segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Os mortos que não merecem lembrança

Os mortos que não merecem lembrança
O ano de 2007 se aproxima do fim. É hora de retrospectos, de análises, de recordações.

Pretendo fazer alguns retrospectos aqui. Mas decidi começar por um particularmente pungente.

Triunfalismo ufanista
Há dias o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou ao País, em rede de rádio e televisão.

Não é novidade para ninguém que Lula jamais desce do palanque. É seu estilo de governar... se a isso se pode chamar governar.

É bom não esquecer que o Brasil, uma vez mais, vai entrar em ano eleitoral e Lula já está (continua!) em campanha eleitoral.

Não esteve ausente do mencionado pronunciamento o triunfalismo ufanista, outra marca da oratória presidencial. Afinal "nunca antes neste País..."

Um país de todos
Em tom de otimismo, Lula afirmou que a casa está arrumada, que o Brasil está crescendo e que 2008 vai ser ainda melhor. Anunciou, ainda, que o Brasil, a partir do início do ano de 2008, vai tornar-se um "canteiro de obras".

Recorrendo à demagogia, reclamou da derrota da CPMF, afirmando que a Saúde vai ficar prejudicada (quando a arrecadação da CPMF nunca foi destinada à Saúde); depois manipulou os dados da ONU a respeito do Índice de Desenvolvimento Humano, para afirmar que seus programas assistencialistas, como o "Bolsa Família", estão levando o País a patamares nunca antes atingidos.

E arrematou: "Esta talvez seja a nossa maior conquista nos últimos anos. O Brasil não aceita mais ser um país de poucos. Está se tornando um país de muitos e não descansará enquanto não se tornar um país de todos".

As vítimas não foram recordadas
Não, Presidente, não é verdade. O Brasil não se está tornando um país de todos! A prova? O seu próprio discurso.

Por que o Sr. não teve coragem de recordar em seu pronunciamento os brasileiros, vítimas fatais do desastre aéreo da TAM que assombrou o País? Vítimas do descaso de seu governo com a crise aérea e com a infraestrutura do País?

É esse o País de todos do governo lulo-petista? Ou será que os mortos, que não pertencem aos quadros ideológicos do petismo, não merecem ser recordados? Não merecem e, como veremos daqui a pouco, para o petismo "os parentes dos mortos estão chorando demais".

Crise aérea: nada foi feito
Recordo aqui que, após permanecer três dias literalmente "foragido" dentro do Palácio Presidencial, depois da tragédia de Congonhas, o Presidente Lula fez promessas que incluíam até um novo aeroporto.

Nada foi feito! Apenas um esforço tremendo para encobrir a corrupção da Infraero que, também ela, envolve o PT, o partido da "ética"; ou então passar toda a culpa às companhias aéreas.

O Presidente Lula, ao receber o viúvo de uma das vítimas da TAM, que lhe indagou a respeito do descaso do governo com a segurança dos aeroportos, teria respondido que "o povo brasileiro nunca pediu segurança, pediu que modernizássemos os terminais", qualificados por ele como os melhores do mundo, com shopping e tudo.

Pista incerta e escorregadia
Foram estes fatos estarrecedores que levaram o jornalista Diogo Mainardi a escrever uma crônica a respeito de algum acontecimento ou conjuntura que sintetizasse o ano de 2007. Intitulou-a Ficamos mais bestiais, e figura no número da revista Veja dedicado ao retrospecto do ano (29.dez.2007):

  • "Luiz Moyses perdeu a mulher na tragédia da TAM. Na tragédia do Aeroporto de Congonhas. Na tragédia do Airbus. Na tragédia da Anac. Na tragédia da Infraero. Na tragédia de Lula. Chame do jeito que quiser.

    Luiz Moyses era de Porto Alegre. Depois do acidente, a TAM o acomodou no Hotel Blue Tree, em Moema, perto de Congonhas. Em 31 de agosto de 2007, à noite, ele estava no bar do hotel, acompanhado por dois outros familiares de vítimas do Airbus. No mesmo dia, ocorrera a abertura do III Congresso Nacional do PT. Mais de 150 delegados do partido também estavam hospedados no Hotel Blue Tree. O PT sempre se deu bem com o Hotel Blue Tree. Um dos delegados petistas foi confraternizar com Luiz Moyses, imaginando que ele fosse um correligionário. Luiz Moyses repeliu-o dizendo que Lula era o culpado pela morte de sua mulher. O delegado petista tentou agredi-lo. Insultou-o. Disse que os parentes dos mortos da TAM estavam chorando demais. O agressor só foi contido pelo deputado baiano Joseph Bandeira e pelos guarda-costas do partido.

    O próprio Luiz Moyses relatou-me o episódio alguns meses atrás. Nesta semana, à procura de uma imagem que sintetizasse o ano, lembrei-me dele. Mais do que pelo acidente de Congonhas, 2007 ficará marcado pela bestialidade que deflagrou. Da alegria indecente de Lula na posse de Nelson Jobim ao top, top, top de Marco Aurélio Garcia quando o Jornal Nacional falou sobre o reversor pifado, o Brasil desceu mais uns degrauzinhos na escala de civilidade.

    Em 2005 e 2006, o conflito foi entre lulistas e antilulistas, entre achacadores e achacados, entre quadrilheiros de um bando e de outro. 2007 foi pior: o conflito passou a ser mais essencial, mais primário, entre a selvageria e a humanidade. Os fatos do Hotel Blue Tree resumem idealmente o que aconteceu no país nos últimos tempos. ....

    A mulher de Luiz Moyses chamava-se Nádia. Foi sua primeira namorada. Eram casados havia sete anos. Quando Nádia morreu, Luiz Moyses vendeu sua empresa e mudou-se de Porto Alegre. Atualmente, ele tenta reconstruir sua vida em outro lugar, ao mesmo tempo que coordena as atividades do grupo de parentes dos 199 mortos de Congonhas. ....

    O ano acabou. A tragédia da TAM ficou para trás. Menos para Luiz Moyses e todas as pessoas que perderam parentes ou amigos. Eles continuam a buscar respostas para os acontecimentos daquele fim de tarde de julho. Reúnem-se, confortam-se, trocam mensagens. A última suspeita que circula entre eles é que o piloto do Airbus teria pedido autorização para aterrissar no Aeroporto de Guarulhos, mas tivera seu pedido negado pelos controladores. Em 2007, o Brasil pediu para aterrissar numa pista longa e segura, mas acabou numa pista incerta e escorregadia, "com shopping center e tudo o mais". "
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5 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom o artigo. Muito ruim as perspectivas para 2008, ano de exacerbação palanquista de um presidente omisso quando se trata de atender aos verdadeiros problemas da Nação.
Os familiares da TAM choram demais e nós choramos de menos. Faltam líderes que façam uma verdaeira oposição e não essa tapeação do PSDB.

Unknown disse...

Concordo plenamente com tudo o que você disse aqui. Realmente não há nada sendo feito neste nosso País; está comprovado que tudo termina em "pizza". Muitos poetas já disseram no passado..___"Que País é este?"
Será que nós iremos aguentar tanta corrupção, tanto descaso? Vamos morrer também sem saber?
Uma coisa poderemos fazer, anotar todos estes nomes da política suja, imbecil que hoje temos e aprendermos a votar e, mais do que isto, ficarmos atentos a tudo o que está acontecendo.
Precisamos modificar com o nosso voto. Vamos repensar?
abraços José Carlos e parabéns!!

Anônimo disse...

A tríade Hugo, Lula e Evo vai bem, obrigado. O "inchaço" do Estado com contratações sem concurso público, vai bem, obrigado. A copa de 2014 será aqui, vai indo bem, obrigado. As mortes que ocorreram devido ao funcionamento da área da Saúde com recursos da CPMF, foi bem, obrigado. O maior acidente de aviação do Brasil, ops, foi mal, muito mal. Tão mal que por mais que busquem algum subterfúgio para distrair a atenção nacional, ainda está presente.
É comum, nesta época de fim de ano, alguns canais lançarem um programa chamado "retrospectiva". Uma miscelânea de curiosidades, descobertas científicas, catástrofes naturais, escândalos de toda sorte, famosos e não famosos, mortes e acidentes, estatísticas, enfim, um prato bem colorido e cheio até às bordas.
Para não ficar "feio" o presidente resolveu falar em cadeia nacional de rádio e televisão, afinal, a perda da CPMF tinha que ser mencionada e julgada pelo chefe da terra brasilis.
O modo moleque como Lula lida com questões sérias, aliado ao estilo palanqueiro e deplorável de auto elogiar-se, parece que chama-se "carisma" para aqueles incautos que pouco ou nada sabem do que ocorre no país e tal qual aquele bicho avestruz, ficam com a cabeça enterrada no buraco, "protegendo-se" de lançar olhares mais amplos e apurados para não ter que reconhecer que "nunca na história nestepaíz" houve tanta miséria ética e moral protagonizada pelo chefe da nação e alguns políticos "especiais".
Vamos para 2008! Vamos comemorar os cem anos da vinda da Família Imperial ao Brasil, cem anos do falecimento de Machado de Assis. Vamos votar para eleger prefeitos e vereadores. Deve ter mais coisas para colocar nesse rol.
Para todos nós que sobrevivemos, vamos prosseguir e também dar uma olhada na economia brasileira. Afinal, corremos o risco de perceber que os impostos que pagamos não garantem a segurança quando voamos.
Parabéns ao autor do blog e à todos que comentam os artigos.
Novo ciclo virá e quem sabe em 2008 o Senado continuará perseverando naquela postura digna de nota e a épica derrota da CPMF.
Saudações

Letícia Losekann Coelho disse...

ótimo o artigo...muito bom mesmo! Bom, eu não sou uma otimista...acredito que este ano o Lula tente dar o golpe da reeleição..
beijos

Anônimo disse...

Ótimo post Sr. Sepúlveda!
Comento apenas um detalhe: 1808-2008, equivalem a um período de duzentos anos. Portanto, bicentenário da vinda da Família Real para o Brasil. Retifico a comentarista Olívia. Muito bem lembrado e comentado. E acrescentto ainda que é quase lugar comum julgar o passado brasileiro de modo pejorativo e acentuar o caráter individual ou algum traço cômico de um rei ou príncipe. Pena! Porque perde-se o foco mais amplo do que significou o único soberano europeu a colocar os pés em terras americanas em mais de quatro séculos, e foi quem transformou um colônia em um país independente. Cordias saudações e Feliz 2008 para todos!