terça-feira, 29 de junho de 2010

“Sou um soldado muçulmano”!

“Sou um soldado muçulmano”!



Foi há pouco tempo. Talvez até muitos já se tenham esquecido. Mas no dia 2 de maio passado, uma van Nissan Pathfinder começou a fumegar em pleno coração de Nova York. A polícia foi alertada por um vendedor ambulante e rapidamente evacuou a Times Square, esvaziando o centro de Manhattan (foto - reprodução).

Dentro do carro a brigada especial da polícia encontrou diversos materiais explosivos e desativou o artefato que fazia daquele veículo um carro-bomba. Michael Bloomberg, prefeito da cidade, afirmou que a polícia evitou uma tragédia.

Indiciado por terrorismo
As investigações logo identificaram o responsável, Faisal Shahzad, paquistanês de 30 anos, naturalizado americano há pouco mais de um ano. A polícia efetuou a prisão de Faisal, quando este embarcava num vôo para o Dubai, no Aeroporto Internacional John F. Kennedy.

Levado ante um Tribunal Federal, Shahzad se confessou culpado e foi indiciado por terrorismo e por estar "conspirando com o Taliban do Paquistão para causar morte e destruição na Times Square".

“É uma guerra”
O julgamento de Shazad teve início nestes dias, segundo noticia a imprensa. Ao contrário do que se podia esperar, Faisal Shahzad não tentou provar sua inocência, mas reafirmou com jactância sua culpabilidade pelo atentado frustrado.

Como o noticiário é revelador, convido-os a ler alguns trechos da reportagem publicada pela Folha de S. Paulo (22.jun.2010), intitulada Réu se diz culpado no caso Times Square, reportagem que comento em seguida:
  • Num tribunal federal em Manhattan, Shahzad disse à juíza Miriam Goldman Cedarbaum que gostaria de se declarar culpado "mais cem vezes". A sentença está marcada para 5 de outubro. (...)

    "É preciso entender de onde eu venho. Eu me considero um soldado muçulmano", disse ele, acusado de tentativa de usar armas de destruição em massa e de praticar terrorismo transnacional.

    Questionado se não se preocupa com o fato de que poderia ter matado crianças, ele respondeu que os EUA não se importam quando crianças morrem em países muçulmanos.

    "É uma guerra. Sou parte da resposta à aterrorização americana das nações muçulmanas e do povo muçulmano", declarou o acusado, no tribunal.

    "Em nome disso, estou me vingando do ataque. Os americanos só se importam com o seu povo, mas não com as pessoas que morrem no resto do mundo."

    Shahzad reafirmou ter recebido treinamento no Paquistão e atribuiu ao Taleban do país as lições para construir a bomba que pretendia detonar na Times Square, em 1º de maio.

    Ele disse ter escolhido uma noite quente de sábado porque haveria mais gente que pudesse machucar ou matar.
    E descreveu que o veículo usado no atentado, uma perua Nissan Pathfinder, tinha três bombas, e a intenção era que explodissem como uma bola de fogo. (...) "Esperei para ouvir um barulho, mas não ouvi. Então andei até a [estação] Grand Central e fui para casa." (...)

    Ainda de acordo com a CNN, Shahzad também considerava promover ataques no Rockefeller Center, no Grand Central Terminal e no World Financial Center, alguns dos principais pontos de Nova York.

    "Faisal Shahzad tramou e conduziu um ataque que poderia ter levado a sérias perdas de vida, e hoje o sistema de Justiça criminal americano assegurou que ele pagará o preço de suas ações", disse o secretário da Justiça dos EUA, Eric Holder.
Chamo a atenção para o fato de Faisal Shahzad se dizer um “soldado muçulmano” e protestar contra a intervenção em países muçulmanos. Ou seja, a perspectiva dele é primordialmente religiosa e não uma questão de disputa territorial entre países. Além disso, deixa claro que existe uma guerra levada a cabo pelos muçulmanos, uma guerra de caráter essencialmente religioso.

Ressalto ainda a inclemência de Shahzad, que buscou circunstâncias para que seu atentado ferisse ou matasse o maior número possível de civis.

Para muitos no Ocidente tais perspectivas são incômodas, já que abalam suas crenças pacifistas, como também suas convicções laicistas. Mas de que adianta se entricheirar nessas convicções se quem ataca o mundo ocidental o faz por meio da guerra e da guerra religiosa?

Resposta “à mão estendida”
O atentado abortado em Times Square, pela pronta e precisa intervenção da polícia, foi a segunda grande tentativa de um atentado islâmico em território norte-americano, durante a administração do Presidente Barack Obama.

É bom recordar que, em sua postura messiânica, o presidente Obama parecia trazer consigo a fórmula mágica que desmontaria todos os conflitos e congraçaria todos os adversários.

Ele insistiu em estender a mão aos inimigos dos Estados Unidos, e mais amplamente do Ocidente, tentando desarmá-los com sua compreensão e afirmando que seu país não estava engajado numa guerra contra o Islã; fez igualmente questão de abolir, em sua nova estratégia de segurança nacional, as referências à "guerra contra o terrorismo". Mas...

- a resposta à mão estendida foi o punho fechado, não só nas tentativas de ataque aos Estados Unidos, por meio de atentados, mas em muitos outros campos políticos e diplomáticos, bastando recordar as atitudes desafiantes da Coréia do Norte e do Irã;

- ao contrário das crenças de Obama, os promotores de certo terrorismo afirmam que, sim, há uma guerra, e levada a cabo por soldados muçulmanos; ou seja, não uma guerra de nações, mas uma guerra religiosa;

- ainda que o presidente norte-americano evite falar de guerra ao terror, a tática preferencial dessa guerra religiosa continua a ser o terrorismo.

Desprevenção e entreguismo
A postura do Presidente Obama é reveladora de uma mentalidade que desmobiliza e ilude. Sim, o mais perigoso de tal estado de alma é querer iludir-se quanto à realidade e acabar por ser vítima dela.

Diante de Hitler muitos europeus quiseram fazê-lo. Sua atitude, vergonhosa e fatal, ficou consagrada nas palavras de Churchill, o homem que incansavelmente alertava contra a mentalidade acomodatícia, o ambiente de desprevenção, a vaga de entreguismo: "Entre a desonra e a guerra, eles escolheram a desonra, e terão a guerra".

O que se seguiu faz hoje parte de uma das páginas mais negras da História contemporânea. Hitler esfacelou a Europa com sua máquina de guerra e de perseguição... favorecido pelos que lhe estendiam a mão e tentavam desarmá-lo com boa vontade.

Esperemos que o mesmo estado de espírito não conduza o mundo ocidental a desastres e tragédias semelhantes.

Não olhar de frente a realidade pode ser cômodo, pelo menos no primeiro instante. Mas costuma ser a véspera da catástrofe!

É bom ter presentes as palavras de Faisal Shahzad: Eu me considero um soldado muçulmano e isto é uma guerra.


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segunda-feira, 17 de maio de 2010

“Meu coração está com Dilma”

“Meu coração está com Dilma”

Já não causa estranheza a ninguém a desenvoltura com que o Presidente venezuelano, Hugo Chávez, se intromete na política interna de outros países latino-americanos.

O caso hondurenho
Honduras foi talvez dos casos mais paradigmáticos, com a tentativa protagonizada por Manuel Zelaya de alterar a Constituição do país e perpetuar-se no poder, com o apoio explícito do caudilho venezuelano.

Impedido pelos poderes hondurenhos de prosseguir seu golpe, Zelaya tentou convulsionar o país, articulando hordas de movimentos sociais, orientados de fora por Chávez, e se alojou na embaixada brasileira em Tegucigalpa, transformada em quartel-general de sua tentativa de insurreição, com o beneplácito solícito do governo Lula.

Os jornais noticiam agora que Hugo Chávez se encontrou novamente com Zelaya e que este último foi a Cuba. Que nova surpresa estarão preparando?

Argentina, Bolívia, Equador
Na Argentina a interferência do presidente venezuelano tem sido aberta e envolveu até financiamento, por meios escusos, da campanha eleitoral da atual presidente argentina, Cristina Kirchner.

A Bolívia a bem dizer tornou-se um protetorado de Hugo Chávez. Evo Morales, o presidente boliviano, desloca-se em aeronaves militares venezuelanas. Agentes da petrolífera venezuelana estiveram envolvidos no assalto às instalações da Petrobrás, que Lula definiu como um ato de soberania (!) da Bolívia. E Chávez ameaça até militarmente todo e qualquer um que, a seu ver, “desestabilize” o governo de Morales.

O Equador é outro país cujo presidente, Rafael Correa, segue a cartilha chavista e está sempre pronto a alinhar-se às aventuras e interesses do caudilho venezuelano.

Nicarágua, Peru, Paraguai
Poderia aqui falar da Nicarágua, onde Daniel Ortega tenta consumar um golpe constitucional e lança nas ruas suas turbas dos movimentos sociais (chavistas) para cercar e atacar o Congresso, onde a oposição lhe faz frente.

Poderia ainda mencionar o Peru, o Paraguai – países nos quais Chávez tentou interferir de algum modo no processo político – e a lista não estaria completa.

Na Colômbia a defesa das FARC
No momento, Hugo Chávez interfere de maneira totalmente desabrida no processo eleitoral colombiano, cujo primeiro turno da eleição presidencial ocorre no final deste mês.

Além de acusar de “mafioso” a Juan Manuel Santos, o candidato apoiado por Álvaro Uribe e ex-ministro da Defesa, Chávez lançou uma advertência aos colombianos de que a eleição de Santos manteria a turbulência na região e poderia levar a um conflito entre os dois países. Tudo para defender a sobrevivência das FARC, o grupo narco-terrorista que hoje tem no território venezuelano um verdadeiro santuário.

Onde está a “púdica” Unasul, criação da diplomacia lulo-petista, tão “ciosa” da soberania equatoriana “violada”, quando o exército colombiano, numa operação espetacular, eliminou um dos principais cabecilhas das FARC, Raul Reyes, que se resguardava atrás das linhas fronteiriças, para dali organizar ataques à Colômbia?

Onde está o Presidente Lula, um dos “homens mais influentes do mundo”, segundo a revista Time, para se insurgir contra esta ingerência descabida de Chávez em assuntos internos da Colômbia?

Ninguém ouviu nem ouvirá o Presidente Lula dizer nada.

Nem o Brasil escapa
Mais ainda, Lula permite que Chávez faça o mesmo no Brasil e aproveita a ocasião para elogiar o mandatário venezuelano, menosprezando sua entranhada relação com a ditadura castrista, seu apoio às FARC e a outros grupos terroristas, a perseguição que move a opositores e à imprensa não alinhada com sua ideologia.

Hugo Chávez esteve novamente no Brasil, há cerca de três semanas, e em entrevista declarou seu apoio à candidata de Lula e do PT: “Meu coração está com Dilma. Mando um beijo para você, Dilma”.

A leniência de Lula com a interferência de Chávez no processo eleitoral brasileiro, bem como os elogios feitos ao caudilho venezuelano, indicam insofismavelmente um caminho e uma meta.

Terceiro mandato chavista
Muitos afirmam com ênfase que Lula demonstrou magnanimidade de estadista ao renunciar ao terceiro mandato. É afirmação com a qual não concordo e que, a meu ver, não tem base nos fatos. O Presidente tentou por mais de uma vez, sobretudo através de aliados, lançar o balão do terceiro mandato, mas de todas as vezes esbarrou em uma vigorosa reação de setores da sociedade que o impediram de concretizar seu desígnio, tão ao gosto do chavismo imperante em outros países.

Na impossibilidade de um terceiro mandato, Lula aposta na candidata Dilma Rousseff, uma voluntariosa imposição sua ao PT. E a eventual vitória de Dilma funcionaria como um terceiro mandato oblíquo, cujos contornos chavistas se vão delineando. O PNDH3 é o roteiro. Por isso Hugo Chávez não hesita em dizer que seu coração está com Dilma.

Repito, a interferência do venezuelano no processo político brasileiro é uma afronta, mas também um sinal do tipo de esperança que Chávez e Lula depositam na possível vitória de Dilma Rousseff.

Chavismo cordial
Há dias, Arnaldo Jabor, em sua coluna semanal em O Globo (4.maio.2010) apontou esta meta. O título é significativo, o autor insuspeito: “O chavismo cordial”. São trechos deste artigo que hoje compartilho com os que acompanham o Radar da Mídia.
  • "Dilma Rousseff tem de ser ela mesma. Seu duro passado de militância política lhe deixou um viés de rancor e vingança, justificáveis. Ela tem todo o direito de ser uma típica "tarefeira" da VAR-Palmares, em via de realizar o sonho de sua juventude, se eleita. Ela tende para a estatização da economia, restos de sua formação leninista; ela tem o direito de ser irritadiça, pois o País é irritante mesmo. Seus olhos fuzilam certezas sobre como consertar a pátria amada. Ela pode achar que democracia é "papo para enrolar as massas", ela pode desconfiar dos capitalistas e empresários, ela pode viver gostosamente a volúpia do poder que conquistou, ela pode ignorar a queda do Muro de Berlim, o fim da guerra fria, ela pode amar o Lula, seu símbolo do operário mágico que encarnou na prática a vazia utopia do populismo "revolucionário". Ela pode tudo, mas tem de assumir sua personalidade.

    Meu Deus, como eu entendo a cabeça da Dilma, mesmo sem conhecê-la pessoalmente... Conheci muitas "Dilmas" na minha juventude, quando participei da fé revolucionária de nossa geração. Para as "Dilmas" e "Dirceus" do passado, a democracia é uma instituição "burguesa" (Lenin: "É verdade que a liberdade é preciosa; tão preciosa que precisa ser racionada cuidadosamente"). (...) Nós éramos os fiéis de uma "fé científica", uma espécie de religião da razão praxista, que salvaria o mundo pelo puro desejo político - éramos o "sal da terra", os "sujeitos da história". (...)

    Essa frente unida do autodeslumbramento de Lula com a massa sindicalista pelega quer transformá-la em uma "Dilma" que não existe. Uma nova pessoa, um clone dela mesma. Isto é muito louco. (...)

    A finalidade da faxina que marqueteiros e "pt-psicólogos" fazem na moça é esta: criar alguém que não existe e que nos engane, alguém que pareça o que não é. Afinal, que querem esconder? Querem uma reedição "Dilminha paz e amor"? (...) Dilma é uma loba em pele de cordeiro?

    Isso é grave. O PT não se envergonha de criar uma pessoa artificialmente fabricada em quem devemos votar? Será que seguem ainda a máxima de Lenin: "Uma mentira contada mil vezes vira uma verdade"?

    Querem que ela seja uma sorridente "democrata", uma porta colorida para a invasão da manada de bolchevistas que planejam mudar o País para trás, na contramão da tendência da economia global. Eu os conheço bem... A crescente complexidade da situação mundial na economia e na política os faz desejar um simplismo voluntarista que rima bem com o fundamentalismo islâmico ou com a boçalidade totalitária dos fascistas (...).

    Nesta eleição, não se trata apenas de substituir um nome por outro. Não. O grave é que tramam uma mudança radical na estrutura do governo, uma mutação dentro do Estado democrático. Vamos viver um pleito pretensamente "revolucionário", a tentativa de um Gramsci vulgar (filósofo que dizia que os comunistas devem se infiltrar na democracia para mudá-la). (...)

    Não esqueçamos que o PT combateu o Plano Real até no STF, como fez com a Lei de Responsabilidade Fiscal, assim como não assinou a Constituição de 88. Esse é o PT que quer ficar na era pós-Lula. (...)

    Depois desse "bonapartismo cordial" que o Lula representou até com galhardia, se apropriando da "herança bendita" de FHC, pode haver o início de uma nova fase: o "chavismo cordial". "
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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Farsa moral do politicamente correto

Farsa moral do politicamente correto

A maior parte das sociedades modernas cultua como valor básico a liberdade de expressão, pela qual todo e qualquer indivíduo pode manifestar publicamente e sem censuras suas opiniões, desde que estas não incitem ao crime.

Mas, curiosamente, a chamada liberdade de expressão vai sendo corroída não tanto por dispositivos legais mas por uma mentalidade, uma ideologia que se vai disseminando a pouco e pouco. Eu a qualificaria como a ideologia do “anti-preconceito” e da “não-discriminação”.

O leitor já notou que, cada vez mais, diversas opiniões ou atitudes a respeito dos mais variados assuntos (culturais, científicos, políticos, sociológicos, até esportivos) são facilmente qualificadas de preconceituosas ou discriminatórias? E em nome da ideologia do “anti-preconceito” e da “não-discriminação” nosso modo de pensar e de agir é cada vez mais policiado? Policiado socialmente, policiado midiaticamente (se me permitem o termo).

Pode parecer contraditório, mas essa ideologia – e a mentalidade que ela gera – é ela, sim, profundamente discriminatória e cerceadora do direito de expressar idéias, em relação a todos os que não professam seus valores, ou melhor seus contra-valores.

Furor “não discriminatório”
Faça um teste! Dê, por exemplo, uma opinião contrária ao “casamento” homossexual, à adoção de crianças por “casais” homossexuais, ou formule um julgamento moral a respeito da homossexualidade e logo verá as patrulhas do pensamento “não discriminatório” se levantarem com furor, brandindo a acusação de homofobia, um epíteto de contornos mal definidos com o qual se pretende voltar a hostilidade pública contra alguém.

Se essa opinião for dada publicamente, com repercussão mediática, o furor “não discriminatório” subirá vários decibéis e contará com a preciosa colaboração de uma parte considerável do jornalismo engajado, que ampliará esse histerismo ideológico.

Estamos em presença do pensamento “politicamente correto”, que se tornou verdadeiramente policialesco em relação ao pensamento e à linguagem.

Alvos selecionados
Mas vejam bem, toda esta máquina de indignação tem seus métodos e metas, tem seus inimigos e cúmplices e escolhe os momentos e os personagens alvos de sua inconformidade.

Há poucos dias Evo Morales, o presidente da Bolívia, em uma de suas investidas anticapitalistas, defendia o “socialismo comunitário em harmonia com a terra”. Em determinado momento, afirmou que o consumo de transgênicos e de frangos alimentados com hormônios femininos causam a calvície, a homossexualidade e a impotência sexual (cfr. Valor e O Estado de S. Paulo 22.abr.2010).

Era de se esperar que o furor anti-homofóbico explodisse internacionalmente. Imagine-se que as afirmações tivessem sido proferidas pelo ex-presidente norte-americano George W. Bush, um alvo preferencial da mídia “politicamente correta”. A gritaria anti-homofóbica teria preenchido os espaços mediáticos, e os leões do pensamento “não discriminatório” teriam rasgado suas vestes em público.

Mas como a afirmação foi feita por Evo Morales, um membro da grei ideológica onde prolifera a ideologia do politicamente correto e onde o ativismo pró-homossexual tem sua guarida, os protestos foram bem minguados e tiveram um eco diminuto na mídia.

Silencioso marxismo cultural
Ao comentar este e outros episódios, o jovem e brilhante jornalista Henrique Raposo, no semanário Expresso de Lisboa (23.abr.2010) respondeu à pergunta: O que é o politicamente correto?

São trechos desse artigo que hoje quero compartilhar com os que acompanham o Radar da Mídia:

  • I. O "Politicamente correto" é, se quiserem, um silencioso marxismo cultural. Se o velho marxismo era uma coisa de massas, este novo marxismo é uma coisa silenciosa. O politicamente correto não é uma ideologia coletiva. É, isso sim, uma crença privada. Mas, atenção, é uma crença privada partilhada, em silêncio, por milhões. É um manual de comportamento e de policiamento do pensamento e do vocabulário.

    II. O velho marxismo assentava numa simples dicotomia moralista: havia os "bons", os operários, e os "maus", os burgueses. O novo marxismo cultural readaptou essa lógica para a esfera cultural, religiosa e étnica: há o "mau", o Ocidente branco, e há o "bom", o resto do mundo não-ocidental. Isto, como é óbvio, gera a farsa moral do politicamente correto. Uma farsa que mina o debate das nossas sociedades.

    III. Um exemplo desta farsa: há dias, Evo Morales disse uma barbaridade: os transgénicos, segundo o Presidente da Bolívia, causam a terrível doença da homossexualidade. Esta declaração, que é um absurdo, não causou polêmica. Os "tolerantes" do costume não reagiram. Se tivesse sido um líder ocidental a dizer semelhante disparate, oh meu Deus, tinha caído o Carmo e a Trindade. Mas como foi um "indígena" da Bolívia, as boas consciências calaram-se. Tal como se calaram perante o racismo de Lula da Silva ("esta crise é da responsabilidade de louros de olhos azuis") ou perante a ignorância criminosa de líderes africanos ("a AIDS é uma invenção ocidental"). Pior: os "tolerantes" são incapazes de criticar a homofobia de Morales, mas já são capazes de me apelidar de "racista" só pelo fato de eu criticar Morales. É esta a hipocrisia vital do chamado "politicamente correto".
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quarta-feira, 28 de abril de 2010

Diálogo e punho de aço

Diálogo e punho de aço



Após uma longa ausência, tenho a alegria de retomar o Radar da Mídia e assim restabelecer este agradável convívio com todos aqueles que acompanham o blog.

Voltar ao Brasil é ocasião para se defrontar com as bizarrices da política externa do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os agentes desta nova diplomacia ou os engajados com o estilo lulo-petista de governar não cessam de exaltar a “projeção internacional” alcançada pelo Brasil e o próprio presidente Lula, em suas desmedidas palavras, afirma que o País deixou de lado a síndrome de “vira-latas”. Toda essa auto-exaltação é compreensível, pois afinal a propaganda de contornos goebbelianos tornou-se outra grande especialidade deste governo.

Como sempre, os espíritos “equilibrados”, avessos aos embates, em sua ânsia de se acomodar, buscam explicações para as atitudes inexplicáveis do presidente e de sua diplomacia. Para alguns serão meras gafes; para outros, simples inexperiência; para outros ainda, apenas o desejo de contentar alguns radicais do PT. Como se fosse natural jogar com o destino internacional do Brasil, apenas para fazer agradinhos a descontentes, nas filas partidárias.

Estou convicto – e não estou só nesta postura – de que as mais profundas razões que inspiram esta estapafúrdia política externa são ideológicas. E estou convicto disso, entre outros motivos, porque são os próprios mentores dessa política externa que o afirmam.

Lulinha “paz e amor”
Desde que tomou posse em 2002, Lula (bem como seus assessores) avisou que o verdadeiro sentido ideológico do governo petista seria encontrado na política externa. A afirmação é compreensível.

O radicalismo ideológico de Lula sempre assustou a massa da população brasileira. Por isso se tornou necessária internamente uma metamorfose no discurso, no modo de se apresentar e nas metas políticas.

A famosa “carta aos brasileiros” era o passaporte da moderação e numa penada tudo parecia jogado no passado. Dali para a frente só haveria o “lulinha paz e amor”.

A renúncia às metas radicais das propostas econômicas socialistas que tinham feito a marca do PT “atestavam”, também a nível internacional, a moderação de Lula da Silva.

Mas subjacente a esse “lulinha paz e amor” continuou a existir o Lula adepto do socialismo cubano, o Lula cúmplice do chavismo, o Lula simpatizante dos movimentos guerrilheiros, o Lula de um antiamericanismo esquerdista quase doentio, o Lula que tentava projetar as teorias da luta de classes para as relações internacionais, num enfrentamento entre nações ricas e pobres.

E ao longo de quase oito anos o descompasso da política interna e da política externa foi evidente. Moderação aqui, radicalização progressiva lá fora.

Mas é bom não esquecer. Inúmeras vezes, Lula tentou trilhar na política interna a via do radicalismo ideológico, mas invariavelmente a reação de setores dinâmicos da opinião pública o fizeram recuar. A mais recente tentativa é o Plano Nacional dos Direitos Humanos, PNDH 3.

Ao se aproximar o término do mandato de Lula, a diplomacia lulo-petista decidiu extremar ainda mais suas posições. E estamos nisso.

Hipocrisia ideológica
É um desses atos da hipocrisia ideológica da diplomacia lulo-petista que pretendo aqui comentar.

O economista Paulo Nogueira Batista Júnior, alinhado às alas mais radicais do PT, foi nomeado pelo Ministro Mantega como representante brasileiro no Fundo Monetário Internacional (FMI). Nogueira Batista , crítico acérrimo da política econômica do governo Lula, gerou um incidente diplomático com a Colômbia ao demitir a representante do país no órgão. A demissão foi arbitrária e rompeu um acordo diplomático tácito.

Uma primeira contradição chama a atenção. O governo Lula nomeia para um cargo dessa importância um crítico de sua política econômica, o que de si é revelador! A política econômica dita ortodoxa afinal é mantida não por convicção, mas por necessidade e oportunismo político. O coração ideológico do lulo-petismo está nos antípodas dessa mesma política econômica.

A outra contradição diz respeito ao espírito “dialogante” da diplomacia nacional. Nas relações com o Irã dos ayatollahs, Lula diz estar disposto a estender a mão até ao último momento a um regime ditatorial e persecutório, financiador e promotor do terrorismo islâmico e cujas omissões e fraudes no programa nuclear “pacífico” se evidenciam a cada dia.

Também em relação à cruel e já longa ditadura comunista da Coréia do Norte, que mantém todo um país na miséria e utiliza campos de concentração para confinar seus opositores, o presidente afirma que é necessário compreensão e jamais a advertência, a censura ou a condenação. Isto para dar apenas dois exemplos.

Entretanto, em relação à Colômbia, nação irmã, onde vigora o Estado de Direito, onde um governo legítimo exerce suas funções, o tratamento diplomático lulo-petista é bem diverso: o punho de aço.

Diálogo... só às vezes
Entenderam bem a posição “dialogante” da diplomacia de Lula? Só tem uma mão, em relação a regimes de esquerda ou ditatoriais, ou ainda fomentadores do islamo-fascismo.

Ao mesmo tempo que fala em dialogar até ao último minuto com o Irã dos ayatollahs, a diplomacia lulista usa punho de aço contra a nossa vizinha e irmã Colômbia? E por quê?

Por uma razão pura e simples: porque o Presidente Álvaro Uribe, contrariando a tendência suicida de seus predecessores de “dialogarem” com os terroristas das FARC, (fazendo na prática todas as concessões que permitiam ao grupo terrorista ditar suas leis revolucionárias no País), decidiu com grande êxito e com apoio maciço da população usar a política de “tolerância zero” em relação ao terrorismo. Ora, a agonia das FARC desagrada ao lulo-petismo, por suas simpatias ideológicas mais ou menos explícitas com o grupo terrorista.

Viés chavista da política externa
Extraio da revista Veja (21.abr.2010) alguns trechos das declarações de Rodrigo Botero, ex-ministro da Fazenda e grande conhecedor da política latino-americana, a respeito da “grosseria” diplomática que levou ao afastamento da representante colombiana no FMI:
  • "A destituição de María Inés Agudelo por Nogueira Batista viola o acordo de cavalheiros que existe há pelo menos quatro décadas entre o Brasil e a Colômbia. Nunca houve antes um incidente como esse. (...) Foi o rompimento com uma prática saudável de convivência em que se cultiva a tolerância (...). Esse incidente afeta diretamente as relações bilaterais entre os países. Não estamos diante de uma questão meramente burocrática. O Planalto e o Itamaraty devem compreender que a grosseria de Nogueira Batista não colabora em nada para a boa vontade de outros países em relação à política internacional brasileira.

    Nogueira Batista não pode invocar o argumento de incompetência para destituir a colombiana. Agudelo possui mais credenciais acadêmicas que Nogueira Batista. As diferenças de Batista com Agudelo se devem a concepções incompatíveis sobre política econômica. (...) Agora, se bem entendo, as políticas mencionadas são as mesmas que vêm sendo aplicadas com sucesso no Brasil desde os anos 90. Mandar a Washington um representante que execra a política econômica de seu próprio país é uma manifestação clara do realismo mágico latino-americano por parte do governo brasileiro. (...)

    As relações entre Colômbia e Brasil, no FMI, foram tradicionalmente cordiais, baseadas no respeito mútuo. A afronta de Nogueira Batista constitui um desrespeito, um insulto. O governo colombiano notificou o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, de que Nogueira Batista não está autorizado a interferir em assuntos relacionados à Colômbia. (...)

    Existem aspectos desconcertantes na diplomacia brasileira na América Latina. Dou três exemplos recentes. Primeiro, ter declarado que Hugo Chávez é o melhor presidente que a Venezuela teve em 100 anos. Segundo, ter equiparado o preso político e mártir da ditadura cubana Orlando Zapata, falecido na prisão depois de uma greve de fome, a um delinquente comum. Isso é uma indecência, uma obscenidade. O terceiro foi permitir que a Embaixada do Brasil em Honduras servisse de palco para a ópera-bufa encenada por Manuel Zelaya. Além de revelarem falta de profissionalismo diplomático, esses episódios contribuem para a percepção de que a política regional tem um viés a favor do chavismo.

    Minha impressão é que essa aparente esquizofrenia tem uma explicação em função das tensões no interior do PT. Lula teve de repudiar a plataforma de seu partido e adotar uma política econômica ortodoxa. Esse alinhamento exigiu que Lula apaziguasse o descontentamento da extrema esquerda do PT. Como prêmio de consolação, delegou a gestão das relações latino-americanas a personagens como Marco Aurélio Garcia e seus seguidores.

    O Brasil atua como uma potência. De fato, como uma superpotência. No entanto, mesmo as superpotências devem saber lidar com as nações vizinhas. A Colômbia não tem pretensão de ser uma grande potência, mas não é um país insignificante, o qual se possa atropelar. Somos a quarta maior economia da América Latina.

    A Colômbia ocupa um lugar particular na América Latina. Não faz parte do Mercosul e também não pretende participar de projetos como a Telesur e o Banco del Sur. A Colômbia é contra a proposta de substituir a OEA (Organização dos Estados Americanos) por uma organização que exclua o Canadá e os Estados Unidos. Ao contrário de outros países da região, mantivemos o sistema democrático durante as décadas de 70 e 80, quando prevaleciam as ditaduras militares no Cone Sul. O país também não apoiou a invasão argentina às Malvinas, em 1982. A Colômbia atribui importância primordial às relações com Canadá, Estados Unidos e União Europeia, tendo negociado acordos de livre-comércio com esses países. Aos nossos vizinhos que aspiram a encontrar uma fonte de dinamismo comercial e progresso tecnológico no Rio da Prata, desejamos sorte. Mas o interesse colombiano não recomenda seguir seu exemplo. A vontade de discordar da opinião majoritária dos sul-americanos em determinados temas não trará aplausos ao estado colombiano no Foro de São Paulo ou no Movimiento Continental Bolivariano (ambos eventos de esquerda). O custo dessa impopularidade é tolerável." (O realismo mágico do PT no FMI).
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sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

No crepúsculo do Sol de Justiça

No crepúsculo do Sol de Justiça




É Natal! Data de júbilo pelo nascimento do Messias, o esperado das Nações. Na humilde gruta de Belém, na companhia protetora de Maria e de José, recebe Ele as primeiras homenagens dos pastores, prenúncio de todas aquelas que se multiplicariam por mais de dois mil anos, em todos os quadrantes da Terra.

A data tão sagrada na Cristandade é, entretanto, cada vez menos entendida na sua essência espiritual.

Há presentes, há festas, há comemorações, mas a figura central do Natal é cada vez mais apagada e difusa: Jesus Cristo Menino, nascido da Virgem Maria!

O esmaecer-se da essência sagrada e religiosa do Natal vai dando espaço a um ambiente laicizado e de indiferentismo, em meio ao qual se dão, com uma freqüência crescente, os ataques frontais à Igreja e à religião.

Os indivíduos, as famílias e as sociedades vão abandonando os ensinamentos de Jesus Cristo, e consagrando costumes e leis contrárias a Seus preceitos.

Foram, aliás, esses fatores que acabaram por suscitar na Espanha um movimento de reação - que se estendeu também a Portugal - de católicos que desejavam reafirmar publicamente sua Fé e para tal decidiram pendurar nas janelas ou sacadas de suas casas um estandarte com o Menino Jesus, para marcar o carácter fundamentalmente religioso do Natal.

Como forma de estender meus votos de Santo Natal a todos, compartilho com os leitores do Radar da Mídia um artigo de Plinio Corrêa de Oliveira, publicado na Folha de S. Paulo (1.jan.1979), mas de extrema atualidade: No crepúsculo do Sol de Justiça.

  • " Este Natal marca, em relação aos anteriores, o agravamento de um fenômeno que de si não deveria existir. Mas que, a existir... deveria poupar pelo menos a festa do Nascimento do Salvador.

    Refiro-me à laicização generalizada das mentalidades, da cultura, da arte, das relações, em uma palavra, da vida. Nesta matéria, laicização significa propriamente paganização. Pois, à medida que se vai empurrando para a penumbra o Homem-Deus, o lugar deixado vazio por Ele vai sendo preenchido por "valores" muito concretos e palpáveis, mas que, por vezes, são glorificados como se fossem faustosas abstrações: a Economia, a Saúde, o Sexo, a Máquina, e tantos outros (as maiúsculas anacrônicas servem para que melhor se sinta o que afirmo). "Valores" materiais, é óbvio. E enfatizados por uma orquestração propagandística saturada de marxismo, de freudismo, etc.

    Ao contrário do que acontecia no mundo clássico, esses "valores" não são personificados – bem entendido – em deuses, e nem concretizados em estátuas. O que não impede que sejam eles os verdadeiros ídolos pagãos de nosso infeliz mundo laicizado.

    A influência do neopaganismo laical vem infiltrando cada vez mais o Natal moderno. Infiltração gradual, mas perfeitamente óbvia. De que maneira? Não de uma só maneira, mas simultaneamente de todas as maneiras concebíveis.

    A começar no Advento. Esse período, que no ano litúrgico compreende as quatro semanas antecedentes ao Natal, constituía para a Cristandade uma parte do ano especialmente voltada para o recolhimento, para uma discreta compunção e para a esperança palpitante do grande júbilo que o nascimento do Messias trará. Todos se preparavam assim para acolher o Menino-Deus que, no virginal sacrário materno, se acercava, dia a dia mais, do momento bendito em que iniciaria sua convivência salvífica com os homens.

    Nessa atmosfera densa e vividamente religiosa, a tônica se ia gradualmente deslocando. À medida que se aproximava a noite entre todas sagrada, a compunção ia cedendo lugar à alegria. Até o momento em que, nas pompas festivas da Missa do Galo, as famílias, os povos, as nações se sentiam ungidos pelo júbilo sacral descido do mais alto dos céus; e em cada cidade, em cada lar, no interior de cada alma se difundia, como um bálsamo de celeste odor, a impressão de que o Príncipe da Paz, o Deus Forte, o Leão de Judá, o Emanuel, mais uma vez acabava de nascer. "Stille Nacht, heilige Nacht"... a canção célebre que se transpôs para nosso vernáculo de modo menos expressivo, como "Noite feliz"...

    De toda essa preparação, o que restou? Do Advento, quem cogita, senão uma minoria ínfima? E dentro dessa minoria ínfima, quantos o fazem sob a influência da verdadeira teologia católica e tradicional, e não das teologias ambíguas e desvairadas que sacodem hoje em dia, como se fossem convulsões de febre, o mundo cristão?

    Mas deixemos de lado essa minoria, e pensemos nas multidões que se agitam nas grandes cidades. Por elas, o Advento pura e simplesmente não é lembrado. A correria de todos os dias continua, agravada pela perspectiva das despesas a enfrentar, dos presentes a enviar, das visitas a fazer e das festas ou festinhas a organizar. Em suma, todo o mundo se vai aproximando do Natal, não como de uma data para a qual se caminha com esperança, mas como de um dia afanoso, dispendioso e, sob alguns aspectos, até complicado, que se terá alegria em "deixar para trás".

    É bem verdade que nas cidades, e talvez mais especialmente nas grandes, a aproximação do Natal é salientada pela multiplicação das lâmpadas coloridas na vegetação dos jardins dos bairros residenciais, pelos longos fios de luzes nas avenidas de maior trânsito, e na ornamentação carregada de vitrinas comerciais. Contudo, não é difícil sentir que a alegria peculiar que isso tudo tende a "aquecer"- alegria toda induzida, note-se - provém do desejo de comprar, de gozar, de festejar. Dessas luminárias elétricas, nada ou quase nada lembra o Messias que está para chegar. E tudo lembra, isto sim, a economia ansiosa de ser superativada: o comércio que palpita por ampliar a saída de seus estoques, e a indústria que multiplica seus produtos (e seus lucros) para preencher os vazios abertos nas prateleiras das lojas em virtude do aumento do consumo. Em suma, é o Ídolo-Economia que se vai tornando o grande centro das expectativas, dos anelos e dos festejos natalinos deste fim de século. Mamon. O Estômago. A Matéria. – Jesus, não!...

    Chega por fim o Natal. Reúne ele ainda os lares em torno de um presepe? Por vezes, sim. Porém, em numerosos casos, os reúne não em torno da manjedoura onde o Menino-Deus abre os braços para Maria Santíssima profundamente enternecida, sob as vistas meditativas e recolhidamente jubilosas de São José. Mas em torno de uma mesa em que as guloseimas, o champanha dos que podem, e as modestas bebidas dos que não podem, ocupam as atenções outrora voltadas fundamentalmente para o Nascimento do Redentor. Em quantos lares, a redução e a transparência cada vez mais acentuada dos trajes espalham uma atmosfera de sensualidade, desvirtuando profundamente o significado dessa noite de inexcedível pureza.

    Há os festejos sob cuja influência a caridade se encolhe e se estende sempre menos até os lares dos que nada têm. Nestes, as larguezas difundidas outrora pela justiça e pela caridade cristãs são substituídas pelo silvo da subversão "católica" que, sob pretexto do Natal, se faz ouvir pela voz do (ou da) agente de uma comunidade de base qualquer. Ou de coisa quejanda.

    Na realidade, porém, o neo-Natal laico tem ainda outro aspecto. O tufão do turismo arranca incontáveis famílias do lar, o qual deve ser, com a Matriz, o quadro específico da noite de Natal. E as dispersa através dos hotéis, da praia ou do campo, em meio a um bulício mundano no qual não conseguem penetrar as vozes angélicas que cantam o "Glória in excelsis Deo".

    Mas a laicização não pára aí. Ela persegue o Natal até nos ecos augustos com que ele se prolonga nas festas que o seguem. Ano Bom, Reis...

    A festa de Ano Bom é, em termos religiosos, a festa da Circuncisão, que lembra Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual, movido pelo amor ao gênero humano, derrama já em sua primeira infância gotas de seu sangue infinitamente precioso, em favor dos homens. E assim faz já pensar no sacrifício augusto que os redimirá do pecado, os arrancará da morte eterna, e lhes abrirá o caminho do Céu.

    Pois a esta festa religiosa do Deus-Menino se sobrepõe a comemoração salobra de uma laicíssima confraternização universal dos povos. Confraternização irremediavelmente vazia, como tudo quanto é laico, e da qual parecem gargalhar cinicamente as muralhas de aço e de bambu que retalham os povos, o terrorismo que as apavora, o risco da destruição atômica que pesa sobre eles como uma nuvem plúmbea, e a sarabanda cada vez mais carregada de antagonismos e ódios, das idéias e dos interesses incompatíveis e inconciliáveis.

    Em uma palavra, quando o sol se põe, os animais malfazejos saem de suas tocas e passeiam pela selva. O laicismo apresenta Jesus Cristo aos olhos do mundo como um sol de fim de ocaso. Que espanto há em que se multiplique e se difunda tudo quanto é daninho nos antros dos corações descristianizados, das cidades enlouquecidas e das solidões em que o vício e o crime se escondem, para, à vontade, multiplicarem o requinte pelo requinte?

    Mas – dirá alguém – por que lembrar tudo isso nesta quadra de alegria? Por que esse choramingo, no momento em que os homens estão ávidos de rir e de festejar?

    Para protestar. E se esse protesto soa como choramingo a algum ouvido amortecido pela cacofonia moderna, o defeito não é do protesto. O defeito é de quem não sabe sentir nele senão o que ele não é: um choramingo.

    Pois o choramingo é pusilânime, soa à derrota e à capitulação. Enquanto o protesto que, inspirado pelo amor a Cristo, Rei vencedor, e a Maria, "ut castrorum acies ordinata", se ergue com desassombro em meio à incompreensão, esse protesto é um brado de reparação, uma proclamação de inconformidade, e mais do que isso, um prenúncio de vitória. "
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domingo, 29 de novembro de 2009

Derrota e lição em Honduras

Derrota e lição em Honduras


Após cinco meses de turbulência política, Honduras realiza hoje suas eleições, passo que o governo Lula, em sua submissão ativa aos desígnios chavistas, tentou de todos os modos impedir.

Obama censura Lula
A mais recente manobra foi desvirtuar o acordo firmado, sob os auspícios do diplomata norte-americano Thomas Shannon, entre o presidente interino Roberto Micheletti e o presidente deposto Manuel Zelaya.

O acordo previa, entre outras coisas, a realização e o reconhecimento das eleições; estipulava ainda um governo de unidade nacional e determinava que um eventual retorno de Zelaya ao poder seria decidido pelo Congresso, após ouvida a opinião da Suprema Corte.

Zelaya, com o apoio da diplomacia brasileira, passou a dizer que o seu retorno à presidência era uma imposição do acordo e uma questão “inegociável” e acabou rompendo o mesmo, não mais aceitando seus termos.

A atitude nada construtiva, para dizer pouco, da diplomacia brasileira valeu uma carta de censura do Presidente Obama dirigida a Lula, a qual foi respondida com ataques pessoais por Marco Aurélio Garcia, que mencionou a “frustração” em relação à postura dos Estados Unidos.

Processo eleitoral pacífico
Os próceres da diplomacia lulista apostavam uma vez mais na instabilidade política e anunciavam a impossibilidade da realização do pleito em condições normais, arriscando até a previsão de turbulências e tumultos.

Felizmente os Hondurenhos souberam, também desta vez, barrar as tentativas que nesse sentido fizeram os seguidores do ex-presidente Manuel Zelaya que não se cansou de conclamar ao boicote das eleições, sempre a partir da embaixada brasileira posta a seu inteiro dispor.

O povo hondurenho deu novamente uma lição ao “lulo-chavismo” e impôs-lhe uma grande derrota. Todas as notícias indicam que o processo eleitoral decorre em paz. Dona Melitina Castellanos Suazo de 93 años de idade foi a primeira a votar no país e deu um grande exemplo de firmeza ao conclamar: "Acorram às urnas, não tenham medo, por que temos que votar por Honduras".

Cerco a Honduras, cumplicidade com o Irã
Zelaya é agora um cadáver político “hospedado” na embaixada do Brasil. Chávez qualifica as eleições uma farsa e o Brasil continua a não querer reconhecer o resultado das mesmas, quando muitos países do mundo, a começar pelos Estados Unidos, o vão fazer.

O governo Lula parece apostar no recrudescimento da crise interna e talvez se apreste a trabalhar por isso. Para a cúpula fanática que tomou conta da diplomacia brasileira só existe uma solução: a rendição incondicional de Honduras ao socialismo do século XXI (leia aqui uma análise reveladora).

A ferocidade com que o “lulo-chavismo” ataca as legítimas instituições hondurenhas e afronta o Estado de Direito no país centro-americano, contrastam de modo gritante com os sorrisos cúmplices e os abraços fraternos de Lula ao ditador islamo-fascista do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Fato que o editorial do jornal La Prensa de Honduras não deixou de assinalar ao comentar a dupla moral (ou a imoralidade) diplomática de Lula.

Frustração e derrota ideológica
Convido-os a ler trechos da análise que a revista Veja (02.dez.2009) publicou e que bem revelam como o governo do Presidente Lula se torna adversário de qualquer saída democrática para a crise em Honduras. O título é sugestivo: “Derrota da Diplomacia petista”.


  • Alguma coisa certa Barack Obama fez. (...) A prova do acerto está nos ataques virulentos que recebeu de Marco Aurélio Garcia, o assessor do presidente Lula para assuntos internacionais. Tudo o que Garcia fala é errado, na forma e no conteúdo, além de prejudicial aos interesses nacionais. O presidente dos Estados Unidos foi alvo do novo surto de megalonanismo por defender o reconhecimento das eleições em Honduras, neste domingo. Desde que Manuel Zelaya tentou emplacar a própria reeleição e foi punido pela Suprema Corte com a perda do cargo, além de expulso manu militari do país, ao qual retornou com a patola chavista, instalando-se de bigode e chapelão na embaixada brasileira, a diplomacia petista trabalha com o objetivo de restaurá-lo no poder a qualquer preço. A saída pela via eleitoral, com a escolha de um novo presidente, virou um anátema para Garcia e sua turma. A proposta de solução apoiada por Obama parecia razoável: levar observadores internacionais para Honduras e, verificada a lisura da votação, chancelar o resultado, abrindo uma saída pacífica para o impasse. "Isso é muito ruim para os Estados Unidos e sua relação com a América Latina", rugiu Garcia. "Todo aquele clima favorável que se criou com a eleição do presidente Obama começa a se desfazer um pouco."

    Em diplomacia, as palavras devem ser escolhidas com cuidado, não por cortesia banal, mas para evitar o agravamento de atritos. Quando um país considera necessário censurar outro, a praxe é plantar declarações indiretas, chamar os representantes diplomáticos do oponente para uma conversa ou fazer comunicações por escrito. A ideia de personalizar as críticas, nomeando um chefe de governo diretamente, só em casos muito graves. Garcia rompeu todas essas regras e, num lapso ofensivo, somou a ofensa à injúria ao dizer que reconhecer a eleição em Honduras seria "legitimar o branqueamento de um golpe" - ah, as peças que o inconsciente prega. A violência de suas declarações tem uma explicação simples: frustração. A diplomacia petista contava com uma vitória política e ideológica com a restituição de Zelaya, que representaria uma prova de força e de prestígio internacional do governo Lula.

    Na prática, deu tudo errado. A alegria dos megalonanicos quando Zelaya retornou murchou rapidamente. O sujeito se mostrou disposto a lutar até a última vida dos outros, usou a embaixada brasileira como palanque e decepcionou mesmo quem condenava a forma como foi defenestrado. O governo interino de Roberto Micheletti, que tinha por trás o comando das Forças Armadas, a maioria do establishment político, a Corte Suprema e uma parte possivelmente majoritária da opinião pública, revelou uma capacidade de resistência insuspeita num país pobre, pequeno e suscetível a pressões. "Aqui não temos medo dos Estados Unidos, nem do Brasil, nem do México. Temos medo de Manuel Zelaya", resumiu Micheletti.

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terça-feira, 22 de setembro de 2009

Direto de 1560...

Direto de 1560...


Quem acompanha com assiduidade a imprensa nota que, nos últimos tempos, tem-se multiplicado o noticiário de cunho ambientalista. Os pretextos são diversos para martelar uma série de chavões que, à força de serem repetidos, vão ganhando foro de evidência.

Chavões que não passam muitas vezes de verdades incompletas, de interpretações distorcidas, não raras vezes de afirmações científicas não comprovadas... ou até mesmo de fraudes!

8 Leia Ambientalismo: arrombando consciências

Aliás, tive oportunidade de analisar uma dessas fraudes no post anterior, a propósito da campanha publicitária elaborada pela DDB Brasil para a conhecida ONG ambientalista WWF Brasil.

Chuvas e enchentes em S. Paulo

Há dias a cidade de S. Paulo foi acometida por fortes chuvas, ventos e trovoadas, que causaram grandes enchentes e estragos, além de dolorosas perdas de vidas.

Imediatamente o noticiário trouxe à baila as chamadas “mudanças climáticas”, o “aquecimento global” e a ocorrência de fenômenos climáticos extremos, fruto da atividade humana. O ocorrido na capital paulista seria comprovadamente um desses fenômenos!

Dando mais um passo nessa “lógica” peculiar, o noticiário insistia na necessidade de mudanças drásticas nas atividades das sociedades modernas, com o fito de se resguardarem e conter os mencionados fenômenos climáticos extremos, acenando, por fim, para a importância do encontro das Nações Unidas sobre o clima, a realizar-se, em dezembro, em Copenhague.

Transformação de fatos em “provas”

As chuvas e enchentes foram transformadas, de modo subtil, em “prova” incontestável das teses ambientalistas e da necessidade de aceitar a agenda desses grupos. Tudo com uma pátina “científica”.

Diante do impacto das imagens e do noticiário, dos transtornos e prejuízos causados e da comoção suscitada por mortes trágicas, como se deu em S. Paulo, é compreensível que os espíritos fiquem mais predispostos a aceitar como evidentes, sem o devido espírito crítico, as correlações e explicações ambientalistas, entretanto em nada comprovadas.

Antes de tudo porque a própria tese científica do “aquecimento global” é seriamente contestada no meio científico. Para muitos cientistas o planeta não esquentou desde 1995 e há alguns que até defendem estar ocorrendo um esfriamento global. Segundo dados científicos, a década de 30 foi a mais quente do século XX (leia mais aqui) e segundo dados oficiais de três importantes institutos a capa de gelo polar Ártico cresceu 24% desde 2007 (leia mais aqui).

Além disso, não há comprovação alguma séria e com fundamento científico inequívoco de que fenômenos climáticos extremos sejam causados pela atividade humana.

Por fim, para haver fundamento na afirmação de que tais fenômenos – como as chuvas e enchentes de S. Paulo – são realmente inusitados, jamais vistos e “manifestações climáticas extremas”, fruto da mudança climática, é necessário comprovar que eles jamais ocorreram no passado. Será mesmo assim?

Um relato revelador

É precisamente sobre este último ponto que me quero debruçar aqui, trazendo-lhes um curioso e revelador relato de um passado bem remoto.

Tal relato foi reproduzido, neste último sábado (19.set.2009), pela jornalista Sonia Racy, em sua página “Direto da Fonte”, no jornal O Estado de S. Paulo, em um box intitulado Direto de 1560, que dá o título ao meu post. Convido-os a ler:

  • "Que sirva de consolo aos paulistanos: o estrago das chuvas, as casas destelhadas e inundações já atrapalhavam a vida no planalto de Piratininga há quatro séculos e meio, quando mal nascia a vila de São Paulo.

    Sabem quem o diz? A mais ilustre figura do lugar naqueles tempos, o padre José de Anchieta. Numa carta de 1560 ao geral dos jesuítas em Roma, Diogo Laínes, ele descreve um desses dias em que “com os trovões tremem as casas, caem as árvores e tudo se conturba”.

    Não havia 4 milhões de carros, nem semáforos apagados, nem lixo entupindo as galerias. Mas as manchetes, se houvesse, seriam as mesmas de hoje.

    Guardada no arquivo dos Jesuítas em Roma, a carta veio a São Paulo em 2004, para exposição da Associação Comercial, pelos 450 anos da cidade. Remexendo cópias do material, Guilherme Afif, hoje secretário de Serra, acabou reencontrando a preciosidade.

    “Não há muitos dias”, narra Anchieta, “de repente começou a turvar-se o ar, a enevoar-se o céu”. O vento “abalou casas, arrebatou telhados, arrancou pelas raízes grandíssimas árvores, de maneira que nos matos se taparam os caminhos sem ficar nenhum”.

    Podia acontecer a qualquer momento. Pois “na primavera, que aqui começa em setembro, e no verão, que começa em dezembro, caem abundantes e freqüentes chuvas (...). Há então enchentes dos rios e grandes inundações nos campos”.

    E o mais admirável, acrescenta, “é que os índios, entretidos em seus beberes e cantares, não deixaram de dançar nem beber, como se estivesse tudo no maior sossego”.

    Hoje, o paulistano ainda dança. Só que miudinho. "
Será que os fenômenos descritos pelo Bem-aventurado José de Anchieta, tão idênticos às tempestades destes dias, eram fruto das emissões de CO2, do aquecimento global, do desmatamento, da extinção das espécies, etc., etc.?

Como dá facilmente para perceber, as chuvas e enchentes destes dias nada têm de inusitado, nem muito menos de “prova” das tão anunciadas catástrofes ambientais. Devemos prestar muita atenção nas “evidências” e “conclusões” que nos são oferecidas (ou, melhor, impingidas) como incontestáveis.

Perigos dos mecanismos da propaganda

Continuo a achar que o perigo maior não são os fenômenos climáticos, mas a manipulação que em cima dos mesmos fazem certas correntes, com fins bem pouco claros.

Vivemos na era da propaganda! E foi com base nela e nas mentiras elaboradas com seus possantes mecanismos que se sustentaram e sustentam regimes políticos despóticos e assassinos.

Por isso acho que devemos tomar cuidado para não repetir insensatamente e sem conhecimento de causa falsidades com foros de “evidência”, tornando-nos assim “inocentes úteis” a serviço de interesses escusos dos que utilizam a fraude como método.

Que nos valha esta advertência vinda desse longínquo ano de 1560!

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terça-feira, 8 de setembro de 2009

Ambientalismo: arrombando consciências

Ambientalismo: arrombando consciências



A mídia tem suas curiosidades. O comum das pessoas dá por certo que um dos interesses dos órgãos de comunicação é a matéria sensacional. De vez em quando, entretanto, a mídia faz um silêncio absoluto, ou quase tanto, a respeito de determinado assunto que se julgaria próprio a preencher essa sua busca por temas de grande impacto. É o caso do tema que comento agora.

11 de setembro e tsunami
Analise a foto que está acima! Um esquadrão de aviões civis de passageiros mergulha sobre Manhattan – onde ainda se vêem as Torres Gêmeas – e está a ponto de colidir com a imensa massa de edifícios. À direita uma frase: O tsunami matou cem vezes mais pessoas do que o 11 de setembro. Abaixo outra frase complementa: O planeta é brutalmente poderoso; preserve-o.

Conforme a propaganda acima, o tsunami seria um super 11 de setembro, com cem vezes mais vítimas, provocado pela incúria e pela agressão dos seres humanos ao planeta Terra, tornando-se, pois, imperioso preservá-lo conforme a agenda ambientalista.

Repúdio generalizado
A exploração da tragédia do 11 de setembro causou compreensível comoção nos Estados Unidos. Comoção que chegou ao repúdio quase generalizado, se se levar em consideração que a tragédia do 11 de setembro não foi fruto do acaso e do infortúnio, mas de um ataque premeditado e brutal, inspirado pela ideologia islamo-fascista que hoje inspira diversos grupos terroristas e tem acolhida em alguns regimes políticos.

A campanha publicitária, da qual faz parte também um vídeo (inscrito no Festival de Cannes), foi elaborada pela conhecida agência de publicidade DDB Brasil, a pedido da famosa ONG ambientalista WWF Brasil.

Ela se destinava, pois, a ser veiculada em nosso país, o qual vai ganhando explicável destaque internacional no quesito ambiental, por causa da Amazônia e, sobretudo, no momento em que a Senadora Marina Silva, há pouco saída do PT, se tornou a nova vedette política, como potencial candidata à Presidência, trazendo para o centro do debate a chamada agenda ambientalista.

Pela enorme repercussão negativa causada pela propaganda na Internet, especialmente entre os especialistas de marketing; pelo grande estardalhaço causado nos Estados Unidos, em que a matéria foi parar nos noticiários de todas as TVs, e em importantes jornais; por ser uma publicidade elaborada por uma agência de propaganda no Brasil e para uma ONG também no Brasil, para aqui ser veiculada, nada mais natural que todo este assunto tivesse obtido grande repercussão na mídia nacional. Curiosamente, assim não se deu, o que não deixa de causar estranheza.

Ofensivo e de mau gosto
O anúncio, foi classificado como “absolutamente horrendo e desprezível” por um dos mais importantes nomes da criação publicitária, Mark Wnek, presidente da conhecida agência Lowe, de Nova York. E o apresentador Keith Olbermann da MSNBC, no programa “Countdown”, colocou a equipe da DDB Brasil na lista das piores pessoas do mundo.

A indignação com a peça publicitária fez com que a WWF internacional tentasse desvincular-se de sua filial brasileira, classificando o anúncio de “ofensivo e de mau gosto” e afirmando que o mesmo “jamais deveria ter visto a luz do dia”.

Por fim, a própria WWF Brasil conjuntamente com a DDB Brasil manifestaram, em comunicado conjunto, seu pesar pelo lamentável incidente, atribuindo-o à inexperiência de alguns profissionais envolvidos: “WWF Brasil e DDB Brasil reafirmam que tal anúncio jamais deveria ter sido criado, aprovado ou veiculado. E lamentam o ocorrido, reiterando pedido de desculpas a todos os que se sentiram ofendidos”.

Além de brutal, fraudulento
A exploração emocional da crueldade do atentado terrorista do 11 de setembro causou, como vimos, repúdio generalizado nos Estados Unidos. Há outro aspecto, entretanto, que parece de grande importância e de maior gravidade e que, a meu ver, não foi suficientemente ressaltado.

Conforme a peça publicitária em questão, o tsunami seria uma reação brutal do planeta, em face das contínuas agressões do homem civilizado.

Ora, o tsunami nada tem a ver com eventuais e alegadas agressões feitas pelo homem ao meio ambiente. O que levou Ken Wheaton a afirmar, no artigo publicado no site da Ad Age (1.set.2009), a “bíblia” da publicidade: “Isso mostra que os criadores são também cientificamente ignorantes: afinal, tsunamis nada têm a ver com preservação ou conservação. São tipicamente causados por abalos sísmicos ou outras forças geológicas, que, pelo que verificamos, não são afetados pela extinção animal, pelo desmatamento ou pelo aquecimento global”.

A referida propaganda tenta, pois, convencer o público das imperiosas necessidades da agenda ambiental através de uma comparação fraudulenta!

Ambientalismo apocalíptico
Aqui está, a meu ver, o nervo da questão: o ambientalismo não hesita em recorrer ao impacto emocional mais cruel, e até à fraude, para inocular na opinião pública seus “argumentos” e “conclusões”.

Por métodos não racionais e inescrupulosos artifícios de propaganda , o ambientalismo apocalíptico sugestiona o público, impingindo-lhe como evidente, como um “fato” que entra pelos olhos, o que não passa de uma ficção. No passo seguinte, convence suas vítimas a aceitar como necessárias mudanças civilizacionais.

Deste modo o ambientalismo, a denominada revolução verde – como, aliás, muitos movimentos revolucionários – arromba as consciências, fazendo-as aceitar falsas soluções, para problemas inexistentes.

Por este motivo o influente Bjorn Lomborg, o dinamarquês de 43 anos autor de O Ambientalista Cético, afirmou em conferência proferida em São Paulo que os ambientalistas fazem com a Humanidade o que faria um criminoso que colocasse um revólver na cabeça de sua vítima e lhe exigisse tomar uma decisão imediata. É difícil imaginar, dizia ele, que tal decisão fosse ponderada e racional.

Fácil é compreender que, diante deste terrorismo publicitário – e a propaganda acima é um exemplo acabado disso – cientistas de boa fé, experientes e com muitos títulos acadêmicos, encontrem por vezes dificuldade em dissipar os exageros e as mentiras do catastrofistas ambientais. Os primeiros apresentam fatos, argumentos lógicos, demonstrações; os segundos manipulam medos recorrendo a inescrupulosos artifícios de propaganda.

Fraude isolada?
Compreendo bem que alguém objete ser exagerado tirar todas estas conclusões apenas de uma propaganda, realmente fraudulenta, mas única.

Em matéria de fraude ambientalista, esta propaganda, infelizmente, não é um caso isolado.

8 Para conhecer mais a este respeito leia o blog sobre ecologia, clima e aquecimento.

O coro de vozes dos cientistas chamados de “realistas” ou “céticos” tem crescido a cada dia. Eles apontam má-fé, incongruência e fraudes nos “estudos” do ativista Al Gore e do próprio IPCC (Intergovernamental Panel on Climate Change), o painel da ONU que estuda a mudança climática.

Tais cientistas não compreendem como Al Gore e o IPCC possam ter ganho o Prêmio Nobel da Paz com sua campanha anti-científica, ideológica e até estelionatária de um catastrofismo climático.

Uma catadupa de estudos, análises, coleções de dados do mundo real e de denúncias de aplicações improcedentes de modelos matemáticos, vão deixando em situação delicada o IPCC e o próprio Al Gore.

Mais de 700 cientistas do mundo todo contestaram as afirmações do relatório do IPCC, elaborado por 52 cientistas. A informação encontra-se no relatório de 255 páginas (U.S. Senate Minority Report), publicado em 2009 sob os auspícios do Comitê do Senado americano para Meio Ambiente e Obras Públicas.

Uma vez mais chamo a atenção: a mídia, sempre tão afeita a tudo que é informação sensacional... calou!

O verdadeiro “motor” do ambientalismo
A importância da agência publicidade e da ONG envolvidas no escândalo da peça publicitária intitulada Tsunami, mostra bem a que altos níveis se estende a manipulação ambientalista. Tal manipulação não é apenas coisa de desinformados, ou de amadores. Ela faz parte, em boa medida, das táticas da chamada “revolução ambiental”.

Resta uma pergunta: afinal o que move o ambientalismo? Será mesmo o desejo inocente e altruísta de preservar o planeta e o meio ambiente? Ou, por trás desta fachada, se operam manipulações, cuja intenção é criar um clima emocional e de terror que arrombe as consciências e as faça aceitar uma série de mudanças nas mentalidades, nos estilos de vida, apresentadas como “necessidades imperiosas” para a “sobrevivência” do planeta? E tais “imperiosas” mudanças para onde apontam? Parecem visar uma alteração, em seus fundamentos, da atual ordem de coisas – voltada para a produtividade e o desenvolvimento – rumo a uma sociedade primitiva e “despojada”.

Se não for assim, por que o ambientalismo tem necessidade de mentir de modo tão grotesco para alcançar um fim que seria reto e inocente?

É bom não esquecer que, ao longo da História, as revoluções se travestiram em defensoras dos povos e das liberdades, mas acabaram por criar verdadeiras máquinas de extermínio – o Nazismo e o Comunismo são apenas os exemplos mais recentes – moldando “civilizações” que vilipendiaram o Direito Natural, violentaram a natureza humana em seus aspectos mais elementares, e, em nome de uma libertação das “amarras” do Cristianismo, erigiram como “modernos” hábitos, costumes e métodos neo-pagãos.

"Eu não acredito no aquecimento global... ele se transformou em uma nova religião", afirmou o Prof. Ivar Giaever, Prêmio Nobel da Física de 1973.

Pensemos nisto!
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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Promessas de Obama viram cinza

Promessas de Obama viram cinza
“E então... como vai indo para você o tal negócio da mudança e esperança?”

Este é um dos adesivos em voga, atualmente, nos Estados Unidos. Não será árduo entrever que diz respeito a Obama e ao cumprimento de suas promessas de campanha.

Obamania

Poucas vezes na história recente se criou tal expectativa em torno de uma figura pública. Desconhecido para muitos, dentro e fora dos Estados Unidos, Obama se tornou uma unanimidade midiática –a Obamania – com seus discursos bem calculados e pouco precisos. Passou a ser portador de uma esperança que muitos enunciavam e poucos saberiam precisar.

A euforia chegou a tal ponto que Obama foi apontado como um “messias”, que viria devolver a “dignidade” aos Estados Unidos e ao mundo, acabar com as ameaças que pairavam sobre o gênero humano, desarmar todos os espíritos e solucionar os problemas universais, munido apenas de seu sorriso e de seu espírito conciliador, com tudo e com todos, especialmente com os adversários.

Messianismo irresistível e vago

Este messianismo irresistível e quase mágico se tinha corporificado no slogan coruscante e vago que fizera furor na campanha: Yes, we can!

Houve até quem comentasse que seu apelo, místico e messiânico, era tão mais atraente e irresistível quanto menos preciso e explícito ele fosse.

8 Leia Obama, messianismo e irracionalidade

Em momentos de euforia como esse – à qual não se pode negar certa dose de irracionalidade – é praticamente impossível apontar a inconsistência das perspectivas para que se acena. Quem o faz se arrisca a ser tachado de “desmancha prazeres”, como se as dúvidas ou perplexidades formuladas fossem presságios de mau agouro, ou tivessem o poder mágico de destruir tais ilusões.

Só resta esperar e, como diz sabiamente o povo, “dar tempo ao tempo”.

E, no caso concreto, não foi preciso muito tempo. A realidade rapidamente tomou o lugar da fantasia!

Frustração com Obama

Como afirma a reportagem do The Wall Street Journal, assinada por Jonathan Weisman, que pretendo hoje comentar com os que seguem o Radar da Mídia, “Obama está vendo suas promessas virarem cinza”.

Para atrair os votos de moderados e até de conservadores, Barack Obama empregou durante a campanha uma linguagem de consenso, velou ao máximo sua linha ideológica e suas propostas mais radicais.

Uma vez instalado na Casa Branca, passou a mostrar seu viés esquerdista, sua propensão ao intervencionismo estatal, sua adesão aos chamados valores da contra-cultura, bem como sua promoção de políticas ditas progressistas, como o aborto.

Para os republicanos - ainda segundo a referida reportagem - os americanos rejeitam as propostas esquerdistas do novo Presidente, motivo de sua queda de popularidade.

Mas, na verdade, o desgaste de Obama vai para além do universo partidário. Muitos que o apoiaram começam a distanciar-se dele, e até mesmo seus correlegionários democratas têm votado contra as propostas presidenciais no Congresso.

“Não me culpem...”

Convido-os, pois, a lerem a matéria do The Wall Street Journal, estampada no jornal Valor (20.ago.2009), sob o título EUA divergem sobre por que Obama perde apoio popular:

  • "O presidente dos EUA, Barack Obama, fez sua campanha no ano passado prometendo acabar com as ásperas divisões partidárias em Washington. Ele não foi o primeiro a prometer uma Presidência suprapartidária: tanto George W. Bush quanto Bill Clinton ofereceram uma mudança similar, mas acabaram vendo a mútua hostilidade entre republicanos e democratas crescer constantemente enquanto ocuparam o cargo.

    Agora, da mesma forma, Obama está vendo suas promessas virarem cinza. Audiências populares iradas, queda no índice de aprovação e a crescente oposição à sua proposta de reforma do sistema de saúde sugerem o retorno antecipado da política de sempre.

    Os críticos de Obama dizem que isso é o resultado inevitável de sua pressão por políticas mais esquerdistas de longo alcance, apesar de ter feito ofertas não definidas para conquistar moderados e conservadores. A Casa Branca culpa os republicanos e comentaristas da mídia conservadora, dizendo que eles procuraram semear a discórdia desde o começo.

    Os dois lados concordam em um ponto: após seis meses de governo de Obama, um crescente número de americanos está se voltando contra o presidente, inclusive alguns eleitores que ele conquistou durante a campanha.

    "Pensei que ele iria nos unir como país. Quando ouvi ´Não há uma América branca, não há uma América negra, há os Estados Unidos da América´, isso ecoou em mim", disse Leah Wolczko, de 42 anos, professora de Manchester, Estado de New Hampshire, que se define como politicamente independente e apoiou Obama, mas não votou em novembro (o voto não é obrigatório). "Mas quando começam a falar de temas específicos, aí temos problemas." Ela se opõe ao que chama de propostas de maior interferência do governo e políticas de grandes gastos públicos de Obama.

    Numa pesquisa do "Wall Street Journal" e da rede de TV NBC feita com 1.011 adultos, entre 24 de julho e 27 de julho, a base de apoio do presidente continuava relativamente alta e ainda firme, com 37% ainda se sentindo "muito positivos" em relação a ele. O índice geral de aprovação ficou em 53%. Mas, desde o início do ano, o conjunto dos que se sentem "muito negativos" mais que triplicou, chegando a 20% em nível nacional, 25% no sul do país, 23% entre aqueles com 65 anos ou mais, e 24% entre os homens de 50 anos ou mais. (...)

    Os números de Obama, porém, "sugerem que está começando a se formar um núcleo anti-Obama", disse o pesquisador Peter Hart, democrata, que faz pesquisas para o Wall Street Journal/NBC News. (...)

    Quando Obama tomou posse, em janeiro, apenas 6% da população se sentiam "muito negativos" em relação a ele, enquanto 43% se sentiam "muito positivos".

    "No dia em que ele foi eleito, ele teve meu pleno apoio, 100%, e meu compromisso de rezar por ele e por sua família", disse Glória Twiggs, aposentada de Kenner, Louisiana, que não votou em Obama. Agora, chateada por questões relativas a aborto e por um voo do avião presidencial para uma sessão de fotos sobre Nova York, em abril, que gerou polêmica, ela tem opinião negativa dele. (...)

    Em janeiro, só 13% dos entrevistados na pesquisa Wall Street Journal/NBC discordavam inteiramente da afirmação de que Obama compartilhava das mesmas posições deles. Isso dobrou para 25%. Também quase dobrou proporção de americanos que discordam inteiramente de que Obama está disposto a trabalhar com pessoas com pontos de vista diferentes dos dele, de 12%, em abril, para 21%.

    Uma parafernália anti-Obama já chegou às lojas, para concorrer com objetos que promovem o presidente e continuam muito vendidos. Há um adesivo que diz: "Não me culpem, votei em McCain"; e camisetas com o dizer: "E então... Como vai indo para você o tal negócio da mudança e esperança?". Três dos cinco livros mais vendidos na lista do "New York Times" desta semana são contra Obama.

    As pesquisas mostram que os americanos tendem a concordar sobre os principais problemas do país: alto custo da assistência médica e número crescente de pessoas sem seguro, dependência do petróleo importado e recessão. Mas conseguir um consenso sobre as soluções é mais difícil, em especial diante do abismo filosófico acerca do papel do governo.

    William D. McInturff, pesquisador republicano e colega de Hart na pesquisa do Wall Street Journal/NBC, definiu a data que marca a ruptura entre o presidente e os que tinham lhe dado o benefício da dúvida: 29 de março. Foi quando Rick Wagoner, presidente da General Motors, foi demitido do cargo a pedido do presidente.

    "O país tem uma divisão permanente acerca do legítimo papel do governo", disse McInturff. "Essa questão se situa bem na linha divisória entre quem se torna republicano e quem se torna democrata."

    Para alguns, a frustração com Obama vem da fraqueza da economia. "Achei que, a essa altura, ele já teria transformado a situação", disse Louis Thornton, 44, de Lancing, no Tennessee, que se identificou como um democrata convicto que está se sentindo "muito negativo" em relação ao presidente.

    Além disso, a opinião de que Obama vem favorecendo minorias apareceu em diversas entrevistas com eleitores. No alvoroço sobre a prisão do professor Henry Louis Gates, da Universidade Harvard, "ele ficou do lado da raça dele, certo? Vamos encarar os fatos", disse Nick Januszczak, 54, caminhoneiro de Hammond, Indiana. Obama disse que a polícia "agiu de forma estúpida" ao prender Gates. O presidente mais tarde se desculpou publicamente pela declaração. "
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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Ao lado de "companheiros" e ditadores

Ao lado de “companheiros” e ditadores

Irã

Lula declarou – contra as evidências – que Mahmoud Ahmadinejad venceu licitamente as recentes eleições no Irã. As autoridades iranianas, pelo contrário, atestaram que milhões de votos foram fraudados.

Para o presidente brasileiro, entretanto, as manifestações de protesto contra a fraude eleitoral não passavam de raiva de perdedor, como em torcida de futebol. As 69 pessoas mortas pela terrível repressão do regime ditatorial iraniano nem sequer mereceram uma leve menção de Lula.

Coréia do Norte

O regime comunista da Coréia do Norte mantém campos de concentração e executa sumariamente adversários políticos. O Conselho de Direitos Humanos da ONU pediu recentemente a condenação do regime por esses motivos. Mas a diplomacia do governo Lula se recusou a condenar Pyongyang, pois acha necessário “dar uma chance” ao regime sanguinário.

Venezuela e FARC

A Venezuela entregou às FARC armas compradas à Suécia pelas Forças Armadas do país e destinadas por tratado a seu uso exclusivo. A Colômbia pediu explicações a Chávez por essa grave ocorrência; a Suécia igualmente.

Chávez foi mais uma vez desmascarado como mentor das FARC. Sem ter o que responder, o caudilho venezuelano encontrou em Marco Aurélio Garcia, o assessor presidencial de Lula, um porta-voz e um defensor nessa situação delicada. Garcia passou a manter contactos internacionais, inclusive com o General James Jones, assessor de segurança do presidente Obama, para justificar o injustificável. E Celso Amorim asseverou, em declarações à Folha de S. Paulo, que a transferência de armas “foi apenas um episódio”.

Honduras

Ao lado do ditador líbio Muhamar Kadhafi, patrono do terrorismo internacional, a quem chamou de “meu irmão”, Lula condenou o “golpe” em Honduras. Enquanto justifica a complacência com a ditadura cubana e o fim da exclusão do regime de Castro da OEA, a diplomacia lulo-petista exigiu a condenação inclemente do governo de Micheletti e a exclusão de Honduras do organismo.

Colômbia e EUA

Estados Unidos e Colômbia estreitam seus laços militares no combate ao narcotráfico e à guerrilha das FARC. Chávez percebendo que sua aliança político-militar com as FARC se vê ameaçada e, em conseqüência, sua estratégia de desestabilização do governo colombiano de Álvaro Uribe e da América Latina em geral corre perigo, desata uma gritaria contra o alargamento do acordo.

Celso Amorim afirma que a Venezuela tem razão em seus receios. Lula logo se torna o porta bandeira do protesto contra o acordo, bem como o articulador dos protestos da América Latina. Fazendo o jogo do “bolivarianismo”, Lula pretende levar Uribe ao banco dos réus na reunião da Unasul, em Quito, golpe que só é frustrado pela hábil maratona diplomática do presidente colombiano.

A atitude de Lula contrasta com o silêncio cúmplice ante as compras de armamento russo efetuadas por Chávez (que chegam a 4,4 bilhões de dólares!) e ante o oferecimento feito pelo presidente venezuelano das bases do país para acolher bombardeiros russos, inclusive com armamento atômico.

The Economist censura Lula

Seria impossível fazer neste exíguo espaço um elenco exaustivo das mais recentes medidas diplomáticas do governo Lula, que revelam sua crescente subserviência aos desígnios de Hugo Chávez e de seu “socialismo do século XXI”.

Tal seqüência de medidas mereceu neste final de semana um editorial da revista britânica The Economist (13.ago.2009), que apontou o viés chavista da política externa do governo Lula e cobrou uma posição firme do presidente do Brasil, com relação à defesa da democracia: “O governo Lula tem demonstrado um enigmático desrespeito pela democracia e pelos direitos humanos fora das fronteiras brasileiras”. E acrescentou: “O Brasil precisa decidir o que realmente defende e quem são seus aliados de fato, ou então arriscar que outros façam essa escolha por ele”.

O viés chavista da política externa

A matéria da importante revista britânica foi glosada pelo jornal O Estado de S. Paulo (15.ago.2009) em Notas & Informações, intitulada A ameaça que Lula incentiva:

  • "Numa das inumeráveis vezes em que se pôs a falar mal da imprensa - que evita ler "porque tenho problema de azia" -, o presidente Lula contrastou o que seria o tratamento injusto a ele dispensado pelas principais publicações brasileiras com o tom amplamente favorável ao desempenho do seu governo nas matérias e comentários sobre o País em muitos dos mais importantes periódicos estrangeiros. (...)

    O presidente, portanto, não terá motivos para acusar de parti pris contra ele o prestigioso semanário britânico The Economist por ter publicado, na edição que começou a circular ontem na Europa e nos Estados Unidos, uma reportagem e um editorial que identificam o inquietante viés chavista da sua política para a América do Sul. "Do lado de quem está o Brasil?", pergunta a revista. Nem Lula correria o risco de acentuar o seu desconforto gástrico se se inteirasse do teor desses textos. Eles o elogiam como um "presidente inspirador", cuja "bonomia e instinto para a conciliação" fazem amigos em toda parte, e por ter barrado a mudança constitucional que o autorizaria a disputar um terceiro mandato consecutivo, "apesar de seus quase sobrenaturais índices de popularidade".

    A Economist também aplaude os esforços do brasileiro para amoldar as instituições multilaterais às mudanças no equilíbrio global de poder (...) Mas - no que não chega a ser uma revelação para os observadores brasileiros - a revista ressalta a perigosa benevolência, quando não a franca simpatia, da diplomacia regional do País em relação a Hugo Chávez. O "gancho", como se diz nas redações, para a abordagem do problema são as investidas do caudilho venezuelano contra o acordo entre a Colômbia e os Estados Unidos para a instalação de três bases militares destinadas a reforçar as defesas do país vizinho no seu combate de décadas contra a guerrilha das Farc e os seus parceiros do narcotráfico.

    Nessa crise fabricada por Chávez para encobrir as evidências de seu apoio bélico ao movimento, o Brasil só não agiu pior do que o equatoriano Rafael Correa, que já não mantém relações com Bogotá, ao exigir garantias de que as bases não teriam outros fins. O papel de linha auxiliar do caudilho, desempenhado pelo presidente e o seu chanceler Celso Amorim, ficou ainda mais gritante porque em momento algum eles manifestaram preocupação com a segurança e a estabilidade regionais ameaçadas pelos acordos militares entre Caracas e Moscou. O próprio Chávez diz servirem para "incrementar nossa capacidade operativa". Lula se comporta como se o inimigo da democracia na América do Sul fossem os Estados Unidos, ou a Colômbia, ou mesmo o governo golpista de Honduras - que destituiu o presidente Manuel Zelaya para evitar que ele atrelasse o país ao chavismo.

    Além disso, ao endossar tacitamente as políticas liberticidas do venezuelano - não passa dia sem que ele, cumprindo as suas promessas, não aperte o garrote no seu desafortunado país -, Lula desnuda a hipocrisia das suas apregoadas convicções democráticas. A versão soprada pelo Itamaraty de que os agrados brasileiros a Chávez teriam apenas o objetivo de moderar os seus planos hegemônicos na região já foi desacreditada pelos fatos, sem falar nas lições da história sobre a futilidade das tentativas de apaziguar apetites ditatoriais. A tragédia é que nenhum outro país sul-americano tem condições comparáveis às do Brasil para frear as aventuras totalitárias de Chávez e seus aliados bolivarianos. Não se pede, como diz a Economist, que o Brasil aja como xerife da América. Mas é do interesse nacional prevenir uma nova guerra fria entre os vizinhos.

    "A maneira de fazê-lo é não confundir democratas com autocratas, como Lula parece pensar", assinala a revista. "É desmoralizar Chávez, demarcando uma clara divisa em favor da democracia - o sistema que permitiu a um pobre torneiro mecânico chegar ao poder e mudar o Brasil." "

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