Messianismo revolucionário de Lula e o império da lei
O País tem sido abalado nos últimos dias, no âmbito político, por episódios desconcertantes e tumultuosos.
Após o protesto pacífico e ordeiro de milhões de brasileiros, no dia 13 de março último, em centenas de cidades de norte a sul do País, contra o PT e seu governo, a presidente Dilma Rousseff decidiu nomear Lula Ministro da Casa Civil, ante a eminente prisão deste pelas autoridades que conduzem a operação Lava Jato.
O gesto, uma afronta aos brasileiros que foram às ruas manifestar-se e um desacato às instituições do Estado de Direito, tinha a óbvia intenção de fazer Lula escapar do império da lei. E, de lambuja, dar um golpe de Estado, entregando o governo ao ex-presidente, num descarado 3º mandato sem eleição.
Se dúvidas houvesse, elas caíram por terra com a revelação ao País das gravações legais feitas durante as investigações a Lula, e tornadas públicas pelo Juiz Sérgio Moro a pedido do Ministério Público Federal.
Fogo cerrado contra a Lava Jato
A seqüência de eventos deixou o Brasil estarrecido. As inúmeras gravações expuseram as entranhas de um estilo pouco ortodoxo de governança, e revelaram o caráter autoritário e desrespeitador de pessoas e de instituições do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Abaladas e acuadas, as hostes do lulo-petismo, fora e dentro do governo, desencadearam com grande estridência um ataque cerrado às autoridades que conduzem as investigações. Com a colaboração de certo jornalismo “a soldo” e com o aval de uma verdadeira tropa de choque de “juspetistas”, para utilizar a expressão de Amauri Saad, Mestre em Direito pela PUC de São Paulo, a Lava Jato passou a ser o alvo.
O mais alarmante foi perceber que o novo Ministro da Justiça deu o tom, ao proferir ameaças muito pouco institucionais à Polícia Federal e ao investir contra o Ministério Público e a Justiça, denegrindo institutos, como a delação premiada, prevista na legislação. Não menos alarmante foi constatar que até um Ministro do STF, em afronta à Lei Orgânica da Magistratura, engrossou o coro desvairado.
Tal investida levou o jornal O Estado de S. Paulo (21.03.2016) a afirmar, em seu editorial, expressivamente intitulado “Não é a Lava-Jato que está fora da lei”, que o PT mostra ser capaz de ir longe em sua perversa retórica: “Diante dos avanços da Operação Lava Jato, o partido não tem se contentado em dizer que o que fez não foi ilegal ou que seu líder e seu séquito não são criminosos. Apregoam abertamente a ideia de que os criminosos estão do outro lado do balcão. Nessa tresloucada visão, os contrários à lei seriam a Polícia Federal, o Ministério Público e o Poder Judiciário – muito especialmente o juiz da 13.ª Vara Federal de Curitiba, Sergio Fernando Moro”.
Movimentos de índole justiceira e revolucionária
Mas, afinal, qual o motivo de tão grande escândalo por Lula ter que prestar contas à Justiça? Por que esses ataques tresloucados partem precisamente daqueles que pregam a igualdade absoluta entre os homens e, portanto, perante a lei? Parece contraditório.
Habitualmente os projetos revolucionários apregoam a insurreição (pacífica ou violenta) contra alguma ordem ou forma de poder legítimos, apresentados como “opressores”.
Deturpando ou exagerando o alcance de certas falhas ou vícios existentes, os movimentos revolucionários denigrem a própria natureza da ordem ou da autoridade legítimas contra as quais investem, vituperando-as como iníquas na sua essência; ao mesmo tempo mistificam o lado impoluto e quase sagrado da índole justiceira e revolucionária de que se revestem.
Muito frequentemente, uma máquina revolucionária assim erige um líder carismático como “encarnação” de seus ideais, deificando-o num misticismo perigoso e fanático. Na Revolução Francesa, por exemplo, Robespierre, conhecido como “O incorruptível”, tornou-se o ditador sanguinário durante a fase do Terror.
Furacão da “ética” em nome dos "pobres"
O bordão “nunca antes neste País” (até risível por alguns aspectos) passou a ser a síntese perfeita da “revolução” petista, encabeçada por Luiz Inácio Lula da Silva, o operário simples vindo das profundezas do Brasil.
Tudo precisava ser varrido, sob o efeito de um furacão da “ética” e em nome dos “pobres”: desde a História, às elites; desde as instituições do Estado e da sociedade ao sistema político; desde as leis e dos costumes à educação; desde a economia às relações diplomáticas. E até a imensa máquina corrupta que se incrustou no coração do Estado, e que sorveu bilhões de reais ao País, nada mais era do que a fonte material deste projeto revolucionário “redentor”, que se deveria estender para fora do próprio Brasil e que aqui se deveria perpetuar no poder.
“Intelectuais”, próximos à esquerda petista, sustentaram até que aceitar a pecha de corrupção para os atos ilegais e criminosos de seus líderes (qualificados por eles de “erros”) seria admitir a lógica da moralidade burguesa.
O “messias” revolucionário intocável
Desconhecendo profundamente a alma brasileira, após treze anos, o projeto petista de poder gerou inconformidade, agastamento e, por fim, a fúria de parte crescente da população. Milhões saíram às ruas, sempre de modo pacífico e ordeiro, a exigir: “Queremos nosso País de volta”.
Restou ao lulo-petismo o apoio de certos intelectuais, artistas, burgueses endinheirados, sindicalistas, militantes de “movimentos sociais”, jornalistas... ah! e de eclesiásticos próximos ao progressismo e ao esquerdismo ditos católicos.
Toda esta gente esperneia de modo virulento ao ver o chefe máximo de sua “revolução” cair nas malhas da Justiça. Afinal o “messias” do projeto revolucionário é, por definição, intocável.
Para melhor compreender esta perspectiva, convido os leitores do Radar da Mídia a conhecer o excelente artigo de Moacir Alencar, Mestre em Ciência política, pela Universidade Federal de São Carlos, publicado na revista Amálgama (11.03.2016). Abordando alguns dos recentes episódios envolvendo o ex-presidente Lula e os “abalos sísmicos” provocados no mundo do lulo-petismo, o artigo se intitula “O messianismo político e a mistificação petista”:
- “Quatorze anos. Este é o tempo que o PT está completando em 2016 no Palácio do Planalto. Em seu quarto mandato consecutivo, o partido atravessa sua fase mais crítica e dramática no poder. O lulopetismo está sob pressão, e o cenário atual deixa claro que o segundo mandato de Dilma marcará uma virada de página na funcionalidade de nossas instituições republicanas.
Amparado por um discurso e uma propaganda eloquente, que construiu uma ideia de que o Brasil nasceu apenas em 2003, com a chegada de Lula ao poder, o PT criou em torno de sua órbita a imagem falaciosa de que apenas seus dirigentes são os legítimos representantes e a encarnação do povo brasileiro.
Ao promover a mistificação e criar um país de ficção nas propagandas político-partidárias, e ao mesmo tempo deslegitimar o processo democrático e a alternância de poder, o PT esqueceu há muito o projeto de Brasil e apenas se preocupou com o projeto de perpetuação sobre o controle da máquina pública, utilizando-se de mecanismos nefastos e hoje elucidados e conhecidos de todos: a corrupção institucionalizada, consagrando o presidencialismo de transação, exemplificados no Mensalão e no Petrolão.
Desde o início da Operação Lava Jato, no início de 2014, considerando dados atualizados até 8 de março de 2016 pelo Ministério Público Federal, já ocorreram mais de 627 manifestações, 118 buscas e apreensões, 108 quebras de sigilo fiscal, 128 quebras de sigilo bancário, 101 quebras de sigilo telefônico, 2 quebras de sigilo telemático, 1 quebra de sigilo de dados, 12 sequestros de bens, 4 sequestros de valores, 42 instaurações de inquéritos, 7 denúncias, 21 denunciados, 94 investigados, 4 prisões preventivas e R$78 milhões repatriados.
A reeleição de Dilma veio acompanhada de uma realidade diferente da ficção petista nas eleições: cortes orçamentários, repasses e recursos da União e Estados postergados, inflação fora do teto da meta, aumento de impostos, retração do crescimento da economia por tempo indeterminado e o aumento do desemprego, sem contar a cúpula do governo petista mergulhada no olho do furacão das investigações por corrupção, caso do ex-presidente Lula e ministros do governo.
As oposições passaram a ser vistas pelos porta-vozes do petismo – que se encontram incrustados nas mais variadas esferas do Estado brasileiro – como algo incômodo, perturbador, capaz de ameaçar o “curso pacífico das transformações sociais”. E as investigações que atingem diretamente o Palácio do Planalto são categoricamente ridicularizadas e desqualificadas pelo PT e pela própria presidente, que abandona o cargo para ir acariciar a cabeça do investigado Lula em São Bernardo do Campo, em um gesto de subserviência ao criador e de profunda irresponsabilidade para com o povo brasileiro.
Em 4 de março, após a condução coercitiva de Lula para depor diante da Polícia Federal, o petismo mostrou que é capaz de tudo para defender seu líder messiânico; e Lula, sabendo de seu messianismo diante da militância, irresponsavelmente conclamou o séquito para a “guerra santa”. Tentar tripudiar e triturar todas as instituições que buscam “dessacralizá-lo” e mostrá-lo como um dos maiores responsáveis por este esquema de corrupção será sua “tônica de batalha”. Para isso vale tudo, até mesmo rasgar a Constituição e buscar foro privilegiado como ministro no Titanic comandado pela pior presidente da história da República.
Conforme destaca o historiador búlgaro Tzvetan Todorov, em Os inimigos íntimos da democracia, embora invoque o ideal de igualdade e liberdade, o messianismo político tem um objetivo final que lhe é próprio (estabelecer o equivalente do Paraíso na Terra), assim como meios específicos para alcançá-lo (Revolução e Terror). Em sua busca por uma salvação temporal, essa doutrina não reserva nenhum lugar a Deus, mas preserva outros traços da antiga religião, tais como a fé cega nos novos dogmas, o fervor nos atos que lhe são úteis, o proselitismo dos fiéis, ou a transformação de partidários caídos em combate em mártires, figuras a adorar como se fossem santos. As tentativas de impor um culto ao Ser supremo e de instituir uma festa para celebrá-lo resultam da mesma tendência.
Hoje, o que é paraíso para o PT, é inferno para a população brasileira. Não precisamos de líderes messiânicos, ainda mais corruptos. Não precisamos de falsos mártires, que se autodenominam jararacas e são tratados como “guerreiros do povo brasileiro” por um séquito doentio e tresloucado. O país não é o PT, e incompetência e irresponsabilidade têm limite.”
5 comentários:
Os comentários acima postados são de um acerto, profundidade e importância que raramente se encontram no bru-ha-ha do noticiário da imprensa. O principal aspecto aqui abordado, do messianismo do líder do PT, é o que há de mais perigoso nessa falsa guerra santa na qual os agitadores se engajam. Frequentemente arrebanhados em comunidades eclesiais de base desta Igreja católica cada vez mais desfigurada e distante daquela que conhecemos antes do Concílio Vaticano II, esse messianismo pode mergulhar o País num banho de sangue.
Delicia de artigo, sr Sepulveda. =D Vou divulgar para todo mundo ler. =)
Brigado por ser meu amigo, carissimo Mestre Sepulveda.
Forte abraco,
Rodrigo Cesar Banhara
aka Apometron
https://about.me/apometron
Agora que o ministro T.Z. mandou o processo da lava jato ir la pro STF, o Lula vai ter o que queria, mesmo não sendo ministro. Vai ter o foro privilegiado,pra fugir do juiz S.Moro e cair nas graças dos ministros corruptos que tem lá no STF. O lula não é presidente nem nada e por que os processos contra ele tem que ir pro STF? Qual o fundamento? Só porque este ministro TZ mandou. INDO OS PROCESSOS CONTRA O LULA PRO STF, VAI ACABAR TUDO EM PIZZA.
Nao tinha lido algo tão puro até agora parabens
Não tinha lido algo tão puro até agora fala por todos aqueles q não tem oportunidade de falar ,parabéns ao autor do texto
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