quinta-feira, 25 de junho de 2009

Acobertamento de ditaduras

Acobertamento de ditaduras
Já se tornou recorrente a observação – partida de diplomatas, de especialistas em relações internacionais, de analistas políticos, etc. – de que a diplomacia brasileira, no governo Lula, se tornou refém de interesses ideológicos e deixou de ter como fim primordial a defesa dos interesses nacionais. O que, inclusive, tem acarretado ao Brasil vergonhosas derrotas no campo internacional.

Os fatos estão aí e não é o momento de relembrá-los. Cabe apenas rememorar que já ao iniciar-se o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os responsáveis de sua política externa apontaram que, ideologicamente, se encontraria nela a “chave” interpretativa do governo petista. A realidade, infelizmente, comprovou a precisão de tal anúncio.

No âmbito interno, devido a condicionantes políticas e diferentes tipos de resistência da sociedade, Lula teve a imperiosa necessidade de adaptar e abrandar a agenda que sempre foi a do PT. O caso mais característico se deu na política econômica.

Tem sido precisamente em diversos aspectos da política externa, marcados pelo mais impúdico radicalismo, que tem transparecido o verdadeiro caráter ideológico do governo.

Lula recebido na ONU com protestos

Um dos traços mais vergonhosos da diplomacia lulo-petista é a contínua conivência ou cumplicidade com governos ditatoriais. Posição sempre justificada por subterfúgios como “multilateralismo”, “diálogo”, “convívio com as diferenças” e outras pérolas do que tenho qualificado neste blog de cinismo político-ideológico.

Lula esteve há dias em Genebra para discursar, pela primeira vez, no Conselho de Direitos Humanos da ONU e aí tentar explicar a inexplicável política de acobertamento de ditadores.

O presidente foi recebido com duros protestos de ativistas dos Direitos Humanos. ONGs do mundo inteiro – como as insuspeitas Anistia Internacional e Human Rights Watch – acusam a atual diplomacia brasileira de abandonar as vítimas de violações de Direitos Humanos e de apoiar regimes ditatoriais.

As acusações vão mais fundo. Tais organizações afirmam ainda que o Brasil tenta com sua política inviabilizar a eficácia do fórum da ONU, bloqueando investigações internacionais e evitando condenações de regimes como o norte coreano, que mantém execuções sumárias e campos de concentração.

888 Leia também Brasil poupa ditadura norte-coreana

“O Brasil está politizando o fórum e negligenciando as vítimas de violações de direitos humanos”, disse o diretor jurídico da Conectas, Oscar Vilhena (cfr. O Estado de S. Paulo, 15.jun.2009)

Pelo menos 35 ONGs endereçaram cartas ao conselho da ONU e ao governo brasileiro, pedindo uma mudança de rumos em tal política, e a própria ONU criticou o comportamento da diplomacia brasileira.

Ladaínha de justificativas

A diplomacia brasileira tenta justificar-se, afirmando que é sempre necessário dar uma chance aos regimes ditatoriais.

Chance? Há décadas que a Coréia do Norte e Cuba violam brutalmente os chamados Direitos Humanos. No que consistiria a “chance”? Em poderem prosseguir suas violações?

Mas o Itamaraty, pela boca do Chanceler Celso Amorim, acrescenta que quer impedir que o Conselho se torne uma espécie de tribunal para condenar nações mais frágeis.

As ditaduras se tornaram, pois, na visão da diplomacia “companheira”, “nações frágeis” que têm de ser protegidas. Deu para entender? O Brasil não protege as vítimas das ditaduras, mas protege as ditaduras, “nações frágeis”.

Mas a ladainha de justificativas não termina por aqui. O Ministro Paulo Vanucchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República afirmou à imprensa que o Brasil defende a negociação, o diálogo e a “necessidade de conviver com as diferenças de posições”.

Ou seja, acobertar tiranias traduz-se no manual político-ideológico do lulo petismo por “conviver com as diferenças de posições”.

Por fim, o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, declarou a O Estado de S. Paulo (15.jun.2009): “Há restrições ao fato de o Brasil não ter assumido uma posição de ficar distribuindo certificados de bom comportamento ou de mau comportamento pelo mundo afora”.

É claro que este cândido princípio de isenção só tem validade quando se trata de defender grupos terroristas ou ditadores ideologicamente sintonizados com os princípios do lulo-petismo, ou, pelo menos, politicamente alinhados com seus escusos interesses.

Quando se trata de combater o governo de Álvaro Uribe pelos golpes assestados às FARC, ou o governo de Israel quando se defende dos ataques desferidos pelos grupos terroristas do Hamas ou do Hezbollah, toda esta postura de “abstenção”, de “diálogo”, de “convívio com as diferenças”, desparece num piscar de olhos, e é o próprio Sr. Marco Aurélio Garcia quem se incumbe de distribuir seus certificados internacionais de mau comportamento.

De acordo com a Folha de S. Paulo (16.jun.2009), em seu discurso no conselho da ONU, Lula tentou defender a criticada atuação do Brasil: “Este conselho deve buscar no diálogo, e não na imposição, o caminho para fazer avançar a causa dos direitos humanos”.

Após o discurso do Presidente, os grupos civis voltaram a criticar o governo e a afirmar que consideram a visão brasileira moralmente duvidosa. “O apoio do Brasil a países que violam os direitos humanos tem prejudicado a eficácia do conselho”, afirmou a diretora da ONG Human Rights Watch em Genebra.

Começa a desfazer-se o equívoco

Durante muito tempo se repetiram internacionalmente certos chavões (mais parecem mantras!) a respeito do governo Lula e de sua orientação político-ideológica. Tais chavões insistiam, contra a evidência dos fatos, em que o presidente mantinha uma linha de moderação e que seu radicalismo ideológico tinha desaparecido.

Talvez os mais recentes acontecimentos, como o padrão de comportamento no Conselho de Direitos Humanos da ONU, a aproximação ao regime da Coréia do Norte, o convite dirigido ao Presidente do Irã, Ahmadinejad, para visitar o Brasil, o refúgio ao terrorista Battisti, vão ajudando a desfazer um equívoco fundamental, alimentado por certa displicência otimista, ou mesmo por má-fé.

“A política externa de Lula cheira mal”

Surgem pelo mundo vozes que começam a alertar para a vergonhosa e perigosa política externa do governo Lula.

É o caso do importante analista de assuntos latino-americanos, Andrés Oppenheimer, que publicou no Miami Herald (21.jun.2009) o artigo intitulado: O Brasil merece críticas por sua horrível política externa.

  • O Brasil, o maior país da América Latina, recebeu nestes anos elogios bem merecidos por suas políticas econômicas responsáveis. Mas está sob fogo, de modo crescente, por seu vergonhoso apoio a ditaduras ao redor do mundo.

    É difícil existir um ditador – ou um governo repressor – de que o Brasil não goste, afirmam os grupos de defesa dos direitos humanos.

    Na semana passada, quando o Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva se dirigiu ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, foi saudado com um coro de reclamações sobre sua política externa pela Anistia Internacional, pela Human Rights Watch e outros dos principais grupos de defesa dos direitos humanos.

    “O apoio do Brasil a governos autoritários está minando o desempenho do Conselho de Direitos Humanos,” declarou a 15 de junho Julie de Rivero, diretora de advocacia do Human Rights Watch.

    O presidente Lula está levando sua política de não se envolver em contendas com outros países muito longe, dizem os críticos.

    No ano passado, depois que o Presidente venezuelano Hugo Chávez fechou a maior estação de televisão independente de seu país, a RCTV, Lula declarou à revista alemã der Spiegel que “Chávez é sem dúvida o melhor presidente da Venezuela nos últimos 100 anos.”

    De modo semelhante, após se encontrar com o semi-aposentado ditador Fidel Castro durante uma visita a Cuba em janeiro de 2008, Lula afirmou esperar que Castro logo retornasse para assumir seu “papel histórico,” e louvou sua “incrível lucidez”.

    Mais recentemente, os votos do Brasil no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas têm se alinhado mais freqüentemente com países totalitários do que com as democracias de centro-esquerda da América Latina, como Argentina, Uruguai e o Chile. Alguns exemplos recentes:

    - Em maio, o Brasil se absteve em uma votação de resolução patrocinada por Cuba que visava fazer com que o Conselho parasse de monitorar as violações de direitos humanos no Sri Lanka, onde o mais alto comissário de direitos humanos das Nações Unidas, denunciou a generalização de crimes de guerra. Em comparação, Argentina, Chile, México e a Comunidade Européia votaram pela manutenção do inquérito.

    - Em março, o Brasil se absteve em uma votação similar sobre as Nações Unidas continuarem ou não a monitorar os direitos humanos na Coréia do Norte, onde os supervisores da ONU estavam examinando relatórios sobre execuções e campos de concentração. Em comparação, países europeus, Argentina, Chile e Uruguai votaram a favor do prosseguimento da missão.

    - Também em março, o Brasil se absteve em uma votação proposta pela União Européia para barrar uma proposta africana destinada a debilitar a obtenção de provas pelas Nações Unidas de abusos cometidos na República do Congo. Em comparação, Argentina, Chile, Uruguai e até a esquerdista linha-dura Nicarágua votaram a favor de continuar as sindicâncias.

    - Em fevereiro, durante a revisão da situação de direitos humanos em Cuba, promovida pelo conselho, o Brasil afirmou “dar as boas-vindas”' à “posição construtiva” de Cuba no sistema dos direitos humanos das Nações Unidas e não mencionou os prisioneiros políticos do país, ou a ausência de liberdade de imprensa e de outros direitos fundamentais.

    “O Brasil considera os direitos humanos como um obstáculo para as suas metas estratégicas”, disse-me em uma entrevista telefônica José Miguel Vivanco, Diretor para as Américas do Human Rights Watch,. “O Brasil acredita que seu apoio ao Terceiro Mundo, e às políticas anti-colonialistas deve ter precedência em relação às considerações sobre direitos humanos.”

    Vivanco acrescentou que, na América Latina, “o México é um país modelo quando se considera sua política externa em matéria de direitos humanos, seguido pelo Chile, Argentina e o Uruguai. O Brasil está no outro lado do espectro.”

    Ao ser questionado sobre as crescentes críticas à política externa do Brasil, Marco Aurélio Garcia, conselheiro presidencial de Lula afirmou ao diário O Estado de S. Paulo em 14 de junho: “O Brasil não tem que estar dando certificados de boa conduta ou má conduta pelo mundo”. E acrescentou: “Nós pensamos que é muito mais importante empreender ações positivas que podem mover um país a melhorar sua situação interna do que ações de uma natureza restritiva”.

    Minha opinião: O Brasil – e seu presidente – merece bastante crédito por se ter tornado um modelo de estabilidade econômica, redução de pobreza e de liberdades políticas numa região onde muitos outros países estão retrocedendo em todas essas três frentes.

    Mas a sua política externa cheira mal. O Brasil devia ser fiel a seus compromissos assumidos em tratados internacionais para defender universalmente os direitos humanos e os princípios democráticos, e parar de aplaudir ditadores. Se Lula continuar a fazer vista grossa para abusos de direitos humanos ao redor do mundo, estará abrindo um precedente para que futuros governos suprimam direitos humanos em seu próprio país.

    P.S.: No final da semana passada, talvez como resultado das críticas dos grupos de direitos humanos, no Conselho das Nações Unidas, o Brasil deu um raro voto, no caso do Sudão, junto com países pró direitos humanos. Esperemos que seja o início de uma mudança do Brasil em sua horrível política externa.

Cadastre seu email aí ao lado
e receba atualizações deste blog 888

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A estranha ética do Presidente

A estranha ética do Presidente
O
País tem sido assombrado, há meses, pela revelação de irregularidades e ilegalidades no Congresso Nacional. Nas últimas semanas, tais revelações se concentraram mais em práticas do Senado.

De alguma forma, o clímax foi atingido esta semana com o discurso de José Sarney, durante o qual, em tom grandiloqüente, afirmou que a “crise é do Senado, não é minha”. O que, de si, não deixa de ter algo de verdadeiro.

Os abusos e desmandos que têm vindo à tona, levaram a Folha de S. Paulo (18.jun.2009) a assinalar em seu Editorial que “a sociedade brasileira se vê desarmada, assim, diante de práticas de comportamento que muitos de seus representantes vinham encarando como perfeitamente normais até agora”.

Lula repudia o "denuncismo"

Mas faltava nesse quadro traumático e desabonador do mundo político a pitada do presidente Lula. Apesar de se encontrar no longínquo Cazaquistão, Lula decidiu colocar em dúvida as revelações de irregularidades no Senado e repudiar o que qualificou de “denuncismo”.

“Eu sempre fico preocupado quando começa no Brasil esse processo de denúncias, porque ele não tem fim”, afirmou o presidente.

O “sempre” do presidente, entenda-se, é relativo, pois as preocupações de Lula com o chamado “denuncismo”, são de ocasião. Elas se manifestam quando as denúncias o atingem a ele, a seu círculo próximo ou a seus aliados. Mas quem o viu preocupado, quando estava na oposição, com as raivosas campanhas denuncistas promovidas pelo PT? Ou quem viu o Presidente manifestar preocupação com a campanha feroz de denúncias que o petismo leva a cabo, no momento, contra a governadora do Rio Grande do Sul?

Em suas declarações à imprensa Lula acrescentou: “Você vai desmoralizando todo mundo, cansando todo mundo”. E previu: “Depois não acontece nada”.

O já mencionado Editorial do jornal Folha de S. Paulo comenta a respeito: “Para ilustrar o processo, o presidente poderia ter mencionado o escândalo do mensalão, protagonizado por seu então estado-maior”.

Lula decidiu ir adiante: “Sarney tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum”, afirmou. O que será a "história suficiente" de José Sarney? Será o apoio quase incondicional a Lula? E perante a lei há, na ética lulista, as pessoas comuns e as incomuns?

Lula precisa de Sarney para eleger Dilma

As declarações enfáticas do presidente suscitam uma pergunta: o que motivou Lula, lá bem longe, no Cazaquistão, a fazer uma defesa tão enfática do Senador José Sarney?

Tudo indica que Lula precisa impedir um debilitamento do grupo político peemedebista de José Sarney e Renan Calheiros (outro envolvido em escândalos que o levaram, há menos de dois anos, a renunciar à Presidência do Senado). Antes de mais, porque tal grupo sustenta o governo no Senado e o presidente necessita estabilidade política no final de seu mandato, para se dedicar a eleger seu sucessor. Além disso, Sarney defende a candidatura de Dilma Rousseff e é peça chave para que o PMDB aceite fazer um acordo com o PT para tentar eleger a ministra.

O presidente Lula mostra assim a natureza de sua ética na política! Essa ética que tanto o PT utilizou no passado como bandeira para alimentar seu denuncismo.

Culpar o espelho pela imagem que reflete

Acabo de ler o artigo de Clóvis Rossi, na Folha de S. Paulo (18.jun.2009). Lula culpa o espelho é o título. Transcrevo-o, pela pertinência com que analisa a intervenção do presidente na presente crise:

  • "Alguma surpresa com a defesa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez do senador José Sarney? Quem pediu desculpas pelos "erros" cometidos pelo seu partido (na verdade, crimes), mas depois passou a mão na cabeça dos "errados", quem se aliou a Fernando Collor de Mello, único presidente punido por falta de decoro, não poderia deixar de solidarizar-se com Sarney.

    O que surpreende é a escandalosa indigência dos argumentos usados por Lula. Primeiro argumento: "Ele tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum". Que besteira é essa, Deus do céu?

    É a versão Lula do "sabe com quem está falando?". Com história ou sem história, todo cidadão tem de ser tratado da mesma maneira. E os que têm história devem comportar-se ainda melhor do que os que não têm. Afinal, para usar um lugar-comum tão ao gosto de Lula, "o exemplo vem de cima".

    Segundo argumento: um suposto interesse em "enfraquecer o Poder Legislativo". Outra bobagem sem tamanho. O que enfraquece o Poder Legislativo não são as denúncias, mas os fatos que dão origem às denúncias. Sem eles não haveria denúncias.

    O Poder Legislativo, como os demais, só se fortalece se corrige os desmandos e abusos denunciados. Omissão é que o enfraquece.

    Lula, no fundo, revisita a teoria debilóide e safada da conspiração que não houve contra ele.
    Houve apenas uma conspiração dos fatos. Tanto que ele foi obrigado a pedir desculpas. Tanto que o procurador-geral da República denunciou toda a cúpula do PT como "quadrilha".

    É, enfim, a velha tentação de toda pessoa investida de poder de culpar o espelho pela imagem que ele mostra. A favor de Lula diga-se que ele ao menos pediu desculpas, coisa que Sarney nem remotamente passou perto de fazer. "

A defesa feita por Lula do Senador José Sarney não é de estranhar. Afinal o Presidente defendeu reiteradamente, nestes dias, Ahmadinejad, o ditador iraniano, presidente do regime que lança instabilidade política no Oriente Médio com a difusão de sua revolução islâmica, que promove oficialmente grupos terroristas e leva adiante um obscuro programa nuclear.

Mas este é assunto para um próximo post.

Cadastre seu email aí ao lado
e receba atualizações deste blog 888

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Segredos do regime militar, segredos do lulo-petismo

Segredos do regime militar, segredos do lulo-petismo
Nesta última quarta-feira (dia 13 de maio), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou Projeto de Lei que garante o acesso a documentos públicos. Segundo agências de notícia, o projeto prevê a publicação de informações sobre gestão, programas, projetos, metas, indicadores, licitações, contratos e prestação de contas do Governo Federal, Estados e municípios.

Além disso, Lula lançou o portal “Memórias Reveladas - Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985)”.

A que se destina o mencionado portal? À divulgação de informações contidas nos documentos sobre a resistência política, durante o chamado regime militar, aí incluída a luta armada, da qual participaram ocupantes do atual governo.

Durante a cerimônia no Palácio do Itamaraty, a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmou que a criação do portal Memórias Reveladas, sobre a ditadura militar – à qual Lula tentou retirar o caráter revanchista – acaba com a “cultura do segredo de Estado, a qual está sendo superada pelos esforços do governo e da sociedade”.

A portaria do Executivo assinada por Dilma Rousseff, determina, sob pena de punição, a entrega de todos os arquivos da ditadura militar ao governo, como os da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Polícia Federal e Conselho de Segurança Nacional (CSN), além do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI).

Além disso, informou Paulo Vanucchi, secretário nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, será lançada campanha publicitária para estimular a entrega de documentos, sob garantia de sigilo, que teriam sido, segundo ele, apropriados indevidamente por particulares.

Não há mais segredos de Estado no Brasil?

César Maia (DEM) faz hoje um breve comentário em seu Ex-blog a respeito da afirmação da Ministra Dilma Roussef sobre o fim do "segredo de Estado". O comentário é sintético, objetivo e em forma de questões, cujas respostas urgem, motivo pelo qual decidi transcrevê-lo. A seguir as palavras do ex-blog de César Maia:

  • " Dilma diz que "não há mais segredo de Estado no Brasil!”

    1. Há segredo de Estado no assassinato do Celso Daniel?
    2. Há segredo de Estado nas relações do Banco Rural com empresas estatais e o mensalão?
    3. Há segredo de Estado nos cartões corporativos da presidência?
    4. Há segredo de Estado na fusão das telefônicas?
    5. Há segredo de Estado em renovar depois de 26 anos a licitação de Angra 3?
    6. Há segredo de Estado nas contribuições da contravenção ao PT gaúcho?
    7. Há segredo de Estado nos contratos da Petrobrás?
    8. Há segredo de Estado na doação dos bingos à campanha do Lula?
    9. Há segredo de Estado na forma com que o PT pagou Duda Mendonça no exterior? "

Aqui termina o comentário de César Maia.

Perguntar não ofende. As respostas cabem ao governo, principalmente a Dilma Rousseff, para que, efetivamente, a cultura do segredo de Estado seja superada no Brasil!

Paulo Vanucchi, ao referir-se à alegada destruição de arquivos do período do regime militar, arrematou: “Os criminosos buscam sempre apagar os vestígios”.

É, parece que sim...

Cadastre seu email aí ao lado
e receba atualizações deste blog
888

terça-feira, 12 de maio de 2009

Pandemia de gripe ou de pânico?

Pandemia de gripe ou de pânico?
Em meio às incertezas da crise econômica mundial, à instabilidade política no Oriente Médio, aos assaltos a embarcações de piratas na Somália, às reviravoltas da política externa do governo Obama, à farra das passagens aéreas no Congresso, surgiu de repente no panorama um fato inteiramente novo e ameaçador.

Jornais, rádios e televisões anunciaram a irrupção no México de um inesperado surto de gripe, causada por misterioso vírus.

Do surto de gripe à pandemia

As primeiras informações davam conta de largas dezenas de mortos, vítimas da gripe batizada de suína.

Com a rapidez de um rastilho, a notícia se espalhou, a par do que se dizia ser a igualmente rápida disseminação do vírus. Multiplicavam-se as imagens de mexicanos usando máscaras em casa, na rua, no trabalho. Anunciava-se a paralisação do país.

Em outros lugares do mundo começaram a pipocar as mesmas cenas de pessoas portando máscaras, anúncio de casos detectados da misteriosa gripe, confinamento em quarentena de supostos portadores da doença, grandes quantidades de vacinas e remédios sendo estocadas.

Alertas pelo mundo. Noticiários ameaçadores. Declarações alarmistas de autoridades sanitárias internacionais.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmava que esta gripe seria capaz de atingir dois bilhões de pessoas.

Em pouco o tempo o mundo não estava mais perante um surto de gripe, mas diante de uma pandemia.

O clímax estava, de certa forma, atingido. Criara-se a sensação de estarmos diante de um perigo iminente e incontornável.

Contradições dentro do perigo

Mas quem parasse um pouco para fazer uma análise mais acurada dos acontecimentos, logo notava certa ou até grande defasagem do quadro traçado com a realidade.

Entramos, então, no que se poderia chamar uma segunda fase, a das informações e notícias desencontradas e até contraditórias: os desmentidos e os desmentidos dos desmentidos.

A sensação agora não era apenas do perigo iminente, mas de um caos dentro do perigo.

Afinal, das mortes anunciadas no México, apenas algumas podiam ser atribuídas com certeza à chamada gripe suína.

Outras notícias desinflavam a gravidade da infecção viral e a comparavam à de uma gripe comum.

O número aterrador da OMS era apenas o potencial da doença e o vice-diretor da entidade admitia que, mesmo numa pandemia, a maioria dos infectados não deveria ter mais do que uma gripe suave.

Muitos dos casos detectados em diversos países... não eram afinal da doença!

Até o próprio nome da grave infecção foi questionado. Ela não deveria chamar-se gripe suína. Alguns propugnavam que se denominasse gripe americana e, em muitos noticiários, passaram a referir-se apenas à contaminação pelo vírus A(H1N1).

E, como não podia deixar de acontecer, começaram a proliferar os gracejos e as piadas.

O binômio susto X desprevenção

A sensação passou a ser de uma gangorra psicológica.

Ora a desprevenção total, o ignorar completamente qualquer perigo; ora as medidas severíssimas, como não estender a mão, não aproximar-se mais de dois metros de alguém, as máscaras por toda a parte, etc., o que levou mexicanos a dizer que se sentiam infectados, mesmo não o estando.

O psicólogo mexicano José Mercado apontou com precisão o que ocorria com seu país, no momento em que se anunciava a volta à normalidade: estamos “saindo de uma situação de pânico, mas ao mesmo tempo nos mantêm com a idéia de que o inimigo continua aqui, que ele vai nos matar e que para evitá-lo temos de nos isolar, o que fomenta de novo o pânico, a loucura. Isso, em termos psicológicos, é nefasto” (cfr. O Estado de S. Paulo, 8.maio.2009)

Esse lado nefasto talvez explique as reações extremadas de alguns que, numa espécie de atração pelo abismo, passaram a organizar por Internet as “festas da gripe suína”, com o objetivo de se infectarem. A finalidade seria a de desenvolverem anticorpos.

Pânico moral oficial

Ao comentar com pessoas conhecidas e amigas o conjunto desta situação, pareceu-me toda ela eivada de grande irracionalidade, pela desproporção do alarmismo, pela imprecisão das informações, pela contradição dos dados, etc.

Segundo as notícias de ontem, 29 países reportaram casos, totalizando 4.500 infectados e até ao momento foram reportadas apenas 53 mortes provocadas pela gripe.

Subestimar um perigo é, por certo, um erro. Mas inflá-lo, ou ainda exagerá-lo desmesuradamente e levá-lo ao paroxismo – que alguns qualificaram de pânico moral - pode ser um erro ainda maior.

E, fato estranho, um pânico moral, não originado no boato anônimo e descontrolado, mas promovido por fontes oficiais de quem é de se esperar atitudes responsáveis.

O triunfo dos porcos

Em minhas buscas na mídia, deparei-me com um artigo, de autoria de João Pereira Coutinho (Folha de S. Paulo, 5.maio.2009), que sintetiza bem a situação criada e que convida à reflexão. Gostaria de compartilhá-lo com todos os que lêem o Radar da Mídia.

O título, O triunfo dos porcos, é um hábil jogo de termos, em referência à gripe suína de um lado, e à fábula de George Orwell, em que narra uma revolução entre os animais de uma fazenda, e a forma pela qual o idealismo foi traído pelo poder, pela corrupção e pela mentira.

João Pereira Coutinho começa o artigo referindo-se a seu estado de espírito à medida que o ano avança e não existe nenhum apocalipse pronto para exterminar a raça humana:

  • " Os meses passavam: janeiro, fevereiro, março. E as autoridades mundiais não lançavam gritos lancinantes sobre uma doença, uma anomalia técnica, um vírus descontrolado e mortal. Nem sequer um espirro!

    Sei do que falo. Vocês, leitores, também. Nos últimos dez, 15 anos, praticamente não tivemos sossego. (...)

    Antes mesmo do século 21 começar, os perigos estavam nas vacas e na carne delas. A doença tinha nome divertido ("doença da vaca louca") e conseqüências menos divertidas: uma doença neurológica degenerativa e incurável que prometia condenar meio milhão de seres humanos a uma morte precoce e terrível.

    Lembro-me bem: imagens de vacas trémulas, a dançar o twist; a matança de milhares delas, com ou sem sintomas; e os criadores de gado arruinados. Muitos optaram pelo suicídio. Pobrezinhos. Ainda hoje está por provar que a encefalopatia espongiforme bovina seja a causa da doença de Creutzfeldt-Jacob nos seres humanos.

    Veio o milênio. E, com o milênio, vieram novos perigos. Não de origem animal. Mas humana. Ou, se preferirem, tecnológica. Na virada de 1999 para 2000, um "bug" informático iria paralisar as cidades, os transportes, o sistema bancário e financeiro. Aviões cairiam do céu. Milhões de doentes não resistiriam à paragem das máquinas. Os países mais desenvolvidos gastaram US$ 300 bilhões de dólares (estimativa conservadora) para evitarem o colapso. Quando a meia-noite soou, o mundo, inexplicavelmente, continuou. Suspirou-se de alívio. Ou de desilusão?

    Os suspiros duraram pouco tempo. Se a humanidade resistira ao "bug" informático, não iria sobreviver à "gripe das aves". A Organização Mundial de Saúde garantia que 7 milhões de pessoas estavam condenadas. As Nações Unidas, não contentes com 7 milhões, falavam já em 150 milhões. Especialistas vários preferiam dizer 350 milhões. Moral da história?

    Morreram 200 pessoas, sobretudo na Ásia rural, onde a pobreza e a desnutrição não ajudam. Morreram incomparavelmente menos pessoas do que as vítimas normais que a gripe normal provoca todos os anos, em todos os países do mundo.

    Eis a verdade: andamos há muito tempo a fantasiar a nossa própria destruição coletiva. São as vacas. As aves. O "bug" informático. A pneumonia atípica. A catástrofe ecológica e climatérica que nos espera.

    Ou, para sermos mais atuais, uma gripe de origem suína e mexicana que, nas palavras de Margaret Chan, diretora-geral da Organização Mundial de Saúde, coloca toda a humanidade em risco. Que essa "gripe suína" esteja sobretudo confinada ao México, pouco importa. Que as vítimas do México sejam praticamente insignificantes quando comparadas com as vítimas regulares de gripe regular, também não. E que os infectados fora do México estejam a responder aos medicamentos disponíveis, muito menos. A realidade dos fatos não altera a nossa histeria.

    E não altera porque a nossa histeria é profunda e incurável. Hoje, vivemos mais. Hoje, vivemos melhor. Mas apesar disso, ou sobretudo por causa disso, entramos em pânico sempre que a morte, ou mesmo a mera possibilidade da morte, ameaça o nosso único deus: o corpo, o nosso corpo, e a "Religião da Saúde" que substituiu todas as outras teologias tradicionais.

    Tememos a nossa destruição física. Mas, como em qualquer temor, recriamos e até desejamos essa mesma destruição, como se isso redimisse a radical solidão dos homens de hoje. Tão modernos que somos. E tão entediados que nos sentimos.

    Um conselho: nada nesta vida se faz sem perseverança. Quem sabe? Se desejarmos muito que algo aconteça, talvez um dia alguém lá cima se lembre de responder às nossas preces. "
Afirmei que este artigo convidava à reflexão. Antes de terminar quero deixar aqui duas perguntas.

Diz o autor que "andamos há muito tempo a fantasiar a nossa própria destruição coletiva", para acrescentar depois que "a realidade dos fatos não altera a nossa histeria".

1) somos nós mesmos que fantasiamos, ou nos induzem a fantasiar nossa destruição coletiva, como no caso presente?
2) a realidade dos fatos não altera a "nossa histeria", ou não altera a histeria que nos querem impor?

Cadastre seu email aí ao lado
e receba atualizações deste blog 888

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Democracia falseada

Democracia falseada
Já experimentou, em um encontro de família, em uma roda de amigos, ou em uma reunião de trabalho, indagar aos interlocutores qual o regime político que vigora no País?

Ouvirá, por certo, que vivemos numa Democracia. E muitos justificarão a resposta por termos no Brasil eleições e nossos governantes serem escolhidos pelo povo.

A resposta parece óbvia, mas é um pouco simplista.

Democracia, eleições e sofismas

Aliás, é sobre esse conceito corrente e simplista de Democracia (um regime em que há eleições) que se constroem alguns grandes equívocos, ardis e sofismas.

Quem não ouviu o Presidente Lula defender o regime de Chávez como democrático, porque lá há muitas eleições? Ainda há pouco fez tal afirmação em importante entrevista a Fareed Zacharia, na conhecida cadeia de televisão norte-americana CNN.

Lula parece "esquecer" (na verdade omite!) que Democracia não se resume a eleições, e que estas podem ser desvirtuadas de muitas maneiras, inclusive não respeitando seus resultados, como está fazendo atualmente o caudilho venezuelano.

Democracia representativa

Em nosso País vigora uma democracia representativa. Ou seja, os eleitores escolhem aqueles que vão representar suas aspirações, suas idéias, suas ideologias políticas.

Essa representatividade não é apenas exigível a quem vence e exerce o poder, mas é também exigível a quem fica incumbido de fazer oposição.

Na Democracia não é concebível que a maioria exerça uma tirania sobre a minoria. É importante que os opositores contrabalancem e controlem o exercício do poder.

Atentados à Democracia

Há modos diversos de fraudar a Democracia, que não se restringem ao roubo de votos, e são até bem mais subtis.

Um deles é de a oposição não dar voz àqueles que discordam do governo.

Ora é o que acontece atualmente no Brasil, em que a oposição muitas vezes se cala, ou faz alguns acenos tímidos de enfrentamento que logo esmorecem, coonesta, na prática, boa parte das iniciativas governamentais e, pior ainda, os próprios atos de corrupção ou desmandos institucionais. Já tratei, aliás, desse assunto.

8 Leia Aliança Governo-Oposição

Mas há ainda outros modos de fraudar o caráter representativo da Democracia.

Muitas vezes, durante as campanhas eleitorais, os candidatos não expressam com clareza suas propostas, idéias e metas político-ideológicas. Ao serem eleitos, representam a quem e o quê? Eleitos dessa forma, estarão exercendo um mandato que não lhes foi concedido.

Falta de verdadeiras opções

Quantas vezes não ouvimos alguém dizer, ou não dissemos nós mesmos, que em determinada eleição, na ausência de alternativas, é preciso escolher o menos ruim.

A autenticidade de nossa Democracia fica gravemente mutilada quando o eleitorado se encontra nessa triste contingência.

Não é possível considerar verdadeiramente democrático o regime em que os eleitores não dispõem de um leque suficiente de alternativas, representativas das diversas correntes de pensamento existentes no público.

Menos ainda, quando é a maioria que não dispõe de candidato autêntico, que assuma seus anseios, idéias e objetivos e esteja disposto a batalhar por eles.

Lula confessa inautenticidade das eleições

Parece que, uma vez mais, na eleição presidencial de 2010, estaremos condenados a tal falta de opções, manchando de inautenticidade mais essa eleição “democrática”.

E quem o afirma, e exulta com isso, é o próprio Presidente Lula!

Convido-os a ler um trecho da longa entrevista que este concedeu ao jornal argentino La Nación (19.abr.2009):

  • " LN - O Sr. disse que gostaria que a sua sucessora fosse sua chefe de Gabinete, Dilma Rousseff. Apesar de subir na aceitação popular, ainda está nas pesquisas abaixo de José Serra, do PSDB. Continua a ter uma fé cega em Dilma?

    Lula - Não tenho fé, mas segurança e trabalho político. E sei que Dilma pode ser a futura presidente do Brasil. Para isso temos um trabalho a fazer. Primeiro, o governo tem que governar. Até 31 de dezembro de 2010 estarei trabalhando como se fosse o primeiro dia de meu governo. Em segundo lugar, é preciso construir a coalizão, quem estará conosco, e para isso temos um ano, um ano e pico. Depois é preciso saber se o PT quer que seja ela a candidata. Depois é preciso perguntar ao povo. Uma vez que se cumpra todo o ritual, ela poderá ser candidata. Não me preocupam as pesquisas. Serra já foi candidato a presidente, a governador de São Paulo. Mas posso dizer uma coisa: será um privilégio para este País se se fizer a eleição entre Dilma e Serra. Se os candidatos forem Dilma, Serra e Ciro Gomes, do PSB, também será um luxo. O mesmo, se está Aécio Neves. E isso porque não vejo ninguém de direita aí. Vejo companheiros de esquerda, de centro-esquerda, progressistas. Isso é um avanço extraordinário para o Brasil. "

Maioria condenada ao silêncio

Vejam bem, para Lula é um “privilégio”, um “luxo”, só haver candidatos de esquerda e ninguém de direita. Portanto, segundo o Presidente, o falseamento fundamental do quadro eleitoral, em que é seqüestrado ao eleitor seu direito de ampla escolha, constitui um “avanço extraordinário” para o País. É grave!

Este falseamento do quadro eleitoral, sem qualquer representante das correntes conservadoras, torna-se ainda mais grave se se leva em conta que estudos realizados nos últimos três anos, a respeito das tendências do público, demonstram invariavelmente que a maioria se considera de centro e de direita e defende valores afins.

Apesar de boa parte de nossa imprensa demonizar as chamadas posições conservadoras, o mais recente destes estudos, publicado há meses pela Folha de S. Paulo, mostrou que, entre os jovens, 37% se declaram de direita, 23% de centro e apenas 28% se dizem de esquerda. Além de a grande maioria deles defender valores como a religião, a família, o trabalho, a propriedade e se oporem ao aborto, ao uso de drogas, etc.

As palavras do Presidente são a confissão, ainda que involuntária, de como há um divórcio entre os “representantes” democraticamente eleitos e seus representados, e de como a atual oposição não é, na verdade, oposição, mas mais uma ala dos “companheiros”.

Torna-se fundamental entender bem o sentido deturpado que a palavra Democracia adquire na boca de Lula e de todos os “companheiros” (governo e oposição). Vivemos num regime que realiza eleições, mas que é falseado na sua essência.

É o caso de dizer: Democracia, democracia, quantas fraudes se cometem em teu nome!

Cadastre seu email aí ao lado
e receba atualizações deste blog 888

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Brasil poupa ditadura norte-coreana

Brasil poupa ditadura norte-coreana
I
mpressionou-me a frase que li, há dias, no El Nacional de Caracas, com a qual um leitor qualificava as atitudes de Chávez na cena internacional: "Soberbo ante o império do norte e genuflexo ante os impérios russo e chinês".

Algo de semelhante se pode dizer de nossa atual diplomacia. As proclamadas atitudes "altivas e pró-ativas", a que tanto gosta de se referir o Chanceler Celso Amorim, envergonham a tradição diplomática brasileira e não escondem seu acentuado viés ideológico.

Subserviência ante aliados ideológicos

Cumplicidade, subserviência, entreguismo e cinismo têm sido, em diversas ocasiões, as marcas da diplomacia "companheira", até em prejuízo dos legítimos interesses nacionais.

As atitudes "altivas e pró-ativas" ante os Estados Unidos, são acompanhadas da subserviência cúmplice com a China e com a Rússia. Ou então com os aliados ideológicos da Venezuela, Bolívia, Equador, Paraguay, Argentina, entre outros.

Basta recordar a humilhação imposta ao País no caso da invasão militar das instalações da Petrobrás na Bolívia, seguida de confisco de ativos da empresa.

Lula defende o autoritarismo chavista

Lula, que tantos se empenham em apontar como a voz da moderação, tem sido, na verdade, conivente - e, portanto, acobertador - com os desmandos institucionais e as atitudes autoritárias dos "companheiros" Chávez, Evo Morales, Correa, etc.

Ainda há dias o Presidente defendeu o modelo institucional do regime chavista, em entrevista à CNN, alegando seu caráter "democrático".

Isso, quando analistas e políticos, de todo o mundo, apontam a escalada autoritária do venezuelano, com prisões de adversários políticos, desrespeito aos resultados eleitorais, reedição de leis rechaçadas pela população em referendo, esvaziamento do poder de autoridades da oposição, tomada de portos e aeroportos pelas Forças Armadas, criação de milícias civis armadas, tentativas de subjugar a liberdade de imprensa, etc.

Também Marco Aurélio Garcia, assessor especial do Presidente para Assuntos Internacionais, na recente cúpula de Líderes Progressistas, no Chile, defendeu com ênfase o atual populismo na América Latina, citando como exemplo altamente positivo o regime de Chávez.

Cumplicidade com ditaduras

A política externa do Brasil, sob o governo Lula, tem ainda mostrado constrangedoras alianças ou cumplicidades com regimes ditatoriais e até mesmo com o terrorismo.

Na perspectiva da 5ª Reunião da Cúpula das Américas, a ser realizada em Trinidad e Tobago, Celso Amorim afirmou que o grande teste para o Presidente Barack Obama será a relação com Havana.

O Chanceler defendeu o diálogo do governo norte-americano com o regime comunista, "sem condições prévias" (cfr. Folha de S. Paulo, 10.abr.2009). Ou seja, Amorim exige o "diálogo", com a preservação da ditadura castrista.

Fome, tortura e perseguição

Para entender o que a atual diplomacia lulo-petista entende por "multilateralismo" e para que finalidade advoga um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU, vale a pena ler a seguinte matéria da Folha de S. Paulo (27.mar.2009), intitulada Brasil poupa regime norte-coreano na ONU:

  • " O Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou ontem uma resolução que condena duramente as "graves violações" dos direitos humanos na Coreia do Norte e exorta a ditadura asiática a rever a decisão de barrar as missões de inspeção da organização. O texto foi adotado sem o endosso do Brasil, que se absteve na votação.

    O governo brasileiro vinha sendo pressionado pelo Japão, um dos patrocinadores da resolução, a apoiar o texto. Em gestões feitas em Brasília e Genebra, os japoneses tentavam convencer o Itamaraty de que um voto de abstenção seria uma forma de incentivar os abusos norte-coreanos.

    Não funcionou. O Brasil preferiu evitar o confronto e dar uma chance à Coreia do Norte, mesmo depois da apresentação de um relatório repleto de atrocidades cometidas pelo regime. Fome, tortura e perseguição política fazem a rotina de horror dos norte-coreanos, segundo o documento. Uma tirania onde até vestir jeans, usar a internet ou assistir a novelas da Coreia do Sul pode dar cadeia.

    A votação era uma das mais esperadas da atual sessão do Conselho de Direitos Humanos, que termina hoje em Genebra. A atenção cresceu com a notícia de que o isolado regime norte-coreano prepara o lançamento de um míssil de longo alcance, o que preocupou os vizinhos. O intuito, diz Pyongyang, é pôr um satélite em órbita.

    No final, a resolução foi aprovada com 26 votos a favor, 15 abstenções e 6 contra. O documento "deplora os abusos sistemáticos", como o uso de tortura e campos de trabalho forçado. (...)

    Ao justificar seu voto de abstenção, o Brasil disse que espera que a Coreia do Norte aproveite a "janela de oportunidade" para melhorar sua colaboração com o Conselho. (...)

    O país decidiu "dar uma chance" aos norte-coreanos, disse Farani (embaixadora do Brasil em Genebra), diante da promessa de que colaborarão com os mecanismos do Conselho, entre eles o UPR. "Não estamos passando a mão na cabeça deles. Esperamos respostas."

    Após a votação, o embaixador japonês disse que estava "decepcionado" com a decisão do Itamaraty. "Tivemos intensos contatos com o governo brasileiro, aqui e em Brasília, mas não adiantou", afirmou Sumi Shigeko. Para ele, "não é claro" o motivo da abstenção.

    A decisão do Brasil de não condenar regimes acusados de violações graves, como Sudão, Congo e Coreia do Norte, é alvo de críticas de defensores dos direitos humanos. O Itamaraty alega ser mais produtivo buscar o diálogo do que isolá-los.

    Na mesma sessão, foram votadas cinco resoluções ligadas ao conflito israelo-palestino, algumas com fortes críticas a Israel. O Brasil votou a favor de todas elas, que foram aprovadas por quase unanimidade. "
Evitar o confronto, buscar o diálogo e dar chances, são as consignas da cumplicidade. Sempre a política de "dois pesos e duas medidas", a favor dos aliados ideológicos, até mesmo quando estes mantêm campos de trabalhos forçados.

Cadastre seu email aí ao lado
e receba atualizações deste blog 888

terça-feira, 14 de abril de 2009

O golpe da Páscoa

O golpe da Páscoa
O período da Semana Santa tornou-se uma ocasião propícia para um golpe nada santo do governo: a intervenção no Banco do Brasil.

O Presidente Lula decidiu demitir o presidente do banco, Antônio Francisco de Lima Neto. A confusão – proposital e bem ao estilo do lulo-petismo – se estabeleceu.

Lula começou por afirmar que era Lima Neto quem desejava sair do cargo. Depois, a saída já era por outro motivo, a determinação do governo de reduzir o spread bancário, uma “obsessão” de Lula. A intervenção, na verdade, mascarava um golpe de mão político.

Banco do Brasil ou de Lula?

O mercado, apanhado de supresa pela decisão, reagiu em pouquíssimo tempo ao perceber o carácter político do golpe. As acções do Banco caíram mais de 8%.

A imprensa também apontou a intervenção estatal despropositada: “O Banco é do Brasil ou de Lula?”, perguntava a revista Época; “BB do PT”, intitulava seu editorial a Folha de S. Paulo; “Ingerência política volta a assustar” afirmava artigo de opinião do jornal Valor.

“Apesar de todas as justificativas dadas pelo governo para essa troca de presidente, ela aumenta a preocupação de possíveis interferências políticas sobre a gestão do banco”, disse o analista da Itaú Corretora, Alcir Freitas, conforme o jornal Valor (9 a 12.04.2009).

Ainda segundo o mesmo jornal, para Laura Lyra Schuch, analista de ações da corretora Ativa, a preocupação é de que o novo presidente do banco se torne uma “marionete” do governo em ações que possam comprometer a rentabilidade do banco.

A falácia do banco público

Dilma Roussef, em sua contínua atuação de candidata, ajudou ao coro de vitimização demagógica, já iniciado por Lula, de um governo que se diz sacrificar em “defesa dos pobres”. Apelando à emotividade afirmou: “Não aguentamos mais discutir com presidentes de bancos públicos, porque eles pensam que são presidentes de bancos privados”.

A afirmação encerra uma falácia. O Banco do Brasil não é um banco público, mas uma companhia aberta, com ações em bolsa e com milhares de acionistas minoritários.

Foi por tal motivo que a analista econômica, Miriam Leitão, escreveu em seu blog: “Se o BB tem acionistas privados, ele tem de operar com as regras do mercado, buscando o lucro e competindo com outros bancos. Se ele vai ser administrado pelo presidente da República ou pelo chefe da Casa Civil, então não pode ter ações no mercado. Uma coisa ou outra” (cfr. Época, 13.abr.2009).

Expurgo estatista

Ninguém, evidentemente, acredita nas razões dadas pelo governo. A interferência tem um claro cunho político, ideológico e estatista.

Dirigir o BB é uma arma de poder e Lima Neto não atendia aos desígnios petistas. Segundo a revista Época, citando fontes importantes, Ricardo Berzoini, presidente do PT, vinha lutando para derrubar Lima Neto.

De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo (9.abr.2009), nos círculos presidenciais, Lima Neto era considerado conservador, um homem que agia com o “freio de mão puxado”, “pouco ousado”, “muito fechado” e sempre “criava obstáculos” à concessão de crédito para as camadas de baixa renda.

Traduzindo em miúdos: Lima Neto agia com o “freio de mão puxado” porque não permitia que o BB se tornasse uma máquina de esbanjamento em favor de políticas “sociais”, que redundam em compra de votos.

Em seu editorial (10.abr.2009), o jornal Folha de S. Paulo observou sobre o aparelhamento do BB: “O PT foi convocado para mais uma missão patriótica... A nova anedota palaciana, disseminada na praça para tentar justificar a troca de comando no BB, não combina com alguns fatos. (...) Aumentar a tutela do governo e do PT sobre a direção do Banco do Brasil não vai resolver esse problema [ação antirecessiva], resolverá outros, decerto, atinentes às eleições que se aproximam. (...) Aventuras nessa seara redundam em contas bilionárias, divididas entre os contribuintes”.

É bom recordar que, em 1996, o BB precisou ser resgatado com a injeção de R$ 8 bilhões de nossos impostos, pois afundara devido a empréstimos ditados preponderantemente por critérios políticos.

Subordinação do BB a objetivos ideológicos

Em sua Notas & Informações, intitulada A politização do Banco do Brasil, o jornal O Estado de S. Paulo (10.abr.2009) aponta o viés ideológico e eleitoreiro da intervenção presidencial:

  • É um péssimo sinal a interferência direta e explícita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na gestão do Banco do Brasil (BB), especialmente quando a cúpula do governo se empenha de forma indisfarçável na campanha para a próxima eleição presidencial. (...)

    Politizar a condução do BB já o levou à beira de uma crise gravíssima, nos anos 90, e a operação de salvamento, com injeção de R$ 8 bilhões em seu capital, ainda é lembrada por todo brasileiro informado.

    A subordinação aos objetivos políticos do governo também já custou caro à Petrobrás, forçada pelo presidente, no início do primeiro mandato, a recorrer a estaleiros nacionais para a compra de plataformas, navios-sonda e outros equipamentos. O resultado dessa mudança foi muito menos que satisfatório e isso não é segredo, embora a diretoria da Petrobrás evite referir-se ao problema. Também não deu certo, até agora, a associação com a PDVSA - estimulada pelo Palácio do Planalto - para a construção de uma refinaria em Pernambuco.

    O presidente Lula e seus auxiliares insistem, no entanto, em sujeitar o aparelho de Estado - administração direta, autarquias e empresas - a objetivos de política partidária ou a caprichos ideológicos, sem dar importância a exigências técnicas. (...)

    A ação do presidente Lula despertou receios muito justificados de uma crescente politização, a partir de agora, da gestão das companhias estatais.

Entendem agora o que Lula quer dizer quando apregoa a necessidade do “Estado forte” como resposta à crise? Nada mais do que o Estado tutor da economia, e a máquina estatal aparelhada pelo partido a favor de um projeto de poder político-ideológico.

Para os eternos otimistas de plantão, está aí o exemplo da mão de ferro político-ideológica de Lula no BB. É bom acordar!

Cadastre seu email aí ao lado
e receba atualizações deste blog 888


quarta-feira, 18 de março de 2009

A pata, a galinha e os ovos

A pata, a galinha e os ovos
Na minha rotina de acompanhar a mídia, deparei-me há pouco com um artigo no jornal O Estado de S. Paulo (15.mar.2009) que fazia uma espirituosa comparação entre os estilos da pata e da galinha porem ovos.

A galinha põe um ovo pequeno, cacareja e todo o mundo presta atenção; a pata, por seu turno, põe um ovo maior mas, como não chama a atenção, ninguém ou quase ninguém nota.

Dizem até os estudiosos que o ovo da pata é mais nutriente; mas é o da galinha que mais desperta a atenção e o desejo, porque a galinha sempre alardeia seu feito.

Talento mercadológico do PT

O autor do artigo, Gaudêncio Torquato, aplicava tal comparação à maneira de se fazer política e afirmava que o PT “desenvolveu um extraordinário talento mercadológico”.

É fora de dúvida que o lulo-petismo tornou-se especialista em ações de propaganda, pelas quais alardeia os ovos que põe... e até os que não põe, como se os tivesse posto.

Desgaste de popularidade

Ao contrário do que se repete sem cessar a respeito da estratosférica popularidade de Lula (84%!?) - num exercício de subserviência quase cabalístico - quem se detém sobre os fatos, percebe que o Presidente sofre um desgaste crescente, e que se acentua nas camadas mais influentes da população, formadoras de opinião.

8 Leia 84% de popularidade: fantasia carnavalesca

Desgaste este agravado recentemente pela cruel realidade dos efeitos no Brasil da crise econômica mundial, que até agora Lula, com ampla colaboração, tinha conseguido mascarar.

Por isso os marqueteiros (os cacarejadores) do Presidente precisam envolvê-lo em êxitos deslumbrantes no Exterior, com a conivência de certa imprensa rendida ao governismo. São estes “êxitos” próprios a impressionar justamente estas camadas formadoras de opinião.

Lembram-se quando a propaganda eleitoral do PT apresentou imagens de Lula discursando na ONU e sendo aplaudido de pé pelo plenário? Tudo não passou de uma vulgar montagem: o discurso era de Lula, as palmas eram para o Secretário Geral da ONU.

Assim se anunciam os ovos, como disse acima, reais ou imaginários.

Carona no rojão de Obama

E foi o que se deu na recente visita de Lula a Obama. Como alguém disse de modo jocoso, Lula precisava pegar carona no rojão de Obama. E lá foi ele para Washington.

Quem assistisse aos noticiários ou lesse alguns titulares de jornais teria a impressão de que uma nova e inusitada era de relacionamento se inaugurou.

Lula, para reforçar a idéia, ainda anunciou que seriam dados passos “extremamente importantes” e que Obama decidira criar um grupo de trabalho com o Brasil para as reuniões do G-20.

Sem nunca ser afirmado, ficou a impressão de que Obama, um tanto perdido na crise econômica mundial, aguardava alguém como Lula para se aliar e lhe dar rumo na atuação.

É verdade que algumas fotos apresentavam um Obama que não conseguia esconder o sorriso um tanto sardônico, enquanto observava Lula, bastante corado, de olhos intumescidos e rindo de modo alvar.

Declarações genéricas e vagas

Entretanto, quando a atenção se debruça sobre o noticiário mais objetivo dos resultados, nota-se a forte dose de bluff.

As declarações, tanto de Obama quanto de Lula foram formulações de desejos óbvios, genéricos e vagos.

Barack Obama considerou remota a retomada da Rodada de Doha, contrariando a expectativa de Lula que anunciara o momento como “o mais oportuno para a gente (!) discutir a rodada”.

Além disso, o presidente americano deixou claro que os EUA não pensam em abrir tão cedo o mercado americano para o etanol brasileiro, outra das reivindicações de Lula (cfr. Valor, 16.mar.2009).

Clóvis Rossi, na Folha de S. Paulo (16.mar.2009), relembrou que Lula já anunciara, no governo de George W. Bush, uma “parceria estratégica” e se perguntava se há patamar diplomático mais elevado do que esse?

“É inescapável – escreve ele – uma sensação de parte 2 de filme velho nos anúncios feitos após o encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama”.

Expectativa irrealista

Mas, perguntará alguém, se não haverá um pouco de facciosismo deste blog menosprezar o destaque dado ao País com a criação do grupo de trabalho EUA-Brasil, com vistas ao G-20?

Eu me pergunto, mas qual grupo de trabalho? Grupo de trabalho só o da fantasia lulista, o ovo não posto dos cacarejadores.

Bastante esclarecedor, neste sentido, é o texto do editorial do jornal O Estado de S. Paulo (17.mar.2009), que aborda a “expectativa irrealista” do primeiro encontro Obama e Lula:

  • E tanto se esperava que, a partir do noticiário a respeito, é possível formar-se a impressão de que uma nova perspectiva acabou de ser aberta na história das relações Brasil-Estados Unidos.

    Indício disso seria a decisão atribuída aos dois governos de ir para a reunião do G-20, no próximo dia 2, em Londres, com uma estratégia comum, a ser definida nestes dias. Washington e Brasília, de acordo com essa avaliação, levariam aos demais membros do clube das nações responsáveis por 85% da economia mundial uma mesma proposta de ações estruturais para o resgate e a transformação do sistema financeiro em colapso. Não se trata de nada disso. Embora o presidente Lula tenha dito à imprensa que o seu colega americano sugeriu a criação de um "grupo de trabalho" para a formulação de uma "proposta conjunta", Obama falou apenas em reuniões de representantes dos dois lados para "coordenar nossas atividades para fortalecer o crescimento econômico global". Depois, o assessor de Assuntos Internacionais do Planalto, Marco Aurélio Garcia, comunicou que o "grupo" será formado por dois funcionários, um designado pelo secretário do Tesouro, Timothy Geithner, o outro escolhido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.

    Garcia - o certo seria o chanceler Celso Amorim, se o trabalho tivesse a magnitude de que foi revestido - tratou ele mesmo de moderar o alcance da iniciativa.
Cadastre seu email aí ao lado
e receba atualizações deste blog 888

segunda-feira, 16 de março de 2009

Protógenes, a Satiagraha e a justiça popular

Protógenes, a Satiagraha e a justiça popular
“Ocupar fazenda de banqueiro bandido é dever do povo brasileiro”.
A frase é do delegado da Polícia Federal, Protógenes Queiroz e foi proferida em evento organizado pelo PSOL, em São Paulo.

Sob aplausos histéricos de militantes da extrema-esquerda, o delegado manifestou desta forma seu apoio às invasões levadas a cabo pelo MST, em diversas fazendas de Daniel Dantas.

Justiça popular

A declaração de Protógenes é reveladora da “filosofia política” que o inspira. O MST (como qualquer “movimento social”) deve ser um justiceiro e aplicar sua lei particular, em nome do “povo”, à revelia e em afronta ao Estado de Direito.

Se Daniel Dantas praticou crimes, deve ser julgado segundo as leis e instituições do País e não “justiçado” pelo povo (ou pelos que se fazem passar por tal), como pretende o Dr. Protógenes.

A chamada justiça popular foi historicamente uma das molas propulsoras de diversas revoluções, as quais culminaram, na maioria das vezes, em mortandades cruéis e espantosas. China e Comboja são apenas dois exemplos sinistros, com milhões de mortos.

Combate ao crime de “poderosos”

Tal “filosofia” do Dr. Protógenes torna igualmente compreensível o modo pelo qual ele concebe o uso do aparelho repressor do Estado no combate ao crime.

O crime de um “poderoso” justificaria a violação de qualquer norma legal ou a transposição de qualquer limite institucional, na investigação e apuração dos atos delituosos, com o fim de satisfazer o clamor popular de justiça.

Tudo parece indicar que é esta a premissa de todos os desmandos e atropelos da operação Satiagraha, uma imensa máquina de espionagem, digna de um regime ditatorial.

8 Leia Tenebrosa máquina de espionagem

Resta sempre uma dúvida. Protógenes lembra sempre que é um servidor público. Em nome e a serviço de quem o delegado atuou?

Silêncio “ensurdecedor” do Planalto

Em declarações prestadas à Procuradoria da República, onde compareceu espontaneamente para dar sua versão dos fatos, o Dr. Protógenes negou qualquer ilegalidade em seus procedimentos e acrescentou que a investigação fora realizada “por determinação da Presidência da República”.

É essa a revelação central da nova reportagem da revista Veja (18.mar.2009), sob o título Ele é um canhão à solta.

O Planalto até agora mantém silêncio completo a esse respeito, o que de si agrava as suspeitas. Como bem comentou em seu blog o jornalista da Folha de S. Paulo, Josias de Souza, “o silêncio do Planalto resulta, por assim dizer, num barulho ensurdecedor”.

Convido-os, pois, a lerem trechos da matéria de Veja, assinada por Expedito Filho:

  • Ao localizar a origem das ordens para a investigação no Palácio do Planalto, o delegado aventa a hipótese da criação de uma incomum e ilegal cadeia de comando que, como mostra a história, só existe regularmente em ditaduras e, sempre com resultados funestos, em alguns poucos regimes democráticos. (...)

    O depoimento de Protógenes Queiroz à Procuradoria-Geral da República, ao qual VEJA teve acesso, traz uma segunda revelação incômoda. O delegado afirma que a atuação dos mais de oitenta espiões da Abin no caso era do conhecimento do juiz federal Fausto de Sanctis e do procurador da República Rodrigo de Grandis. Alguém está mentindo. O juiz e o procurador já negaram publicamente ter tido conhecimento da participação dos agentes secretos do governo – embora ambos tenham ponderado que não haveria nenhuma irregularidade na hipótese de uma eventual "colaboração informal" da Abin. Protógenes também afirmou à Procuradoria que o pedido de ajuda à Abin "não foi formal", mas "verbal", e que esse tipo de coordenação entre policiais e espiões do governo "é comum". No campo das formalidades, não haveria o que reparar no caso. Ocorre que, no tempo decorrido entre o depoimento de Protógenes à Procuradoria e a semana passada, ficou patente que:

    1) a participação dos espiões da Abin foi muito mais intensa do que uma simples colaboração;

    2) os agentes da Abin foram acionados para dar a forma de relatório a escutas telefônicas legais e ilegais;

    3) eles seguiram autoridades e vigiaram suspeitos.

    Se o juiz e o procurador estavam realmente cientes do grau de envolvimento da Abin, como revelou o delegado Protógenes, no mínimo desnuda-se a existência de um consórcio de autoridades judiciárias que em nome de um objetivo é capaz de atropelar as leis sem nenhum constrangimento. A hipótese de o juiz e o procurador terem sido enganados é mais grave. Nessa eventualidade, ficaria evidente que um grupo de policiais e espiões oficiais operou no Brasil sem o conhecimento nem o aval da Justiça, alegando estar sob ordens da Presidência da República. A primeira perplexidade que decorre disso tudo é que, se, para prender e condenar um banqueiro acusado de corrupção, o estado brasileiro precisa montar um esquema clandestino de espionagem, a administração vai de mal a pior. A segunda beira o impensável. Se o objetivo não foi prender e condenar por corrupção o banqueiro bilionário, mas apenas usar isso como pretexto para espionar cidadãos, a administração federal deve ao Brasil um rosário de explicações. (...)

    Indagado sobre a suposição de que teria recebido ordens do presidente da República para investigar o banqueiro Daniel Dantas, Protógenes reagiu da maneira surrealista que o caracteriza. Primeiro, tentou desconversar, deixando pairar a dúvida sobre o possível papel de Lula no episódio. Disse o delegado: "Acredito que o presidente saiba responder melhor do que eu". Depois, em uma palestra para estudantes universitários em Goiás, afirmou que não fazia "parte de nenhuma guarda pretoriana a trabalho de algum governo". Vários agentes da Abin, porém, disseram em seus depoimentos a diversas autoridades que o delegado sempre lhes lembrava que aquilo se tratava de uma "missão presidencial". (...)

    Obviamente, as declarações oficiais e extraoficiais do delegado Protógenes não são prova da existência de uma impensável cadeia de comando que tenha no topo o presidente da República. Por suas ruinosas consequências institucionais, o melhor que pode ocorrer é que sejam mais um blefe dos tantos que o policial fez no decorrer e depois da operação que lhe foi confiada.

    Os técnicos da CPI dos Grampos estão desde a semana passada debruçados sobre o material apreendido com Protógenes Queiroz. "O conteúdo dos computadores é nitroglicerina pura e mostra que a operação realmente não tinha nenhum limite ou controle", diz o deputado Raul Jungmann (PPS-PE). (...)

    O presidente da comissão, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), acredita que, com a nova prorrogação, será possível desvendar a cadeia de comando que permitiu ao delegado Protógenes montar sua rede de espionagem.
Esperemos que sim! E que não seja mais uma esperança vã e frustrada.

Ah, antes de terminar, faltava-me uma coisa. Normalmente a “filosofia” inspiradora do Dr. Protógenes costuma também ser farta no capítulo cinismo. Após afirmar que ocupar fazenda de banqueiro bandido é dever do povo, ele acrescentou: “Não estou fazendo apologia criminosa de nada”. Entenderam?

Cadastre seu email aí ao lado
e receba atualizações deste blog 888

segunda-feira, 9 de março de 2009

Tenebrosa máquina de espionagem

Tenebrosa máquina de espionagem
A revista Veja (11.mar.2009) estampa importante reportagem a respeito dos bastidores da já famosa operação Satiagraha, conduzida pelo delegado da Polícia Federal, Protógenes Queiroz.

Tal operação, muito controvertida em seus métodos e finalidades, já ocupou largos espaços na imprensa. Mas aos poucos foi caindo no esquecimento.

Leia também Nos subterrâneos do poder lulista
e A ordem partiu do Planalto


Uma CPI foi instalada para apurar os grampos clandestinos, mas ela se encaminhava para seu fim, com a votação do relatório de Nelson Pellegrino (PT-BA), sem que nada de sério tivesse sido apurado.

Vasta máquina de espionagem

As revelações da revista Veja, baseadas no conteúdo do computador apreendido pela Polícia Federal na casa do Delegado, desvendam novas e assustadoras realidades da espionagem oficial.

Com tais revelações, a CPI será prorrogada e amplos desdobramentos se esperam no mundo político, já a partir de hoje. Líderes e presidentes de partidos, da base governista e da oposição, se articulam para exigir explicações do governo Lula.

Segundo a matéria de Veja, a Operação Satiagraha, da Polícia Federal, para investigar as atividades do banqueiro Daniel Dantas, serviu de biombo para uma máquina gigantesca de espionagem.

Dizendo agir em nome do Presidente Lula, o delegado Protógenes Queiroz bisbilhotou a vida de um sem fim de autoridades e políticos.

Como todos se recordam, a dita Operação contou com estrita e íntima colaboração da PF (submetida ao Ministro da Justiça, Tarso Genro) e da ABIN (submetida ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República).

Envolvendo 84 agentes e oficiais de inteligência, a espionagem oficial reuniu 63 fotografias, 932 arquivos de áudio, 26 arquivos de vídeo e 439 documentos em texto, o que a torna digna de qualquer regime ditatorial.

Quando a íntima colaboração da PF e da ABIN veio a público, o governo fez tudo para a desmentir, mas suas versões infundadas foram caindo uma a uma.

Leia Quem controla o aparato policial do Estado?

Na época, o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, em entrevista à Folha de S. Paulo chegou a levantar a hipótese de que um projeto político espúrio se ocultava em tal colaboração.

Espionagem oficial?

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo (9.mar.2009), Protógenes Queiroz defende-se e afirma que todo o seu trabalho foi realizado com base na lei e na Constituição.

A indagação que desponta naturalmente é se tal imensa máquina de espionagem foi acionada por ordens oficiais. Assim como o delegado Protógenes, espiões da ABIN destacados para a Operação Satiagraha, diziam estar cumprindo missão de interesse do Presidente da República.

Convido-os a lerem trechos da reportagem, intitulada “Sem limites”, assinada por Expedito Filho. Ao final da transcrição formularei algumas questões cujo esclarecimento me parece crucial:

  • " A Operação Satiagraha, da Polícia Federal, conduzida pelo delegado Protógenes Queiroz, será lembrada como um sucesso por ter conseguido o feito inédito na história do combate à corrupção no Brasil de levar à condenação na Justiça Criminal um ex-banqueiro – no caso, Daniel Dantas, dono do grupo Opportunity. Mas a operação também ficará marcada para sempre por ter servido de fachada para o funcionamento de uma máquina ilegal de espionagem que, em ousadia e abrangência, também não tem paralelo na história brasileira. (...) Na semana passada, VEJA teve acesso à integra desse material. O conteúdo é estarrecedor e prova que o delegado centralizava o trabalho de uma imensa rede de espionagem que bisbilhotou secretamente desde a vida amorosa da ministra Dilma Rousseff até a antessala do presidente Lula, no Palácio do Planalto – passando pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo governador José Serra, além de senadores e advogados.

    Nos documentos encontrados na residência do delegado há relatórios que levantam suspeitas graves sobre as atividades de ministros do governo, fotos comprometedoras que foram usadas para intimidar autoridades e gravações ilegais de conversas de jornalistas – tudo produzido e guardado à margem da lei. (...)

    Em maio de 2006, VEJA publicou uma reportagem revelando que o banqueiro [Daniel Dantas] havia montado, com a ajuda de espiões internacionais, um dossiê para constranger autoridades do governo, entre elas o presidente Lula e o próprio Lacerda – que cedeu "informalmente" espiões da agência para ajudar o delegado. Protógenes recrutava os espiões com o argumento patriótico de que eles estavam sendo convocados para uma "missão presidencial". A suposta ordem do presidente e o nome de Fábio Luís da Silva surgiram nos depoimentos dos arapongas. Um deles, Lúcio Fábio Godoy, contou aos policiais que ouvira de Protógenes que Lula tinha interesse na investigação porque "seu próprio filho teria sido cooptado por essa organização criminosa". Não se sabe com que autoridade o delegado Protógenes usou o nome do presidente Lula. (...)

    Os arquivos de Protógenes mostram um especial interesse pelas atividades do ex-ministro José Dirceu. O delegado e seus arapongas apelidaram o petista de "Zeca Diabo" – nome de um matador de aluguel da primeira novela em cores do Brasil, O Bem Amado. (...) Os espiões escrevem sobre possíveis negócios do ex-ministro e supostos encontros de Dirceu com deputados envolvidos no escândalo do mensalão. O petista já havia reclamado ao presidente Lula que estava sendo monitorado ilegalmente. Em vão. No ano passado, o escritório dele foi arrombado. Os invasores só levaram um computador e documentos. Até a petista Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil e pré-candidata à Presidência da República, foi alvo dos espiões. Em um documento, eles descrevem em termos grosseiros supostas relações amorosas da ministra, cujo parceiro eles identificam. Como e por que essas barbaridades interessaram ao delegado Protógenes a ponto de ele as guardar em seu computador é algo que o inquérito da PF sobre ele deverá esclarecer. A existência em si desses registros na casa de um servidor é um escândalo administrativo de grandes proporções. Quando se acrescem os métodos clandestinos utilizados para produzi-los, a máquina de espionagem do Dr. Protógenes começa a tomar ares mais tenebrosos. (...)

    O material apreendido pela PF está dividido em duas partes. Uma delas é formada por relatórios policiais, gravações telefônicas e ambientais, vídeos, planilhas e transcrições de conversas interceptadas. São peças do inquérito, comandado por Protógenes, que investigou Daniel Dantas, obtidas pelo delegado com base em diligências autorizadas pela Justiça. É estranho que Protógenes tenha aberto um baú em casa para guardar documentos sigilosos que deveriam integrar apenas o inquérito oficial. A segunda parte do material, porém, é bem mais que isso. Ela reúne gravações telefônicas de conversas entre membros da comunidade de inteligência e dirigentes da Abin, fotografias, imagens de pessoas que não eram investigadas na operação e informes de arapongas sobre a vida íntima e profissional de autoridades e ex-autoridades. A polícia ainda não conseguiu abrir alguns documentos apreendidos com a equipe do delegado e que estão protegidos por senhas de acesso, com codinomes como "Tucano", "FHC" e "Serra". Os arquivos de Protógenes Queiroz continham até um manual detalhado sobre como operar um equipamento clandestino de interceptação de telefonemas e mensagens de celular. Interceptações autorizadas pela Justiça são feitas pelas companhias telefônicas e seu conteúdo é armazenado em computadores da Polícia Federal. Por que será que Protógenes Queiroz guardava um manual assim em casa? (...)

    Há uma vertente importante que deve ser apurada sobre a famosa Satiagraha – o consórcio formado entre a polícia, o Ministério Público e a Justiça. As ilegalidades da operação podem acabar livrando da cadeia um vilão do calibre de Daniel Dantas. Por causa disso, o juiz do caso, Fausto de Sanctis, está sob investigação da corregedoria da Justiça Federal. Já o Ministério Público, desde que foi regulamentado, em 1988, não apresentava uma atuação tão incomum. Em São Paulo, procuradores, em vez de apurar os abusos denunciados, tentaram usar todos os instrumentos legais para manter intacto o conteúdo dos computadores do delegado. Os procuradores chegaram a bater de frente com o juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara Federal, que já informou que pretende solicitar vários procedimentos sobre as ações clandestinas do delegado Protógenes – e conta para isso com o apoio do Conselho Nacional de Justiça. O deputado Marcelo Itagiba, presidente da CPI dos Grampos, disse que ainda não examinou os documentos, que chegaram à comissão apenas na semana passada. "Mas tudo parece muito grave e, se confirmado, vou pedir a prorrogação dos trabalhos", garantiu o parlamentar ao ser informado do conteúdo. O delegado Protógenes não foi encontrado. Um dos arquivos de seu computador mostra que ele estava se dedicando a escrever uma autobiografia. Título: "Protógenes, a Lenda". "
Questões a responder

A leitura desta matéria desperta, é claro, algumas dúvidas. Formulo as que me ocorrem.

O delegado Protógenes não é figura de relevância no panorama nacional para ter interesse em reunir uma tão vasta coleção de informações. Afinal, a quem interessam elas? O delegado trabalhava para si mesmo ou para outrem?

Quando o delegado Paulo Lacerda (hoje acomodado pelo governo lulo-petista na embaixada do Brasil em Lisboa), saiu do comando da Polícia Federal e foi para a ABIN, solicitou pessoalmente ao Presidente Lula continuar na direção da operação Satiagraha. Lula teria autorizado. Essa autorização existiu? E foi válida?

Quando se revelou a estranha conexão entre a PF e a ABIN, na operação Satiagraha, o governo desmentiu. O Ministro Tarso Genro negou e alegou que apenas um agente, a título pessoal, tinha participado. Por fim apurou-se que mais de 56 agentes participaram da operação, filmando, fotografando, seguindo pessoas e manuseando transcrições de grampos e, por fim, elaborando relatórios secretos. Quais os motivos que levaram Tarso Genro a querer esconder tal colaboração? Qual seria o projeto político que se escondia por tal íntima colaboração, e para o qual alertou o Ministro Gilmar Mendes?

O delegado Protógenes, durante um ano e meio, teve ao seu dispor uma gigantesca máquina oficial, que em determinado momento chegou aos 84 agentes, tudo para sua missão de espionagem. Será possível que, durante esse período, nenhuma autoridade do governo tenha sabido de qualquer das ilegalidades cometidas pelo delegado? Ou ele, realmente, obedecia a ordens superiores?

Ao estourar o escândalo dos desmandos da ABIN e da PF na Operação Satiagraha, Lula, vendo-se acuado, decidiu entregar algumas cabeças e acabou por demitir a cúpula da ABIN, que em seguida passou a despachar no próprio Palácio do Planalto. Por que motivo Lula demitiu os dirigentes da ABIN e quem apurou as responsabilidades?

A ABIN é diretamente subordinada ao Presidente da República e está amplamente envolvida em tal esquema ilegal. Mais ainda, os agentes de tal operação diziam agir em nome do Presidente. Será que o Presidente Lula nunca soube de nada? Ou será que ele é diretamente responsável? Uma e outra hipóteses são graves, pois se Lula nada sabia, é extremamente grave que órgãos do Estado, diretamente subordinados a sua autoridade, consigam espionar quem bem entendem, inclusive autoridades, à margem da lei. Se Lula sabia...

Desculpem-me a insistência: mas o presente caso é mais grave do que o tão falado Watergate que levou à renúncia do Presidente Nixon.

Cadastre seu email aí ao lado
e receba atualizações deste blog 888

domingo, 1 de março de 2009

84% de popularidade: fantasia carnavalesca

84% de popularidade: fantasia carnavalesca

O Carnaval se repete a cada ano e a cada ano também se tecem considerações a respeito de suas origens, de seus significados e das formas que vem assumindo.

À parte dos grandes desfiles das escolas de samba, a festa carnavalesca encerra múltiplas facetas.

Entre elas está a das máscaras e fantasias. Talvez seja até uma das mais características do Carnaval, na maior parte dos países.

Crianças, jovens e adultos envergam elaborados figurinos, se caracterizam de figuras históricas ou atuais ou ainda de personagens imaginários e vivem, assim, alguma personalidade fantasiosa.

Fantasia das pesquisas de opinião

As pesquisas de opinião a respeito da popularidade de Lula parecem fazer imperar no Brasil o clima fantasioso do Carnaval, muito para além dos três dias de folia.

Todos os dias somos bombardeados pela "certeza dogmática" de que Lula goza dessa alucinante popularidade. E ai de quem a questionar.

Há apenas um pequeno (!) problema: a realidade desmente, a todo o momento, e de modo gritante, a fantasia. Já escrevi a este respeito aqui no Radar da Mídia.

Leia Eleições 2008: dogma virtual

Foi a vaia do Maracanã; a derrota cruel das eleições municipais para falar de dois momentos, já históricos.

Mas logo os "especialistas" tiram da cartola explicações para nos convencer de que a fantasia dos 84% é verdadeira e a realidade... bem a realidade é apenas (!) a realidade.

O Brasil parece ser embalado o ano todo pelo samba-enredo dos 84%.

O Presidente se esconde

Chegou o Carnaval e o Presidente da popularidade assombrosa decidiu ir à Marquês de Sapucaí.

Conforme noticiaram os jornais, para evitar vaias, Lula chegou de forma discreta, só entrou quando a primeira escola já desfilava sob o aplauso do público e seu nome não foi anunciado. Neguinho da Beija-Flor convidou o Presidente para apadrinhar sua união, mas Lula não desceu à pista.

Tudo muito revelador da fantasia (carnavalesca) dos 84%.

Lula na Avenida

Danuza Leão, em artigo para a Folha de S. Paulo (1.mar.2009) traça a este respeito um quadro onde não falta vivacidade e brilho. Convido-os a ler! O título fala por si: Lula na Avenida.

  • " O carioca é mesmo único. Fica íntimo sem conhecer as pessoas; se você telefona para um escritório, a telefonista te chama de "meu amor", se compra um coco na praia, o vendedor te chama de "querida", se pede uma cadeira para tomar sol, vem logo um "é pra já, minha linda". Não é nem preciso dizer que todos se chamam de você e são de uma cordialidade suprema.

    Estamos mais do que acostumados a toda essa intimidade. Mas quando é para vaiar ou para aplaudir, não fazem a menor cerimônia. E o curioso é que estão todos, sempre, de acordo. Quer seja no Maracanã, no meio de um bloco, ou na avenida, a unanimidade é sempre geral, e nunca existem duas correntes, uma a favor e outra contra. Veja o pobre do Neguinho da Beija-Flor, que levou uma vaia daquelas por ter atrasado 15 minutos o desfile, já que resolveu se casar na avenida.

    Isso pelo menos vai evitar que, no futuro, entre uma escola e outra, aconteçam batizados, aniversários e que tais. Mas foi curioso que o carioca, tão espontâneo nos seus arroubos, não tenha tido nenhum tipo de reação à presença do presidente na avenida.

    Foi como se fosse um desconhecido qualquer no camarote do governador -nosso governador, que sempre faz uma pose original na hora das fotos. Nem vaias, nem palmas. Nada. E nada é pior do que qualquer coisa. Para quem, segundo as pesquisas, tem 84% de aprovação popular, seria de se esperar um espetáculo de gritos e vivas ao presidente. Afinal, 84% não são para se desprezar. Pois não aconteceu absolutamente nada.

    Não adiantou o chapéu panamá, a animação de d. Marisa, que chegou a descer para sambar junto aos passistas, enquanto os fotógrafos cumpriam seu papel de mostrar o quanto nosso governador, nosso prefeito e nosso presidente são unidos. Ninguém deu a menor bola. Eu, que não entendo dessas coisas, acho que Lula estava em campanha; ele não foi ver o samba, mas testar 2010. Já o prefeito foi para a avenida, sambou com as escolas -todas-, mudou a cor da fitinha do seu chapéu para ser simpático com cada uma que passava, mas também não fez o menor sucesso. Era tudo "fake", e carioca saca essas coisas com incrível rapidez.

    Quando Itamar apareceu na avenida, 15 anos atrás, foi um grande auê com palmas carinhosas de todos que passavam (depois que Lilian Ramos apareceu foi outro auê). Todos queriam saudar nosso então presidente. Mas desta vez a presença de nossa autoridade máxima foi um fiasco. E d. Marisa deu, enfim, sua contribuição como primeira-dama: foi quando reclamou com o ministro Temporão que não havia camisinhas no banheiro das mulheres. Que beleza, ter uma primeira-dama tão cuidadosa. Depois de tantos anos sem dizer uma só palavra, ela perdeu uma boa oportunidade de ter continuado muda e calada como sempre esteve.

    Foi uma pena nossa jovem Dilma não ter vindo também. Ela teria certamente contribuído para que a indiferença carioca se mostrasse ainda mais evidente. Aliás, segundo amigos pernambucanos, sua passagem pelo Estado foi em branquíssimas nuvens. Lá também não aconteceu nada. O trio da alegria -Cabral, Paes e Lula- bem que se esforçou, mas no Carnaval não fez nenhum sucesso. "

Cadastre seu email aí ao lado
e receba atualizações deste blog 888

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Obama, o pânico e a intervenção do Estado

Obama, o pânico e a intervenção do Estado
O Presidente Barack Obama começa a mostrar ao que veio!

A revista Newsweek estampou no título de capa, de um de seus recentes números, uma pergunta instigante: "Somos todos socialistas?"

Na controvérsia em torno dessa questão pode estar uma das chaves da atual crise econômica. A tentativa oportunista de uma guinada ideológica.

Crise econômica, política e psicológica

Recapitulemos. Para os simples mortais, como eu, a crise, em sua origem e em seus desenvolvimentos, não é de uma compreensão linear.

Talvez por esse motivo, todos os dias, se multiplicam as opiniões - tantas vezes divergentes - dos especialistas, nos diversos órgãos de comunicação social.

Se bem que para alguns as origens da crise pareçam, à primeira vista, razoavelmente claras e certos desenvolvimentos compreensíveis, parece igualmente inequívoco que não são apenas fatores econômico-financeiros os que atuam na presente situação. Fatores políticos, com fortes doses de condicionantes psicológicas, estão presentes.

Coincidências

Diversos são os aspectos e coincidências que chamam a atenção:

1 - É fato que a crise econômica foi a catapulta que içou definitivamente a candidatura de Obama a uma posição de vantagem.

Até esse momento - e, sobretudo, após a entrada em cena de Sarah Palin, a candidata a vice de John McCain - Obama enfrentava dificuldades.

A tempestade financeira, explorada por uma mídia quase unanimemente pró-Obama, fez uma fatia do centro deslocar-se em sua posição, ou indecisos escolherem seu candidato.

2 - As explicações simplistas e até malévolas para a crise, atribuindo sua responsabilidade ao governo Bush, favoreceram o clima.

Muitos pareciam não querer lembrar que a origem, em boa medida, estava bem mais atrás, nas próprias iniciativas dos Democratas de, por imposição do Estado, obrigarem as instituições financeiras a expandir o crédito, até mesmo àqueles que não possuíam garantias para os mesmos.

3 - Uma outra coincidência é de realçar. A própria instabilidade em larga escala, gerada pela crise financeira, criou o clima ideal para Obama poder aplicar, como plano salvador, um conjunto de medidas intervencionistas e pró-estatistas, que, de outro modo, sofreriam forte oposição.

4 - Sirvo-me de uma imagem para chamar a atenção de uma última coincidência.
Aqueles que já estiveram em uma chácara ou fazenda, quando a tarde vai findando, mais facilmente entenderão o que vou descrever.

A escuridão já quase tomou conta do firmamento e o silêncio parece cercar-nos amigavelmente, transmitindo uma sensação de repouso e serenidade.

De repente, o coachar de um sapo rompe esse silêncio. E, logo em seguida, um outro e mais outro e logo muitos enchem os espaços com seus sons repetitivos, como que numa insurreição monôtona, beneficiando-se de um certo anonimato que a noite lhes confere.

A cena vem-me à mente para simbolizar o que se passou nas hostes da esquerda, quando da eclosão da crise.

Envergonhados pelo fracasso omnímodo das diversas experiências socialistas, numa exploração desonesta da crise, se puseram a repetir incessantemente e a proclamar o fracasso e o fim do capitalismo, querendo atingir na verdade o regime da livre iniciativa e o princípio da propriedade privada, buscando o regresso do Estado omnipresente.

Expansionismo estatal

Fica assim rapidamente descrito o contexto em que Barack Obama apresentou seu pacote de recuperação da economia e sua proposta de Orçamento.

Segundo o Financial Times, reproduzido pelo jornal Valor (27.fev.2009), "Barack Obama apresentou o modelo mais expansionista de envolvimento governamental na economia americana praticado em mais de uma geração, onde o déficit neste ano aparece quadruplicado".

Tal proposta de Orçamento implica em um tremendo aumento da dívida americana. Para especialistas a previsão de déficites orçamentários no plano fiscal é aterradora e cria um risco sério para a moeda americana. A possibilidade de um colapso para o dólar fez o ouro disparar.

Estratégia do pânico

Em suas intervenções públicas, Barack Obama vem acenando continuamente - já desde a campanha eleitoral - com o espectro da "Grande Depressão" e afirma que sem seu pacote intervencionista a economia irá para o abismo e talvez nunca mais se recupere.

Como muito bem escreveu Bradley R. Schiller, no Wall Street Journal (13.fev.2009) agora "a verdadeira catástrofe é a retórica de Obama".

Nesse sentido gostaria de compartilhar com os que lêem o Radar da Mídia, um artigo altamente esclarecedor de João Luiz Mauad, administrador de empresas, publicado em O Globo (26.fev.2009), sob o título "Estratégia do pânico":

  • " O intervencionismo está novamente em voga. Por toda parte, há especialistas defendendo enfaticamente que os governos gastem fortunas, ainda que a maioria dos governos não disponha dessas fortunas. Do leigo ao bispo, do peão ao empresário, quase não há quem duvide de que esta é a fórmula da felicidade.

    A palavra de ordem é gastar, ainda que muitas vezes ela venha maquiada pelo eufemismo “dar liquidez”. A quimera do momento é evitar a recessão, custe o que custar.

    Num livro lançado há pouco nos EUA, Neither Liberty nor Safity, o economista e historiador Robert Higgs reúne inúmeras evidências históricas que demonstram como a insegurança econômica, a vulnerabilidade a inimigos externos ou internos e as catástrofes ambientais foram usadas através dos tempos para expandir o tamanho do Estado e a intervenção dos governos na esfera privada.

    O livro é bastante didático ao explicar, por exemplo, como os governos — malgrado sua indelével vocação para a ineficiência e o desperdício de dinheiro alheio — crescem exponencialmente em momentos de crises (reais ou fabricadas), e por que raramente retornam ao seu tamanho depois que elas cessam.

    Segundo Higgs, nossa constituição física e psicológica nos predispõe ao medo, seja ele oriundo de ameaças reais ou potenciais, inclusive aquelas que existem somente em nossa imaginação. Infelizmente, os políticos entendem perfeitamente esta peculiaridade da natureza humana, e a exploram de forma eficiente.

    Eles sabem que dependem do pânico para assegurar a submissão da sociedade, o consentimento popular aos ditames oficiais e a cooperação afirmativa com suas aventuras. “Esta crise nos dá oportunidade de fazer coisas que não podíamos fazer antes”, confessou ao The Wall Street Journal o primeiro-secretário de Obama, Rhan Emmanuel.

    Como seu assessor, o presidente também sabe que a disseminação do pânico é o caminho mais fácil para impor decisões controversas e, não raro, oportunistas.

    Para fazer passar esse verdadeiro assalto ao bolso dos americanos, por exemplo, Mr. Obama vem utilizando a estratégia de superestimar as previsões de desemprego, ciente de que a estabilidade no trabalho é algo caro à maioria dos homens, o que os torna predispostos a pagar o preço que for necessário, ainda que sem qualquer garantia de que a mercadoria adquirida lhes será entregue.

    Se acreditarmos em alguns dos mais influentes formadores de opinião, seremos levados a concluir que os EUA passam por depressão pior do que a dos anos 30. É interessante notar que, além dos indefectíveis pedidos de mais verbas, o alarmismo aparece quase sempre acompanhado de estatísticas estapafúrdias, como a recente divulgação de que o número de demitidos, em 2008, teria sido o maior desde a Segunda Guerra.

    Ora, não é preciso ser nenhum perito para compreender que há algo muito estranho com tal comparação, afinal a população americana economicamente ativa naquela época era menos da metade da atual. Assim, quando expressos em termos relativos, tanto a taxa de desemprego quanto o número de novas demissões ainda estão distantes até mesmo dos índices da recessão de 1981-82. Em estatística, comparar números brutos, independentemente do universo pesquisado, é um exemplo típico de desonestidade intelectual. Uma outra estratégia, utilizada amiúde para dar credibilidade às ações pretendidas, é apelar para a existência de supostos consensos. A exemplo do que ocorre há anos com o aquecimento global, agora o governo americano informa que “há consenso” entre economistas sobre seu plano para estimular a economia. Errado! O Cato Institute divulgou um abaixo-assinado com mais de 300 assinaturas de proeminentes economistas, entre os quais 3 Prêmios Nobel, que recusam esse consenso. Pior: muitos acham que o voluntarismo estatal só irá piorar as coisas.

    Ademais, é importante compreender que não estamos diante de questões meramente econômicas, mas essencialmente morais. Milhões de indivíduos que nada fizeram de errado, bem como seus filhos e netos, serão forçados a pagar a conta dos equívocos de investidores e governantes no mínimo imprudentes, sem qualquer garantia de que os tais planos de salvamento, apoiados muito mais sobre os pilares do messianismo político do que da ciência econômica, realmente funcionarão. Estará morto aquele mundo em que as escolhas tinham consequências? Onde a insensatez era penalizada e a prudência premiada?"

Creio que, aos poucos, a apreensão e até a decepção vai substituindo o clima de torcida eufórica e inconseqüente que cercou a vitória de Obama.

Cadastre seu email aí ao lado
e receba atualizações deste blog 888