Junto ao Presépio
Chegou o Natal. A noite entre todas bendita, em que uma melodia celeste ecoou pela Terra, e se multiplica, há mais de dois mil anos: Glória a Deus nas Alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade.
A realidade contemporânea, boa parte dos acontecimentos que aqui costumo comentar, parecem bem longe da suavidade dessa noite.
Assim, é hora de fazer uma pausa nas reflexões habituais deste blog e voltarmos nossos olhos para a Gruta de Belém e ali nos determos.
Votos de Natal
E já que este blog é um Radar da Midia, foi na midia que procurei um artigo para aqui refletir sobre esta data.
Antes de passar à leitura, desejo a todos um santo Natal e um Ano Novo pleno de dons.
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Dom de si próprio
O artigo, intitulado Junto ao Presépio, foi escrito por Plinio Corrêa de Oliveira e publicado no jornal Legionário, nos idos de 1946. Foi há muito tempo, entretanto, parece que foi hoje. Suas verdades são perenes, assim como perene é o mistério benfazejo desta data.
O autor, católico ardoroso e atuante, descendente de estirpes tradicionais, desde cedo se interessou pela análise filosófica e religiosa da crise contemporânea.
Homem de Fé, de pensamento, de luta e de ação, Plinio Corrêa de Oliveira, além de mestre da doutrina contra-revolucionária, ocupou lugar de inegável destaque no panorama internacional como líder e orientador, numa época de realizações e de crises, de apreensões e de catástrofes.
- "Aproxima-se mais uma vez, Senhor, a festa de Vosso Santo Natal. Mais uma vez a Cristandade se apresta a Vos venerar na manjedoura de Belém, sob a cintilação da estrela ou sob a luz ainda mais clara e fulgente dos olhos maternais e doces de Maria. A vosso lado está São José, tão absorto em Vos contemplar, que parece nem sequer perceber os animais que Vos rodeiam e os coros de Anjos que rasgaram as nuvens e cantam, bem visíveis, no mais alto dos Céus. Daqui a pouco se ouvirá o tropel dos Magos que chegam, trazendo presentes de ouro, incenso e mirra no dorso de extensas caravanas guardadas por uma famulagem sem conta.
No decurso dos séculos, outros virão venerar vosso presépio: da Índia, da Núbia, da Macedônia, de Roma, de Cartago, da Espanha; gauleses, francos, germanos, anglos, saxões, normandos. Aí estão os peregrinos e os cruzados, que vieram do Ocidente para beijar o solo da gruta em que nascestes. Vosso presépio encontra-se agora em toda a face da Terra. Nas grandes catedrais góticas ou românicas, nas mesquitas conquistadas ao mouro e consagradas ao culto verdadeiro, multidões imensas se acumulam em torno de Vós, e Vos trazem presentes: ouro, prata, incenso, e sobretudo a piedade e a sinceridade de seus corações.
Abre-se o ciclo da expansão ocidental. Os benefícios de vossa Redenção jorram abundantes sobre terras novas. Incas, astecas, tupis, guaranis, negros de Angola, do Cabo ou da Mina, hindus bronzeados, chins esguios e pensativos, ágeis e pequenos nipões, todos estão em torno de vosso presépio e Vos adoram. A estrela brilha agora sobre o mundo inteiro. A promessa angélica já se fez ouvir a todos os povos, e sobre toda a Terra os corações de boa vontade encontraram o tesouro inapreciável de vossa paz. Superando todos os obstáculos, a palavra evangélica se fez ouvir por fim aos povos do mundo inteiro. No meio da desolação contemporânea, esta grande afluência de homens, raças e nações em torno de Vós é, Senhor, a única consolação, a esperança que resta.
E no meio de tantos, eis-nos aqui também. Estamos de joelhos e Vos olhamos. Vede-nos, Senhor, e considerai-nos com compaixão. Aqui estamos, e Vos queremos falar.
Nós? Quem somos nós? Os que não dobram os dois joelhos, e nem sequer um joelho só, diante de Baal. Os que temos a vossa Lei escrita no bronze de nossa alma, e não permitimos que as doutrinas deste século gravem seus erros sobre este bronze, que sagrado vossa Redenção tornou. Os que amamos como o mais precioso dos tesouros a pureza imaculada da ortodoxia, e que recusamos qualquer pacto com a heresia, suas obras e infiltrações. Os que temos misericórdia para com o pecador arrependido, e que para nós mesmos, tantas vezes indignos e infiéis, imploramos vossa misericórdia.
Mas que não poupamos a impiedade insolente e orgulhosa de si mesma, o vício que se estadeia com ufania e escarnece a virtude. Os que temos pena de todos os homens, mas particularmente dos bem-aventurados que sofrem perseguição por amor à vossa Igreja, que são oprimidos em toda a Terra por sua fome e sede de virtude, que são abandonados, escarnecidos, traídos e vilipendiados porque se conservam fiéis à vossa Lei.
Aqueles que sofrem, sem que a literatura contemporânea se lembre de exaltar a beleza de seus sofrimentos: a mãe cristã que reza hoje sozinha diante de seu presépio, no lar abandonado pelos filhos que profanam em orgias o dia de vosso Natal; o esposo austero e forte, que pela fidelidade a vosso Espírito se tornou incompreendido e antipático aos seus; a esposa fiel, que suporta as agruras da solidão da alma e do coração, enquanto a leviandade dos costumes arrastou ao adultério aquele que devera ser para ela a coluna do lar, a metade de sua alma, "um outro eu mesmo"; o filho ou a filha piedosa, que durante o Natal, enquanto os lares cristãos estão em festa, sente mais do que nunca o gelo com que o egoísmo, a sede dos prazeres, o mundanismo, paralisou e matou em seu próprio lar a vida de família.
O aluno abandonado e vilipendiado pelos seus colegas, porque permanece fiel a Vós. O mestre detestado por seus discípulos, porque não pactua com seus erros. O Pároco, o Bispo, que sente erguer-se em torno de si a muralha sombria da incompreensão ou da indiferença, porque se recusa a consentir na deterioração do depósito de doutrina que lhe foi confiado. O homem honesto que ficou reduzido à penúria porque não roubou.
Estes são, Senhor, os que no momento presente, dispersos, isolados, ignorando-se uns aos outros, entretanto agora se acercam de Vós, para oferecer o seu dom e apresentar a sua prece.
Dom tão esplêndido, na verdade, que se eles Vos pudessem dar o Sol e todas as estrelas, o mar e todas as suas riquezas, a Terra e todo o seu esplendor, não Vos dariam dom igual. É o dom de si, íntegro e feito com fidelidade."
2 comentários:
Sr. J. Sepúlveda
Mensagem das mais belas de todos os tempos. Mensagem que abraça a humanidade. Exala amor e bondade, conhecimento e humildade cristã, brio e valor como o Cristo mostrou quando expulsou os vendilhões do templo. O que seria de nós, pobre mortais, à mercê de vendavais impiedosos que muitas vezes assolam-nos sem a presença do manso cordeiro que veio pisar o chão, compartilhar as agruras e alegrias da nossa humanidade.
Sim, o escritor católico partiu e adentrou às portas da eternidade. Deixou-nos seu legado de intenso fervor e fé. Trabalho e serviço à exemplo de Santa Maria quando foi visitar a prima Santa Isabel que ao vê-la saudou-a com alegria e o menino João Batista moveu-se em seu ventre. Aquele que iria preparar o caminho da Nosso Senhor.
Sim, o presépio que o humilde e "louco" São Fancisco de Assis arrumou na noite de Natal e muitos viram o próprio Jesus Cristo em seus braços.
O verbo fez-se carne e habitou entre nós.
Que a reflexão nunca abandone todos que AMAM e dão suas vidas por um BEM MAIOR.
Parabéns pelo artigo transcrito do saudoso e inesquecível Dr. Plínio Corrêa de Oliveira e à todos um Feliz e Santo Natal.
Oi cheguei atrasada....mas quero te desejar ainda em tempo um ótimo Natal e tudo de bom que podes ganhar!!!
beijos meus
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