Obama, o pânico e a intervenção do Estado
O Presidente Barack Obama começa a mostrar ao que veio!
A revista Newsweek estampou no título de capa, de um de seus recentes números, uma pergunta instigante: "Somos todos socialistas?"
Na controvérsia em torno dessa questão pode estar uma das chaves da atual crise econômica. A tentativa oportunista de uma guinada ideológica.
Crise econômica, política e psicológica
Recapitulemos. Para os simples mortais, como eu, a crise, em sua origem e em seus desenvolvimentos, não é de uma compreensão linear.
Talvez por esse motivo, todos os dias, se multiplicam as opiniões - tantas vezes divergentes - dos especialistas, nos diversos órgãos de comunicação social.
Se bem que para alguns as origens da crise pareçam, à primeira vista, razoavelmente claras e certos desenvolvimentos compreensíveis, parece igualmente inequívoco que não são apenas fatores econômico-financeiros os que atuam na presente situação. Fatores políticos, com fortes doses de condicionantes psicológicas, estão presentes.
Coincidências
Diversos são os aspectos e coincidências que chamam a atenção:
1 - É fato que a crise econômica foi a catapulta que içou definitivamente a candidatura de Obama a uma posição de vantagem.
Até esse momento - e, sobretudo, após a entrada em cena de Sarah Palin, a candidata a vice de John McCain - Obama enfrentava dificuldades.
A tempestade financeira, explorada por uma mídia quase unanimemente pró-Obama, fez uma fatia do centro deslocar-se em sua posição, ou indecisos escolherem seu candidato.
2 - As explicações simplistas e até malévolas para a crise, atribuindo sua responsabilidade ao governo Bush, favoreceram o clima.
Muitos pareciam não querer lembrar que a origem, em boa medida, estava bem mais atrás, nas próprias iniciativas dos Democratas de, por imposição do Estado, obrigarem as instituições financeiras a expandir o crédito, até mesmo àqueles que não possuíam garantias para os mesmos.
3 - Uma outra coincidência é de realçar. A própria instabilidade em larga escala, gerada pela crise financeira, criou o clima ideal para Obama poder aplicar, como plano salvador, um conjunto de medidas intervencionistas e pró-estatistas, que, de outro modo, sofreriam forte oposição.
4 - Sirvo-me de uma imagem para chamar a atenção de uma última coincidência.
Aqueles que já estiveram em uma chácara ou fazenda, quando a tarde vai findando, mais facilmente entenderão o que vou descrever.
A escuridão já quase tomou conta do firmamento e o silêncio parece cercar-nos amigavelmente, transmitindo uma sensação de repouso e serenidade.
De repente, o coachar de um sapo rompe esse silêncio. E, logo em seguida, um outro e mais outro e logo muitos enchem os espaços com seus sons repetitivos, como que numa insurreição monôtona, beneficiando-se de um certo anonimato que a noite lhes confere.
A cena vem-me à mente para simbolizar o que se passou nas hostes da esquerda, quando da eclosão da crise.
Envergonhados pelo fracasso omnímodo das diversas experiências socialistas, numa exploração desonesta da crise, se puseram a repetir incessantemente e a proclamar o fracasso e o fim do capitalismo, querendo atingir na verdade o regime da livre iniciativa e o princípio da propriedade privada, buscando o regresso do Estado omnipresente.
Expansionismo estatal
Fica assim rapidamente descrito o contexto em que Barack Obama apresentou seu pacote de recuperação da economia e sua proposta de Orçamento.
Segundo o Financial Times, reproduzido pelo jornal Valor (27.fev.2009), "Barack Obama apresentou o modelo mais expansionista de envolvimento governamental na economia americana praticado em mais de uma geração, onde o déficit neste ano aparece quadruplicado".
Tal proposta de Orçamento implica em um tremendo aumento da dívida americana. Para especialistas a previsão de déficites orçamentários no plano fiscal é aterradora e cria um risco sério para a moeda americana. A possibilidade de um colapso para o dólar fez o ouro disparar.
Estratégia do pânico
Em suas intervenções públicas, Barack Obama vem acenando continuamente - já desde a campanha eleitoral - com o espectro da "Grande Depressão" e afirma que sem seu pacote intervencionista a economia irá para o abismo e talvez nunca mais se recupere.
Como muito bem escreveu Bradley R. Schiller, no Wall Street Journal (13.fev.2009) agora "a verdadeira catástrofe é a retórica de Obama".
Nesse sentido gostaria de compartilhar com os que lêem o Radar da Mídia, um artigo altamente esclarecedor de João Luiz Mauad, administrador de empresas, publicado em O Globo (26.fev.2009), sob o título "Estratégia do pânico":
- " O intervencionismo está novamente em voga. Por toda parte, há especialistas defendendo enfaticamente que os governos gastem fortunas, ainda que a maioria dos governos não disponha dessas fortunas. Do leigo ao bispo, do peão ao empresário, quase não há quem duvide de que esta é a fórmula da felicidade.
A palavra de ordem é gastar, ainda que muitas vezes ela venha maquiada pelo eufemismo “dar liquidez”. A quimera do momento é evitar a recessão, custe o que custar.
Num livro lançado há pouco nos EUA, Neither Liberty nor Safity, o economista e historiador Robert Higgs reúne inúmeras evidências históricas que demonstram como a insegurança econômica, a vulnerabilidade a inimigos externos ou internos e as catástrofes ambientais foram usadas através dos tempos para expandir o tamanho do Estado e a intervenção dos governos na esfera privada.
O livro é bastante didático ao explicar, por exemplo, como os governos — malgrado sua indelével vocação para a ineficiência e o desperdício de dinheiro alheio — crescem exponencialmente em momentos de crises (reais ou fabricadas), e por que raramente retornam ao seu tamanho depois que elas cessam.
Segundo Higgs, nossa constituição física e psicológica nos predispõe ao medo, seja ele oriundo de ameaças reais ou potenciais, inclusive aquelas que existem somente em nossa imaginação. Infelizmente, os políticos entendem perfeitamente esta peculiaridade da natureza humana, e a exploram de forma eficiente.
Eles sabem que dependem do pânico para assegurar a submissão da sociedade, o consentimento popular aos ditames oficiais e a cooperação afirmativa com suas aventuras. “Esta crise nos dá oportunidade de fazer coisas que não podíamos fazer antes”, confessou ao The Wall Street Journal o primeiro-secretário de Obama, Rhan Emmanuel.
Como seu assessor, o presidente também sabe que a disseminação do pânico é o caminho mais fácil para impor decisões controversas e, não raro, oportunistas.
Para fazer passar esse verdadeiro assalto ao bolso dos americanos, por exemplo, Mr. Obama vem utilizando a estratégia de superestimar as previsões de desemprego, ciente de que a estabilidade no trabalho é algo caro à maioria dos homens, o que os torna predispostos a pagar o preço que for necessário, ainda que sem qualquer garantia de que a mercadoria adquirida lhes será entregue.
Se acreditarmos em alguns dos mais influentes formadores de opinião, seremos levados a concluir que os EUA passam por depressão pior do que a dos anos 30. É interessante notar que, além dos indefectíveis pedidos de mais verbas, o alarmismo aparece quase sempre acompanhado de estatísticas estapafúrdias, como a recente divulgação de que o número de demitidos, em 2008, teria sido o maior desde a Segunda Guerra.
Ora, não é preciso ser nenhum perito para compreender que há algo muito estranho com tal comparação, afinal a população americana economicamente ativa naquela época era menos da metade da atual. Assim, quando expressos em termos relativos, tanto a taxa de desemprego quanto o número de novas demissões ainda estão distantes até mesmo dos índices da recessão de 1981-82. Em estatística, comparar números brutos, independentemente do universo pesquisado, é um exemplo típico de desonestidade intelectual. Uma outra estratégia, utilizada amiúde para dar credibilidade às ações pretendidas, é apelar para a existência de supostos consensos. A exemplo do que ocorre há anos com o aquecimento global, agora o governo americano informa que “há consenso” entre economistas sobre seu plano para estimular a economia. Errado! O Cato Institute divulgou um abaixo-assinado com mais de 300 assinaturas de proeminentes economistas, entre os quais 3 Prêmios Nobel, que recusam esse consenso. Pior: muitos acham que o voluntarismo estatal só irá piorar as coisas.
Ademais, é importante compreender que não estamos diante de questões meramente econômicas, mas essencialmente morais. Milhões de indivíduos que nada fizeram de errado, bem como seus filhos e netos, serão forçados a pagar a conta dos equívocos de investidores e governantes no mínimo imprudentes, sem qualquer garantia de que os tais planos de salvamento, apoiados muito mais sobre os pilares do messianismo político do que da ciência econômica, realmente funcionarão. Estará morto aquele mundo em que as escolhas tinham consequências? Onde a insensatez era penalizada e a prudência premiada?"
Creio que, aos poucos, a apreensão e até a decepção vai substituindo o clima de torcida eufórica e inconseqüente que cercou a vitória de Obama.
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