Insurreição eleitoral
As previsões, as profecias, as certezas dogmáticas enunciadas pelos “especialistas” das mais variadas áreas anunciavam um desfecho inequívoco para a eleição presidencial: a vitória arrasadora de Dilma Rousseff no primeiro turno e o desbaratamento de qualquer tipo de oposição.
Seria o triunfo, a consagração do lulo-petismo, a vitória de um projeto de poder popular contra “tudo o que aí está”, contra as “elites opressoras” que dominaram o Brasil durante 500 anos.
Popularidade fictícia
Lula e sua candidata eram – e continuam a ser – consagrados nas pesquisas. Mas, como já frisei diversas vezes no Radar da Mídia, trata-se de uma ficção, desmentida sempre que é confrontada com a realidade. Neste caso com a realidade das urnas.
Votaram em Dilma 47.651.434 eleitores, de um total de 135.804.433. Ou seja, apenas 35,08% do eleitorado.
Onde estão, pois, os mais de 80% de popularidade de Lula? Ele que de forma escandalosa – e ilegal – transformou a eleição de Dilma Rousseff em seu virtual terceiro mandato, chegando a subir em palanques, sem a presença de sua pupila, pedindo votos para si, ou que nas propagandas no rádio e na televisão afirmou sem pejo: “Quem vota em Dilma, vota em mim”.
“Lula abordou a sua sucessão como uma campanha de reeleição. A Presidência, os Ministérios, as empresas estatais e as centrais sindicais neopelegas foram mobilizadas para assegurar o triunfo da candidata oficial”, escreveu Demétrio Magnoli no jornal O Estado de S. Paulo (Um mito de papel, 28.out.2010).
Não se diga agora que Lula é popular mas não transfere votos, pois todos os “especialistas” afirmavam que Dilma estava sendo carregada nas asas da popularidade de Lula. O bem informado diário espanhol, El Pais, chegou a intitular sua reportagem, poucos dias antes do primeiro turno da eleição: “Rousseff voa para a presidência do Brasil graças ao carisma de Lula”.
Não nos esqueçamos também que boa parte dessa votação da candidata petista foi impulsionada pelos programas sociais como Bolsa Família, já qualificado como o maior programa de compra de votos da história nacional. Os estudos sobre a coincidência das áreas do País beneficiadas pelo programa social do governo Lula e as zonas com maiores índices de votação de Dilma Rousseff, são inequívocos.
Fracasso dos profetas
O malogro dos institutos de pesquisa foi bem analisado por Fernando Mello, em reportagem para a revista Veja (13.out.2010), intitulado O fracasso dos profetas:
“Nos últimos dois meses, todos os institutos que se dedicam a sondar a cabeça do eleitorado apontaram para a mesma direção: a petista Dilma Rousseff seria eleita presidente da República no primeiro turno — e com folga. A certeza alardeada era tal que, até dois dias antes do pleito, a possibilidade de haver um segundo round era tratada como delírio da oposição. Estatísticos metidos a profetas vaticinaram que o tucano José Serra sairia das urnas humilhado com 20 pontos atrás da adversária. (...) Só que, anunciada a contagem final... Ops, que diferença! Nenhum instituto detectou com precisão a vontade dos eleitores. Mesmo o que mais se aproximou do resultado das urnas, o Datafolha, escorregou para além dos limites da “margem de erro”, o campo do equívoco aceitável. O Ibope falhou até mesmo na pesquisa de boca de urna, coisa rara de ver. (...)
“O desempenho dos institutos de opinião neste primeiro turno deixa uma lição. Serve para lembrar que as pesquisas devem ser vistas em sua dimensão devida: são falíveis, quando não manipuláveis. E estão sempre sujeitas àquilo que, na falta de explicação melhor, os institutos agora chamam de imponderável. O imponderável, no caso, é que a cabeça dos brasileiros é melhor do que imaginam os pesquiseiros.”
Insurreição eleitoral
Sim, a cabeça dos brasileiros é bem diferente e melhor do que a imaginam o mundo político – sobretudo, certos setores da esquerda - o mundo publicitário e vastos setores do mundo midiático.
Foi por isso que ampla parcela da opinião pública, à margem do mundo político-partidário, impôs uma reviravolta inédita no quadro eleitoral.
A respeito de tal reviravolta, o Príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança, trineto do Imperador Dom Pedro II, escreveu hoje na Folha de S. Paulo (28.10.2010) o artigo Insurreição eleitoral. Convido-os a ler essa análise original:
- “A reviravolta imposta pelo eleitorado ao mundo político-publicitário, nas eleições presidenciais, é tema que se impõe.
Não me atenho ao palco eleitoral, onde os figurantes desenrolam seus papéis para convencer o público e arrastá-lo a uma escolha. Chamo a atenção para a larga e vigorosa fatia da opinião pública capaz de reescrever o roteiro do pleito eleitoral.
A falta de idéias, de princípios e de debates sobre problemas nacionais, marcou a campanha do 1º turno. Prognosticou-o o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao afirmar que o teatro eleitoral se organizava para esconder o que verdadeiramente estava em discussão.
Coube à revista “Veja” sintetizar graficamente a frustração do público ante tal vácuo, com uma capa em branco, a simbolizar as “grandes propostas para o Brasil feitas na campanha presidencial”.
A falta de autenticidade somou-se à falta de representatividade dos principais candidatos - todos eles de esquerda – deixando o amplo setor conservador do eleitorado sem legítimo porta-voz.
O quadro eleitoral, segundo dogmatizavam inúmeros “especialistas”, caminhava para a vitória arrasadora do lulo-petismo, com uma população indiferente a princípios e valores e embaída pelos benefícios de uma situação sócio-econômica favorável.
O mundo publicitário e político – mais precisamente, preponderantes setores da esquerda – enganou-se com relação ao País. De tanto prestar atenção ao Brasil oficial, acreditou que a Nação se cinge a essa minoria frenética e aparatosa, mas superficial. Ignorou os brasileiros, silenciados nos seus anelos mais autênticos - particularmente nos morais e religiosos - que se moviam e preparavam uma “vingança”.
À margem das estruturas partidárias e políticas, esse Brasil fez irromper como um géiser, no panorama artificialmente inexpressivo, as preocupações que assombram a maioria silenciosa, pacata e conservadora de nossa população.
O tema do aborto despontou com ímpeto chamativo. Mas foi a panóplia de metas radicais do PNDH 3 o que maior apreensão causou em vastos setores da sociedade. As ameaças do PNDH3 – cavilosamente adjetivadas de “boataria” – fizeram vislumbrar o gérmen da perseguição religiosa, ao pretenderem subverter os fundamentos cristãos que ainda pautam a sociedade e tutelar sectariamente os indivíduos.
O mundo político-partidário e as potentes tubas publicitárias tentaram celeremente adaptar-se à realidade a tanto custo abafada. Sinal inequívoco da crescente fraqueza desse Brasil de superfície, que tenta relegar ao anonimato o Brasil autêntico, o qual se quer manter fiel a si mesmo, às suas tradições, ao seu modo de pensar e de viver.
Assistimos a uma verdadeira insurreição eleitoral. Qualquer que seja o resultado do presente pleito, sirva ela de lição para o grave divórcio que se vai estabelecendo entre o Brasil oficial e o Brasil profundo. Outras surpresas sobrevirão.”
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