Lula não é o marco zero da diplomacia
Conforme noticiou a Folha de S. Paulo (2.out.2007), durante a inauguração do Centro de Produção de Antígenos Virais, no Rio de Janeiro, o Presidente Lula teceu elogios ao Ministério das Relações Exteriores e se louvou pelos resultados diplomáticos que diz ter obtido.
Lula justificou as críticas formuladas à diplomacia de seu governo, devido a uma "subordinação intelectual" e a uma "colonização" cultural desses críticos. "O Brasil tinha uma subordinação muito grande a uma orientação eminentemente americana, também à Europa - aos países maiores da Europa - e não tinha a dimensão de fazer política pensando naqueles que são iguais." O Presidente acrescentou ainda que o Brasil tem "a melhor relação com a América do Sul que já tivemos em qualquer tempo".
Ignorância histórica
Na ânsia desmedida de auto-promoção, o Presidente, além de sobrevalorizar e escamotear o sentido da diplomacia de seu governo, demonstrou grande ou total desconhecimento histórico.
Basta, por exemplo, conhecer um pouco da história do Império, para saber o papel de destaque exercido pelo Brasil na cena internacional, bem longe de um país intelectualmente colonizado.
Acentuado viés anti-americano
Além disso, as palavras de Lula sobre a "colonização intelectual" da diplomacia, da qual o Brasil se teria libertado em seu governo, nada mais são do que a justificativa do acentuado viés ideológico anti-americano impresso à política externa pelo Itamaraty. Anti-americanismo oportunamente denunciado pelo ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Roberto Abdenur.
A afirmação presidencial da melhor relação com a América do Sul que "já tivemos em qualquer tempo" não corresponde também à realidade. O Mercosul, enquanto bloco comercial, fracassou quase por completo. A liderança do Brasil na região, tão trombeteada por Lula, transformou-se num crescente isolamento do país.
A não ser que as palavras do Presidente se refiram ao acobertamento mais ou menos velado dado por seu governo a Hugo Chávez e a suas medidas autoritárias; ou à aceitação submissa do enxovalhamento imposto ao Brasil pelo governo do "companheiro" Evo Morales; ou ainda às ofertas feitas por Lula do território nacional para negociações com as FARC, a quem o Brasil se recusa qualificar como grupo terrorista.
Declarações alheias à realidade
Em colaboração especial para a Folha de S. Paulo (2.out.2007), intitulada Presidente não é o marco zero da diplomacia, o ex-Ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer aponta:
- "As declarações do presidente Lula sobre a política externa brasileira, durante evento realizado na Fiocruz, são impróprias. Não correspondem à realidade. Desconsideram a história. São o fruto de uma retórica infundada, pois a sua palavra não é esclarecedora.
Não é verdade que só com o advento da sua Presidência nosso país deixou de ser um país intelectualmente colonizado, diplomaticamente subordinado à orientação americana e européia. No acervo da política externa brasileira, desde o Império, passando pela República e até o mandato de seu antecessor, são incontáveis as asserções diplomáticas, em distintas conjunturas históricas, em prol da ampliação do poder de controle do nosso país sobre o seu destino.
O presidente não é, nem poderia ser, o marco zero da diplomacia brasileira. Ele e o seu governo operam a partir do que foi feito por gerações e gerações. Existem situações no âmbito das quais verificou-se uma deterioração do patamar previamente alcançado".
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