domingo, 13 de março de 2016

A esquerda perdeu a partida da popularidade

A esquerda perdeu a partida da popularidade



Estive na Av. Paulista neste Domingo 13 de Março. E posso garantir, pelo que me foi dado observar, que a esquerda perdeu, mesmo, a partida da popularidade.

Ali estava uma amostra gigantesca do Brasil (mais de um milhão e 400 mil pessoas, segundo a Polícia Militar - foto 1). Era a reprodução do que se deu neste dia em centenas de cidades de Norte a Sul do Brasil e com números muito impressionantes! A começar pelo Rio de Janeiro, em que a orla de Copacabana foi literalmente tomada pela multidão estimada em um milhão de pessoas (foto 2). O que dizer de Fortaleza, de Salvador, de Belém, de Curitiba, de Porto Alegre, de Natal, de Maceió, de Brasília, de Vitória, de Goiânia, de Campo Grande, de Recife, de Florianópolis e de tantas outras cidades com números igualmente impressionantes?

Cordialidade e distensão
Pessoas de todas as idades, das mais diversas condições e classes sociais, dos mais variados graus de cultura, de todas as origens raciais, irmanadas num imenso NÃO ao PT, a seus personagens principais Lula e Dilma e a tudo o que estes e a sigla representam. “Nossa bandeira jamais será vermelha” era o brado de muitos e a certeza de todos.

O ambiente era distendido e familiar; a cordialidade estava presente em todos; os cumprimentos efusivos entre amigos que se encontravam eram reveladores; os protestos eram firmes, convictos mas não raivosos; as forças policiais eram saudadas com afeto e admiração; não havia distúrbios nem agitação; tudo transcorria num ambiente ordeiro e civilizado.

A cegueira da esquerda
A esquerda, aprisionada nos labirintos mentais de suas utopias, tem uma dificuldade fundamental: entender a realidade!

Em sua delirante perspectiva de luta de classes, ali estão nas ruas milhões de “coxinhas” (coCHinhas, segundo a literacia de Rui Falcão), injustos detentores de privilégios, contra os defensores dos pobres (os petistas?!).

A esquerda não entende que ali está o Brasil autêntico, ordeiro e pacato, o Brasil honesto e familiar, que trabalha e almeja por um sadio progresso dentro de uma harmonia de classes. O Brasil que não se deixou convencer nem enredar pela ideologia de esquerda.

Durante algum tempo, é verdade, esse Brasil, um tanto otimista e desavisado, deixou-se embair ou intimidar pelas peças publicitárias de um marketing político falacioso e pelas benesses passageiras de uma bonança econômica e concedeu ao PT alguns êxitos eleitorais. E a esquerda confundiu resultados das urnas com a conquista de mentes e corações.

Mas, à medida que o PT se foi assanhando em dominar o Estado, corromper as instituições, deturpar os processos políticos e eleitorais (coadjuvado por uma oposição fraca), implantar políticas autoritárias e imorais, o Brasil de profundidade começou a afastar-se da esquerda. Foi silenciando. E muitos – inclusive do centro e da direita – confundiram este silêncio com a indiferença e o desinteresse pela vida pública. Não entenderam que, no fundo das mentalidades, germinava um enorme descontentamento.

O Brasil se levanta como um todo
Não vou estender-me. As ruas – uma vez mais – estão aí e não deixam margem a dúvidas. Elas revelaram que o Brasil não está dividido, mas, pelo contrário, o Brasil se levantou como um todo só contra uma minoria que é avessa a sua índole: “eu quero meu País de volta”, diziam muitos.

A esquerda petista, entretanto, continua cega!

E, acrescento: não só ela, mas boa parte do mundo político está desnorteado e sem bússola. E não apenas por causa da Lava Jato. Não consegue medir e avaliar o que está acontecendo na profundidade das fibras do espírito nacional e, por isso, fica impossibilitado de dirigir os acontecimentos. Pode continuar a fazer conchavos de bastidores, mas estes, provavelmente, se esfarelarão ao serem descobertos. Quando considero alguns políticos, que agora tentam alinhar-se com o clamor das ruas, tenho a impressão de rolhas boiando no mar, ao sabor das ondas.

Cuidado com os pacatos
Plinio Corrêa de Oliveira tanto em seus escritos, como na sua atuação pública, sempre teve uma compreensão profunda da índole do espírito brasileiro, de suas características temperamentais e de suas peculiaridades ideológicas. E o acerto de suas análises atravessa as décadas.

No início dos anos oitenta, quando a esquerda obteve alguns êxitos eleitorais, em artigo para a Folha de S. Paulo, delineava ele o significado dos mesmos e lançava uma advertência, válida para os dias que correm:

  • O êxito da esquerda só tem possibilidade de ser durável na medida em que ela o saiba compreender. E, analogamente, o centro e a direita só continuarão a representar um papel marcante na vida brasileira se souberem adaptar-se a tal.

    Quero ser ainda mais concreto. Se a esquerda for açodada na efetivação das reivindicações "populares" e niveladoras com que subiu ao poder; se se mostrar abespinhada e ácida ao receber as críticas da oposição; se for persecutória através do mesquinho casuísmo legislativo, da picuinha administrativa ou da devastação policialesca dos adversários, o Brasil se sentirá frustrado na sua apetência de um regime bon enfant de uma vida distendida e despreocupada. Num primeiro momento, distanciar-se-á então da esquerda. Depois ficará ressentido. E, por fim, furioso. A esquerda terá perdido a partida da popularidade.

    Em outros termos, se os esquerdistas, ora tão influentes no Estado (Poderes 1, 2 e 3), na Publicidade (Poder 4) e na estrutura da Igreja (Poder 5), não compreenderem a presente avidez de distensão do povo brasileiro, deixarão de atrair e afundarão no isolamento. Falarão para multidões silenciosas no começo, e pouco depois agastadas. (...)

    O Brasil de hoje quer absolutamente pacatez. Se a esquerda vitoriosa não souber oferecê-la, esvanecer-se-á. Se o centro e a direita não souberem conduzir sua luta num clima de pacatez, terá chegado a vez deles se esvanecerem.

    Bem concebo que algum leitor exasperado me pergunte: mas, afinal, quem ganha com essa pacatez? – Até aqui não tratei disto. Mostrei que perderá quem não a souber ter.

    Quem ganhará: a direita? o centro? a esquerda? – Quem conhecer as verdadeiras fibras da alma brasileira e souber entrar em diálogo pacato com essas fibras. Seja governo, seja oposição, pouco importa. A influência será de quem saiba fazer isto.

    Insisto. Se o governo, a Publicidade, a estrutura eclesiástica não souberem manter-se no clima de pacatez, e passarem para a violência física, legal ou publicitária contra a oposição, os pacatos lhes dirão: mas, afinal, qual é a sinceridade, qual a dignidade de vocês, que quando eram oposicionistas reclamavam para si liberdade e respeito, e agora que são governo usam da perseguição e da difamação para quem é hoje oposição?

    E se os pacatos notarem acrimônia nos de centro e de direita, dir-lhes-ão: está bem provado que é impossível conviver com vocês, porque, nem vencidos, sabem ser de um trato distensivo.

    E cuidado com os pacatos que se indignam, senhores da esquerda, do centro e da direita. A hora não é para carrancas, mas para as discussões arejadas, polidas, lógicas e inteligentes. Os pacatos toleram tudo, exceto que se lhes perturbe a pacatez. Pois então facilmente se fazem ferozes...

    (“Cuidado com os pacatos”, Folha de S. Paulo, 14.12.1982).

Um comentário:

José Francisco Vidigal disse...

Excelente análise. E brilhante texto, que parece ter sido escrito vendo os dias de hoje.