Davos, Havana e a cavala em Lisboa
A presidente Dilma Rousseff esteve há dias em Davos, na Suíça, para participar do Fórum Econômico Mundial. Ali discursou e, bem ao estilo nacional-socialista que inspira seu governo, fez da propaganda a grande peça.
Entretanto, o Financial Times afirmou em artigo que o Brasil foi o grande perdedor em Davos, pois deixou uma percepção de falta de investimentos e “não foi fácil ouvir alguma notícia positiva a respeito do País”.
Depois de vender na Suíça uma realidade fantasiosa a respeito da situação económica do Brasil, Dilma Rousseff rumou para Cuba, onde foi despejar rios de dinheiro do contribuinte brasileiro para socorrer o moribundo regime comuno-castrista.
Escala técnica
Mas… a viagem teve uma “escala técnica” em Lisboa, não prevista, segundo a versão oficial do governo. A presidente e sua comitiva desembarcaram em Lisboa, onde passaram o sábado, dia 25 e a manhã de domingo.
Nada foi divulgado para a imprensa e o governo cercou de sigilo a ida de Dilma e de sua comitiva a Lisboa. A versão veiculada primeiramente pela ministra da Comunicação Social, Helena Chagas, e reiterada pelo Ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, de que a ida a Lisboa não estava prevista, tendo sido decidida no momento da saída de solo suíço, foi desmentida por autoridades do governo português, avisadas vários dias antes.
De modo enigmático, a passagem de Dilma em Lisboa só passou a constar da agenda oficial da Presidente, após a imprensa revelar a misteriosa escala e quando Dilma já se encontrava em pleno vôo, rumo a Havana.
Gastos particulares ou oficiais?
Bem ao estilo de certa esquerda populista, mas de hábitos inescrupulosos, a presidente Dilma foi estadear-se, com parte de sua comitiva, no restaurante Eleven, um dos mais sofisticados de Lisboa, onde o chef Joachim Koerper (na foto) lhe serviu um peixe típico, chamado cavala. E foi em 45 quartos dos famosos hotéis Ritz e Tivoli que a Presidente e sua comitiva pernoitaram.
O pagamento das despesas, durante a “parada técnica”, permanece e permanecerá um enigma. Isso porque o governo Dilma aumentou o sigilo sobre as despesas feitas pela Secretaria de Administração da Presidência com seus cartões corporativos, que englobam as despesas da presidente, inclusive em viagens. Só em 2013, tais pagamentos somaram R$ 5,64 milhões, na sua quase totalidade sem conteúdo revelado, por razões de “segurança”.
Dilma alegou em entrevista que o restaurante em Lisboa foi pago pelos comensais, mas a hospedagem não mereceu uma explicação da mandatária. Além do que, é bom recordar, no que diz respeito ao pagamento do jantar, ministros em viagem recebem ajudas de custo de 460 dólares por dia.
Sigilo e mentiras oficiais
Em todo este episódio chamam a atenção não apenas a farra sigilosa em Lisboa, mas as inúmeras mentiras que a cercaram.
Como já afirmei, as autoridades portuguesas desmentiram a versão de que a “escala técnica” foi decidida na hora de sair da Suíça.
Por outro lado, a razão alegada para tal “escala técnica” foi a de que o Aerolula não teria autonomia de vôo para viajar de Zurique a Havana. Tal alegação foi desmentida na imprensa, com dados técnicos, mas ainda que verdadeira bastaria pouco mais de uma hora para reabastecer a aeronave presidencial.
O enigma que cercou a viagem da Presidente Dilma Rousseff a Lisboa impõe uma investigação séria e não apenas um arremedo de mobilização da chamada oposição. Uma questão se impõe: será que todo esse sigilo e as mentiras e enganos subsequentes foram apenas para permitir à Presidente comer cavala em Lisboa? Um governo que engana e mente desta forma a seus compatriotas e eleitores merece credibilidade? E não prevarica em suas obrigações? É nisto que consiste o tão propalado espírito “democrático e republicano” de que falou a Presidente em sua entrevista ao tentar dar alguma explicação para o ocorrido?
Uma vez mais o governo petista abusa do poder e achincalha as instituições, ante a quase completa atonia cúmplice da assim chamada oposição.
Excessos sigilosos
O artigo Excessos sigilosos, de Dora Krammer, no Estado de S. Paulo (30.jan.2014), lança algumas luzes sobre o episódio. Convido-os a fazer a leitura do mesmo:
- "Dizer que Dilma Rousseff não entendeu direito a essência da reação crítica à sua escala técnica de 15 horas em Lisboa para abastecer o avião que a levava da Suíça a Cuba seria menosprezar a capacidade da presidente (e de seus conselheiros) de tergiversar.
Como qualquer ser humano dotado de um mínimo de habilidade cognitiva, ela compreendeu perfeitamente do que se trata. Mas, convenientemente, preferiu dissertar de maneira professoral sobre a divisão da despesa entre os participantes do jantar no restaurante Eleven, na capital portuguesa.
"Eu escolho o restaurante que for porque eu pago a minha conta", iniciou ao seu peculiar modo autossuficiente, para continuar austera - "não há a menor condição de eu usar o cartão corporativo e misturar o que é consumo privado e público" - e encerrar em figurino exemplar: "No meu aniversário (em Moscou) eu também paguei. Tem gente que acha esquisito uma presidente dividir a conta. Acho isso extremamente democrático e republicano".
E por aí foi detalhando suas exigências na partilha dos gastos com almoços e jantares; falou sobre a autonomia de vôo da aeronave presidencial (um problema também enfrentado pelos governos do México e da Argentina, ficamos sabendo) e das escalas cogitadas até a opção por Portugal.
Como se as questões em tela fossem essas. Pagar a conta do restaurante em compromissos privados pode até não ser um hábito entre autoridades brasileiras, mas trata-se de uma obrigação. E, no caso, de um instrumento de rodeio.
As despesas de hospedagem em dois hotéis de luxo - suíte presidencial a R$ 26 mil - e transporte da comitiva ficaram fora da dissertação presidencial. Assim como ficaram e ficarão longe da vista e dos ouvidos dos cidadãos por que, por determinação da zelosa presidente, os gastos com viagens presidenciais passaram a ser incluídos entre as informações a serem mantidas em sigilo.
E é desse segredo que se cuida. A ele também se dá o nome de ausência de transparência, que fere o artigo 37 da Constituição onde estão previstos os pressupostos a serem obedecidos pelos ocupantes de cargos na administração pública.
O argumento da Presidência ao baixar a norma foi a genérica alegação de razões de segurança. É de se perguntar no que a segurança presidencial estaria ameaçada se o público soubesse o quanto está pagando pelas despesas das comitivas oficiais mundo afora.
Mas a presidente não reivindica apenas o direito de gastar sem dar satisfação. Quer, nessas viagens, aproveitar as escalas técnicas para passear e ter alguns momentos de lazer como "cidadã comum", longe dos olhos da imprensa. Vale dizer, do País.
Por esse método, desde 2012 fez seis paradas que só apareceram depois na agenda oficial. Desta vez, soube-se que estava em Lisboa porque o Estado descobriu. A Presidência justificou que a decisão havia sido tomada de última hora, no sábado, e o governo português desmentiu; fora avisado na quinta-feira.
Não há outro jeito de dizer: o governo brasileiro mentiu. E a presidente da República, cobrada, fez-se de desentendida. Não há razão para isso.
Se a chefe do governo quer momentos de folga em suas viagens internacionais, deveria dizer isso com clareza, sem usar o subterfúgio da parada técnica porque o reabastecimento do avião é algo a ser resolvido com alguma rapidez.
Não é preciso desembarcar a comitiva, transportá-la, hospedá-la, proporcionar-lhe lazer e levá-la de novo ao cumprimento da próxima etapa de trabalho. O fato de nesse meio tempo cada um pagar a sua parte na conta do restaurante, francamente, é o de menos."
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