlos! Depois do longo "DILEMA", ele aceitou. Só faltou dizer:
- aceitei por que quis.
- Poderia não ter aceitado.
- Não queria ter aceitado.
- No fundo, não suporto ter que aceitá-lo.

Enfim, foi a contragosto. É assim que as derrotas se tornam mais amargas.

Anônimo disse...

Com a vitória do "não" à mudança constitucional que faria de Chávez um ditador pleno, nasce um fio de esperança na combalida Venezuela. Através de mecanismos democráticos que ainda sobreviveram, precisa-se fortalecer posições e ficar vigilante diante desse algoz travestido de "persona" histriônica.