O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em Madri que a votação do Senado que absolveu Renan Calheiros "não foi impunidade". E acrescentou o presidente, que o ocorrido no Senado demonstrou que "o Brasil tem instituições sólidas para julgar". Fingiu assim manter-se acima das querelas políticas e respeitador das instituições.
Curiosamente, esta afirmação contrasta com a reação do presidente, apenas quinze dias antes, quando do indiciamento feito pelo Supremo Tribunal Federal dos 40 mensaleiros, e dos "companheiros" integrantes da organização criminosa que - ainda segundo o voto do relator - atuava no governo e no PT.
Lula não elogiou as instituições nem pediu respeito a suas decisões. Pelo contrário, fez um discurso inflamado em defesa dos acusados, dando assim uma bofetada no Poder Judiciário, e desprezando o sentimento popular de indignação ante tais gravíssimos desmandos.
É o que aponta, em artigo para o jornal O Estado de S. Paulo (10.set.2007), Carlos Alberto di Franco, Master em Jornalismo, professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra. O título, Constrangedora solidariedade aos réus, já fala por si:
- "Num tom exaltado de palanqueiro, o presidente da República pregou solidariedade do seu partido aos réus do escândalo do mensalão. Com um discurso feito para empolgar a platéia do 3º Congresso do PT, Lula passou a mão na cabeça dos petistas processados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção ativa e formação de quadrilha. Lula disse que o PT não tem do que se envergonhar e pediu a união do partido para enfrentar uma onda de “preconceitos” e até “ódio” de classe. Autoproclamado o brasileiro “mais ético” entre todos os cidadãos brasileiros, o presidente Lula exaltou a ética do partido e a defesa dos companheiros. ....
Com seu comício partidário, chocante, mas estudado, o presidente da República acabou dando uma bofetada no STF, uma cotovelada na verdade e, de quebra, reacendeu a velha tese da conspiração das elites. Tal teoria, lançada pelo ex-ministro José Dirceu, tem inspirações nitidamente venezuelanas. Ela já vinha sendo elaborada há algum tempo nos laboratórios petistas. Documento divulgado em 2005 por 43 movimentos sociais, como a CUT e o MST, definiam a estratégia. “As elites iniciaram, através dos meios de comunicação, uma campanha para desmoralizar o governo”, dizia o texto. Tratava-se, então e também agora, de um documento previsível no tabuleiro da crise. Com o governo acuado e as provas de corrupção entrando nos tribunais (magnífico o trabalho da Procuradoria-Geral da República), o recurso à teoria conspiratória é só o primeiro passo. O segundo, na expressão de Dirceu, será, dependendo do andamento da carruagem, a mobilização dos movimentos sociais contra as 'forças políticas, sociais e conservadoras da direita'."
2 comentários:
Como pensar na seriedade de um senhor, ainda senador, onde os dias de descanso, férias ou repouso, como queiram e prefiram chamar, é motivo de articulismos hediondos e decisões efêmeras?!
É de um egocentrismo extenso e dissimulado que enoja e revolta os mais céticos.
De que ‘instituições sólidas’ o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está falando? Certamente não é da mesma que absolveu o Sr. Renan Calheiros. Afinal absolver uma pessoa que é suspeito de enriquecimento ilícito, corrupção ativa e passiva, entre outras acusações, é no mínimo também suspeita quanto a seriedade e solidez. E olha que este sr. nem é tão importante assim. Não tem uma historia política que mereça todo esse apoio que vem alcançando. O que só reforça a sensação de desconforto diante da esperança de justiça. Assim, compreende-se que o suporte principal desta situação em que se encontra o sr. Renan é a mesma que o caracteriza como pessoa, ou seja; a esperteza manipuladora e funcional, cujo fulgor é a constante presença na mídia, sem atentar-se para o escárnio com que na maioria das vezes a imagem do nosso Brasil é a mesma que observamos na presença cansativa e insalubre que o próprio sr. Renan oferece.
Sem dúvida, o país tem “instituições sólidas para julgar”. Tanto é verdade que o Supremo Tribunal Federal mostrou isso aos brasileiros ao aceitar a denúncia contra os mensaleiros.
Porém, o que aconteceu no Senado Federal na absolvição de Renan Calheiros foi um descalabro à democracia e um desrespeito ao eleitor brasileiro.
Sessão secreta e voto secreto, com uma absolvição conquistada pela sanha do petismo que preferiu, como confessou Aloizio Mercadante, ajudar o “companheiro Renan” com a obscuridade do voto de “abstenção”.
Ou seja: jogaram a sujeira do senador Renan para baixo do tapete, fazendo de conta que nada das denúncias eram verdadeiras. O mesmo desmentido anteriormente, no caso mensaleiros, e que depois, o STF aceitou os fatos como verdadeiros e enquadrou a cambada. / Abs
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