Lula, o "venezuelano"
O aumento do Bolsa Família e a inclusão de novos beneficiados no programa está entre os golpes com que o governo brindou o País no final do ano (leia Ano Novo, Governo Velho).
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Marco Aurélio Mello, criticou abertamente a medida provisória, por infringir a proibição legal de distribuição de benefícios em ano eleitoral.
"A medida é flagrantemente inconstitucional", afirmou o Ministro, uma vez que potencialmente condiciona o resultado das eleições. Motivo pelo qual a MP de Lula poderia ser questionada junto ao Supremo Tribunal Federal.
Curiosamente, a oposição até agora não manifestou intenção de recorrer à Justiça para derrubar a MP. Realmente, parafraseando Lula, "nunca antes neste País" houve uma oposição tão colaboracionista.
Bem, feito este parêntese, prossigamos.
Neopopulismo manipulador
O programa do Bolsa Família não é apenas eleitoreiro. Ele é mais do que isso, é um esquema de poder baseado na pobreza. O que o Bolsa Família cria é uma dependência passiva do Estado, além de afastar muita gente do emprego com carteira registrada.
Afinal, as benesses do programa muitas vezes compensam o abandono do emprego, ou não incentivam a quem as recebe a procurar uma ocupação.
Por esse motivo, muitos têm afirmado que o programa assistencialista não apresenta uma porta de saída.
Na aparência Lula combate a pobreza, e em certa medida o faz. Mas, por outro lado, Lula mantém a pobreza como esquema para se manter no poder.
Lula é o Chávez possível
Em um contundente artigo, no jornal Folha de S. Paulo (8.1.2008), o analista político Augusto de Franco defende a tese de que quem garante os votos de Lula é a pobreza. O mecanismo assistencialista, inerente ao "chavismo", transforma os pobres em beneficiários passivos.
Mostra ainda Augusto de Franco como, em muitas das ocasiões em que Lula elogiou ou defendeu a Chávez, mencionou o processo político em curso em diversos países da América Latina, frisando estar o da Venezuela em estágio mais avançado. Para o Presidente, na Venezuela há "excesso de democracia".
Ainda segundo o articulista, Lula é um "venezuelano" em potencial, que ainda não se pode comportar como Chávez:
- "Se nosso IDH fosse mais próximo de 0,9 (em vez de 0,8), Lula jamais governaria o Brasil. Quem garante seus votos e liderança é a pobreza. É por isso que Lula não ganha eleição para prefeito de São Bernardo. É por isso que não ganha para governador de São Paulo nem de qualquer Estado do Sul ....
São os bolsões de pobreza que garantem a eleição de populistas. Lula quer acabar com a pobreza? Não, o que quer é mantê-la, transformando as populações pobres em beneficiárias passivas e permanentes dos programas assistenciais. Ele gosta, sim, do povo, mas como massa informe de pré-cidadãos Estado-dependentes. ....
Isso não pode ser por acaso, pode? Só acontece porque Lula é um "venezuelano". ....
A noção de democracia de Lula casa perfeitamente com o regime político venezuelano. Lá, não vigora mais essa besteira de rotatividade (ou alternância) democrática. Autorizado, como Chávez, por uma "lei habilitante" (muito melhor do que medida provisória), Lula poderia criar, numa penada, não uma, mas meia dúzia de TVs governamentais. Poderia tirar a Globo do ar e empastelar a revista "Veja". E, sobretudo, poderia continuar no poder indefinidamente, convocando plebiscitos e referendos para dizer que não está fazendo nada mais do que obedecer à vontade da maioria.
Lula, o "venezuelano", acha que democracia é o regime da maioria (e não o das múltiplas minorias). ....
Seria preciso dizer mais? Muita atenção, porém: Lula é um "venezuelano" que quer, mas não pode se comportar como Chávez. Se tentasse "chavecar" por aqui, o problema estaria resolvido. Nossa sociedade, bem mais complexa, rejeitaria de pronto o tiranete. Lula é o Chávez possível nas condições do Brasil.
Dizendo de outro modo, o Brasil não é uma ditadura -nem mesmo uma protoditadura (como a Venezuela)-, mas uma democracia formal parasitada por um regime neopopulista manipulador, em que um grupo privado que ascendeu ao poder pelo voto, com base na alta popularidade de seu líder, tenta permanecer no poder sem violar abertamente a legalidade democrática, mas pervertendo a política e degenerando as instituições para manipular a opinião pública e as leis a seu favor.
Não ter entendido a natureza desse governo e o caráter do seu líder foi a desgraça das nossas oposições. Até Fernando Henrique, o mais lúcido dos oposicionistas partidários, alimentou a estranha crença de que "o conteúdo simbólico da sua liderança (de Lula) é um patrimônio do país que não deve ser destruído".
Pois é. Não destruíram mesmo. Preservaram, blindando Lula, infelizmente, contra a democracia."
2 comentários:
Muito bem definido: "O programa do Bolsa Família não é apenas eleitoreiro. Ele é mais do que isso, é um esquema de poder baseado na pobreza. O que o Bolsa Família cria é uma dependência passiva do Estado, além de afastar muita gente do emprego com carteira registrada."
As "afinidades" entre Lula e Chavez estão bem esclarecidas pelos fatos já acontecidos e pelas próprias declarações do Presidente Lula.
As medidas anunciadas no PRIMEIRO dia útil do ano, além de ampliar gastos, revela uma faceta que mistura ingredientes que vão da esperteza ao desprezo das leis, além da maneira debochada como o governo trata a oposição.
Os cortes no orçamento limitam-se a 3,5%, ou seja de 20 bilhôes. Como ocorrerá? Os detalhes ainda não foram divulgados. A austeridade não interessa a quem quer manter-se no poder extrapolando limites.
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