quarta-feira, 22 de abril de 2009

Democracia falseada

Democracia falseada
Já experimentou, em um encontro de família, em uma roda de amigos, ou em uma reunião de trabalho, indagar aos interlocutores qual o regime político que vigora no País?

Ouvirá, por certo, que vivemos numa Democracia. E muitos justificarão a resposta por termos no Brasil eleições e nossos governantes serem escolhidos pelo povo.

A resposta parece óbvia, mas é um pouco simplista.

Democracia, eleições e sofismas

Aliás, é sobre esse conceito corrente e simplista de Democracia (um regime em que há eleições) que se constroem alguns grandes equívocos, ardis e sofismas.

Quem não ouviu o Presidente Lula defender o regime de Chávez como democrático, porque lá há muitas eleições? Ainda há pouco fez tal afirmação em importante entrevista a Fareed Zacharia, na conhecida cadeia de televisão norte-americana CNN.

Lula parece "esquecer" (na verdade omite!) que Democracia não se resume a eleições, e que estas podem ser desvirtuadas de muitas maneiras, inclusive não respeitando seus resultados, como está fazendo atualmente o caudilho venezuelano.

Democracia representativa

Em nosso País vigora uma democracia representativa. Ou seja, os eleitores escolhem aqueles que vão representar suas aspirações, suas idéias, suas ideologias políticas.

Essa representatividade não é apenas exigível a quem vence e exerce o poder, mas é também exigível a quem fica incumbido de fazer oposição.

Na Democracia não é concebível que a maioria exerça uma tirania sobre a minoria. É importante que os opositores contrabalancem e controlem o exercício do poder.

Atentados à Democracia

Há modos diversos de fraudar a Democracia, que não se restringem ao roubo de votos, e são até bem mais subtis.

Um deles é de a oposição não dar voz àqueles que discordam do governo.

Ora é o que acontece atualmente no Brasil, em que a oposição muitas vezes se cala, ou faz alguns acenos tímidos de enfrentamento que logo esmorecem, coonesta, na prática, boa parte das iniciativas governamentais e, pior ainda, os próprios atos de corrupção ou desmandos institucionais. Já tratei, aliás, desse assunto.

8 Leia Aliança Governo-Oposição

Mas há ainda outros modos de fraudar o caráter representativo da Democracia.

Muitas vezes, durante as campanhas eleitorais, os candidatos não expressam com clareza suas propostas, idéias e metas político-ideológicas. Ao serem eleitos, representam a quem e o quê? Eleitos dessa forma, estarão exercendo um mandato que não lhes foi concedido.

Falta de verdadeiras opções

Quantas vezes não ouvimos alguém dizer, ou não dissemos nós mesmos, que em determinada eleição, na ausência de alternativas, é preciso escolher o menos ruim.

A autenticidade de nossa Democracia fica gravemente mutilada quando o eleitorado se encontra nessa triste contingência.

Não é possível considerar verdadeiramente democrático o regime em que os eleitores não dispõem de um leque suficiente de alternativas, representativas das diversas correntes de pensamento existentes no público.

Menos ainda, quando é a maioria que não dispõe de candidato autêntico, que assuma seus anseios, idéias e objetivos e esteja disposto a batalhar por eles.

Lula confessa inautenticidade das eleições

Parece que, uma vez mais, na eleição presidencial de 2010, estaremos condenados a tal falta de opções, manchando de inautenticidade mais essa eleição “democrática”.

E quem o afirma, e exulta com isso, é o próprio Presidente Lula!

Convido-os a ler um trecho da longa entrevista que este concedeu ao jornal argentino La Nación (19.abr.2009):

  • " LN - O Sr. disse que gostaria que a sua sucessora fosse sua chefe de Gabinete, Dilma Rousseff. Apesar de subir na aceitação popular, ainda está nas pesquisas abaixo de José Serra, do PSDB. Continua a ter uma fé cega em Dilma?

    Lula - Não tenho fé, mas segurança e trabalho político. E sei que Dilma pode ser a futura presidente do Brasil. Para isso temos um trabalho a fazer. Primeiro, o governo tem que governar. Até 31 de dezembro de 2010 estarei trabalhando como se fosse o primeiro dia de meu governo. Em segundo lugar, é preciso construir a coalizão, quem estará conosco, e para isso temos um ano, um ano e pico. Depois é preciso saber se o PT quer que seja ela a candidata. Depois é preciso perguntar ao povo. Uma vez que se cumpra todo o ritual, ela poderá ser candidata. Não me preocupam as pesquisas. Serra já foi candidato a presidente, a governador de São Paulo. Mas posso dizer uma coisa: será um privilégio para este País se se fizer a eleição entre Dilma e Serra. Se os candidatos forem Dilma, Serra e Ciro Gomes, do PSB, também será um luxo. O mesmo, se está Aécio Neves. E isso porque não vejo ninguém de direita aí. Vejo companheiros de esquerda, de centro-esquerda, progressistas. Isso é um avanço extraordinário para o Brasil. "

Maioria condenada ao silêncio

Vejam bem, para Lula é um “privilégio”, um “luxo”, só haver candidatos de esquerda e ninguém de direita. Portanto, segundo o Presidente, o falseamento fundamental do quadro eleitoral, em que é seqüestrado ao eleitor seu direito de ampla escolha, constitui um “avanço extraordinário” para o País. É grave!

Este falseamento do quadro eleitoral, sem qualquer representante das correntes conservadoras, torna-se ainda mais grave se se leva em conta que estudos realizados nos últimos três anos, a respeito das tendências do público, demonstram invariavelmente que a maioria se considera de centro e de direita e defende valores afins.

Apesar de boa parte de nossa imprensa demonizar as chamadas posições conservadoras, o mais recente destes estudos, publicado há meses pela Folha de S. Paulo, mostrou que, entre os jovens, 37% se declaram de direita, 23% de centro e apenas 28% se dizem de esquerda. Além de a grande maioria deles defender valores como a religião, a família, o trabalho, a propriedade e se oporem ao aborto, ao uso de drogas, etc.

As palavras do Presidente são a confissão, ainda que involuntária, de como há um divórcio entre os “representantes” democraticamente eleitos e seus representados, e de como a atual oposição não é, na verdade, oposição, mas mais uma ala dos “companheiros”.

Torna-se fundamental entender bem o sentido deturpado que a palavra Democracia adquire na boca de Lula e de todos os “companheiros” (governo e oposição). Vivemos num regime que realiza eleições, mas que é falseado na sua essência.

É o caso de dizer: Democracia, democracia, quantas fraudes se cometem em teu nome!

Cadastre seu email aí ao lado
e receba atualizações deste blog 888

5 comentários:

Anônimo disse...

Sr Sepúlveda
Palavras e ações do presidente Lula são de uma ironia e cinismo, além de certa dissimulada ignorância, chocantes.
Acolheu, um terrorista italiano que foi condenado em seu país que é uma democracia
Quando Obama disse: "ele é o cara", meu Deus! E o Mensalão, o fórum de S. Paulo, a amizade de dar para Evo "vantagens" num patrimônio nacional; para Lugo, mais bondades com a nossa Itaipu; para Dilma "relevância"; e ainda as viagens às ditaduras islâmicas do Oriente Médio,e por fim, vamos receber o "admirável" Ahmadinejad.
Não bastasse a simpatia com Raul Castro? Com Chavez e toda a esquerda latina?
Democracia não tem sentido para um presidente como o Sr. Lula. Usa-a para manipular, enganar, corromper, surrupiar instituição, opinião pública, etc
Vejamos o MST, quanto "dinheirinho" já foi para a "causa" dessa turma de fora- da lei?
Tristes trópicos
Saudações
(Si)

Laguardia disse...

Gostei tanto de seu post que vou reproduzi-lo em meu blog. Espero que não se importe. Parabéns pela clareza em que expôs o assunto.

Lucas Janusckiewicz Coletta disse...

Que Dilma é a candidata da revolução nas eleições isto é certo, como também é certo que ela só irá ganhar se a oposição ao PT que se finge de direita fizer o teatrinho que o Alckmin fez para perder do Lula nas ultimas eleições, ou seja, o Lula e a Dilma só ganham se o concorrente quiser propositadamente perder.

Deforti disse...

Anos de conivencia entre o povo e as quadrilhas que roubam o poder de forma legal, ja que a lei é feita por eles, mas absurdamente imoral. Sera que o povo só sabe reclamar aqui na internet???
Vamos nos organizar em torno de uma proposta.
1- Fim do senado, com um modelo monocameral da pra investir o dobro em saúde e educação.
2- Fim do senado e voto distrital e representativo no congresso, pelo fim desses municípios e estados que dependem de verba da União para manter a chupinzada no poder.
3- Fim do senado, fim de municípios e estados currais eleitorias, tipo república dos alagoas, por mim juntava esses estados todos do Nordeste exportadores flagelados e implantava um estado único de Sergipe ao Piaui, mais o voto distrital para regime monocameral.
4- Judiciário eleito por voto indireto feito por conselho de profissionais como professores, médicos, engenheiros e advogados, para acabar com essa relação incestuosa entre o poder e a lei.
5- Estou pronto para as críticas, pelo menos não passei por mais um tolo lamentando as favas passadas.

Anônimo disse...

Desde a primeira vez que vi, gostei do seu blog. Mas com as seguidas visitas e nada de post novo, então deixei de lê-lo. E depois de meses... aí segui um link de um site e fui parar aqui, e vi que vc voltou a postar, o que é muito bom!

Sucesso na luta e até a próxima

Marcos Espinheiro