A pata, a galinha e os ovos
Na minha rotina de acompanhar a mídia, deparei-me há pouco com um artigo no jornal O Estado de S. Paulo (15.mar.2009) que fazia uma espirituosa comparação entre os estilos da pata e da galinha porem ovos.
A galinha põe um ovo pequeno, cacareja e todo o mundo presta atenção; a pata, por seu turno, põe um ovo maior mas, como não chama a atenção, ninguém ou quase ninguém nota.
Dizem até os estudiosos que o ovo da pata é mais nutriente; mas é o da galinha que mais desperta a atenção e o desejo, porque a galinha sempre alardeia seu feito.
Talento mercadológico do PT
O autor do artigo, Gaudêncio Torquato, aplicava tal comparação à maneira de se fazer política e afirmava que o PT “desenvolveu um extraordinário talento mercadológico”.
É fora de dúvida que o lulo-petismo tornou-se especialista em ações de propaganda, pelas quais alardeia os ovos que põe... e até os que não põe, como se os tivesse posto.
Desgaste de popularidade
Ao contrário do que se repete sem cessar a respeito da estratosférica popularidade de Lula (84%!?) - num exercício de subserviência quase cabalístico - quem se detém sobre os fatos, percebe que o Presidente sofre um desgaste crescente, e que se acentua nas camadas mais influentes da população, formadoras de opinião.
8 Leia 84% de popularidade: fantasia carnavalesca
Desgaste este agravado recentemente pela cruel realidade dos efeitos no Brasil da crise econômica mundial, que até agora Lula, com ampla colaboração, tinha conseguido mascarar.
Por isso os marqueteiros (os cacarejadores) do Presidente precisam envolvê-lo em êxitos deslumbrantes no Exterior, com a conivência de certa imprensa rendida ao governismo. São estes “êxitos” próprios a impressionar justamente estas camadas formadoras de opinião.
Lembram-se quando a propaganda eleitoral do PT apresentou imagens de Lula discursando na ONU e sendo aplaudido de pé pelo plenário? Tudo não passou de uma vulgar montagem: o discurso era de Lula, as palmas eram para o Secretário Geral da ONU.
Assim se anunciam os ovos, como disse acima, reais ou imaginários.
Carona no rojão de Obama
E foi o que se deu na recente visita de Lula a Obama. Como alguém disse de modo jocoso, Lula precisava pegar carona no rojão de Obama. E lá foi ele para Washington.
Quem assistisse aos noticiários ou lesse alguns titulares de jornais teria a impressão de que uma nova e inusitada era de relacionamento se inaugurou.
Lula, para reforçar a idéia, ainda anunciou que seriam dados passos “extremamente importantes” e que Obama decidira criar um grupo de trabalho com o Brasil para as reuniões do G-20.
Sem nunca ser afirmado, ficou a impressão de que Obama, um tanto perdido na crise econômica mundial, aguardava alguém como Lula para se aliar e lhe dar rumo na atuação.
É verdade que algumas fotos apresentavam um Obama que não conseguia esconder o sorriso um tanto sardônico, enquanto observava Lula, bastante corado, de olhos intumescidos e rindo de modo alvar.
Declarações genéricas e vagas
Entretanto, quando a atenção se debruça sobre o noticiário mais objetivo dos resultados, nota-se a forte dose de bluff.
As declarações, tanto de Obama quanto de Lula foram formulações de desejos óbvios, genéricos e vagos.
Barack Obama considerou remota a retomada da Rodada de Doha, contrariando a expectativa de Lula que anunciara o momento como “o mais oportuno para a gente (!) discutir a rodada”.
Além disso, o presidente americano deixou claro que os EUA não pensam em abrir tão cedo o mercado americano para o etanol brasileiro, outra das reivindicações de Lula (cfr. Valor, 16.mar.2009).
Clóvis Rossi, na Folha de S. Paulo (16.mar.2009), relembrou que Lula já anunciara, no governo de George W. Bush, uma “parceria estratégica” e se perguntava se há patamar diplomático mais elevado do que esse?
“É inescapável – escreve ele – uma sensação de parte 2 de filme velho nos anúncios feitos após o encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama”.
Expectativa irrealista
Mas, perguntará alguém, se não haverá um pouco de facciosismo deste blog menosprezar o destaque dado ao País com a criação do grupo de trabalho EUA-Brasil, com vistas ao G-20?
Eu me pergunto, mas qual grupo de trabalho? Grupo de trabalho só o da fantasia lulista, o ovo não posto dos cacarejadores.
Bastante esclarecedor, neste sentido, é o texto do editorial do jornal O Estado de S. Paulo (17.mar.2009), que aborda a “expectativa irrealista” do primeiro encontro Obama e Lula:
- “ E tanto se esperava que, a partir do noticiário a respeito, é possível formar-se a impressão de que uma nova perspectiva acabou de ser aberta na história das relações Brasil-Estados Unidos.
Indício disso seria a decisão atribuída aos dois governos de ir para a reunião do G-20, no próximo dia 2, em Londres, com uma estratégia comum, a ser definida nestes dias. Washington e Brasília, de acordo com essa avaliação, levariam aos demais membros do clube das nações responsáveis por 85% da economia mundial uma mesma proposta de ações estruturais para o resgate e a transformação do sistema financeiro em colapso. Não se trata de nada disso. Embora o presidente Lula tenha dito à imprensa que o seu colega americano sugeriu a criação de um "grupo de trabalho" para a formulação de uma "proposta conjunta", Obama falou apenas em reuniões de representantes dos dois lados para "coordenar nossas atividades para fortalecer o crescimento econômico global". Depois, o assessor de Assuntos Internacionais do Planalto, Marco Aurélio Garcia, comunicou que o "grupo" será formado por dois funcionários, um designado pelo secretário do Tesouro, Timothy Geithner, o outro escolhido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Garcia - o certo seria o chanceler Celso Amorim, se o trabalho tivesse a magnitude de que foi revestido - tratou ele mesmo de moderar o alcance da iniciativa. “
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2 comentários:
Cristóvão Buarque(senador, ex-ministro, ex governador),com ironia disse: "tudo o que é bom, foi o Lula quem fez, e tudo o que é ruim, a culpa é dos outros".(Si)
Muito obrigada pelo seu comentário em meu blog.
Um abraço
Renata
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